2006/03/09

A eleição presidencial no dia da tomada de posse

Votei em Mário Soares na última eleição presidencial, e poucas vezes terei votado com tanta convicção. Pela sua intervenção constante, pela forma como recusa reformar-se e como não se resigna, pelo direito à indignação que ele exerce constantemente.
Principalmente nos últimos anos, aquando da guerra do Iraque. Poderia ter-se refugiado no seu estatuto de senador unânime, mas não teve medo de vir a terreno. Nunca tinha votado em Mário Soares antes (e só tinha tido uma oportunidade, nas europeias de 1999). Por isto tudo, achei que Soares merecia o meu voto, e dei-lho.
Evidentemente fiquei aborrecido com o resultado final. Fiquei aborrecido, sobretudo, porque se tornou evidente que o Cavaco não era nenhum papão. Não era imbatível, como demonstram os 0.6%. E o que se verificou? A maioria dos não-cavaquistas convenceu-se de que ele era imbatível. E nem se deu ao trabalho de votar, ou quando votou, votou em Alegre, convencida de que era um voto de protesto e que Cavaco ganharia. (Ana Gomes deveria ter-se indignado era com o seu muito esporádico companheiro de blogue que escrevia no DN antes das eleições que votava em Manuel Alegre e que Cavaco iria ganhar. É um retrato do estado de espírito que se instalou, e que Manuel Alegre nunca tentou combater.) Só Mário Soares nunca se conformou. Até por isto merece a minha homenagem, e por aqui pode ver-se como é maior do que o país.
Há ainda a questão de Manuel Alegre. Eu achei bem que Manuel Alegre se candidatasse, e não tenho nada contra ele ou quem votou nele. Mas a campanha de Manuel Alegre foi muito má. Demasiadamente má. Ele demonstrou que não estava preparado para o cargo e a motivação dele era uma vingança pessoal e mesquinha. Já há dez anos Alegre queria ter sido candidato em vez de Sampaio. Alegre andava há dez anos a querer ser Presidente da República, mas nunca fez nada para isso e - pior - nunca fez nada por isso. Alegre e a direcção do PS secundarizaram sempre as Presidenciais, e agora temos isto - Cavaco na Presidência. Não é certamente com Mário Soares - o único que nunca se conformou - que eu me aborreço. Mário Soares fez o que pôde. Eu também.

2 comentários:

Unknown disse...

Não batas no Manuel Alegre coitado, sempre tão empenhado na cidadania dos vivos e dos mortos ...

Filipe Moura disse...

Não deixas de ter razão sobre o Mário Soares, Ana. É claro que ele não era o "candidato natural". O triste é que a malta de esquerda nestas últimas eleições tinha muito mais razões para dizer mal do candidato dos outros do que bem do seu próprio candidato.
No meu caso embirro um bocado com o Alegre desde a co-incineração, e também embirro com a porta-voz dele justamente por TUA causa.