2007/09/28

É da praxe? MAAAAATAAAA!!!

Finalmente parece que acabou. Passei uma semana a aturar caloiros (e veteranos) em manada na (enorme) fila do refeitório. Os veteranos estavam de capa e batina, claro. Os caloiros eram de engenharia informática. Ostentavam, pelos vistos orgulhosamente, uma etiqueta enorme pendurada ao pescoço, onde se lia em letras grandes “bicho da LEIC”. Os “bichos da LEIC” traziam ainda t-shirts com a inscrição “Fui praxado e não guinchei!” Muito bem. Grandes bichos! Só é pena que tal não corresponda exactamente à verdade, pois de tarde guinchavam bem alto enquanto passeavam em manada à volta do Técnico, sempre conduzidos pelos veteranos de capa e batina, obrigando-me a fechar a janela do gabinete.
No meu curso, de Física, a praxe sempre foi algo mais leve, de acordo com a convicção que sempre tive que tal procedimento indicia que os alunos não sabem muito bem o que vieram fazer para a faculdade. Tive oportunidade de conversar com alguns caloiros de Física, e só um estava decepcionado com a fraca praxe que teve. Queria mais! Queria que o obrigassem a fazer “uma ronda das tascas”, "como se faz em Coimbra". (Claramente, o rapaz não era de Lisboa. Também não era de Coimbra.)
Daqui a uns dez anos, quando acabarem o curso, vão estar todos, orgulhosos, na Alameda da Universidade, para lhes “benzerem as fitas”.

(Ler, a este respeito, o blogue do Movimento IST Alternativo.)

Petição pela Birmânia

Pela intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Assinar aqui.

2007/09/27

Parabéns, Santana Lopes!



Há muito que penso que a televisão portuguesa é o melhor retrato do nosso país, com os seus vícios, entre os quais está uma absoluta falta de respeito pelos espectadores e convidados. Nada funciona como deve ser. Nada do que é prometido é cumprido. Ninguém leva nada a sério, e ninguém parece importar-se minimamente com isso. Pelo contrário, quando o governo tentou, através da única forma que podia (uma lei) regular minimamente o sector, só se ouviram vozes a condenar este “autoritarismo” e esta interferência na “liberdade” (já cá faltava!) dos programadores de televisão, quando não se falava mesmo, vejam bem, num “regresso da censura”! Pois bem, esta política de “toda a liberdade” e nenhuma responsabilidade perante a sociedade (só perante os patrões) dos programadores de televisão deu nisto: um antigo primeiro-ministro estava a ser entrevistado e é interrompido para transmitir em directo a chegada de um treinador de futebol. Não importa se são o pior dos primeiros ministros e o melhor dos treinadores de futebol (que são – e nenhum deles tem culpa nenhuma do sucedido ontem); o que conta aqui é o respeito, a seriedade. Que nós já sabíamos não existirem nos canais generalistas; o que ficou ontem patente foi que tais hábitos infelizmente já se estenderam mesmo aos canais pagos. Por isso eu tenho que dar os meus parabéns a Pedro Santana Lopes pela sua atitude.
Mais tarde, numa declaração, responsáveis da SIC classificaram como “perfeitamente normal” a interrupção feita a Santana Lopes. Aqui tem toda a razão a SIC: num país a sério, tal interrupção nunca seria normal, mas em Portugal com certeza que é. O problema está aí.

2007/09/26

Finalmente acabaram-se os "lobos"!

E falando no João Miguel Tavares, sugiro a leitura da crónica dele de ontem no DN. Os jogadores de râguebi não ganharam um único jogo, e se têm tão boa imprensa é porque se chamam "Uva" e coisas do género.
Daí a transformá-los nos maiores heróis da Nação só porque andam num campeonato do mundo a perder os jogos todos (e por muitos) é capaz - digo eu - de ser um bocadinho exagerado.

Dir-me-ão: "Ah, e tal, são amadores, passaram muitos anos a lavar as suas próprias camisolas, e veja onde eles chegaram." Até pode ser. Embora, tendo em conta os estratos sociais de onde vem a maior parte daquela rapaziada, seja bem mais provável que tenha sido a dona Mariazinha ou a menina Svetlana a lavar-lhes a camisola. Mas passemos ao lado das questões de classe, ainda que elas expliquem muita coisa. O certo é que, mesmo tendo em conta os objectivos (modestos) anunciados, a selecção ainda não cumpriu nenhum.

Um pouco de Nova Iorque em Lisboa

...embora as más línguas digam que a Time Out é originária de Londres, o que eu não acredito. Lisboa tem a partir de hoje a sua Time Out. Da direcção faz parte o João Miguel Tavares, e eu desejo as maiores felicidades à nova publicação.

2007/09/25

Para acabar de vez com as FARC

Caro Tiago,
desculpa a demora mas tenho andado mesmo muito ocupado. Para encerrar (espero que de vez) a questão das FARC, e na sequência da resposta ao Pedro Correia, respondo só agora a este teu texto.
Primeiro: eu não fui à Festa do Avante. Se quisesse ter ido, não deixaria de ir pela presença de apoiantes das FARC, embora partilhar um espaço com tais pessoas me deixasse profundamente incomodado. É pouco, talvez, mas é sincero. Fico satisfeito por toda e qualquer referência às FARC ter sido eliminada da Festa, e reconheço que tal muito se deveu à campanha blogosférica e mediática que teve em ti um dos principais protagonistas.
Agora a questão é outra, Tiago, e já não vem de agora. Já não é a primeira vez que temos esta discussão. Passaste uma semana sem escreveres sobre outra coisa, sendo que questões muito mais importantes não merecem metade da tua atenção. Outro exemplo, particularmente evidente, é este outro teu texto. O nome de Catarina Eufémia foi utilizado para designar o grupo “Verde Eufémia”. Pois tu dedicaste muito mais espaço a tentares (com factos muitíssimo discutíveis) destruir a versão oficial histórica do PCP do que a comentares o que estava na ordem do dia: o ataque da “Verde Eufémia” e os transgénicos. Ao mínimo pretexto, tu estás sempre pronto a escrever um tratado anti-PCP, mesmo que este partido não tenha rigorosamente nada (como não tem, evidentemente) a ver com o “Verde Eufémia”. A tua principal preocupação, enquanto blóguer político, é atacares o PCP, Tiago, e era isso que deverias admitir. Mas é claro que o blogue é teu e podes fazer o que quiseres. Não podes é parecer imparcial nestas questões.
E por aqui me fico, até à nossa próxima polémica, que deve ocorrer lá para 7 de Novembro. Até lá, um abraço.

2007/09/24

"«Eles» não gostaram... e têm alguma razão"

Mário Bettencourt Resendes, provedor dos leitores do Diário de Notícias, respondeu no passado sábado à minha carta (e de outros leitores, que corroboravam). O tema era o lamentável título do artigo de Pedro Correia no passado dia 7; o conteúdo da carta não era muito diferente da última parte deste meu texto. Apesar da desconversa e da fuga para a frente do Pedro Correia, a opinião do provedor é taxativa:
Mesmo admitindo que se tratou de uma incursão, não conseguida, na "arte de titular com ironia", não colhe o argumento da "inspiração" no "ele" com que Casanova se referiu a Sócrates: a escrita jornalística de predominância noticiosa não deve colocar-se no mesmo plano em que se situa o texto de combate político. Ou seja, "eles" têm razão ao sentirem-se, assim, excluídos do universo de leitores do Diário de Notícias.
Esperemos que sirva de exemplo para o futuro, ao Pedro Correia e a outros jornalistas parciais, que escrevem sobre política com o objectivo de fazer política.
Resta a questão, que julgo interessante: quando pode um jornal referir-se a um grupo de pessoas como “eles”, excluindo-os assim do universo de potenciais leitores? A resposta não é única, mas tal só me parece aceitável se “eles” se dedicarem a actividades ilegais, sendo perseguidos por lei. É o caso da extrema direita, no que assim difere dos comunistas e da extrema esquerda. É também o caso de alguns movimentos de extrema esquerda, que não estão ligados a nenhum partido, como é o caso dos invasores da plantação de milho transgénico no Algarve. Em qualquer um desses casos, a opção dependerá sempre do critério do jornal. Mas nunca será aceitável que assim se designe numa sociedade democrática um partido legal e com representação parlamentar. Percebeu, Pedro Correia?

2007/09/21

“Mais do mesmo” ou tripeirismo recauchutado

E querem mesmo saber qual é a razão dos grandes males do PSD? Os candidatos à liderança são... “um benfiquista e um sportinguista!” Segundo a mesma lógica, certamente os males do país vêm de o primeiro ministro não ser (tal como nenhum dos últimos 25 anos, pelo menos) do FêCêPê! De onde poderia vir tal explicação? Do blogue dos liberais/tripeiros (no es lo mismo pero es igual). Bem podem o CAA e o João Miranda dar um ar renovado à coisa, mas assim se demonstra mais uma vez que a “destatização” e a “regionalização” em Portugal não são mais do que outros nomes para o tripeirismo recauchutado, defendido por uma elite portuense mesquinha, complexada, provinciana ao extremo, invejosa de Lisboa e sedenta de poder. Por muito bons argumentos que haja a favor da regionalização, não me sai da cabeça que apoiá-la é entregar um poder que influencia o resto do país a esta gente (que, como é evidente do texto em questão, só se preocupam com eles mesmos). Não contem comigo para os apoiar. Só não percebo o que pensa o sulista, sportinguista e liberal JCD deste assunto.

Pimba! Mais um anti-semita

"Para ter repercussão fala-se com o lóbi judeu, que é muito forte na imprensa de referência norte-americana." (António Carneiro Jacinto, ex-adido de imprensa da embaixada portuguesa em Washington, em entrevista ao Diário de Notícias)

2007/09/20

Até nisto somos um clube diferente


O adversário marca... e os sportinguistas aplaudem. No fundo ninguém ficou muito triste. Era um dos nossos.

Resumo do Sporting-Manchester United (2)

Resumo do Sporting-Manchester United (1)

2007/09/19

Bem vindo a casa, Ronaldo!

...mas espero que o resultado de logo seja o mesmo daquele jogo, entre as mesmas equipas, de inauguração do Estádio Alvalade XXI. O teu último jogo pelo Sporting.

"Com um estádio atrás de mim até eu lhe enfiava um tabefe"

João Miguel Tavares no Diário de Notícias:
O seleccionador devia ter vergonha não só pelo que fez mas pelas desculpas que arranjou. Porque, na verdade, não foi Scolari quem protegeu Quaresma, como até hoje ele continua a insistir. Foi Quaresma e a restante selecção que protegeram as costas de Scolari, enquanto ele perdia a cabeça em Alvalade.
Francamente o que mais me irrita na atitude de Scolari nem é o tabefe no sérvio em si. Espetar um tabefe num adversário, sendo uma atitude antidesportiva e condenável, revela um problema de temperamento. Não o saber assumir e refugiar-se em desculpas revela um problema de carácter.

2007/09/18

Os coelhos não são esferas - os coelhos são toros!

Reparem nos seguintes esclarecimentos de Dennis Overbye no The New York Times que, mais uma vez, até por isto é o melhor jornal do mundo:

August 18, 2006
Ask Science: Poincaré’s Conjecture
By DENNIS OVERBYE
Dennis Overbye answered select reader questions regarding his article about the Poincaré conjecture from this week's Science Times.

Q. The Poincaré Conjecture article has a side note stating "To a topologist, a rabbit is the same as a sphere." Every rabbit I've seen, however, has a hole (or tunnel if you prefer) running from its mouth to just under its tail. It seems to me a rabbit is really the same as a donut. – F. P. Katz

A. So you see, topology isn’t so hard after all. More readers than I care to count — by far a vast majority of those of you who wrote and phoned through all the different channels of communication available— took issue with my oversimplification of rabbit anatomy. Some were more scatalogical than the others. Yes, real live rabbits are like doughnuts, as are people, worms and sharks. As more than one reader pointed out, the development of a digestive system is no small feat for an organism.

My only excuse, and I admit it is a feeble one, is that the bunny in the graphic that accompanied this story was clearly a cleaned up version with no orifices, more like a chocolate bunny or a Disney animal than a real one. I also have to say that I never owned a rabbit, or any animal that lived in a cage that had to be cleaned up — an experience that might have reminded me of the inconvenient side of bunnies.

A mathematician friend tells me that the fact that so many readers caught me on this is very encouraging. “You should be ecstatic over this,” he wrote in an e-mail. “It means that a lot of non-mathematicians actually understood what you wrote!”

Sobre este assunto, e a relação entre a prova da conjectura de Poincaré e a teoria de supercordas, ler os comentários do Lubos Motl.

2007/09/17

22:15

Uff... Custou mas foi. Após muitas perifécias e imprevistos de última hora, a candidatura foi lacrada. Já não posso ver mais planos de trabalhos à frente. Uma vez mais alea jacta est.

2007/09/16

Recôncava


Claudionor Viana Teles Veloso, a Dona Canô, mãe de seis filhos, entre eles Caetano Veloso e Maria Bethânia, avó e bisavó, referência de Santo Amaro da Purificação na Bahia, faz hoje cem anos. Parabéns.

2007/09/14

How do we solve a problem like Scolari?

Admito, assumo, errei: quando li este texto da Fernanda Câncio, o pensamento que me veio à cabeça foi "as mulheres não percebem nada de futebol". Tal como o Scolari, eu não sou infalível (mas não preciso de me refugiar no Quaresma). Seria sempre errado chegar a esta generalização baseado num texto: no máximo, poderia chegar a alguma conclusão sobre... a Fernanda Câncio. Porque saberia que a Fernanda se irritaria, na altura decidi escrever nos comentários o eufemismo mais simpático de que me lembrei: a Fernanda "não estava nada preocupada" (eu queria era dizer "interessada") com o futebol. Mas se confirmação fosse precisa de que tal não é uma característica exclusiva das mulheres (e nem tem que ser de todas), ela foi-me dada por este texto ainda mais alucinado do Tiago Mendes. Obrigado, Tiago, por demonstrares que um homem também pode escrever despropósitos e exageros sobre futebol.
Tiago e Fernanda, eu gosto muito de vocês (a sério), apesar de provavelmente serem clientes do "El Corte Inglés" (espero que o Tiago ao menos não mande lá a criada). São duas pessoas a quem eu compraria um carro usado, como se diz nos EUA (se bem que não me parece que nenhum de vocês use carros utilitários). Mas convençam-se: o futebol é o território onde libertamos toda a nossa irracionalidade (se não fosse assim, como é que gajos de esquerda como eu estariam preocupados com gajos que ganham fortunas?). É claro que um individualista liberal como o Tiago julga que deveria partir de cada um (neste caso, de Scolari) a iniciativa de se autopunir, demitindo-se. Tal não é verdade, e nem a Federação deve tomar tal atitude, simplesmente porque tal seria desastroso, neste momento (friso o neste momento) para a selecção. Significa isto que o acto de Scolari deve passar impune? É claro que não, mas cabe a um moderador, um regulador (o equivalente ao Estado) a decidir a punição (este papel é da UEFA). A Federação deve deixar Scolari ficar até ao fim do Campeonato Europeu. Esta discussão é interessante (ler também o Daniel Oliveira); eu estou de acordo com o marialva (aqui e aqui).

2007/09/13

Não “empatámos” com a Sérvia, mas demos um murro num adversário

Este, sim, é um caso em que se pode usar o plural (embora a responsabilidade do acto seja exclusiva de Luís Filipe Scolari). Empatar, ganhar, perder, passar eliminatórias em futebol, râguebi ou básquete, sucede a todos os povos de todos os países, ou quase. Agredir adversários, árbitros, treinadores, rodear o árbitro a protestar, ser indisciplinado e ter conduta violenta, isso sim, marca a nossa imagem enquanto povo. Por muito que isso nos custe. (Ainda a propósito da polémica com o Nelson e do texto anterior.)

2007/09/12

“Ganhámos” ou “passámos”? Quem?

Deve ser defeito meu, mas confesso que me custa a compreender referências a supostos “representantes” de Portugal na primeira pessoa do plural. Para perceberem melhor o meu ponto de vista sobre esta questão, devo esclarecer que nos agradecimentos na minha tese de doutoramento coloquei as habituais referências ao meu orientador, aos meus professores, aos meus colegas, ao instituto. Mas só depois de me referir... a mim. A primeira frase desta secção da minha tese é: “Esta tese deve-se sobretudo a mim e ao meu esforço (a modéstia é para os enganadores).” Há outras razões para esta minha atitude, que eu não vou estar agora aqui a explicar. Mas o essencial é: sou mesmo muito sensível ao reconhecimento de um trabalho. Não gosto de levar louros por trabalho dos outros, mas também não gosto nada (e nem permito) que levem louros por causa do meu trabalho.
E é por isso que me faz confusão a leviandade com que se diz “ganhámos” ou “perdemos” quando se refere a uma selecção nacional. Quem “ganha” ou “perde” é a equipa (treinador incluído). E não adianta virem falar-me que eles estão a “representar o país”: nenhum deles (jogadores ou treinador) é insubstituível. Se estão lá, é porque foram escolhidos. Por isso mesmo, façam o que fizerem, a responsabilidade é deles. E os resultados que obtiverem também.
É particularmente irónico que quem escreva “ganhámos a Israel!” referindo-se à selecção de básquete seja um tipo que nem 1,70 m de altura tem. Mais ainda: o mesmo tipo tem, sem exagero, menos de metade do peso de um jogador de râguebi típico, mas escreve “perdemos 56-10”. Nelson, não jogues râguebi ou podes não sair vivo... E então empatámos 2-2 com a Polónia, hã? Aquela bola que entrou na nossa baliza depois de bater ingloriamente nas costas também teve a tua participação? Mas que grande frangueiro tu me saíste!

(Espero que hoje à noite contra a Sérvia as coisas corram bem à nossa equipa.)

2007/09/11

Ainda Pavarotti

Pude observar a reacção dos media portugueses ao falecimento de Luciano Pavarotti, e comparar o tempo nos telejornais ou as páginas nos jornais a ele dedicadas, comparadas com as dedicadas aos dez anos da morte de Diana Spencer ou ao desaparecimento da pequena Maddie Mc Cann. Cada um saberá ao que atribui mais importância, incluindo quem escreve nos jornais ou faz os telejornais. Eu tenho pena da miúda inglesa e fiquei consternado com a morte da princesa. Mas crianças raptadas e mortes por acidentes de carro infelizmente ocorrem todos os dias, e eu não posso dizer sinceramente que a minha vida fique mais pobre sem elas. A minha vida ficará, no entanto, muito mais pobre sem Luciano Pavarotti.

2007/09/10

O “Diário de Notícias” não é um jornal para “eles”

Sobre os convidados colombianos do PCP para a Festa do Avante, não tenho muito mais a dizer do que o Nuno Ramos de Almeida: “o facto do governo da Colômbia ter presos em condições inumanas milhares de militantes de esquerda não pode justificar raptos como a da candidata presidencial Ingrid Betancourt.” Acho normais os protestos na blogosfera, apesar de o partido presente na Festa ser legal e ter representação parlamentar (ao contrário do que sucedeu o ano passado, este ano todas as referências às FARC na Festa foram eliminadas, certamente um resultado da pressão mediática). Nem sequer vou exigir que, para condenar a acção terrorista das FARC, se tenha de condenar no mesmo texto o terrorismo de estado apoiado pelo governo colombiano: as acções das FARC são condenáveis só por si. O que eu não posso aceitar é que se condene as FARC ao mesmo tempo que se apoia o governo colombiano, que mantém prisioneiros políticos e apoia grupos paramilitares assassinos de extrema-direita.
O Tiago Barbosa Ribeiro, um “habitué” em assuntos como este, coligiu diligentemente todo o material publicado nos blogues nos últimos dias sobre este assunto, incitando mesmo os autores de blogues a escreverem. Tratando-se de fazer campanhas contra o PCP, o Tiago faz tudo o que lhe for possível, nem que para isso tenha que passar uma semana a escrever sempre a mesma coisa. Num protesto desta envergadura, seria bom que o Tiago procurasse garantir uma condenação dos métodos do governo colombiano ou, pelo menos, que não incluísse na sua colectânea textos de quem o apoia. Só que não é esse o caso. A obsessão anti-PCP do Tiago é tamanha que ele nem se importa de incluir textos de apoiantes do governo de Uribe. Apoiantes esses que nunca tinham escrito nenhum material sobre Ingrid Betancourt, antes de este caso da festa do Avante ter surgido. Será que a indignação só surgiu agora? O que encontrei naquele blogue foram vários textos em defesa do governo colombiano.
Mas tudo bem: o blogue é do Tiago e ele faz o que quer nele. Ele que não venha é depois tentar passar por independente em assuntos que envolvam o PCP. Acho mais espantoso quando a parcialidade e o sectarismo são assumidos por um órgão de informação, que se deveria limitar a relatar notícias. O acto em si foi involuntário; talvez uma distracção. Mas, ao escrever, “fugiu a mão para a verdade” ao jornalista Pedro Correia, quando intitulou uma notícia como “Eles já chamam fascista a Sócrates”. Esclareço que discordo profundamente do PCP neste ponto, mas a questão principal é mesmo a do “eles”. Se um jornal se dirige aos seus leitores referindo terceiros como “eles”, não espera que estes “eles” façam parte do grupo dos leitores. Será que o DN já nem conta com os comunistas como seus leitores? De um ostracismo dos comunistas como este eu não me lembro nem nos tempos da direcção de Fernando Lima.
Aproveito para esclarecer o Pedro Correia de que a “força do PC” se vê nestes ostracismos da comunicação social, que sofre como mais nenhum outro partido. E que “eles” são dos portugueses mais honestos, bravos e trabalhadores que se podem encontrar.

2007/09/07

Uma furtiva lágrima por Pavarotti



Não o referi neste texto e nem o tinha concluído nessa altura, mas após um exame de consciência, se eu ia mais à ópera em Nova Iorque do que, por exemplo, em Lisboa, era porque lá encontrava óperas clássicas, conhecidas, que tornam o gostar de ópera mais fácil para um principiante. E pelo elenco.
A primeira vez que fui à ópera, foi justamente ver este "O Elixir do Amor", de Donizetti, na Ópera Metropolitana de Nova Iorque. Julgava que ia ver o Pavarotti; ele fazia parte do elenco. Só que ele não apareceu e foi substituído. Nunca o vi assim ao vivo, mas não por isso que eu não gostei da ópera (uma das minhas favoritas) ou que deixei de gostar do tenor agora desaparecido. Se a ópera de facto não é um espectáculo para ricos, muito o deve a este homem.

2007/09/06

Ainda sobre os transgénicos

Um pequeno comentário que deixei no Cinco Dias:

Esta questão dos transgénicos parece-me semelhante à da energia nuclear. É possível que com um melhor aproveitamento dos recursos existentes – que estão muito mal aproveitados – o recurso a elas seja desnecessário, mas tal não invalida que se investiguem e proponham formas novas de produção. O que me causa espécie é que esta investigação é logo catalogada como “sede de lucro”. Alguém duvida que, se a URSS ainda existisse, estaria a investigar em transgénicos? Seria esta putativa investigação da URSS movida pelo lucro? Não; esta história do “lucro” é só uma desculpa para disfarçar a desconfiança pela ciência e pela tecnologia. Os mesmos que são contra os transgénicos por causa da ganância propõem que os charlatães das homeopatias e outras medicinas “alternativas” sejam subsidiados pelos nossos impostos. Isto tudo é a influência do Prof. Boaventura. E só demonstra a desorientação de alguma esquerda desde a queda do muro de Berlim.

Sobre este assunto, sugiro a leitura deste texto do Rui Curado Silva.

2007/09/04

Entretanto

...amanhã começa a XVI Fall Workshop on Geometry and Physics, e parece que eu tenho que preparar uma apresentação. Vamos a isso, então.

E pronto

São 17:33. Por uma vez vou esquecer-me que o latim é uma língua de fachos e padres e dizer: alea jacta est.

2007/09/03

Xutos em Lisboa

Pela quantidade de pessoas de várias idades vestidas a rigor com t-shirts do grupo, ontem à noite na Torre de Belém pude confirmar que os Xutos são uma marca, uma gama, um estilo. Que perdura no tempo. e como não há outros em Portugal, goste-se ou não. O mérito é todo deles.
Ser-se "consagrado" musicalmente é isto: não vamos à espera de novidades, não queremos novidades. Queremos ouvir as músicas que sempre ouvimos e gostámos. Cujas letras conhecemos de cabeça. É isso que eu espero de um concerto dos Xutos.
O concerto de ontem à noite não foi bem isso. Houve músicas que eu não conhecia (mais de metade, dos álbuns mais recentes). Todas as músicas estavam vestidas com um arranjo novo, tocadas com uma orquestra de metal. Tudo bem, e parabéns aos Xutos por não se acomodarem. Mas o que me entusiasmou mesmo foram alguns dos clássicos... Ao ouvi-los, uma vontade de rir nasceu do fundo do meu ser.

(E agora, leitores, dêem-me licença mas ando apertadíssimo com um prazo muito importante. Dou comigo agarrado ao ponteiro mais pequeno.)