2006/10/31

O estado português e o estado checo

Não tenho propriamente pena dos estudantes de Medicina portugueses a estudarem na Universidade Charles, em Praga, na República Checa. Dou-lhes os parabéns pelo espírito de iniciativa e por terem sido acolhidos por uma das melhores universidades europeias. Muito provavelmente, adquirirão uma formação melhor e serão muito melhores profissionais do que se fossem formados numa universidade portuguesa – falo a sério. Tive colegas checos e eslovacos no meu doutoramento e pude verificar a excelência da sua educação – durante o período comunista, numa universidade pública, é bom que seja dito. Depois da democratização da sociedade a excelência da Universidade foi preservada, e o seu estatuto também – pública. Do Estado. É por isso que leio com um sorriso quem – como o André Abrantes Amaral – aproveita esta oportunidade para criticar “o Estado”, mais uma vez. Será que o André não sabe que aqueles estudantes estão numa Universidade “do Estado” (checo – é claro)? Será que o André não vê que o problema não está “no Estado” – o problema está em Portugal, nos portugueses e no seu corporativismo?

2006/10/30

António Lobo Antunes: relato de uma visita a Israel

Extracto de uma entrevista à Pública de ontem:

R.- O horror do aeroporto. A bagagem, o interrogatório. Mostrei a carta a explicar por que ia lá, mesmo assim continuaram, os livros eram vistos página a página... Depois o clima permanente de medo. Depois a sensação de que aquele Estado foi criado sobre o ódio. O ódio dos alemães. O Holocausto, sempre, sempre, sempre. Levaram-me a um bairro alemão. E eu perguntei ao senhor que estava sempre comigo: "Então e os alemães?" "Ah, isso corremos com eles todos."
Como me chocou, por exemplo, dizerem que não tinham relações sexuais com não-judeus.
P.- Mas quem é que lhe disse isso?
R.- Esse senhor. E não foi só ele. Como me chocou, por exemplo, se sou judeu posso ir para lá morar, mas se sou judeu etíope só aceitam 300 por ano. Como me chocaram os sábados, aquilo tudo deserto, com os carros que não se podem guiar. E depois não era nada do que eu esperava, pensava que a Terra Prometida fosse muito bonita. São pedras e areia. Tudo amarelo...

Noutra parte da mesma entrevista:
P.- Quando ganhou o Jerusalem Prize, no ano passado, hesitou antes de ir?
R.- Não. Porque vinha acompanhado da garantia de que eu podia chegar lá e dizer o que quisesse em relação ao problema palestiniano, que me indigna muito. E não falei sobre isso.
P.- Mas porque não quis.
R.- Não quis ser indelicado. Era um convidado. Naqueles dias era a pessoa mais importante que lá estava. Tinha aquela segurança toda, o primeiro-ministro... Não quis. Achei que era indelicado. E achei que não era altura. Falei sobre isso com um amigo meu, o Amos Oz. E não gostei da posição que ele agora tomou, pró-guerra [no recente confronto entre Israel e o Hezzbollah libanês]. Nem entendo. Somos amigos, gosto muito dele.

Não esperava que um homem polémico como António Lobo Antunes padecesse do mesmo mal português tão comum que é o evitar conflitos a todo o custo (sem se aperceber de que muitas vezes assim se geram os maiores problemas). Desde quando é que expressar uma opinião sobre um assunto é indelicado? É claro que há formas indelicadas de expressar uma opinião, e isso eu compreendo que Lobo Antunes evite, principalmente sendo um convidado. Agora, não a exprimir de todo? Preferir calar-se para "não arranjar problemas" (para si mesmo), mesmo se esses problemas existem (e se muita gente em Israel os denuncia)? Preocupar-se mais consigo mesmo do que com os mais fracos? Não querer afrontar os poderosos?
O que me impressiona mais é que quem toma esta atitude é um escritor que, em Portugal, não tem papas na língua (a entrevista à Pública é só um exemplo). Subserviente fora de casa; em casa, dá-se ares de muito bravo. "Na guerra és vil, na cama és frouxo", já cantava o Chico Buarque do português de Calabar. Há atitude mais portuguesa que esta? António Lobo Antunes merece ser nomeado para o título de "português mais português".

2006/10/29

Voto no Lula (II)

Um sindicalista fala de um ex-sindicalista. E diz tudo:

“Volta a apoiar Lula da Silva nas presidenciais brasileiras de amanhã?”

Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, responde (na revista “Notícias Sábado” de 30 de Setembro):

“Sim! O Brasil ficou menos desigual; o FMI deixou de definir a sua política; Lula devolveu presença qualificada do Brasil e da América Latina na cena internacional; com a sua iniciativa e as alianças que estabeleceu, os países pobres passaram a ter uma voz mais forte.”

2006/10/28

Peter van Nieuwenhuizen e os cálculos da supergravidade


Peter foi um dos inventores da supergravidade, na vila de Stony Brook, em Long Island (Nova Iorque), passam agora 30 anos. As teorias da supergravidade representam a extensão supersimétrica da relatividade geral de Einstein, tendo sido pioneiras na unificação da gravidade com as outras interacções. O limite de baixas energias das teorias de supercordas é uma teoria de supergravidade.
Em Paris Peter recordou a história, que envolveu muitas noites e muitos cálculos. Um empreendimento gigantesco e uma das grandes conquistas do espírito humano, reconhecida com a medalha Dirac e o prémio Heineman para os seus protagonistas. Peter trouxe consigo de Stony Brook os exemplares originais de alguns cadernos contendo os cálculos da supergravidade, objectos míticos e recheados de histórias para um aluno de doutoramento naquela universidade. No seu seminário transpareceram o entusiasmo e a energia que tornaram Peter reconhecido entre os seus pares de todo o mundo, dos EUA à Rússia então soviética.
Foi bom reencontrar em Paris um dos meus grandes mestres e verificar que continua sempre em forma.

2006/10/27

O Père Lachaise e as vaidades

Há então duas categorias nos cidadãos enterrados no cemitério Père Lachaise: os cujo túmulo vem assinalado nas plantas distribuídas, e os cujo túmulo não vem assinalado (a grande maioria). Mas como referi anteriormente, os túmulos das celebridades estão sempre rodeados por uma grande porção de gente. É interessante a comparação: será que os túmulos assinalados no guia são os que têm mais guias? Nem por isso. Vi muitas celebridades cujos túmulos não tinham ninguém a vê-los. Mas vi mais. Vi também o oposto: túmulos de gente que não era muito famosa (pelo menos para mim) rodeados por multidões. Como é o caso da jovem Edith da fotografia, que tinha mais gente à sua volta do que a Piaf. Uma vez mais os gostos do público e do “júri” não coincidem, como sucede muitas vezes nos concursos televisivos.
Fiquei curioso por saber quem seria a tal Edith, cuja campa era objecto de peregrinação. Segundo descobri, tratava-se de uma jovem cantora morta precocemente. Pode não ter para já (e duvido que alguma vez tenha) o seu nome no guia do cemitério. Mas fãs mais dedicados do que os seus eu não vi.

2006/10/26

Père Lachaise

Em França, e especialmente em Paris, pode encontrar-se muito que nos parece déjà-vu, quiçá démodé, mas que é pioneiro. E esse papel histórico ninguém pode negar aos franceses: foram eles que inventaram muita coisa que hoje nos parece bien connue, vulgar e corriqueira, mas que não havia... antes de eles a terem inventado. Só que em França tudo é vistoso e por vezes mesmo exagerado; tudo tem de ser épatant. E não há nada mais épatant do que o cemitério do Père Lachaise.
O cemitério do Père Lachaise, no vingtième arrondissement, é um autêntico museu dos mortos e dos túmulos. Sobretudo dos túmulos, que constituem o mais espectacular que o cemitério pode oferecer ao visitante anónimo. Há ali túmulos que são obras-primas da arquitectura, ou da escultura.
Não é porém isso que torna este cenitério tão conhecido. A principal razão por que este cemitério é tão famoso e visitado, estando sempre cheio de turistas e vindo mesmo nos guias, é a quantidade de gente famosa, francesa e não só, das letras, das artes, da ciência, da política, que lá está enterrada, de Edith Piaf a Jim Morrisson, de Pissarro a Oscar Wilde. Os túmulos destes famosos são em geral reconhecíveis por estarem rodeados por uma pequena multidão. Fui-me aprecebendo disso até que, usando este mesmo critério, cheguei a um túmulo desconhecido. Antes de que eu me pudesse aperceber fosse do que fosse, um dos membros da turba pediu-me desculpa, mas disse-me que se tratava de uma “cerimónia privada”. Nem me tinha apercebido de que havia gente a rezar. No cemitério do Père Lachaise também há gente vulgar. A gente é que, rodeada por tanta história, tanta arquitectura, tanto design e tanta fama, até se esquece disso.

2006/10/25

Cláudio Tellez, um português livre

Surgiu um novo “blogue do não”, desta vez associado ao referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Dando a cara pelo “não”, encontramos algumas das figuras mais esperadas, conhecidas na blogosfera conservadora portuguesa. Alguns dos blogues onde estes autores escrevem são explicitamente referidos como “blogues alinhados”. Sem nenhuma surpresa encontra-se entre os autores o nosso bem conhecido André Azevedo Alves, cujo “liberalismo” só é válido para questões económicas. Mas curiosamente o Insurgente, que devido à obra do AAA é o blogue português mais proselitista, não surge como um “blogue alinhado”. Querem ver que o “colectivo insurgente” afinal é colectivo, existindo respeito pelas posições individuais de cada membro? Quem será então o (ou “os”) insurgente(s) a favor da despenalização do aborto?
Outro insurgente que dá a cara pelo “não” é Cláudio Tellez, um matemático católico chileno radicado no Rio de Janeiro e conhecido pelas suas posições abonatórias relativamente a Augusto Pinochet. Eu não quero de forma nenhuma pôr em causa o direito do Cláudio ou de um cidadão de qualquer outra nacionalidade de participar no debate sobre esta questão: mesmo se este debate diz respeito à situação portuguesa, a questão do aborto é universal, e é enriquecedor comparar com experiências de outras paragens. O estranho é que o “blogue do não” se autointitula “um blogue de portugueses livres”! Já sabíamos que o conceito de “liberdade” para os nossos liberais é bastante bizarro, e os “portugueses livres”, de acordo com o conceito de liberdade deles, são (felizmente) muito poucos. Mas serão assim tão poucos os “portugueses livres” que dizem não à despenalização do aborto que, para fazerem um blogue, até têm de chamar “português livre” a um chileno simpatizante de Pinochet? A menos que haja alguma ligação entre o Cláudio e Portugal que eu não conheça. Em qualquer dos casos eu gostaria de perguntar ao “português livre” Cláudio Tellez: ó pá, qual é o teu prato de bacalhau favorito?

2006/10/24

De volta o véu islâmico

A questão do véu islâmico volta a estar na ordem do dia, desta vez por causa das declarações do ex-ministro britânico Jack Straw e da decisão de uma escola suspender uma professora que insistia em dar aulas com a cara totalmente coberta, uma decisão mais tarde confirmada pelo tribunal.
Como bem afirmou Romano Prodi, primeiro-ministro italiano, quando falamos com uma pessoa queremos vê-la olhos nos olhos. Não queremos que ela se esconda. “É uma questão de bom senso.” Será assim tão complicado perceber?
Convém esclarecer que não considero que a proibição do véu islâmico nas escolas públicas seja uma discriminação de nenhuma espécie. A ostentação do véu é que é uma discriminação que a mulher islâmica se auto-impõe (ou, na maioria dos casos, lhe é imposto pela sua comunidade). Tal como o uso da kippah por parte dos judeus. Mas nas escolas públicas tais ostentações não são aceitáveis (tal como não são aceitáveis os símbolos católicos como o crucifixo). Uma das funções essenciais da escola pública é ensinar que a religião deve ser uma opção livre do cidadão, que não deve ser imposta pela sociedade e nem pela família. Diz-se que o véu islâmico faz parte da “identidade” destas mulheres. Nada mais perigoso e, isto sim, atentatório contra a liberdade individual. É um papel essencial da escola pública ensinar que a religião é uma escolha própria que deve ser livre e que não pode nunca e sob nenhuma circunstância servir para “definir” a identidade do indivíduo perante o Estado ou perante a sociedade. A escola pública não pode ser neutra nestas matérias; se fizer concessões neste aspecto, com que moral se rejeitará o ensino do criacionismo? Este é um assunto da maior importância.

2006/10/23

Cidade das ciências e da indústria


A Cité des Sciences et de L’Industrie de Paris fez no fim de semana passado 20 anos. Aproveitei para a visitar por dentro pela primeira vez e deliciar-me com uma demonstração experimental da curva de Gauss com graves em queda em direcção aleatória, simulações de movimento browniano, o caos determinista num simples moinho de água... Pude ainda prever as velocidades de escoamento de fluidos conforme o formato do recipiente, fazer experiências de acústica e óptica... Tudo isto eu mesmo. Com as minhas próprias mãos.
O conceito deu origem a iniciativas como a do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, associado ao programa Ciência Viva. Só é pena que se a Cité des Sciences et de L'Industrie é hoje um dos sítios mais visitados de Paris, o seu equivalente em Lisboa seja muito pouco conhecido. A diferença está na atitude dos públicos. Mas está também em grande parte na programação. A Cité des Sciences et de L’Industrie é um local de referência para a divulgação científica, contando frequentemente com a presença de investigadores franceses a divulgarem o seu trabalho ao público (era só por isso que eu já a visitara antes). Tal não se costuma passar com o Pavilhão do Conhecimento. Globalmente a ciência francesa, para além de ser muito mais competitiva do que a portuguesa, está muitíssimo mais perto do público, sendo por isso mais influente junto da opinião pública. Não digo que os responsáveis do Programa Ciência Viva não façam tudo o que podem para melhorarem a situação portuguesa, mas estes exemplos demonstram que ainda há muito a fazer.

2006/10/22

Até sempre campeão


Schumacher, vamos sentir a tua falta.

2006/10/20

Um blogue também serve para isto

Parabéns, meu caro amigo. Se não fosse eu nem te lembravas de que hoje fazias anos, não era?

Cromos da Cité Universitaire - 3 - a empregada de caixa da cantina


Esta empregada é uma instituição entre os portugueses da Cité Universitaire. É portuguesa, a tuga da cantina. Está nas caixas a receber o dinheiro e dar os trocos. Dava sempre “bonjour”, até que um dia logo ao princípio me disseram que era portuguesa. Desde então comigo passou a “bom dia”.
Às vezes metia conversa com ela. É do Minho. Costuma ir a Portugal em Setembro. No dia das eleições presidenciais perguntei-lhe quem é que ela achava que ganhava. Ela não se mostrava muito interessada: “sei lá, eles são todos a mesma coisa”. Mas se a mesma pergunta fosse feita em dia de Benfica-Sporting, aí a resposta era outra: “Benfica!”, disfarçando um sorriso.
Quando pedi para fotografar o ultratímido empregado de quem falei ontem, ele recusou, e só anuiu muito a custo. Quando pedi para fotografar esta afável minhota, ela aceitou logo, e só me pediu que esperasse um bocadinho para tirar o espelho da mala e se pentear.

2006/10/19

Cromos da Cité Universitaire - 2 - o servente da cantina


Foram vezes sem conta as refeições que este empregado me serviu. Ele e o colega. Sempre com a mesma cara, verdadeiramente impassível. Inalterada. De autómato. O homem atendia-nos automaticamente, todos os dias, uns ao almoço, outros ao jantar, sempre com a mesma expressão inexpressiva.
A teoria do meu colega do Técnico é mais ou menos confirmada: o senhor é notoriamente magro, e os pratos por ele servidos têm geralmente menos comida que os da sua colega referida no texto anterior. Mas com um pormenor que nem toda a gente conhece: ao contrário desta, e mesmo com o aviso, se lhe pedirmos ele não recusa uma colher extra de acompanhamentos. Com a quantidade de comida que é desperdiçada por ficar nos pratos, esta é capaz de ser uma boa solução, partindo do pressuposto que quem lhe pedir a dose extra comerá (como eu) a comida toda. O senhor punha a dose extra. Sempre com a mesma cara.
Na verdade foi graças a este carismático empregado que decidi começar esta série, que se estende até amanhã. E porquê? Primeiro dizia que não me havia de ir embora sem lhe despejar um copo de água em cima, a ver se ele ficava zangado e ao menos punha outra cara. Depois decidi: não, vou é tirar-lhe uma fotografia. E pô-la no blogue. E foi o que eu fiz. Mas, mais uma vez, a fotografia não me saiu como eu queria. É que, ao tirar-lha, ao fim de três anos foi a primeira vez que vi o homem sorrir.

2006/10/18

Cromos da Cité Universitaire - 1 - A servente da cantina



Tenho um amigo meu que tinha a teoria, quando ambos estudávamos no Técnico e almoçávamos na cantina, que, podendo, deveríamos escolher sempre o empregado mais gordo para nos servir. Os empregados gordos, dizia ele, põem sempre mais comida do que os magros.
A teoria desse meu amigo aplica-se à gordinha empregada que vêm na fotografia, no seu trabalho na cantina da Cité Universitaire de Paris. As doses dela são as mais bem servidas de toda a cantina, melhores do que as de qualquer outro empregado. Mas não adianta, ainda assim, pedir-lhe mais comida se se tiver muita fome. O aviso bem está lá afixado (vê-se na fotografia, à direita): não adianta pedir mais do que o que põem no prato. Se mesmo assim insistirmos, na esperança de algum tipo de "gaulês-porreirismo", a resposta que levamos é sempre a mesma: não nos diz nada, olha-nos nos olhos e aponta-nos para o aviso com a colher. Gostaria de ter fotografado este momento.

2006/10/17

O Estado Social ao serviço do utente

Desde 2005 que a cantina da Cité Universitaire de Paris começou a dar prejuízo, algo inédito desde que abriu e incompreensível para uma cantina considerada um modelo (a melhor da Ilha de França, a região de Paris), que fornece um serviço em geral de qualidade muito aceitável tendo em vista os preços praticados. Um serviço que nunca se via nos países anglo-saxónicos (a estes preços) ou em Portugal (com esta qualidade). Esta cantina era um exemplo do Estado Social francês no seu melhor.
No ano lectivo passado tentou “salvar-se” a cantina, recorrendo à receita mais fácil: a redução drástica de custos. Houve alguns empregados antigos afastados (reformados), mas foram substituídos por outros. O problema não era excesso de pessoal.
Onde decidiram reduzir os custos foi no melhor que tinham: na qualidade (e quantidade) das refeições. Mantiveram um menu “barato”, mas com menor quantidade (menos um item à escolha) e muito pior qualidade. A escolha de pratos era mínima e só com um acompanhamento. Simultaneamente criaram um menu de qualidade comparável ao anterior, só que muito mais caro.
O resultado foi que a frequência da cantina baixou ainda mais, para números nunca vistos. Ao jantar tinha uma ocupação de menos de metade do que costumava ter (estimativa minha). Note-se que estamos a falar do único sítio onde todos os estudantes da Cité Universitaire (que não tinham um estúdio, mas um quarto com cozinha partilhada) podia jantar.
Aos fins de semana então o cenário era ainda mais desolador. Em 2004 e 2005, aos domingos, a fila para almoçar o cuscus chegava a ser perto de meia hora. Em 2005/06, o cuscus passou a prato “de luxo”. Para almoçar aos domingos não havia fila nenhuma...
Os mais radicais de entre os “redutores drásticos de custos” passaram mesmo a defender publicamente o impensável: o encerramento puro e simples da cantina. Essa hipótese chegou mesmo a ser discutida, mas não foi aprovada. O que foi aprovado, e era dado como certo no final do ano lectivo passado, foi o encerramento aos fins de semana, por falta de rentabilidade. Tirei mesmo fotografias ao último cuscus que lá comi no ano passado, julgando que era o último cuscus que lá comeria de todo.
Cheguei agora e verifiquei com agrado que a filosofia de redução cega de custos mudou. Embora se mantenha o menu “barato” e o “menos barato”, a qualidade do primeiro melhorou substancialmente, para níveis próximos dos de 2004 e 2005. A cantina continua aberta aos fins de semana e o tradicional cuscus de domingo até passou a ser prato “barato”. Mais: a cantina agora, ao fim de semana, até passou a estar aberta todo o dia! (E não só ao almoço e ao jantar.) O que é que eles concluíram?
Que os estudantes ao fim se demana têm um horário mais flexível. Provavelmente não querem almoçar tão cedo (mesmo se os almoços são servidos todos os dias até às 14:30). Que fizeram então? A partir desta hora, aos sábados e domingos, passam a servir só um ou dois pratos (sempre os mesmos, de carne grelhada). É muito útil para quem, como eu, só chegou do aeroporto depois das três. E fiquei surpreendido com a quantidade de pessoas que encontrei a almoçar a essa hora! A outra redução foi na escolha de pratos do fim de semana: é mais limitada que durante a semana. Mas a cantina continua aberta aos fins de semana, e pelo movimento que lá tenho visto parece-me bem rentável.
Moral da história? Varios. Por um lado, atender às necessidades efectivas dos utentes e não se limitar a uma redução cega de custos é indispensável para a manutenção de um Estado Social. Por outro, esta manutenção tem que ser um objectivo de todos, e exige cooperação de todos. Não acompanhei o processo, mas imagino que os sindicatos mais conservadores não hão-de ter achado graça nenhuma a alguns (pouquíssimos) trabalhadores passarem a trabalhar ao sábado e domingo à tarde (só a cozinhar, servir e vender senhas; os pratos ficam para lavar mais tarde). Ainda bem que chegaram todos a um acordo. E voltei a comer o meu cuscus.

"Derangement syndrome" com a demagogia propagandística da extrema direita

Ando com a cabeça ocupada com outros assuntos e não quero perder tempo com esta gente enquanto estou em Paris, mas tranquiliza-me ver que há mais quem não lhes dê descanso.

2006/10/16

Bienvenu en France

Com o Jacto Fácil cheguei ao Terminal 3 do Aeroporto Charles de Gaulle sem grandes problemas. Uma vez lá, queria apanhar o comboio regional para o centro de Paris, para o qual tinha que comprar o bilhete (8 euros). Para tal havia máquinas automáticas e guichets.
As máquinas automáticas estavam TODAS em panne. Só havia dois guichets abertos (e outros tantos fechados). Havia vários funcionários que se iam revesando, pois não podiam (e não queriam) trabalhar mais do que o que estava estipulado.
Já me tinha esquecido de como era a França...
Para este texto não ficar totalmente "anti-francês", acrescento que a maior parte do tempo dos funcionários dos dois guichets era ocupado a responder às dúvidas de turistas americanos e ingleses. Cada um passava cinco minutos a pôr todo o tipo de questões sobre bilhetes de comboio e passes. Mas aqui a culpa também era dos funcionários, que lhes respondiam em vez de os recambiarem para o guichet de informações, mesmo ao lado, que estava aberto e às moscas.
Quem estivesse atrás que esperasse. E quem (como eu) sabia perfeitamente o que queria (um bilhete para Paris), que desesperasse, que os funcionários não queriam saber e o seu salário ao fim do mês era certo. Desesperar, foi o que eu fiz. Se acrescentarmos ao tempo de espera para comprar o bilhete de comboio o de recolher a bagagem e os 45 minutos da viagem até à Cité Universitaire, digo-vos: sem exagero, demorei mais tempo do Aeroporto Charles de Gaulle à Cité do que do Aeroporto da Portela ao Charles de Gaulle.
O que vale é que estar em Paris é uma festa e compensa tudo. Mas não me retira a vontade de protestar, como um bom francês.

2006/10/15

Parabéns supergravidade!

Sejam os 25 anos, sejam os 30 anos: as comemorações do aniversário da supergravidade são sempre em “minha casa”. A conferência dos 25 anos foi literalmente "em minha casa"; a presente comemoração não se pode dizer que seja na minha “casa” presentemente (já foi). Mas estará sempre nestes dois locais uma boa parte das minhas melhores recordações.

2006/10/14

Teremos sempre Paris. A Cité Universitaire

Regresso temporário a Paris, a partir de hoje, aproveitando uma conferência e as tarifas de uma companhia de baixo custo (eu não posso estar aqui a fazer propaganda; digamos... o Jacto Fácil). Enquanto aqui estiver é provável que adopte um tom mais descritivo (sem ser necessariamente intimista) para o blogue. As polémicas à Blogue de Esquerda ficam para Lisboa; por agora permitam-me que aproveite (escrever no blogue também faz parte) o meu breve regresso a um sítio onde fui feliz.

2006/10/13

Festas académicas (II)

E vejo anunciado o “Arraial do Caloiro” do Técnico. Tudo bem – isto já havia “no meu tempo”. Mas “no meu tempo” os arraiais eram... no Técnico,que tem uma bela alameda para isso! Agora são num armazém nas Docas, em Alcântara!
Para além de perderem autenticidade – o que torna uma festa “do Técnico” é o facto de ocorrer no Técnico; nas Docas faz-se qualquer festa! -, o Técnico perde assim outra característica sua, das mais genuínas, e de que eu tinha saudades quando estava fora. Uma vez em cada semestre, tinha-se um Super Arraial. Assistia-se à montagem do palco e aos preparativos, e por vezes a concertos memoráveis, como um dos Xutos. E o principal: mesmo que o arraial fosse na sexta-feira à noite, na semana seguinte o Técnico todo ainda cheirava a cerveja e a vomitado. É uma pena que já não seja assim.

Festas académicas (I)

Vejo anunciada uma “festa Erasmus” em Lisboa, algo que eu só estava habituado a ver em Paris e que não havia quando eu era estudante aqui. Ainda bem: tal sigifica que as nossas universidades se tornam mais cosmopolitas e atractivas para alunos estrangeiros. Achei graça ao pormenor de a festa ser patrocinada pelo “Licor Beirão”. Será que no meio da festa (destinada essencialmente a estudantes estrangeiros, que pedirão vodka e whisky) vai aparecer o Zé Diogo Quintela vestido de campino a perguntar “vocês são portugueses ou são camones”?

(Quem não perceber este texto veja aqui e aqui.)

2006/10/12

O último IDS da semana

Na verdade não tenho especificamente um IDS; tenho um “derangement syndrome” com a extrema direita em geral. Mas vamos então a isto.
Já “agradeceram” ao André Azevedo Alves a presença de Salazar na lista dos “grandes portugueses” para a RTP? Saibam que tal presença muito se deve às suas diligências de obreiro extremoso e extremista. Ficamos assim a saber que para o André Azevedo Alves a omissão de Salazar da referida lista é “gritante”. De vez em quando, depois de se queixar dos desvios “centristas” do actual líder conservador, o AAA recorda-nos que existem alternativas à direita no Reino Unido. Já a subida da extrema direita na Flandres foi evusivamente (três textos) anunciada no Insurgente, mas com cópias de notícias. Ficamos sem saber o que pensa o AAA deste resultado eleitoral. Esta, sim, é uma omissão gritante, penso eu.

2006/10/11

Boa onda

É o slogan da nova campanha da Rádio Renascença. Associado a ele, boas músicas como esta. Quem conhecerá esta versão original? Eu mesmo só a conhecia numa (bela) interpretação do Caetano Veloso.

Anita vai ao Colombo

Está patente até ao próximo domingo no Centro Comercial Colombo uma exposição evocativa dos cinquenta anos da famosa Anita (que eu nunca li). Será que a Alice e o recém-chegado Pedro gostarão um dia de ler a Anita? Será que a pensar nessa hipótese o Zé Mário e a Margarida foram lá pedir um autógrafo ao autor? Bem gostaria de saber.

2006/10/10

Assim se vê a influência do Expresso

Na semana passada lá voltou a sair um Expresso cuja manchete era “fabricada”. Tratava-se de um “rumor”, de que Paulo Portas e Marcelo Rebelo de Sousa tinham um acordo sobre o aborto. Nenhum tipo de fundamentação. Só um “rumor”. Nada mais.
O “rumor” foi prontamente desmentido pelos envolvidos. Só que, no domingo, lá vinham o Público e o Diário de Notícias desmentir... o rumor do Expresso!
A “escola” do Arquitecto Saraiva (e a bem dizer, do Professor Marcelo) é esta: arranjar “rumores” que não podem ser provados, criar “casos”, tentar sempre influenciar a agenda política, sempre por dentro do “sistema”. (Ao menos o velho Independente não se limitava a publicar rumores: fazia acusações concretas. Podia só acabar em tribunal, mas as suas manchetes referiam-se a factos eventualmente comprováveis, por muito falsos que por vezes fossem. E não era um jornal do “sistema”.) O Arquitecto Saraiva gostava de se gabar e dizer que o Expresso que ele dirigia era “o mais influente jornal português”.
Agora o Arquitecto Saraiva já não dirige o Expresso, mas a sua “escola” mantém-se. E por muito que me custe admiti-lo (por não gostar nada do jornal), a “influência” também. O que dizer de um jornal que publica notícias falsas na primeira página, para no dia seguinte serem desmentidas... pelos outros jornais? Para mim, de facto, isto é "ser influente".

2006/10/09

O colectivo decidiu, está decidido – iliteracia económica geral!

Agora, para o colectivo insurgente, tudo o que se afaste da ortodoxia ultraliberal, como elogiar o papel dos sindicatos, ou mesmo o keynesianismo, revela “iliteracia económica”. Compare-se este nível com o do João Miranda, que mesmo se manipula os números (e mesmo se por vezes é críptico) argumenta. Pode ter tiques de educador do povo (que eu pessoalmente acho uma delícia), mas nunca arrumaria uma questão com argumentos de “iliteracia económica”... Assim se vê mais uma vez que quem nasceu para colectivo insurgente nunca chegará a João Miranda.
Quem poderá chegar bem a João Miranda (assim não se deixe estragar pelas práticas do colectivo insurgente) é o dos Santos. Espero que os seus textos no Insurgente, mesmo se (obviamente) ultratendenciosos (não se espera outra coisa), mantenham o nível de sempre.

2006/10/08

Paris é uma festa (mas a partir de hoje nem tanto)

Paris perdeu grande parte do seu ambiente festivo desde hoje, quando o meu amigo Sandro regressou (aparentemente de vez) a Portugal, para concluir o doutoramento. Mesmo depois da Nuit Blanche, este fim de semana, onde espero que se tenha divertido tanto como nos divertimos o ano passado. Toda a gente vai chorar em Paris: das rodas do Bando do Chorão (o samba vai virar choro) às pedras da calçada da Rue de La Tombe Issoire, principalmente perto do Gevaudan. Por onde este rapaz passe a festa é certa e boa. Mas acima de tudo vão-se entristecer os habitantes da Cité Universitaire, especialmente do sexo feminino.
Espero que o nosso país saiba aprovaitar os muitos talentos do Sandro.

2006/10/07

Ciência de qualidade na blogosfera lusa

No Cinco Dias um texto do Rui Curado Silva, autor do imprescindível Klepsýdra (se julgam que exagero no adjectivo, não sabem o que perdem).
Vale a pena acompanhar a troca de ideias entre o Agreste Avena e o Conta Natura. Ainda neste último blogue, a estreia do José Natário na blogosfera, com um texto sobre o Prémio Nobel da Física deste ano. Esperemos que esta colaboração continue.

2006/10/06

Como é bom!



Como é bom viver com liberdade de expressão e poder ofender centenas de milhões de europeus!
Como é bom ser-se brasileiro, escrever-se num blogue europeu que é "asqueroso" ver-se uma bandeira da União Europeia e a única reacção do "colectivo" dos outros membros do blogue - que vivem e pagam impostos na União Europeia - que se tem... são cinco "smileys"!
Como é bom saber que se tem a impunidade de poder ofender e ninguém ligar nenhuma! Principalmente num blogue - escrito na União Europeia - que seria o primeiro a denunciar nos termos histéricos habituais qualquer ofensa a uma bandeira de Israel ou dos Estados Unidos da América!
Como é bom ser-se brasileiro e escrever-se tal coisa - num blogue lido na sua esmagadora maioria por europeus - a partir do Brasil, onde uma ofensa à bandeira nacional é crime!
Como é bom poder escrever textos asquerosos.

2006/10/05

Descobertas excitantes

A do retrato do universo enquanto jovem, que evidencia o Big Bang, galardoada este ano com o Prémio Nobel da Física para John Mather e George Smoot.
Os testes mais precisos de sempre à teoria da Relatividade Geral, objecto de um artigo meu no Público. Fica aqui o texto.

Relatividade geral sobrevive ao mais preciso teste de sempre

Observação de um pulsar duplo permitiu a detecção indirecta de ondas gravitacionais

Uma equipa internacional de astrónomos utilizou observações de um pulsar duplo para testar a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.
Os astrónomos, liderados por Michael Kramer do observatório Jodrell Bank, na Universidade de Manchester, no Reino Unido, basearam-se em observações feitas num par de pulsares para efectuarem os testes mais precisos alguma vez já realizados à teoria. Todos os resultados obtidos estão de acordo com os por esta previstos.
O pulsar duplo PSR J0737-3039A/B, descoberto em 2003 pela mesma equipa responsável por estas observações, situa-se a cerca de 2000 anos-luz da Terra, na direcção da constelação Puppis. É formado por duas estrelas de neutrões compactas em rotação em torno uma da outra, cada uma com um raio de cerca de dez quilómetros e massa superior à do Sol, estando separadas por uma distância de um milhão de quilómetros. Devido ao seu pequeno tamanho, elevada densidade e curto período orbital (duas horas e 24 minutos), o pulsar duplo tem um potencial gravitacional cerca de cem mil vezes superior ao do Sol, o valor mais alto conhecido em todo o Universo, excepção feita aos buracos negros. Por isto, perto destes pulsares o espaço-tempo é muito mais curvo e os efeitos relativistas são muito mais sensíveis. Os pulsares emitem radiação que pode ser captada por telescópios, permitindo determinar a curvatura do espaço-tempo e constituindo-se assim um excelente laboratório para a teoria da Relatividade Geral. Estas medições permitirão determinar se a Relatividade Geral é válida somente em regiões onde o campo gravitacional é fraco, como o nosso sistema solar, ou se o é igualmente onde o campo é muito forte.
Utilizando três dos maiores radiotelescópios do mundo, a equipa mediu cinco efeitos relativistas não previstos pelas leis de Newton. Todos os efeitos medidos estão em completo acordo com as previsões da teoria de Einstein, mas aquele em que a concordância é mais espectacular (de 0,05 por cento) é o chamado atraso de Shapiro: os sinais luminosos de um pulsar, quando passam junto ao outro, são atrasados pela curvatura do espaço-tempo.
Outro efeito relativista observado é a dilatação do tempo (o “relógio” de um pulsar anda tão mais lentamente quanto mais fortemente sentir o campo gravitacional criado pelo outro pulsar).
Dois desses efeitos, relacionados, são declínio orbital e a radiação gravitacional: os dois pulsares perdem energia devido à emissão de ondas gravitacionais (ondas que propagam campos gravitacionais no lugar dos electromagnéticos). Como consequência as estrelas desaceleram e aproximam-se em espiral, até finalmente colidirem formando-se um único corpo. Os astrónomos observaram que a distância que separa os pulsares diminui cerca de 7 milímetros por dia.
A emissão de ondas gravitacionais é uma consequência da Relatividade Geral de Einstein. Estas ondas são extremamente difíceis de detectar, nunca tendo sido observadas directamente. A diminuição do raio da órbita observada corresponde exactamente ao esperado pela perda de energia devida à sua emissão. As observações desta equipa dão assim uma prova indirecta da existência de ondas gravitacionais.
Os resultados foram publicados na edição do passado dia 14 de Setembro da revista Science. Apesar de os testes terem sido efectuados com uma precisão de 99,5 por cento, a equipa espera aumentar ainda mais esta precisão em testes futuros, de forma a observar a estrutura destas estrelas superdensas e eventualmente detectar pela primeira vez sinais de gravitação quântica, cuja presença introduziria correcções mensuráveis (embora muito pequenas) a estes resultados.

2006/10/04

O “humanismo” liberal

Para o André Abrantes Amaral os socialistas não são “humanos” e nem vêm a “essência da pessoa”. Será por contraponto aos liberais? Comparemos então com o seu texto mais recente, “Eles” sabem cada vez menos. Qual é então o “humanismo” liberal? O André primeiro garante que o dinheiro das reformas “não vai chegar para todos”. E encontra rapidamente a solução – para ele, claro: manifesta-se disposto a “pagar a reforma” do seu pai (mas que bom filho!). Ele e o pai “saberiam resolver o assunto na perfeição”.
A diferença entre o “humanismo socialista” e o “humanismo liberal” consiste nisto: mal ou bem, melhor ou pior, o primeiro procura que todo o cidadão que trabalhou toda uma vida tenha uma reforma digna; o segundo está preocupado consigo mesmo, com a sua própria reforma (e eventualmente a da família) e com a de mais ninguém. Não se preocupa nomeadamente com as reformas daqueles cujos filhos não lhas podem pagar (isto se adoptarmos o ponto de vista – discutível – de que as reformas são para serem pagas pelos filhos aos pais).

Sobre este assunto, deixo aqui um extracto de um artigo de José Vítor Malheiros no Público de ontem.

As reformas dos outros
José Vitor Malheiros

Existem, relativamente à Segurança Social, duas grandes posições de princípio. De um lado, os que consideram que a Segurança Social é um mecanismo estrutural de solidariedade social e que os seus descontos de hoje se destinam a assegurar as necessidades dos seus concidadãos mais frágeis (idosos, doentes, desempregados), na certeza de que, quando eles próprios se encontrarem em situação de fragilidade, os seus concidadãos estarão disponíveis para os ajudar financeiramente. De outro lado, os que consideram que os seus descontos para a Segurança Social são uma espécie de poupança pessoal, que estão dispostos a desembolsar mensalmente apenas devido à certeza de que, quando necessitarem, poderão utilizar essa reserva que constituíram e que esperam que o Estado tenha gerido sabiamente de forma a ter aumentado o seu pecúlio.
Os primeiros preocupam-se com a garantia de que, no momento em que dela necessitarem, a Segurança Social terá receitas suficientes (o que significa, entre outras coisas, contribuintes suficientes) para prover às suas necessidades.
Os segundos são os que costumam comparar a "performance financeira" dos seus descontos com o rendimento de fundos de investimento privados e que sonham com o dia em que possam deixar de pagar a "reforma dos outros", para confiar exclusivamente na sua capacidade de investimento para se sustentarem na velhice e na doença. (...)
Neste momento, a investida da direita neoliberal e das empresas que exploram o ramo consiste em tentar convencer os mais ricos a investir em esquemas privados com apelos ao egoísmo e ataques ao estado social (os "ciganos do rendimento mínimo"). E, enquanto esse ataque se faz por todos os meios do marketing empresarial, o Estado social responde apenas no pouco glamoroso plano político.
Há fortes razões (solidárias e egoístas, religiosas e económicas, políticas e éticas, humanitárias e pragmáticas) para defender o Estado social. Mas é preciso que o Estado e os cidadãos para quem a solidariedade é um valor central o façam pelo menos com a mesma convicção dos seus inimigos.

2006/10/03

Os aproveitamentos políticos do prémio Nobel

Provavelmente desconhecem em absoluto a obra de Harold Pinter, mas no ano passado disseram cobras e lagartos do dramaturgo a propósito do seu prémio Nobel, devido às suas convicções políticas.
Este ano, não têm mais nada a dizer sobre os nobeis da Medicina e da Física (e ainda vamos só no início) – só interessa que os galardoados são “americanos”.
Muitas vezes o tenho escrito – o Nobel é pessoal. Destina-se a premiar o trabalho dew uma pessoa (ou de um grupo). Não tem raça, credo, ideologia. Sobretudo, não tem nacionalidade. Mas há gente que não aprende nunca.

Prémio Científico IBM 2005

Foi hoje atribuído. Parabéns ao Paulo Mateus.

Águas de Outubro fechando o verão

Trombas de água como a de ontem à noite em Lisboa são importantes para nos convencermos de que chegámos ao outono.

2006/10/02

Ainda mal saí

Ainda nem há uma hora saí da Rua Viriato pela última vez enquanto jornalista... E já estou com saudades daquela vida. Foi bom.

De volta à universidade

Pensou que eu não vinha mais, pensou?

Trilha incidental: De Volta ao Samba, de Chico Buarque.

2006/10/01

Voto no Lula

Falando no Chico Buarque, é altura para recordar uma entrevista com cinco meses. Subscrevo na íntegra o seu ponto de vista.