2006/07/31

De volta a Lisboa

...e com uma conclusão nova. Eu sou suspeito, pois tive a sorte de viver nas duas, mas eu julgava que só existiam duas cidades dignas desse nome no mundo: Nova Iorque e Paris. Durante esta semana que passou, descobri que existe uma outra: Berlim. O resto vai ser documentado aqui, gradualmente e com calma.

2006/07/28

De Berlim, sem acentos

...e sem muito tempo para escrever. So quero chamar a atencao para dois textos indisoensaveis no Agreste Avena (Einstein, esse grande anti-semita)e no Esquerda Republicana/Diario Ateista (Israel nao e um estado laico).

2006/07/27

Física em Berlim

Uma adaptação deste texto foi publicada na edição de terça-feira do Público.

Começou ontem o 11º Encontro Marcel Grossmann na Universidade Livre de Berlim, na Alemanha. Estes encontros, organizados pelo Centro Internacional de Astrofísica Relativista (ICRA) desde 1975, têm como objectivo a discussão e apresentação dos mais recentes desenvolvimentos em Relatividade Geral Teórica e Experimental, Gravitação e Teoria de Campo Relativista, facilitando a comunicação entre cientistas. A presente edição conta com cerca de 950 participantes de todo o mundo.
Dentro das principais palestras encontram-se tópicos que têm tido desenvolvimentos recentes notáveis como a relação entre a Cosmologia e as Teorias de Supercordas, as Supercordas Cósmicas, o Buraco Negro no Centro da Nossa Galáxia. Serão também apresentadas as futuras grandes experiências internacionais em Astronomia e Astrofísica, como os detectores de ondas gravitacionais por interferometria laser LIGO (na Califórnia) e VIRGO (na Itália), a Antena Espacial por Interferometria Laser LISA e o observatório de neutrinos de alta energia de um quilómetro cúbico de volume IceCube, a instalar nas profundidades do gelo da Antárctida.
No decorrer do encontro, que terá a duração de uma semana, são ainda atribuídos os prémios Marcel Grossmann por parte do ICRA. Este ano os galardoados são o físico teórico Roy Kerr e os astrofísicos George Coyne e Joachim Trumper. Roy Kerr, da Universidade de Canterbury na Nova Zelândia, foi premiado "pela sua contribuição fundamental para a teoria de Einstein da Relatividade Geral". Kerr descobriu uma solução das equações de Einstein que modela o campo gravitacional criado por um corpo com massa e em rotação, generalizando o trabalho anterior de Schwarzschild, somente para corpos que não rodavam. A solução de Kerr pode também ser aplicada à descrição de buracos negros, algo necessário visto que estes objectos são em geral criados a partir do colapso de estrelas que também rodam.
George Coyne, Director do Obstervatório do Vaticano situado na Universidade de Tucson, no estado americano do Arizona, foi premiado "pelo seu apoio e dedicação ao desenvolvimento internacional da Astrofísica Relativista, e pelo seu estímulo a uma relação esclarecida entre a ciência e a religião".
Joachim Trumper, antigo director do Instituto Max Planck de Vida Extraterrestre, em Garching, na Alemanha, recebeu o prémio "pelas suas excepcionais contribuições para a física dos objectos astrofísicos compactos e pela sua liderança da muito bem sucedida missão ROSAT, que descobriu mais de 200 000 fontes de raios X galácticas e extra-galácticas, um grande passo nas capacidades observacionais da astronomia de raios X e no conhecimento do Universo".
O encontro tem o nome de Marcel Grossmann em homenagem ao distinto matemático suíço, colega de Universidade e grande amigo de Albert Einstein. Foi através do pai de Grossmann que Einstein arranjou o seu emprego numa repartição de patentes em Berna, por volta de 1905, altura em que formulou a relatividade restrita, o efeito fotoeléctrico e o movimento browniano. Grossmann entrara como assistente na Universidade em Zurique, algo que Einstein não conseguira. Seria Grossmann a ensinar a Einstein alguns dos aspectos de cálculo tensorial que se revelariam decisivos na formulação da relatividade geral, tendo ambos colaborado em alguns artigos preliminares. Mas o grande público terá sobretudo ouvido falar de Grossmann como o colega de Einstein que lhe facultava os apontamentos das aulas a que este sistematicamente faltava...

2006/07/23

Altura para uma pausa

Estou até hoje numa conferência no Porto. Para a semana estarei em Berlim, numa outra conferência, onde dou outro seminário. Mas a minha profissão neste momento, e durante este verão, é a de jornalista: estagiário na redacção do Público como jornalista científico. Esta minha nova ocupação tem-me deixado pouco tempo para fazer ciência (não para contar a dos outros). Neste momento é imperioso que eu use algum do meu tempo para fazer ciência. E para ir a conferências - ao menos isso. A próxima semana e meia vai ser agradável, mas as últimas três ou quatro foram duríssimas, e é provável que as seguintes voltem a ser. Além disso o ter que escrever todos os dias no jornal tira-me alguma da vontade de escrever por fora. E há o verão, a praia, e menos vontade para os blogues... Para os leitores há as férias; para mim não (quanto muito uma ou outra escapadela).
Serve isto para dizer que até meados de Setembro só vou escrever aqui esporadicamente, e não com a regularidade de desde que comecei o blogue. No outono voltarei ao ritmo normal. Até lá, bom verão para todos.

2006/07/22

Pegões? 1,59 euros! Côtes du Rhône? 1,99 euros!

Há aspectos na questão do preço do vinho nos restaurantes que, pela resposta do João Miranda, não ficaram claros.
Quando falo "na terra dele" (João Miranda), onde os vinhos nos restaurantes seriam muito mais baratos, refiro-me à cidade do Porto (onde eu presumo que ele vive), onde me encontro para a minha sempre muito agradável visita anual e de onde neste momento escrevo. E mais uma vez pude confirmar o que afirmei, e não é só com o vinho. A comida (e a bebida) nos restaurantes do Porto é muito mais caseira, muito menos turística, muito mais honesta, muito mais bem servida, muito mais barata do que em Lisboa. Aliás, é assim por todo o país, excepção feita ao Algarve e à Área Metropolitana de Lisboa. Nestas regiões é cada vez mais difícil encontrar um restaurante com as características que eu referi. Isso é particularmente sensível nos preços do vinho, que constituem uma autêntica exploração. Como pode um consumidor contrariar esta "tendência do mercado", pode o João explicar-nos? Apanhando o Intercidades e vindo jantar ao Porto?
Eu deveria recordar ao João que, mesmo nos mercados livres, a especulação não é permitida. E em Lisboa, com os vinhos nos restaurantes, é de especulação que se trata.
Talvez a melhor solução seria os restaurantes de Lisboa abandonarem o pedantismo de que eu falava no meu texto anterior. Mas algo teria que ser feito.
Sobretudo nunca, mas mesmo NUNCA, se considere o vinho como um artigo de luxo, como o João (que parece ser um agente ao serviço da Coca-Cola) faz na sua resposta. Nunca, em Portugal ou em qualquer país mediterrânico!
Quanto às consequências da imposição de um limite superior do preço dos vinhos nos restaurantes, o João Miranda que considere a equação de Black-Scholes com a condição fronteira do limite da margem de lucro e impondo um cut-off no preço e que reporte a solução no Blasfémias. Depois conversamos.

2006/07/21

Bastante oportuno


Zapatero demonstra assim mais uma vez ser o mais firme e determinado político europeu do momento. Quem deveria no entanto explicar a imagem acima são aqueles fãs de Zapatero pelas suas políticas fracturantes mas que no que diz respeito à invasão do Líbano e Gaza por Israel, e mesmo no conflito israelo-palestiniano, têm posições que considero pouco claras, como Fernanda Câncio.

2006/07/20

Deste proteccionismo sejamos proteccionistas!

O PS quer acabar com as exorbitantes margens de lucro dos restaurantes na venda de vinhos para consumo. Confesso que não esperava esta medida da parte de um governo que no momento tem elementos como Nuno Severiano Teixeira, responsável há cinco anos pela triste ideia do limite da taxa de alcoolemia nos condutores a 0.2 g de álcool por litro de sangue, quando em toda a Europa é 0.5 g/l. Da mesma forma, não conheço cidade em toda a Europa onde os vinhos sejam tão caros nos restaurantes como Lisboa, excepção feita às cidades do Reino Unido tão querido dos nossos neoconservadores. (Deixem-me portanto refazer a frase: não conheço cidade em toda a Europa civilizada...) É talvez por isso que o meu muito prezado e infalível João Miranda se atreve a contestar a medida: é que lá na terra dele os vinhos (e os restaurantes em geral) são muito mais baratos. (Desculpem lá, mas quem diz isto conhece de viagens no último ano restaurantes de França, Espanha, Bélgica, Holanda, Alemanha e Suíça.) A medida em si é profilática, embora a raiz do problema esteja mais num certo pedantismo lisboeta associado ao consumo de vinho (é raro em Lisboa o restaurante que sirva vinho a jarro, por exemplo). Mas nem por isso o João deixa de ter em teoria uma certa razão: tal medida pode levar, de acordo com as infalíveis leis do mercado, a que os empresários da restauração deixem de ter os vinhos mais baratos no menu. Para isso não há nada como ir contra as leis do mercado. É para isso mesmo que temos governos e Estado. Proponho por isso que, em acrescento à proposta anterior, pura e simplesmente se coloque um limite superior no preço do vinho nos restaurantes. E bebamos uns copos com o bom vinho português.

2006/07/19

Entre as ruínas, ninguém leva a melhor

«Importa dizer que, num conflito armado, o ataque a forças militares e a captura de soldados não podem ser equiparados a terrorismo ou a "tomada de reféns" (noções que só têm sentindo quando as vítimas sejam civis), como quer fazer crer o Governo israelita, seguido nessa linguagem, acriticamente, por muitos observadores coniventes ou desatentos. Israel ocupa ilegalmente, e pela força militar, os territórios de Gaza e da Cisjordânia, desde há quase 40 anos. A resistência dos palestinianos à ocupação é perfeitamente legítima e o ataque a objectivos militares e a forças militares ocupantes é um direito seu. Muitos dos que criticam a resistência palestiniana fariam o mesmo que eles, se colocados no seu lugar. Apodar de "terroristas" essas acções tem somente por objectivo confundir os conceitos e tentar deslegitimar a resistência palestiniana contra a infindável ocupação e opressão israelita.
É evidente que Israel pode responder militarmente aos ataques contra as suas forças militares, e ainda mais os que atinjam o seu território, desde que tenha por objectivo os responsáveis por eles. Mas não foi isso que sucedeu. Em resposta ao ataque do braço armado do Hamas, Israel resolveu lançar uma ofensiva-relâmpago contra a Faixa de Gaza, que aliás prossegue, atingindo primariamente objectivos exclusivamente civis (pontes, estradas e outras infra-estruturas) e matando pessoas ao acaso, numa orgia de violência que seria sempre desproporcionada, mesmo se fosse justificada, o que não era. Do mesmo modo, contra a segunda acção, a do Hezbolah, essa vinda do exterior, Telavive lançou-se indiscriminadamente sobre o Líbano, de novo sobre objectivos civis (estradas, pontes, o aeroporto civil de Beirute, portos, bairros urbanos, etc.,) e novamente com um saldo de numerosas vítimas inocentes.» (Vital Moreira, Público, 18-07-05)

2006/07/18

Leitura altamente recomendada

O seguinte artigo de Mário Vargas Llosa no El Pais, que eu encontrei no Franco Atirador mas reproduzo aqui na íntegra. Dedicado aos auto-intitulados "amigos de Israel", que é o que mais há pela blogosfera.

Israel y los matices

Illan Pappe, historiador revisionista israelí, procede de una familia de judíos alemanes de sólidas credenciales liberales, y él mismo fue educado dentro de esta corriente de pensamiento que defiende la sociedad abierta, el mercado, al individuo contra el Estado y opone al colectivismo -la definición del ciudadano por su pertenencia a una clase social, una raza, una cultura o una religión- la soberanía individual. Hace unos días le oí contar que, cuando empezó a tomar distancias contra el sionismo, doctrina que sustenta la creación y la naturaleza del Estado de Israel, pensó que su evolución política estaba dentro de la ortodoxia liberal y que cuestionar la ideología sionista era, además de otras cosas, dar una batalla contra el colectivismo. Pero no encontró en su país partido o movimiento político liberal donde encajaran sus ideas, pues la inmensa mayoría de los liberales israelíes eran sionistas. Esto lo fue acercando a quienes, por doctrina, eran sus naturales adversarios políticos, los comunistas, con quienes discrepaba en todo lo demás, pero coincidía en su posición crítica del sionismo. Y eso hace que desde entonces, se quejaba, los amantes de la simplificación y enemigos de los matices, lo cataloguen de "comunista".

La abolición de los matices facilita mucho las cosas a la hora de juzgar a un ser humano, analizar una situación política, un problema social, un hecho de cultura, y permite dar rienda suelta a las filias y a las fobias personales sin censuras y sin el menor remordimiento. Pero es, también, la mejor manera de reemplazar las ideas por los estereotipos, el conocimiento racional por la pasión y el instinto, y de malentender trágicamente el mundo en que vivimos. Hay ciertos conflictos que, por la violencia y los antagonismos que suscitan, conducen casi irresistiblemente a quienes los viven o siguen de cerca a liquidar los matices a fin de promover mejor sus tesis y, sobre todo, desbaratar las de sus adversarios.

Quiero ilustrar con un ejemplo personal lo que trato de decir. La Fundación Internacional para la Libertad organizó hace unos días, en Madrid, un encuentro entre intelectuales judíos y árabes, en el cual, en una de sus intervenciones, el periodista Gideon Levy, crítico severo del Gobierno de su país, dijo que él militaba contra la ocupación de Cisjordania porque no quería sentirse avergonzado de ser israelí. Yo, por mi parte, al clausurar el evento, parafraseando a Levy, dije que mis críticas a la política con los palestinos de los dos últimos gobiernos de ese país se debían a que tampoco quería sentirme avergonzado de ser amigo de Israel. Dos días después, el diario israelí Haaretz publicaba una crónica del propio Gideon Levy sobre el encuentro madrileño, bastante exacta, pero con un título que, al cambiar el matiz, me hacía decir algo que yo no había dicho: "Vargas Llosa tiene vergüenza de ser amigo de Israel".

El diario recibió 199 cartas de lectores israelíes indignados, que publicó en su blog. Las he ojeado con cierta estupefacción, pese a que ellas no hacen más que confirmar algo que, desde que empecé a pensar por mi propia cuenta en cuestiones políticas hace cuarenta años, ya sé de sobra: lo fácil que es tergiversar, caricaturizar o desacreditar a quien disiente, o parece disentir, de nuestras convicciones dogmáticas. Lo curioso es que casi todas las cartas me llaman "comunista", "ultra izquierdista", "castrista", "otro Saramago", "antisemita", y, una de ellas, la más imaginativa, se pregunta: "¿Qué se puede esperar de alguien que sube a los escenarios con la conocida actriz estalinista Aitana Sánchez Gijón y que escribe en EL PAÍS, el periódico más izquierdista de toda Europa?". Bueno, bueno. Mis vociferantes objetores no parecen sospechar siquiera que de lo que yo suelo ser acusado más bien, en España y en América Latina, es de neo-con, de ultra liberal, de pro americano y otras lindezas por el estilo por atacar a Fidel Castro, a Hugo Chávez y criticar con frecuencia el fariseísmo y el oportunismo de los intelectuales de izquierda.

En realidad, una de las cosas que soy, o, mejor dicho, trato de ser en la vida, es un leal amigo de Israel. Muchas veces he escrito que visitar ese país hace treinta y pico de años fue una de las experiencias más emocionantes que he tenido y que sigo creyendo que construir un país moderno, en medio del desierto, de lineamientos democráticos, con gentes provenientes de culturas, lenguas, costumbres tan distintas, y rodeado de enemigos, fue una gesta extraordinaria, de enorme idealismo y sacrificio, un modelo para los países como el mío, o los demás países latinoamericanos o africanos, que, con muchos más recursos que Israel, no consiguen todavía salir del subdesarrollo. Es verdad que Israel en el curso de su breve historia ha recibido mucha ayuda exterior. Pero ¿no la han recibido también muchos otros, que la han desaprovechado, derrochado o simplemente saqueado?

Para mí, el derecho a existir de Israel no se sustenta en la Biblia, ni en una historia que se interrumpió hace miles de años, sino en la gestación del Israel moderno por pioneros y refugiados que, luchando por la supervivencia, demostraron que no son las leyes de la historia las que hacen a los hombres, sino éstos, con su voluntad, su trabajo y sus sueños los que le marcan a aquélla unas pautas y una dirección. Ningún país existía allí, en esa miserable provincia del imperio otomano, cuando nació Israel, cuya existencia fue luego legitimada por las Naciones Unidas y el reconocimiento de la mayoría de países del mundo.

Ahora bien, para que Israel tenga un porvenir seguro y sea por fin un país "normal", aceptado por sus vecinos, debe encontrar un modo de coexistencia con los palestinos. Y contra esta coexistencia conspira esa ocupación de Cisjordania que se prolonga indefinidamente y que ha convertido a Israel en un país colonial, lo que ha crispado de manera indecible sus relaciones con los palestinos. Las condiciones en que éstos han vivido, en Gaza, y viven todavía dentro de los territorios ocupados, sobre todo en los campos de refugiados, son inaceptables, indignos de un país civilizado y democrático. Lo afirmo porque lo he visto con mis ojos. Los amigos de Israel tenemos la obligación de decirlo en alta voz y censurar a sus gobernantes por practicar en esos territorios una política de intimidación, de acoso y de asfixia que ofende las más elementales nociones de humanidad y de moral. Y, también, de condenar sus reacciones desproporcionadas a los actos terroristas, como la actual, que, a raíz del secuestro criminal de un soldado israelí por militantes palestinos, ha causado ya decenas de muertos civiles inocentes en Gaza y amenaza con resucitar la guerra con el Líbano.

Esto no significa, en modo alguno, justificar las acciones criminales de los terroristas de Hamás o la Jihad Islámica o de los otros grupúsculos armados que operan por la libre. Pero sí reconocer que detrás de estas acciones injustificables y crueles -las bombas de los suicidas, los ataques ciegos a la población civil, los secuestros, etcétera- hay un pueblo desesperado al que la desesperación empuja cada vez más a escuchar no la voz de los moderados y razonables sino la de los fanáticos y a creer, estúpidamente, que el fin del conflicto no está en la negociación sino en la punta del fusil o la mecha de la bomba.

La superioridad de Israel sobre sus enemigos en el Medio Oriente fue política y moral antes que la de sus cañones, sus aviones y su modernísimo Ejército. Pero, debido a su extraordinario poderío, algo que suele volver a los países arrogantes, la está perdiendo, y eso lleva a algunos de sus dirigentes, como creía Ariel Sharon, a pensar que la solución del conflicto con los palestinos puede ser un diktat, una fórmula unilateral impuesta por la fuerza. Eso es una ingenuidad que sólo prolongará indefinidamente el sufrimiento y la guerra en toda la región.

Mi amigo israelí David Mandel (¿o debo decir ahora ex amigo, ya que me he vendido a los palestinos?) me conmina en una carta abierta a que devuelva el premio Jerusalén que recibí en 1995. Se trata de un premio más bien simbólico, pero que a mí me llena de orgullo, y no voy a renunciar a él, porque, aunque David no pueda entenderlo, lo que yo hago y escribo sobre Israel no tiene otro objetivo que seguir siendo digno de esa hermosa distinción, que me fue concedida por mi compromiso con la democracia y la libertad. Para mí, mi adhesión a Israel es inseparable de aquel compromiso, como es el caso de tantos israelíes que, a la manera de Illan Pappe, Gideon Levy, Amira Hass o Meir Margalit, pero sin duda de manera más radical que yo, denuncian las políticas de su Gobierno con los palestinos y plantean alternativas.

Es verdad que ellos representan una minoría, ese matiz que los adoradores de verdades dogmáticas desprecian. Ni siquiera sé si yo estoy de acuerdo en todas las posiciones que ellos defienden. Probablemente, no. Creo, por ejemplo, que el sionismo tiene unas razones que no pueden descartarse de manera abstracta, prescindiendo de un contexto histórico preciso. Pero que ellos, y otros muchos como ellos, vayan contra la corriente y sean capaces de oponerse de manera tan resuelta a lo que les parecen políticas equivocadas, contraproducentes o brutales, y que puedan hacerlo sin ser perseguidos, encarcelados, o liquidados, como ocurriría -ay- entre casi todos los otros países de la región, es una de las realidades que todavía mantiene viva mi esperanza de que haya un cambio en Israel, y, otra vez, la negociación sea posible, y pueda llegarse a un acuerdo razonable que ponga fin a esa infinita hemorragia de dolor y de sangre.

El encuentro madrileño de judíos y árabes fue asimétrico, porque cerca de diez palestinos que habían aceptado nuestra invitación no pudieron venir, y porque algunos israelíes, como Amos Oz y David Grossman, cuyas voces queríamos escuchar, tampoco lo hicieron. Pero no fue inútil: una gota de agua en el desierto es mejor que ninguna. Hubo, por ejemplo, exposiciones magníficas y no del todo irreconciliables, de Shlomo Ben Ami y de Yasser Abed Rabbo, que participaron en las negociaciones de Camp David. Trataré de seguir convocando estos diálogos, invitando no sólo a quienes hablan por la mayoría, sino también por las pequeñas minorías, esos matices olvidables en los que, sin embargo, muy a menudo se agazapa la verdad.

Leituras recomendadas

Pedir Demais e Jerusalém e Sodoma, crónicas do Rui Tavares.
A sauna da democracia, pelo Pedro Mexia.
Paulinho e Gisberta, pelo João Miguel Tavares. Comecei a ler esta crónica e lembrei-me logo da Geni, do Chico Buarque. E não é que a crónica acaba mesmo com a Geni?

2006/07/17

Para encerrar o Mundial

A prestação da equipa portuguesa e do seu treinador calam muitas bocas, como a de Miguel Sousa Tavares. Mas nem era esse aspecto, já muito discutido, que eu venho aqui abordar. É mesmo a grande festa que constituiu (e constitui sempre) o Mundial, principalmente para os países que nele participam. Eu fico feliz por ter amigos de muitas nacionalidades, australianos, mexicanos, italianos, alemães, brasileiros, espanhóis, argentinos, holandeses e franceses, claro, e verificar como todos eles comungam do mesmo entusiasmo por este torneio (menos os americanos...). Este campeonato é uma ocasião única para pôr a jogar entre si países de localizações muito diferentes, é o maior evento de massas à escala mundial e, por isso, eu não lamento nada o grande número de jogos ao princípio. Pelo contrário. E acho que preferir a sardinha assada aos jogos do Mundial é uma opinião respeitável (embora para quem diz que gosta de futebol revele um grande provincianismo), mas quem tem essa preferência poderia abster-se de emitir opiniões... sobre o Mundial. Até porque Miguel Sousa Tavares teve de engolir grande parte das opiniões que emitiu sobre o assunto.
É tudo. Daqui a quatro anos há mais.

2006/07/16

Leiden e Delft

Delft

Na passagem dos 400 anos de Rembrandt lembrei-me de Leiden, a sua cidade natal. E de Delft.
Leiden e Delft são antigas como Amesterdão mas bem mais pequenas, pelo que não são repetitivas. São bem holandesas e estão muito bem preservadas. E têm monumentos para oferecer ao turista; não somente lojas de sexo, coffee shops e prostituição. Amesterdão também tem mais do que isso, mas essa é a imagem que se sobrepõe. E é a imagem do tipo de turista que vai à Holanda e se fica por Amesterdão, ao contrário do que se dá ao trabalho de ir a Leiden ou Delft.

Leiden

2006/07/15

Por onde eu tenho andado

Blogosfericamente? Por aqui, na área dos comentários. Agora que a minha profissão é escrever a minha chefe não pode ver isto: se vê, acha um desperdício de caracteres, que eu deveria usar no jornal.
Por que é que eu chamo a atenção para isto? É a resolução de uma questão antiga, de facto, de que se inteirarão se se derem ao trabalho de ler os meus comentários, mas nem é por isso. É porque lá são-me dedicadas estas palavras:

Mas admiro-te e sempre gostei da tua naturalidade, por vezes a roçar a inocência do homem que gosta de conversar com toda a gente sobre política, ciência e o mais que por ai há a granel (a área do teu interesse é enorme), pouco importando se os teus interlocutores gostam ou não do Mário Soares.


Sempre que me dedicam elogios destes eu derreto-me todo. Eu devo ser mesmo muito carente. Obrigado, Bomba.

2006/07/14

Viciado em Su Doku

Eu poderia fazer uma sondagem oficial, daquelas à Nelson, mas nem para isso tenho tempo. Segue assim uma questão simples aos leitores (respondam nos comentários): na última página do Público de hoje, qual é o artigo mais interessante?
a) Um artigo de um tal de Filipe Moura sobre o crescimento preocupante da população de alforrecas em zonas onde a pesca é intensiva?
b) A crónica do Vasco Pulido Valente, mesmo ao lado?
c) O Calvin?
d) O Su Doku?
Eu voto na alínea d). Experimentei esta semana pela primeira vez e agora não quero outra coisa.

2006/07/13

Ainda sobre o Zidane

Só queria acrescentar que em geral me irritam sempre estes julgamentos em praça pública típicos da imprensa sensacionalista britânica. Já fui vítima dos mesmos na blogosfera e creio que associado a eles existe sempre alguma hipocrisia à mistura.
Sobre o Zidane propriamente dito, não tenho nada a acrescentar ao que foi escrito na Agreste Avena. A não ser talvez que algo que joga em desfavor do Materazzi é ser filho do pior treinador que eu alguma vez me lembro de ter visto no Sporting. Mas passem por e leiam.

A liberdade dos israelitas está em perigo!

Desde a semana passada tropas israelitas invadiram a faixa de Gaza, com o objectivo de libertarem um soldado raptado por radicais palestinianos. O resultado: 21 mortos. Para tentar libertar um soldado.
Já esta semana o Hezbollah resolveu atacar posições israelitas, tendo raptado e feito reféns mais dois soldados israelitas e morto outros oito. O resultado não se fez esperar, mas é verdadeiramente preocupante para os defensores da liberdade: só 35 mortos resultaram dos raides aéreos de Israel no sul do Líbano! Pelo resultado da semana passada seria de esperar, só considerando os soldados raptados, no mínimo 42 mortos. Isto sem contar com os oito soldados israelitas mortos! Como foram só 35 os mortos palestinianos, para tentar libertar dois soldados e vingar outros oito, daqui se conclui que a cotação da liberdade dos israelitas está em queda. A liberdade do autoproclamado "povo eleito" está em risco! Chamem a Ann Coulter.

2006/07/12

Zidane o maior

Tenho lido muitas críticas, inclusive um editorial por parte de um superior hierárquico meu no jornal onde neste momento estagio, à atribuição do título de melhor jogador do Mundial a Zinedine Zidane.
Vamos ver as coisas como elas são. Antes da lamentável agressão (qualquer que seja o seu fundamento) com que se despediu do torneio e do futebol, era mais ou menos pacífico que o melhor jogador até então tinha sido Zidane (que regressara aos seus melhores tempos). Se não tivesse visto aquele cartão vermelho a dez minutos do fim, nenhuma opinião teria mudado. Então por que haveria de mudar só por causa de um cartão vermelho, algo que também sucede aos melhores? Dito de outra forma: será o fair play assim tão determinante para um bom jogador de futebol, de forma a ser preponderante na atribuição de um prémio que deve premiar o talento?
E por favor não venham comparar com as simulações dos jogadores portugueses. As simulações dos jogadores portugueses são um comportamento desleal e que não é, em geral, punido durante o jogo. O comportamento do Zidane, embora reprovável, não é dissimulado – foi à vista de toda a gente, toda a gente viu, foi em frente à televisão, assim como a agressão do Sá Pinto ao Artur Jorge há nove anos, só para comparar com outro jogador que jogava à bola e que de fiteiro não tinha nada. O Zidane e o Sá Pinto erraram e foram punidos por isso. Agora no caso do Zidane por que raio é que um acto irreflectido (e pouco frequente nele, e que deixou toda a gente de boca aberta) haveria de se repercutir num prémio ao seu talento futebolístico?
Tal tipo de opinião parece-me muito português. Em Portugal dá-se um valor excessivo à simpatia. Não importa se o professor é muito competente, se o médico é muito competente: se não forem simpáticos, não prestam. Não importa se a comida no restaurante não tem grande qualidade, se é cara ou se o serviço é mau: se o empregado for simpático e sorridente, perdoamos tudo. Quarenta e tal anos de ditadura e séculos de subserviência deram nisto: somos o país das carinhas larocas. Nada disto me espanta. O que me espanta é que agora até parece que a FIFA está a ir na conversa. Por pressão mediática. Por correcção política. Por querer parecer bem.
Para mim, o Zidane foi o melhor jogador do torneio.

Imagem roubada ao Kontratempos.

2006/07/11

Sem tatuagens, sem bandelette, sem cabelo



«A Inglaterra caiu pela quinta vez consecutiva num desempate por penalties, depois de confirmar que toda a sua arrogância era puro marketing— como tantas coisas outras entre as vedetas inglesas e as suas insuportáveis wags. Restaram, pois (alguém tinha de restar...), a Alemanha, após um jogo mortal de chatice contra a Argentina, e a Itália, em mais uma exemplar demonstração de cinismo. E a França, essa sim, a excepção à regra geral e ao que até aí tinha feito. Em minha opinião, a França fez contra o Brasil o melhor jogo de um candidato ao título que eu vi neste Mundial. Pouco importa se foi uma ressurreição fugaz (mas já ensaiada contra a Espanha) ou um assomo de categoria e orgulho ferido de uma Selecção a quem já haviam feito o obituário. O que sei é que— e muito embora, o meu coração, como o de quase todos os portugueses torcesse pelo Brasil— não tardei a mudar de campo, assim que comecei a ver a displicência estéril do futebol brasileiro face à vontade e superior categoria dos franceses. Ronaldinho estreava a sua nova bandelette e havia, nos meninos de ouro do Brasil, muita preocupação com os penteados, a amarração dos cabelos, as tatuagens e a cor das botas— toda essa parafernália de acessórios que caracteriza as vedetas futebolísticas de hoje. E foi então que, lá do Purgatório onde o imaginavam em definitivo repouso, emergiu Zinedine Zidane— sem tatuagens, nem bandelette, nem sequer cabelo— para assinar com caneta de ouro o livro de memórias que ficará deste Mundial e resgatar, mesmo antes de dizer adeus aos estádios, a honra e o fascínio do futebol.»


Miguel Sousa Tavares, A Bola

2006/07/10

Triste despedida

...para o melhor jogador do Mundial.

E parabéns aos italianos, que ganharam bem. Foi bom ver alguém ganhar à França, mesmo se a França voltou a beneficiar de um penalti fantasma.

O novo Sá Pinto



Ninguém conhecia este discreto jogador do Marselha (mas que na verdade vem de Boulogne-Sur-Mer na Picardia). Pela discrição, pela humildade (e pela fotografia) parece mais o Pauleta... Mas é combativo e corre que se farta. Está em todo o lado. Para mim era o maior símbolo e a melhor imagem da equipa lutadora que foi a França deste Mundial. Ontem, admito que estava a torcer por ele. Foi substituído ingloriamente (como o Henry), porque o seleccionador francês não quis logicamente tirar o Zidane. Depois foi o que se viu.

2006/07/08

Obrigado Filipão!



Graças ao Nelson aqui vai o vídeo com a interpretação das palavras de Scolari durante o jogo. E aqui vai o meu obrigado ao sargentão. Pode ter uma reputação de duro, mas este vídeo vai contribuir para que seja visto de outra maneira. Mostra o seu lado humano. E antes um treinador que diz permanentemente Ai minha Virgem Maria do que um (como António Oliveira) de cuja boca só saem (literalmente) caralhadas.
Boa sorte, Scolari, Cristiano Ronaldo, Figo, Pauleta e companhia.

Falta de tempo

Entre a escrita quotidiana (por razões profissionais), as conferências a preparar (escrever os dois seminários sobre temas diferentes, reservar passagem de avião e alojamento), o projecto a submeter, os seminários a assistir e (neste momento é mesmo nas horas vagas) a investigação a fazer, nem tenho tido tempo para o blogue. Melhor (e ainda bem, por um lado): nem tenho tido tempo para pensar que não tenho tido tempo para o blogue...

2006/07/06

Déjà-vu


Um email escrito aos amigos:
L’histoire de la participation du Portugal à cette Coupe du Monde est bien connue. C’est le sommaire de l’histoire récente du foot portugais. On a gagné aux Pays-Bas sans une grande difficulté. On a éliminé les anglais dans les penalties, et une autre fois le gardien de but Ricardo était l’héros. Finalement, dans la semi-finale, nous étayons éliminés par les français avec un penalty très douteux (inexistant, je dirais), converti par Zidane. Toujours la même histoire (il faut encore trouver pourquoi). Je devrais déjà connaître ça... Nous sommes connus comme «les plongeurs», mais hier Henry a démontré qu’il même sait bien comment faire ça. C’est dur, avoir la réputation d’être «les dissimulateurs» et finalement voir ça. Ici tout le monde croit que le penalty ne serait pas signalé s’il était contre la France.
J’ai rappelé les statistiques toujours contre les hollandais et les anglais, mais la statistique joue toujours contre nous avec les français. La statistique ne faille pas… jusqu’un jour!
Maintenant j’espère que la statistique fonctionne une autre fois avec les italiens, et vous, les français, serez les vainqueurs. Vous avez éliminé les espagnols, les brésiliens et les portugais. Vous méritez. Bonne chance!
Salut de Lisbonne.

2006/07/05

Adenda ao texto anterior

Não te chateies, . Encara os factos...

La fábrica lisboeta

Extracto de um artigo do El País de hoje:

El responsable de la cantera del Sporting explica la filosofía del club,del que proceden 9 de los 23 jugadores de Portugal

"Figo llegó aquí a los 12 años: era frágil, débil, pequeñito; muy responsable y equilibrado. Cristiano Ronaldo vino a los 11: era alto y delgado, más vivaz y extravertido pese a ser originario de Madeira, donde los chicos son más introvertidos". Así eran de niños las dos principales figuras de Portugal. O así los recuerda Aurelio Pereira, responsable de la cantera del Sporting de Lisboa, de donde proceden 9 de los 23 elegidos por la selección de Luiz Felipe Scolari, es decir, casi la mitad. "Con Figo hubo que trabajar poco, sin sobresaltos, porque siempre fue muy maduro. Con Cristiano, al tratarse más de un niño de la calle, tuvimos que ofrecerle un acompañamiento mental", dice este entrenador de 58 años que ha pasado 35 en el club lisboeta.

Desde hace cuatro años, el Sporting presume de unas instalaciones a la última en el barrio de Vasco da Gama, a las afueras de Lisboa. Dispone de siete campos de entrenamiento y acoge a 50 chavales residentes de fuera de la capital y a otros 130 de Lisboa o alrededores. "El Sporting siempre tuvo vocación formadora. Toda la vida. Y la construcción de una academia mejoró las condiciones de trabajo". A Pereira le sorprendió el estirón que dio Figo a los 14 años. "Nosotros no metemos nunca a los niños en los gimnasios. Es importantísimo dejarlos crecer con naturalidad. Ese es uno de los secretos para que todos nuestros jugadores desarrollen carreras muy largas. No conozco a ningún jugador con un rendimiento tan estable como Figo", sostiene Pereira, orgulloso de que todos los capitanes de las distintas selecciones lusas provengan del Sporting. "Empezando por Figo en la absoluta, los capitanes de la sub 16, sub 17 y la sub 21 con Quaresma". Eso es debido, según Pereira, a la educación que reciben en la academia sportinguista. "Lo primero es que los niños tengan calidad. Primamos la técnica y la velocidad. Y lo acompañamos con un trabajo mental".

En este sentido, Pereira se siente especialmente satisfecho del penalti que le marcó Cristiano Ronaldo a Inglaterra en el último lanzamiento de la tanda desde los 11 metros. "A los 17 años, Cristiano jugó muy bien contra el Inter. Los periodistas le preguntaron si estaba contento y el respondió que no, que no había hecho nada. Estamos hablando de un chico de 21 años que a los 18 años fichó por el Manchester. Esa es una de las claves. Exportamos jugadores muy jóvenes a Europa y con una gran calidad mental. Eso los hace grandes competidores". Pereira echa la vista atrás y se acuerda de otro futbolista notable amamantado en la escuela sportinguista: Paolo Futre. "Lo entrené cinco años. Era un niño rapidísimo que siempre iba directo hacia la portería. Si viera ahora entrar a otro Futre de 11 años por esa puerta...".

No hay un caso similar en ninguna de las grandes selecciones europeas. La fábrica sportinguista echa humo. Los otros siete jugadores de Scolari que pasaron por allí son Simao, Miguel, Hugo Viana, Paulo Santos, Caneira, Nuno Valente y Boa Morte. De todos ellos, la evolución que más le ha impresionado a Pereira es la del valencianista Miguel. "Aquí jugaba en el medio del campo, de organizador. Y, de repente, se transformó en lateral derecho en el Benfica".

"No me espantaría si Portugal gana la Copa del Mundo", concluye Pereira.

2006/07/04

O jogo falado de Portugal

Um grupo de surdos a trabalhar na TV Globo conseguiu ler os lábios e decifrar o que diz Scolari durante os jogos de Portugal. O resultado, hilariante, está aqui (via Corta-Fitas).
Há quatro anos, estava eu nos EUA e apesar de não ser surdo conseguia fazer o mesmo com o António Oliveira na Univision (televisão americana para hispânicos). As palavras do Oliveira, garanto-vos, não eram próprias para famílias.

2006/07/03

Foram-se os inhos, fica o Lulinha


O meu texto anterior foi escrito a pensar que Portugal iria jogar com o Brasil – e então é que a superioridade moral seria toda perdida (se nos lembrarmos de quem é o presidente daquela república). A superioridade moral contra a França também não existe, e começa a existir uma forte superioridade moral da França contra os blogues portugueses que começam a apresentar entradas como esta, caídas do céu, sem que nada o justifique.
Mas o time dos inhos, o Robinho, o Ronaldinho Gaúcho, o Ronaldinho Gorducho e outros que tais foi bem eliminado pela França e foi para casa. Eu gosto muito de futebol quando é bem jogado, mas não tenho grande paciência para inhos. Gosto de lidar com gente adulta. Do Brasil eu gosto de novelas, samba e bossa nova. Do Chico e do Caetano. E do grande presidente: esse é que não vai para casa. Vai continuar a defender bem as cores do Brasil e da América Latina como o tem feito. Para o André, saudoso do time dos inhos, e que está evidentemente cheio de dorzinha de cotovelinho, eu dedico esta foto do Lulinha.

2006/07/02

Agora é a sério

Primeiro, Portugal jogou contra um regime ditatorial e corrupto. Depois, contra um regime fundamentalista liderado por um fanático. Concluiu-se a fase de grupos contra aquilo a que Mario Vargas Llosa chamou "a ditadura perfeita". Seguiram-se duas monarquias execráveis, passe o pleonasmo. Segue-se finalmente uma república. Profundamente desmoralizada e descredibilizada graças ao seu presidente e ao seu primeiro ministro. Mas uma república, e que república.
Acabou-se a superioridade moral.

2006/07/01

Sob o signo do centenário

No Campo Grande, na Avenida da República, na Avenida Fontes Pereira de Melo, todos os adeptos portugueses seguiam as indicações dos cartazes da marcha "Sporting 100" (que se realizara de manhã, em direcção ao Estádio de Alvalade) enquanto celebravam a vitória da selecção.
Em pleno Marquês de Pombal, a concentração dava-se entre uma série de bandeiras do Sporting e da Fundação Carlos Lopes, que ornamentavam a praça.

Classe




E que dizer da calma com que Cristiano Ronaldo (convém recordar - também formado nas escolas do Sporting) marcou o último penalti, certamente seguro de que concretizaria? E a contrastar com o nervosismo patente nos seus colegas portugueses e ingleses? É aqui que se vê a diferença entre um bom jogador e um fora de série.

O maior



Além de tudo o resto, é do Sporting o maior guarda-redes a jogar com a camisola da selecção nacional.

Tão grande como os maiores da Europa


Ao longo dos seus 100 anos de existência, o Sporting contabiliza mais de 80 mil sócios, 5.900 atletas inscritos, 100 atletas olímpicos, nove medalhas olímpicas, 21 taças europeias conquistadas e mais de 13 mil títulos em todas as modalidades.

Mas acima de tudo o Sporting é um clube pioneiro. Pioneiro no eclectismo. Pioneiro nas claques organizadas. Pioneiro na organização desportiva (a primeira SAD). Pioneiro no estádio: o Euro 2004 só se realizou em Portugal porque outros clubes "não podiam ficar atrás" do Sporting, que decidira independentemente (e primeiro que todos) construir um estádio novo. Pioneiro na construção da academia de futebol.

Podemos não ser mais, mas somos aqueles que toda a gente quer imitar. Toda a gente quer ser como os sportinguistas. Todos os clubes querem ser como o Sporting.

Tenho o maior orgulho em ser do Sporting.


Powered by Castpost

"Vou ter com meu avô, e ele me dará dinheiro para fundar um clube novo"



«O Sporting Clube de Portugal comemora o seu centenário em 2006 e até na forma séria como contabiliza a sua longevidade revela como é diferente. Alguns clubes contam a sua idade a partir de datas mais remotas, recorrendo à fundação de entidades que lhes deram origem; outros contam como válidos muitos anos de inactividade e de inexistência registados a seguir à data em que foi estabelecida a sua fundação.

É uma questão de critérios, que não são uniformes. Para ser mais «idoso», como outros se dizem, o Sporting poderia ter fixado como data da sua fundação a do Sport Club de Belas (1902) ou mesmo a do Campo Grande Sporting Club (1904), mas não o fez. Nesses dias de 1906 ficou traçado o caminho: futebol sim, mas ecletismo também, correspondendo à vocação atlética multidisciplinar de alguns dos seus fundadores.

Em 1907, D. Fernando de Castelo Branco (Pombeiro) autorizou que o leão rampante do seu brasão fosse utilizado no emblema do Sporting, desde que não fosse sobre fundo azul. «... Não de oiro armado de vermelho em campo azul, como nos Pombeiros, mas de prata armado em preto, em campo verde, como correspondia às límpidas, firmes e esperançadas intenções dos seus fundadores», recorda Jùlio de Araújo. O verde fora, de facto, sugerido pelo Visconde de Alvalade, simbolizando a sua esperança no novo clube.»

Mais aqui.