2007/12/31

Feliz ano novo

Desejo um excelente ano de 2008 para todos os meus leitores.

Adieu Carrefour

Nem sequer são as histórias de Paris. As dorades que eu comprava para grelhar (tinha que as preparar na cozinha colectiva), e que me permitiam travar conecimento com meninas portuguesas. Vinham ter comigo a perguntar-me, timidamente e em francês, onde é que eu tinha comprado aquele peixe, de que gostavam muito e que comiam com frequência no país delas. Eram portuguesas, claro.
Nem a vélo com que me passeei e transportei em Paris. São mesmo coisas do quotidiano. De Portugal.
Mantendo-me no ciclismo: desaparece em Portugal a marca Topbike. Este fim de semana veio um selim para a minha bicicleta, antes que desaparecesse. Sete euros. Agora, só em Espanha se arranjam. Em Portugal, ou são caros (e vendidos por comerciantes que não querem abrir ao domingo), ou são maus.
A galette des rois. Onde se arranja uma galette por quatro euros em Lisboa? E toda a pastelaria francesa e portuguesa.
O queijo. Eu costumava rir ao ver os folhetos de propaganda do Continente a anunciarem queijo Brie a 9,90€ o quilo como uma “grande promoção”. Chegava ao Carrefour (como cheguei a semana passada) e encontrava o mesmíssimo queijo, de leite pasteurizado mas artesanal, a 4,90€ o quilo. “Refeição económica”. Costumava rir, dizia. Agora, vou chorar.
Os “produtos 1”, “os mais baratos da região”, e os produtos Carrefour em geral. Os patés a um euro e pouco. E como era desolador ver as prateleiras vazias, sabendo que não seriam mais reabastecidas.
Os legumes e frutas. Fica aqui o desafio: onde se encontra, em Lisboa, batata a 0,39€ o quilo (no máximo; ainda há pouco estava a 0,25€) todo o ano?
Última refeição de 2007: as últimas douradas compradas no Carrefour. Até sempre. Foi um prazer ser vosso cliente.

2007/12/26

Cinco filmes

Uma nova cadeia, a segunda em menos de um mês, cortesia do Hugo Mendes. Aqui vão os meus cinco filmes:

Estes três são garantidos. Nos dois restantes já tenho mais dúvidas, mas escolhi (sem ser em definitivo)


Passo então a corrente a outros blógueres. Escolho dois cinéfilos ilustres, o Rui Curado Silva e o João André, e ainda o André Abrantes Amaral (que vai indicar os Woody Allens que eu omiti), o Don Vito, o Zé Mário Silva e o Luís M. Jorge. As minhas desculpas a quem já tiver respondido antes a este inquérito.

2007/12/24

Um Natal buarqueano

Especial Chico Buarque, esta semana, todos os dias às 0:55 na RTP2. Hoje, para variar do It´s a Wonderful Life, o primeiro episódio: Meu Caro Amigo. Fica aqui a sugestão e, mais uma vez, os votos de Feliz Natal para todos.

2007/12/21

Boas festas

Com o vídeo do Cocas leitor do André Azevedo Alves, na mensagem anterior, saúdo a chegada do inverno e do frio. Desejo aos meus leitores uma feliz quadra festiva, esperando que seja cheia de chocolate quente, natas e outras coisas boas.

Vem aí o inverno

Regressam os dias frios, e nada melhor do que um chocolate quente com natas... Para quem está (como eu) com saudades do Conan, que só regressa a 2 de Janeiro, com uma nova equipa de argumentistas. A greve na Broadway, entretanto, continua.




(Late Night with Conan O'Brien, Fevereiro de 2007)

2007/12/19

"Blairista e determinado"

Vale a pena ler o perfil de José Sócrates traçado esta semana no Libération, e as histórias a ele associadas. Se há coisa de que eu gosto, confesso, é ler notícias sobre Portugal na imprensa estrangeira. No caso do perfil do Libé, certas pessoas são descritas de uma forma muito mais assertiva do que em Portugal. O dono do "Público", por exemplo, é descrito como o "pior inimigo" de Sócrates. Os rumores sobre uma sua homossexualidade, a relação com Fernanda Câncio, "muito mais aberta em termos de costumes": está lá tudo. Sócrates pela primeira vez afirma-se com clareza como um "blairista", e rejeita a herança dos socialistas franceses, que considera "ultrapassada". Sócrates "já era social-democrata, mesmo durante a revolução de 1974". Tudo dito com uma clareza que nunca se leu em Portugal. Vale mesmo a pena ler.

2007/12/18

O acordo ortográfico, num sol de quase dezembro

O que eu penso sobre a questão do acordo ortográfico é sumarizado neste artigo do Pedro Lomba, cuja leitura recomendo a todos aqueles que alimentam pretensões de o português de Portugal poder sobreviver na era da globalização. O acordo ortográfico é como o Tratado de Lisboa: mais importante do que o que eles dizem é mesmo assiná-los.
Dito isto, não gosto de tudo o que o acordo propõe, mas é o acordo possível. E seguramente é muito melhor do que haver duas grafias oficiais. Nunca percebi a necessidade das consoantes mudas – por cada exemplo que se der de vogal por elas “aberta”, arranja-se um contraexemplo. O próprio Francisco Frazão reconhece isso.
Uma das questões que deveriam ser resolvidas de vez no acordo é a diferença entre “por que” e “porque”. Até há muito pouco tempo julguei que sabia essa diferença. Só muito recentemente aprendi – no processo de edição do último volume da Gazeta de Física, na revisão deste artigo – que as regras são diferentes em Portugal e no Brasil, e que as regras que eu sempre apliquei (e – garanto aprendi na escola) são as brasileiras. E experimente-se explicar essas regras a um estrangeiro que esteja a aprender português. As regras brasileiras para o “por que” são inteiramente consistentes e muito mais simples. (Eu não percebo as portuguesas, e vou continuar a escrever o “por que” à brasileira, como sempre escrevi.) Para além disso, as regras brasileiras não são usadas pelo MEC, e só o prazer de corrigir o MEC justifica que sejam estas as utilizadas. Por isso “duas palavras” não, caro Francisco: três palavras, como o Caetano canta numa das mais belas canções desta língua que as nossas línguas tanto gostam de roçar. Eu vou, por que não? Por que não? Por que não?

2007/12/17

"Este tratado ameaça os interesses americanos"!!!

E lá fui ao debate na sexta feira. E confesso que saí de lá, se não apoiante do "não", pelo menos mais apreensivo relativamente ao Tratado de Lisboa (pior que a anterior "Constituição", cheio de cedências ao Reino Unido). Tal não é surpreendente se considerarmos que ouvi dois memebros daquele que considero ser, presentemente, o melhor blogue de esquerda português. (Disse-o lá, quando intervim. Deveria ser a única pessoa na sala pelo "sim"!) Rui, ajudas-me a recuperar o meu eurooptimismo? Ou terei de recorrer para isso ao (apesar de tudo sempre indispensável) André Azevedo Alves?

2007/12/14

Eventos (3) - Groove Intercourse


Um interessante projecto musical que eu recomendo, ou não participasse nele um antigo aluno da LEFT, o meu amigo Bruno. Concerto no bar Tradicional, em Lisboa. Uma boa sugerstão a seguir ao debate no Franco-Português.

Eventos (2) - debate sobre o Tratado de Lisboa

Hoje às 21:30 no Instituto Franco-Português em Lisboa. Com os honoráveis António Figueira, Daniel Oliveira e Ricardo Paes Mamede. Uma organização do Le Monde Diplomatique.

Eventos (1)

O Nuno Anjos, que me acompanhou (e a mais físicos) no primeiro blogue em que participei de raíz, desde a fundação, completa o seu doutoramento hoje. Parabéns, Nuno!

2007/12/13

A situação no Técnico - comentários

O Tárique pediu-me a minha opinião sobre a situação actual do Instituto Superior Técnico, onde trabalho. A minha resposta sucinta é: se é verdade, como se diz, que o novo Regime Jurídico do Ensino Superior foi feito "à medida do IST" (e por que não do ISCTE?), eu pergunto: por que não há o IST de avançar com ele, nem que seja a título experimental?
Entretive-me a ler os comentários dos leitores do Público à notícia. Seleccionei alguns (minha escolha pessoal), que reproduzo aqui com a devida vénia (destaques meus):

  • 11.12.2007 - 22h07 - Anónimo, Lisboa SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO. IST, para onde vais ... Ao longo dos anos, mais de sessenta, sempre tive em referência o IST como uma Universidade de alto gabarito, onde se formam jovens com qualidade técnica e cientifica excepcionais. Mas, há sempre um mas, quando se tenta levar esta Instituição ao sabor de ventos e marés para uma encosta de arribas escarpadas. Será que é importante em termos Científicos e Pedagógicos esta Faculdade passar a Fundação? Será que os homens querem passar uma esponja sobre a história desta Instituição Universitária? Que diria o saudoso NABUNDA, criado e apoiado com carinho por toda a comunidade escolar? Certamente iria morder algumas canelas e fundilhos de calças a alguns senhores que não ponderam sobre o futuro dessa casa e das suas necessidades mais prementes e urgentes. Sou pai, pago atempadamente as propinas devidas do meu educando que frequenta esta Universidade, exijo trabalho e não facilitismo, mas não vou perder esta oportunidade para formular as seguintes questões já que tantas estão a ser colocadas: - O Conselho Directivo e Cientifico já procedeu a um estudo de quantos alunos abandonam essa Universidade e qual o motivo? - Qual é a percentagem de alunos que entra anualmente e a que conclue a Licenciatura? - Qual a média de anos necessários para a conclusão de uma Licenciatura nos diversos Cursos aí ministrados e qual a comparação percentual com outras Universidades? - Em prestação de exames e frequências, qual é a percentagem de níveis negativos por pauta e por disciplina? - Em que disciplinas existe o maior índice de níveis negativos? - A Avaliação de Docentes é feita positivamente pelo número de níveis negativos que inscrevem nas pautas? - Há verificação sistemática da qualidade nutricional e de confecção das refeições servidas nos refeitórios? - Os refeitórios estão certificados no que se refere a equipamentos e higiene? - A venda de bebidas alcoólicas está prevista dentro desse estabelecimento de Ensino? Muitas outras questões poderia colocar, penso que estas vão ocupar, as entidades competentes, no sentido de ponderarem qual o melhor caminho a trilharem para o bom nome do IST.
  • 11.12.2007 - 22h24 - Anónimo, Lisboa, Portugal
    O que se passou no IST foi - também - um bloqueio imposto pela mediocridade que se pretende defender do mérito, da avaliação dos resultados e da concorrência aberta. É um proteccionismo que não vingará, porque são os contribuintes que o pagam. E pagar incompetência sai caro, já o sabemos. O lider da AEIST, do qual é injusto dizer que traduz a opinião dos estudantes (foi eleito por 2% dos estudantes, mas será que ele liga aos números?), fez declarações na linha tradicional da cerveja boémia que caracteriza a associação e menos na linha de responsabilidade que a devia caracterizar. É a lógica do arraial, das épocas especiais. Perdem os estudantes mais estudiosos e interessados. Não foi desta, mas está para breve a queda das torres de marfim que ainda por cá moram.
  • 11.12.2007 - 22h45 - Anónimo, Lisboa, Portugal
    Provavelmente, digo eu, o ministro Mariano Gago quis induzir a mudança na Universidade portuguesa a partir do IST, reformando os seus estatutos do tempo da outra senhora através da passagem a Fundação, e iniciar o caminho em direcção à Universida moderna, que continua aberta aos melhores mas só mantém - e aqui é que começam os problemas, os bloqueios e os corporativismos do costume - os melhores professores. Esta é que é a questão. Não resultando a abordagem subtil, terá de avançar a moca, utensílio rude mas extremamente útil em tempos difíceis. Não haverá por aí nenhum jornalista disposto a estudar esta história, ou será que já só basta a parangona mal explicada? Foça Gago, força Matos Ferreira. Para a frente é que é Lisboa!
  • 12.12.2007 - 14h46 - Ricardo Marques, estudante do IST, Lisboa
    Agradecia que alguém, com mínimo conhecimento do assunto em causa, me pudesse esclarecer as mudanças que a passagem a fundação de direito privado implica. É pena que a AEIST não tivesse esclarecido aos estudantes o tema ou, se o fez, não foi divulgado da forma correcta. Tal informação é necessária para que os estudantes que compõem o IST possam tomar uma posição.
  • 12.12.2007 - 22h14 - J.A., IST
    Como é que este barracosa tem coragem de afirmar isto: «Bruno Barracosa acusa Carlos Matos Ferreira de defender apenas os seus próprios ideais» mesmo com toda gente a saber que, mesmo é campanha e depois da eleição, é um "chupista" a mando do PSD. Secção H da JSD de Lisboa, Bruno Barracosa militante nº 135321 http://www.jsdseccaoh.com/lista_cp.html ganha vergonha...


Quem não souber quem era o Nabunda, é favor ler aqui, aqui e aqui. Ainda bem que ele é recordado!

Lisboa


Viva a Europa!

2007/12/12

Conjectura de Poincaré: geometria para entender o universo

Os astrónomos e os cosmólogos observam o mundo à nossa volta procurando compreender as leis da matéria e da energia, as leis que regem a evolução do Universo. A partir da Teoria da Relatividade de Einstein sabemos que essas leis estão intimamente ligadas à geometria (a "forma") do Universo.

Sabemos por exemplo que se a densidade da matéria contida no Universo for suficientemente grande, então ele deverá ser um espaço fechado, limitado; caso contrário, deverá ser um espaço aberto. Qual destas possibilidades ocorre realmente? Qual é a forma do Universo?

Ao mesmo tempo os matemáticos analisam as formas puras do pensamento para entenderem que modelos são possíveis e permitir, portanto, identificar analisar os que melhor se adaptam às observações cosmológicas.

A Conjectura de Poincaré, um dos mais famosos problemas da Matemática, insere-se naturalmente nesse estudo. Afirma a Conjectura de Poincaré que todo o espaço tridimensional fechado "sem buracos" tem uma forma essencialmente esférica. Formulada no início do século XX pelo grande matemático francês Henri Poincaré – também um dos principais artífices da Teoria da Relatividade – esta Conjectura permaneceu um problema em aberto durante cerca de cem anos. Até que, no final de 2003, o matemático russo Gregori Parelman começou a publicar na internet uma série de artigos científicos que contêm a solução desse problema.

Durante o século XX, a Conjectura de Poincaré foi um foco motivador para avanços notáveis na Geometria e na Topologia. A sua história, antes e depois da sua resolução, está recheada de personagens interessantes e episódios rocambolescos, que atraíram a atenção dos meios de comunicação mundial e do público em geral.
Já tinha falado sobre a conjectura de Poincaré aqui, aqui, aqui, e aqui. Recomendo a palestra de Marcelo Viana, matemático brasileiro de origem portuguesa, colaborador do meu amigo Artur, hoje à tarde na Gulbenkian.

2007/12/11

A plus tard, peut-être, Carrefour!


Confirmou-se a má notícia, a pior que eu tive este ano a seguir a o Desportivo das Aves não ter pontuado no Dragão na última jornada do campeonato: o Carrefour vai mesmo sair de Portugal. A decisão estava há muito tomada e não era a Autoridade para a Concorrência que a ia impedir. Quanto muito, poderia levar a uma renegociação, mas a saída do Carrefour é voluntária e nem sequer é por não dar lucro! No entanto parece que só hoje é que eu acredito. E ainda não quero acreditar. Não há mesmo nada que se possa fazer. A não ser lamentar.
O Carrefour era a minha grande superfície de eleição, em Portugal e em França. Em Paris eu pedalava um arrondissement inteiro (o 13º), pelos Boulevards des Maréchaux, para ir da Cité Universitaire a Bercy abastecer-me de carne e peixe variadas e aos melhores preços. O mesmo em Lisboa e em Aveiro. E não só comestíveis. Ainda a semana passada veio de lá um belíssimo roupão. Pude experimentá-los à vontade e sem ninguém a chatear-me se o levava ou não. Não havia o meu número da cor do meu agrado exposto. Pedi-o a uma empregada, que solicitamente interrompeu o que fazia para mo ir buscar ao armazém.
O Carrefour representou uma melhoria a olhos vistos no comércio a retalho em Portugal. Basta olhar para a fotografia – quem introduziu em Portugal o sistema da moeda nos carrinhos? Antes do Carrefour os parques de estacionamento dos supermercados eram um caos de carrinhos desarrumados. É um espaço organizado, com qualidade e variedade.
Digam-me agora onde vou arranjar marca “branca” (para pilhas recarregáveis ou para queijos franceses) tão credível? Onde compro queijo coulommiers fabriqué en France a 1.50€? Onde vou arranjar melhor relação qualidade/preço em tudo? Não arranjo. Não há.
Eu não sei viver sem o Carrefour. Vou ter que aprender. Ou então voltar a emigrar. Ou talvez fique em Portugal, mas ao pé de Espanha, e vá lá abastecer-me. Em Espanha há Carrefour em todo o lado - vejam lá se eles querem saber do Corte Inglês para alguma coisa!
O Carrefour é talvez o único hipermercado cantado pelo Chico Buarque e pelo Gilberto Gil– no Baticum (ouvir aqui). Só pode ser muito bom.

2007/12/10

Sidney Coleman (1937-2007)

2007 foi um ano fatídico para físicos teóricos. Abrimos um livro ou artigo de revisão de supersimetria e os autores dos principais resultados já não estão todos vivos. Depois de Julius Wess, agora desapareceu Sidney Coleman. Coleman nunca trabalhou em supersimetria, mas descobriu (em conjunto com Mandula) um teorema, sobre as álgebras admissíveis para traduzirem as simetrias de uma teoria quântica de campo, todas elas "clássicas", com geradores e parâmetros comutativos. Para se poder contornar esse teorema e introduzir as simetrias mais gerais possíveis para uma teoria quântica de campo, houve quem tivesse a ideia de considerar superálgebras, com geradores e parâmetros anticomutativos, traduzindo a supersimetria.
Pedagogicamente Coleman ficou conhecido por ser um excelente professor de Teoria Quântica de Campo. Amigos meus, que foram seus alunos em Harvard e no MIT, confirmam-no. Eu nunca fui aluno dele, mas aqui confesso que a minha impressão não é essa. Passo a explicar. Há um conjunto de aulas de Coleman sobre aspectos não-perturbativos da teoria de campo, assunto em que trabalhou, reunidas em livro. O capítulo "Classical lumps and their quantum descendants" é uma referência standard para quem estuda instantões. Eu tentei lê-la e não consegui passar das primeiras páginas. Coleman cultivava um estilo palavroso e com muito poucas fórmulas, que não agradava a quem, como eu, aprecia a concisão e clareza da escola russa. O que mais me irritava, no entanto, era mesmo o seu elaborado estilo de escrita, usando palavras rebuscadas que eu desconhecia! O meu maior problema com as línguas estrangeiras (e mesmo a língua portuguesa) sempre foi o vocabulário, e não a gramática. Eu ainda aceitaria o ler as notas de Coleman e não perceber, se isso se devesse a não entender a Física nelas subjacente. Mas não entender umas notas por não perceber as palavras rebuscadas era um caso único (só me sucedeu com Coleman, e eu tenho muitos anos de estudo em inglês) e para mim muitíssimo irritante. O estilo literário rebuscado não é para as notas de Física, onde deve prevalecer a clareza! Coleman pode ter sido um excelente professor, mas para mim, de acordo com a minha experiência, era um escritor falhado. Lubos Motl e Sean Carroll não pensam assim, porém; eles conviveram de perto com ele e a sua opinião deve ser mais para levar a sério que a minha.

2007/12/07

O "Zandinga" ou o engraçadinho

No meio da maior crise do blogue onde é suposto escrever mas nunca escreve, a única coisa que lhe apraz comentar é chamar “chato” ao Tiago, como se estivesse a dar uma palmada no rabo de um miúdo. Pisca o olho ao director sem ficar conotado com o fanatismo beato. "A previsão está completamente provada", fónix! De homens destes é que a direita precisa!

O fanático

Da minha parte reconheço valor intelectual ao André Azevedo Alves (mesmo se ele um dia pôs em causa as minhas “capacidades cognitivas”), embora isso nunca tenha sido posto em causa, por um lado, e não possa ser usado para “apagar” ou atenuar os seus métodos, por outro. E é difícil aprender alguma coisa com ele, pois este autor é praticamente incapaz de escrever um texto com outra intenção que não seja a da pura propaganda. Há porém excepções, como este texto que ele me dedicou com referências que acredito que devam ser úteis para eu me informar sobre um assunto que me interessa e não domino profundamente (o conceito de democracia nos EUA). E, como esta, há outras. Não posso deixar, porém, de ver AAA como um evangelizador fanático.

O cavalheiro

Houve quem acusasse o Tiago Mendes de “falta de educação” por este seu texto. Onde alguém viu “má educação” (não sei onde), eu vi frontalidade e coragem ao traçar uma linha que se impunha, ao romper com uma condescendência perante o fanatismo, ao afrontar um colega de blogue que, conforme já se desconfiava e veio posteriormente a confirmar, é muito mais poderoso que ele. O André Azevedo Alves fica no blogue e no conselho editorial da revista; o Tiago Mendes sai.
Onde outros vêem má educação no Tiago, eu vejo frontalidade e cavalheirismo. Há muito aliás que identifico nele um fair play que, quando genuíno, corresponde ao melhor que a cultura britânica tem. Querem um exemplo de cavalheirismo? Vejam todo o último texto dele na Atlântico. Em particular esta passagem:
Primeiro, sublinhando que existe muita gente à direita (que eu conheço alguma, acreditem que sim) que suporta as ideias do André Azevedo Alves tanto ou menos do que eu, só que não o diz. (Se eu revelasse alguns nomes publicamente, acreditem que a blogosfera de direita nunca mais seria a mesma).
E o que eu e muito mais pessoas gostaríamos que o Tiago revelasse estes nomes! Não o faz porque é um cavalheiro. Tiago, não me queres vender um carro, pá?

2007/12/06

Gazeta de Física - novo ciclo editorial

Sou um dos membros do Corpo Editorial da Gazeta de Física, publicação regular da Sociedade Portuguesa de Física. Esta actividade tem-me permitido regressar a algo que me dá muito prazer, a divulgação da ciência (particularmente a Física) a quem não a faz (ou faz, mas noutras áreas) e por ela se interessa. É como um regressar aos meus tempos de jornalista científico do PÚBLICO, só que agora não é a minha actividade permanente. Faço-o com todo o gosto e por puro prazer.
A Gazeta de Física existe desde 1946; o primeiro volume impresso do seu novo ciclo editorial, com novos editores, novos colunistas e novas secções, bem como o sítio electrónico que inaugura a versão electrónica desta publicação, são apresentados hoje, pelas 18 horas, no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, na Rua da Escola Politécnica. Apareçam! E leiam e divulguem a revista. Temos articulistas convidados, notícias, entrevistas de todo o tipo, sempre relacionadas com física. Levantamos questões e esperamos participação dos leitores.

2007/12/05

Petições, indignações e afirmações

Circula uma petição na rede a pedir à Câmara Municipal de Lisboa a edificação de um memorial às vítimas do massacre judaico de 1506. Pessoalmente apoio essa edificação (ou, mais genericamente, de um memorial às vítimas da Inquisição, que inclui os judeus), tal como defendo a edificação de um outro memorial que ninguém defende ou para o qual não se fazem petições: às vítimas da colonização portuguesa, em particular da escravatura. Não pretendo com estes memoriais fazer acertos de contas com a História, nem acho que de forma nenhuma Portugal se deva envergonhar do seu passado. Mas hoje deve recordar-se de alguns crimes trágicos (a inquisição e a escravatura à cabeça), e admitir que os cometeu. Esses memoriais servem para manter essa memória sempre viva.
Dito isto (e espero que tenha ficado bem claro), parece-me interessante averiguar a forma como episódios como o de 1506 em Lisboa são vistos, ainda nos dias de hoje, por quem certamente estaria na linha da frente da defesa da construção do memorial agora em questão. Um exemplo elucidativo é o de George Steiner, ensaísta, filho de judeus vienenses exilados nos EUA para escapar ao nazismo e ao Holocausto. Na recente conferência “A Ciência Terá Limites?”, realizada no final de Outubro na Fundação Calouste Gulbenkian, Steiner afirmou que “uma civilização que mata os seus judeus não recupera”. Eu sou o primeiro a defender que uma civilização que expulsa os seus judeus fica muitíssimo mais pobre (já nem falo em matá-los). Se os mata, então, comete um crime hediondo. Agora… não recupera? Não recupera porquê? Será alguma cabala? E será só com os judeus? Se matar os muçulmanos, os cristãos, os negros, os ciganos, os gays, já recupera? E se essa civilização, depois de matar os judeus, construir um memorial, já pode recuperar ou ainda não chega?
Esta extraordinária afirmação de George Steiner foi proferida na mesma semana em que se discutia a “teoria empírica” de James Watson, de que os negros são menos inteligentes que os brancos, baseada na observação dos seus empregados. Ninguém ficou indiferente às declarações de Watson: pessoas houve que, a meu ver bem, as condenaram como racistas e não-científicas; outras houve que (com alguns argumentos que reconheço serem válidos) defenderam a liberdade de expressão do cientista. Mas ninguém ousou sequer criticar esta afirmação (igualmente racista) de Steiner. Porquê?
Houve uma polémica esta semana no blogue da revista Atlântico, e no seu centro estava André Azevedo Alves. Tal como há uns meses houve outra grande polémica no Blasfémias, e no seu centro estavam os textos de Pedro Arroja. Do que conheço não vejo grande diferença entre as ideias de Azevedo Alves ou de Arroja (vejo uma grande diferença no estilo, e apesar de tudo prefiro de longe o deste último). Relativamente a Azevedo Alves as posições (particularmente na direita blogosférica) dividiram-se, mas os textos de Arroja foram condenados unanimemente. (Um bom exemplo desta dualidade de critérios é mesmo o director da Revista Atlântico.) Porquê?
Nem toda a direita procedeu assim, no entanto: Carlos Abreu Amorim, no Blasfémias, distanciou-se tanto dos textos de Azevedo Alves como dos de Arroja. Deveremos portanto gabar a coerência do truculento blasfemo? Não esperem por isso. Ainda esta semana foi votado um empréstimo bancário na Câmara Municipal de Lisboa, que foi prontamente condenado no blogue onde Abreu Amorim escreve. E alguém duvida de que este ultraliberal (e “mata-mouros” ainda por cima) é contra tamanho empréstimo, preferindo antes dispensar pessoal, cortar despesas e privatizar? Pois, e voltando onde este já longo texto começou, este mesmo autor usou o seu espaço de opinião no “Correio da Manhã” para exigir a uma câmara sobreendividada que construa um memorial aos judeus assassinados em Lisboa em 1506, insurgindo-se contra o adiamento desta proposta (não se falou em recusa da proposta, mas sim em adiamento)! Independentemente do empréstimo, o memorial seria mais importante que as dívidas da câmara! Mais uma vez, porquê?
A chave para a resposta a todos estes “porquês” está, creio, na afirmação de Steiner. De todos aqueles a quem apontei incoerências, estou certo de que nenhum condenaria essa afirmação. Eu considero-a racista e condeno-a, como já referi. Sou a favor da humildade e do reconhecimento dos nossos erros; por isso sou favorável à construção dos memoriais que referi, haja dinheiro para isso. O que eu não posso aceitar – é frontalmente contra os meus princípios, causando-me reacções viscerais – é que alguém se considere naturalmente melhor do que os outros, sem nunca ter de o demonstrar.

Por falar em petições

...recomendo a assinatura da petição "Por uma lei que garanta universalidade e igualdade no acesso ao subsídio de desemprego", para a criação de um subsídio de desemprego aos docentes do Ensino Superior (algo que, talvez não saibam, na prática não existe), lançada pela FENPROF e pelo SNESup.

2007/12/04

Dois exemplos de pseudociência

No De Rerum Natura: Grandes erros: o prémio Santilli-Galileu, Homeopatetices - as origens e Homeopatetices - a componente mística. Como o charlatanismo está no meio de nós, na farmácia ou no Jornal de Letras.

2007/12/03

Sobre a “crise no Sporting”

Perguntem “onde está um bom guarda redes?” Já se experimentaram os três, e o de ontem, apesar da inexperiência no golo sofrido, parece-me a menos má aposta.
Perguntem “onde está um marcador de penáltis?” Um que seja. Nenhuma equipa falha 60% dos penáltis de que dispõe, em nenhuma liga, seja para ser campeão ou para lutar contra a despromoção. Se o penálti de ontem tivesse sido convertido não se falava em “crise”.
Perguntem “onde estão os reforços?” De qualidade, só o Izmailov.
Depois, perguntem pelo Paulo Bento. Também tem responsabilidades, mas é o menos culpado.

Sobre a “crise na direita”

Não quero juntar-me ao coro, porque não é o meu hábito dar pontapés em quem está no chão. Mas é de “estar no chão” que se trata. O Tiago Mendes, literalmente, deitou o André Azevedo Alves ao tapete neste texto. Disse tudo. Sinceramente, não posso deixar de lhe dar os parabéns.
São desonestas, porque parciais, as acusações do João Miranda: quem pratica sistematicamente ataques ad hominem é o André Azevedo Alves (eu mesmo já fui vítima desses ataques algumas vezes). Se o Tiago Mendes praticou um ataque ad hominem, isolado, foi porque não se identificava com tais práticas. Foi um ataque contra toda uma carreira na blogosfera baseada nesses ataques. Atacar o Tiago Mendes por um ataque ad hominem e ignorar os do outro lado é no mínimo hipócrita.
Voltarei a este assunto.

Coração de Leão (2)


Toñito

2007/12/02

Ricardo Coração de Leão


"É sempre especial ganhar ao Benfica." (Ricardo Quaresma)

2007/11/30

Um Europeu sem inglês

Quem já esteve na Suíça (eu estive uma vez, em Genebra, de visita ao CERN) reparou que tudo está escrito em quatro línguas diferentes: francês, alemão, italiano e romanche, as quatro línguas nacionais. Habituado ao francês, nem dei por que o inglês era inexistente. O inglês que, hoje em dia, quando não é a primeira língua é a segunda. Sempre presente. Deve ser caso único no mundo, este da Suíça, com todo o tipo de informações em quatro línguas e nenhuma é a inglesa. Ora, dado que o próximo Europeu de futebol é na Suíça e na Áustria e nenhuma selecção de língua inglesa vai nele participar, e se se retirasse todas as referências à língua inglesa do torneio?
Eu não tenho nada contra a língua inglesa, bem pelo contrário: uso-a todos os dias no meu trabalho, e vivi e estudei num país de língua inglesa. E é útil haver uma língua em que todos podemos comunicar. Esta ideia é talvez um bocado parva e inconveniente, pois é, mas não vos apetece variar do inglês de vez em quando?

2007/11/29

João Guerreiro, Jovem do Ano 2007


E o João, meu aluno, foi eleito. Há que dizer que teve uma divulgação e apoio que nenhum outro candidato teve (que eu tenha visto). Mesmo assim fico satisfeito por os portugueses terem premiado um feito na área da ciência, para variar.
Na aula de hoje vou dar-lhe os parabéns. Não por ter ganho uma eleição na rede. Mas sim por ser um craque a Matemática e a Física e por ser um bom colega, conforme posso observar. (E por ter derrotado o João Pereira Coutinho...)

(Nota: o João é aluno da LMAC, mas eu teimosamente continuo a arquivar estes textos no arquivo da LEFT...)

2007/11/28

Eu, o moderador

Certa vez, há muitos anos, era eu caloiro, a Associação de Estudantes do Técnico organizou um debate sobre dirigismo associativo universitário, tendo convidado antigos dirigentes. Entre eles, um então professor meu, hoje em dia ministro (não vou dizer quem é). Para moderar o debate, convidou um então jornalista, de esquerda, irmão de um outro então jornalista, de direita. O então moderador hoje é eurodeputado, e o seu irmão líder de um partido. Também não vou dizer quem é.
Assisti a um diálogo semiprivado entre os dois. O meu professor perguntou ao jornalista: “Então o que estás aqui a fazer?” O hoje eurodeputado respondeu, algo hesitante: “Bem, eu sou o moderador...” O hoje ministro atirou: “Moderador? Mas tu alguma vez moderaste alguma coisa na tua vida? Tu precisas é que te moderem a ti!”
Vem isto a propósito do simpático convite que o MISTA me endereçou para moderar o debate de hoje à tarde, sobre as eleições para a Assembleia Estatutária da Universidade Técnica de Lisboa. Se alguém me perguntar se alguma vez moderei algo na minha vida, posso sempre referir este debate. Só espero é que ninguém me diga o que o ministro disse ao eurodeputado...

2007/11/27

Boa ou má jornada?

Foi de facto uma jornada estranha, esta, em que o Sporting perdeu pontos para o FC Porto e Benfica e, ainda assim, subiu na classificação, graças às derrotas de V. Guimarães, Marítimo e V. Setúbal. "Os principais adversários do Sporting", dirão lampiões desavergonhados como este ou este. Na segunda volta vamos ver. Entretanto, hoje, divirtam-se mas vejam se jogam qualquer coisa.

2007/11/26

Miguel Sousa Tavares

Gosto do Miguel Sousa Tavares cronista e isso não é segredo para os leitores deste blogue. Tal não implica que eu goste do Miguel Sousa Tavares escritor. Não gosto e nem deixo de gostar - não tenho opinião formada. Sou selectivo com o que leio. Miguel Sousa Tavares é para mim o melhor cronista, mesmo quando eu não concordo nada com ele. Não creio porém que alguém pense que ele é o melhor escritor. Prefiro ler os melhores cronistas e os melhores escritores. Não perco uma crónica do Miguel Sousa Tavares, mas não vou ler um livro dele enquanto houverem Balzacs, Tolstois, Dostoiewskis e Saramagos para eu ler.

2007/11/24

Wonders - Festival Europeu de Ciência

Hoje voltei a fazer um holograma, muitos anos depois de ter feito o último. Não recorri a lasers nem a mesas ópticas, nem nada: só um acetato especial, um alfinete e um transferidor! É incrível mas é verdade! Os responsáveis vinham do Laboratório de Holografia da Universidade de Aveiro, mas estão (em conjunto com cientistas de toda a Europa) a fazer divulgação da ciência este fim de semana no Festival Europeu de Ciência, no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa. Eu fui hoje, gostei e recomendo.

2007/11/23

"Semana da Física" - balanço pessoal


Termina hoje a semana da Física no IST. Mais um sucesso, com as sessões de divulgação e a exposição do "Circo da Física" sempre cheias de curiosos, de dentro e de fora do IST, e sobretudo de alunos das escolas secundárias ("futuros caloiros", como alguém muito bem lembrava). Da minha parte, obrigado pela oportunidade de rever velhas experiências (e novas, que nunca tinha visto). Obrigado pelos simpáticos convites, pela oportunidade de falar do meu trabalho e de participar num debate sempre animado, de conhecer e ouvir alunos motivados (o melhor que a LEFT sempre teve) ...e obrigado pelo vinho! (O vinho tinto é o néctar oficial da LEFT.) Foi um bela recordação de uma bela semana. E viva a LEFT, sempre.

2007/11/22

E a Inglaterra está fora do Euro 2008

Quem é que Portugal vai eliminar nos penaltis agora? E contra quem é que o Ricardo vai brilhar? Os ingleses (e os holandeses) são fregueses, como dizem os brasileiros. Recordemos o Euro 2004 e o Mundial 2006, mas também o Sporting na Taça UEFA 2005 (depois dos grupos só eliminou equipas holandesas e inglesas). E perdeu. Será desta que Portugal ganha alguma coisa?

2007/11/21

Le feu au bobottin


Na semana da LEFT, uma "pequena produção cinematográfica bordalesa". Participa um amigo meu, antigo aluno da LEFT.

2007/11/20

2007/11/19

Semana da Física 11

Esta é a semana da LEFT por excelência. Eu vou andar por lá (IST, Pavilhão Central). Apareçam. É entrar, senhoras e senhores, meninas e meninos, é entrar!

2007/11/16

O Terreiro do Paço agora é na Avenida dos Aliados



Os portuenses que se queixam de que só Lisboa fica com tudo deveriam pensar nisto: a horrenda “árvore de Natal” que nos últimos dois anos ocupava por esta altura do ano o Terreiro do Paço vai estar instalada este ano na Avenida dos Aliados, sendo inaugurada amanhã.
Quando era presidente da Câmara de Lisboa, Jorge Sampaio disse uma vez aos regionalistas para “levarem o Terreiro do Paço” da cidade para fora. Sampaio referia-se à burocracia e não à belíssima praça em si. Recordo agora esta frase ao ver onde está a “árvore”, um mamarracho que é uma demonstração de novo-riquismo e que de árvore não tem mesmo nada. O Porto cobiça tanta coisa de Lisboa, e vejam bem logo com o que ficou. Se era este “Terreiro do Paço” que tanto queriam levar, pois por mim agradeço que fiquem com ele. Se me permitem uma recomendação, só não lhe chamem “a maior árvore de Natal da Europa”. Aquela coisa pode ser a maior da Europa, mas não é uma árvore de Natal.
Este episódio confirma que o Porto só aspira a ter o que Lisboa tem, incluindo o poder. O Porto é tão centralista como Lisboa; a “regionalização”, para o resto do norte, seria decidir entre o Porto e Lisboa. Não há grande diferença, como se confirma pela “árvore de Natal”. Era bom que o bracarense Pedro Morgado se convencesse disso e substituísse a fotografia que eu retirei do blogue dele por uma na Avenida dos Aliados. Quanto tempo demorará até vermos a “maior árvore de Natal da Europa” em Braga?

2007/11/15

L'Europe de la Connaissance et la Stratégie de Lisbonne

Ocorre aqui, na minha segunda casinha, onde nunca vivi. O programa é interessante e os convidados também.

"Por que no te callas?"

A questão que tanto pano para mangas tem dado nos últimos dias, para mim, resume-se a boa educação e respeito pelo próximo. Zapatero estava a falar e Chávez permanentemente a interrompê-lo, quando não era a sua vez de falar. Talvez quem devesse ter intervindo era a presidência da mesa. Não interveio, e o rei, que queria ouvir o orador, protestou, como qualquer cidadão normal. Não deve ter mais nem menos direitos.
Todas as discussões que tenho lido sobre o assunto são entre monárquicos e antimonárquicos, envolvendo ainda o colonialismo. A meu ver tal está errado: como disse, é tudo uma questão de ordem na mesa. Eu sou completamente antimonárquico, mas aqui no essencial tenho que apoiar o rei. A minha opinião seria a mesma se tivesse sido Chávez a sugerir a Juan Carlos que se calasse, se este estivesse a interromper outro interveniente. Será que os monárquicos e os que agora defendem Chávez diriam o mesmo?

2007/11/14

Abaixo o governo central! Abaixo a democracia! Viva a "liberdade"! Viva a blasfémia!

Notável frase, num comentário do Insurgente: "O sistema político americano (...) é um sistema não democrático que visa limitar o poder do governo federal" (destaque meu). Quando se discutir a "regionalização" em Portugal, lembremo-nos dela.
A sério: não tenho dúvidas de que os EUA são uma democracia. Cheia de imperfeições e com dificuldades estruturais muito maiores do que outras democracias, mas uma democracia. Os políticos americanos ou ignoravam essas imperfeições do sistema político americano (tipicamente os republicanos), ou reconheciam-nas e prometiam tentar melhorá-las (tipicamente os democratas). Mas é a primeira vez que eu vejo alguém (um conhecido adversário dos governos centrais) a defender as imperfeições da democracia norte-americana e a virtudes do seu carácter "não democrático"! Parabéns ao autor do comentário, João Miranda, pela honestidade. E que isto demonstre a natureza dos projectos políticos libertários, que já representam uma corrente importante nos EUA e começam a dar os primeiros passos em Portugal.

2007/11/13

Árbitros no Prós e Contras

Não o tinha escrito aqui no blogue, mas já o tinha afirmado aqui: Pedro Henriques é o melhor árbitro português. Desorientou-se no lance da suposta mão do Katsouranis (que não era penalti), no último Benfica-Sporting, e parou o jogo. Mas ajuizou bem. Mais ainda me convenci desta minha opinião ao ouvi-lo ontem no Prós e Contras sobre a introdução de novas tecnologias no futebol (repete hoje na RTP N, e está disponível na rede).

2007/11/12

Há muito tempo que não me sucedia isto

Estar a acompanhar um jogo do Sporting, com o Sporting a perder e eu só a querer que o jogo acabasse. Desde o tempo do Peseiro que tal não me sucedia. Sucedeu-me ontem.

Mais um teste político

Desta vez foi encontrado no Kontrastes. Façam-no vocês também! Seguem-se os meus resultados.
Your Political Profile:

Overall: 20% Conservative, 80% Liberal

Social Issues: 25% Conservative, 75% Liberal

Personal Responsibility: 25% Conservative, 75% Liberal

Fiscal Issues: 25% Conservative, 75% Liberal

Ethics: 0% Conservative, 100% Liberal

Defense and Crime: 25% Conservative, 75% Liberal

2007/11/09

Cappuccino do avesso

Desta vez fui eu o convidado para responder ao inquérito do blogue Kontrastes. Podem ler lá as minhas considerações sobre o estado actual (na verdade, há uns meses atrás) da blogosfera. Agradeço ao João Ferreira Dias a gentileza.

2007/11/08

Obrigado levezinho!

Cem golos é uma marca notável, mesmo se o resultado de ontem foi um bocado difícil de engolir.

A diferença de ocorrer no Terreiro do Paço

A diferença entre um acidente de viação ocorrer no Terreiro do Paço ou em outro ponto do país é que o Terreiro do Paço é talvez a praça mais movimentada de Portugal. Por lá passam todos os dias milhares, talvez dezenas de milhares de pessoas. Não é o único local em Portugal muito movimentado (nem sequer em Lisboa), pelo que não é de todo comparável com as estradas nacionais ou ruas pouco movimentadas, que são os casos que Helena Matos refere neste seu texto. Julgo que qualquer pessoa percebe que o que importa é que houve um grave acidente no Terreiro do Paço, junto às obras que duram há anos. Que há suspeitas de que tais obras possam constituir um risco para a segurança de quem atravessa a praça todos os dias. Que um acidente isolado no Terreiro do Paço pode pôr todas estas pessoas a pensar que tal poderia ter sucedido com elas, mas tal nunca sucederia num acidente isolado numa praça qualquer de Coruche. Sem querer desrespeitar os mortos neste e em todos os outros trágicos acidentes que Helena Matos refere, o que faz a notícia e desperta o interesse neste caso não é o acidente em si (acidentes há muitos, como Helena Matos o demonstra). O que faz a notícia é mesmo o acidente ter ocorrido numa praça movimentada em obras, neste caso o Terreiro do Paço.
Temos falado aqui muito de provincianismo nos últimos dias. Este texto do Blasfémias é demagógico, populista e demonstra um certo provincianismo. Já agora: Helena Matos escreve duas vezes por semana num jornal de referência. Se acha mesmo que este caso demonstra que "os jornais de referência têm um entendimento snob da vida", por que não terá abordado este assunto lá, directamente, nas suas crónicas?

2007/11/07

Aos 33

Aos 27 anos senti que estava perante uma encruzilhada. Naquela altura tive que escolher se queria ser homem ou se queria continuar a ser o Peter Pan. Escolhi ser homem. Agora que tenho 33, idade em que Cristo foi morto, sinto que, espiritualmente, é o momento certo para dar um salto, depois de ter estado no deserto. Não estou a dizer que sou Jesus... Este é o ano ideal para pregar o evangelho e deixar a minha marca.
(Rufus Wainwright, em conversa telefónica com Maria José Oliveira, Público, Suplemento Ípsilon, 2007/11/02)


Beautiful Child - eis como me sinto hoje.

O Coliseu dos Recreios tem-me dado boas prendas (antecipadas). Há um ano, a prenda não poderia ter sido melhor. Ontem também foi muito bom. Release the Stars não é o meu álbum preferido do Rufus Wainwright, mas ele é um grande cantor e autor. Nunca o tinha visto em Portugal. Até tive direito a "parabéns a você" interpretados por ele e pela banda - eram para o baterista, mas tomei como se fossem para mim.

7 de Novembro

No dia em que passam 90 anos sobre a tomada de São Petersburgo pelos bolcheviques, reedito aqui um texto que escrevi no Blogue de Esquerda há três anos.




Passa-se hoje mais um aniversário da Revolução dos Sovietes, mais concretamente da tomada de São Petersburgo pelos bolchevistas, que viriam a estabelecer pela primeira vez na história um regime socialista. Não me importam todos os horrores que daí advieram (não necessariamente por causa disso); não me importa que o muro de Berlim tenha caído e a URSS seja uma página virada da história; não quero saber se os nostálgicos da União Soviética são hoje um gueto que se recusa a ver e a aceitar o mundo como ele é. Não me importa o que possam dizer. Sempre comemorei e hei-de comemorar esta data por toda a minha vida.

2007/11/06

Mais praxe e provincianismo

O assunto pelos vistos – e pela repercussão que teve – é delicado. Vamos ver se a gente se entende: eu nunca disse (e nem o penso) que “provinciano é tudo o que é de fora de Lisboa”. Disse que a praxe era um costume provinciano, e afirmei que a praxe, pelo menos em Lisboa (que é onde eu conheço melhor o meio académico) é trazida pelos alunos de fora de Lisboa. Não conheço nenhum aluno de Lisboa, a estudar em Lisboa, que seja favorável à praxe. Todos os casos que eu conheço de alunos favoráveis à praxe, em Lisboa, são alunos deslocados. E isto já resulta de vários anos de observação, como aluno e docente. Admiti as limitações da minha amostra – precisava de saber, por exemplo, se há alunos naturais de Lisboa noutras cidades favoráveis à praxe. Mas estou ainda assim convencido de que a praxe não é um hábito de Lisboa. Foi (tristemente) importado pelos alunos de fora que Lisboa recebe.
Daí a concluir que não há provincianos em Lisboa (como se a praxe fosse o único critério para avaliar o “provincianismo”) ou que tudo o que vem de fora de Lisboa é provinciano é um abuso. Não escrevi nada disso, como se pode confirmar. Tais interpretações constituem mais uma manifestação de um complexo de perseguição da parte de quem não é de Lisboa.
É possível que eu não conheça bem o Minho, mas conheço muito bem Lisboa e, particularmente, o Instituto Superior Técnico. Não tem por isso razão nenhuma o Pedro Morgado quando fala nas “afamadas praxes” do Instituto Superior Técnico. Tais praxes, contra as quais me insurgi neste blogue, são um fenómeno recente. A verdadeira “tradição académica” do Técnico sempre foi não ter tradição académica nenhuma (e em particular não utilizar “traje académico”). Se a praxe ressurgiu no Técnico nos anos recentes foi uma evolução lamentável, e foi trazida de fora. O mesmo se pode dizer, aliás, das faculdades tradicionais de Lisboa. A praxe (e a “tradição académica”) em Lisboa viam-se nas “universidades” como a em que o nosso primeiro ministro obteve a sua licenciatura: era a maneira que elas tinham de parecerem universidades a sério. Se há um ressurgimento destas práticas no ensino superior público (que traduz um sentimento elitista de que quem anda na universidade é um “privilegiado”), tal deve-se a serem cada vez menos – e ainda bem - essas universidades “de vão de escada”. Há que dizer que este tipo de comportamentos não são admissíveis em universidades de qualidade. Entretanto creio que nas universidades tradicionais só em Lisboa esta noção foi adquirida. Por isso mantenho que se há praxe em Lisboa, foi trazida de fora. Ainda não vi nada que mostrasse que estou errado.

2007/11/05

Sobre o provincianismo, da praxe e não só

Julguei ter deixado bem claro no meu penúltimo texto sobre a praxe que a minha amostra era limitada e que, portanto, as minhas conclusões não podiam ser definitivas. Nomeadamente não conhecia o comportamento dos alunos naturais de Lisboa mas deslocados. E conheço poucas opiniões de alunos naturais de outras cidades e não deslocados. (Conheço um caso, de um leitor deste blogue, que sempre viveu e fez o curso no Porto e é contra a praxe.) O que escrevi foi que a praxe não era seguramente um hábito oriundo de Lisboa (há registos históricos que o comprovam, e o eloquente comentário que eu citei confirma-o mais uma vez), e que era um hábito provinciano. Deixei bem claro que tal não implicaria que quem fosse de fora de Lisboa fosse a favor da praxe, e muito menos provinciano!
Mas houve quem não entendesse bem a implicação. E tal motivou uma série de insinuações sobre, por exemplo, "a minha ignorância do resto do país." Quem ler este blogue, e mais ainda quem me conhecer pessoalmente, sabe que eu embora não conheça o que se passa em muitas partes do país, não sei só o que se passa em Lisboa (nomeadamente, tenho raízes no distrito de Aveiro). Nem sei por quanto mais tempo vou continuar a viver em Lisboa, e não teria problema nenhum em viver noutro distrito. Mas eu sinceramente nem dou grande crédito às insinuações do Luís Aguiar Conraria, que não me conhece o suficiente para as poder fazer (só revelam uma dor de cotovelo que os lisboetas estão habituados a causar a algumas pessoas). Espero é que o Luís tenha dito o mesmo aos seus amigos, que ele não especificou se eram ou não de Lisboa e que julgavam que Braga era no "interior": que eram uns "ignorantes do resto do país". O que eu queria sobre isto afirmar é que, ao contrário do Luís, eu não tive a sorte (aqui estou mesmo a falar de "sorte") de arranjar um emprego académico antes de iniciar o meu doutoramento. (O Luís é um típico liberal português: teve desde o princípio o futuro garantido e sempre o salário ao fim de todos os meses, pago pelo bom Estado, é claro.) Isso levou a que percorresse diversos pontos do mundo (EUA e Europa) ao longo da minha carreira académica. Não me estou aqui a queixar de nada: não me arrependo de ter escolhido esta carreira e ter tomado estas opções. Conheço várias universidades e muitos antigos alunos de vários países, e sei que algo como a praxe não é visto em mais nenhum país civilizado. (E conheço muitas festas, e sei que a Festa do Avante é muito boa em qualquer parte do mundo.)
Também não quero com isto dizer que me considero de alguma forma "melhor" do que outras pessoas que tenham vivido sempre em Portugal, dentro ou fora de Lisboa. Tudo isto são opções de vida. Só que no meu caso, as minhas opções de vida levaram-me a passar muitas fronteiras. E sempre vi como se vivia para além dessas fronteiras. Para mim os EUA não são só Nova Iorque, Nova Iorque não é só o Rockefeller Center, a França não é só Paris, Paris não é só o Quartier Latin, Portugal não é só Lisboa e Lisboa não é só a Baixa-Chiado.
As acusações que o Luís me faz de "incapacidade de passar da sua minúscula fronteira", por isso, em mim fazem ricochete. E reafirmo tudo o que escrevi.

2007/11/02

A lição da África do Sul

A África do Sul, pese os problemas graves que se mantêm, está infinitamente melhor do que todo o continente africano e, sobretudo, conseguiu essa proeza impensável de sair do regime intolerável do apartheid por via pacífica e democrática, evitando a guerra civil e a desforra dos negros contra os brancos, como sucedeu no vizinho Zimbabwe. No Zimbabwe, o racismo negro determinou a expulsão e o confisco de todas as terras dos brancos, conduzindo à ruína alimentar, à fome e à miséria o que fora o mais próspero território agrícola de África. Sob o comando desse criminoso corrupto e sanguinário que é Mugabe (que Sócrates insiste à viva força em deixar vir à cimeira Euro-África de Lisboa), o Zimbabwe transformou-se num quadro de terror e de devastação humana que, mesmo em África, ultrapassa tudo o que é tolerável. A África do Sul, pelo contrário, teve a sorte de encontrar em Nelson Mandela um líder que, em lugar do ressentimento e do ódio, que até seriam compreensíveis, demonstrou, desde o primeiro dia no poder, que buscava antes o perdão, a reconciliação e a prosperidade para o seu país.

O que vimos neste Mundial de râguebi, com o triunfo de uma selecção sul-africana composta essencialmente por brancos e mulatos, não seria, obviamente, possível de acontecer no Zimbabwe. E, infelizmente para o seu povo, que não tem culpa dos dirigentes que tem, o Zimbabwe nunca será conhecido por estas ou outras boas razões e nunca beneficiará, à escala planetária, de uma tão boa promoção como a que a África do Sul ficou agora a dever à sua selecção de râguebi.

O triunfo da África do Sul ensina-nos uma lição que só os ditadores, os racistas e os particularmente estúpidos se recusam a ver: que África não é dos negros, nem dos brancos, como se proclamava até aos anos sessenta, nem dos árabes, como se garantia antes disso. África é dos africanos, independentemente da cor da pele: dos que lá nasceram, lá criaram raízes e lá pretendem morrer. Não há nada mais redutor e idiota do que querer julgar a História à luz dos critérios políticos e de justiça social contemporâneos. Até meados do século XX, a história das nações não foi mais do que a história das conquistas e das derrotas e das sucessivas migrações dos povos a elas associadas. Querer negar que os europeus fizeram e fazem parte de África é o mesmo que negar que os mouros fizeram parte da história da Península ou que os negros de África fizeram, forçadamente, parte da história do Brasil. O que aconteceu, aconteceu porque foi inevitável e até natural, pelos padrões da época. Ser anticolonialista é perceber justamente que o que era natural e tido como legítimo dantes, deixou de o ser depois. Não é pretender ajustar contas com a História, perseguir os que ficaram para trás por amor à terra onde nasceram (e muitas vezes sem outra a que pudessem chamar sua) e transformar a independência conquistada a ferros numa oportunidade espúria para uma vingança fora de prazo, de que os povos autóctones acabam, a maior parte das vezes, por ser as maiores vítimas.
(Miguel Sousa Tavares, A Bola, 2007/10/23)

2007/10/31

Falando nos meus alunos...

...é meu aluno o rapaz que, no último domingo à noite, no Gato Fedorento resolveu em directo o famoso cálculo dos seis por cento do PIB, que em tempos atrapalhou António Guterres. Não fui eu que lhe ensinei. Vai longe o rapaz. É de Matemática. Por que raio pus eu a etiqueta "LEFT" neste texto?

Ah! Uma corrente!

Finalmente alguém me passa uma corrente dos blogues! Daquelas que todos os blógueres passam uns aos outros! Nunca ninguém me havia passado uma! Julguei que ninguém me ligasse nenhuma. Quem ma passou foi o bacano do João Gaspar.
Pegar no livro que está mais próximo, abrir na página 161 e transcrever a quinta frase completa dessa página. No meu caso, o livro mais próximo de onde me encontro é o livro de texto da cadeira que neste semestre lecciono, Introdução à Programação em Mathematica, de Amílcar Sernadas et. al.. Na página 161 pode ler-se
Na programação funcional, tal como na programação recursiva, não é usado qualquer construtor imperativo (i.e., não se pode recorrer, nomeadamente, nem à composição sequencial de acções, via ";", nem a comandos iterativos While), assim como não se recorre à memorização de valores em variáveis através de atribuições.
Passo a corrente ao João André, ao Francisco Frazão, ao Rui Curado Silva (quando voltar de viagem ou por que não antes?), ao Nélson, ao André Abrantes Amaral, ao Leonardo Ralha (a ver se volta a activar o blogue) e ao circunspecto Hugo Mendes (homem de muuuuuitos livros).
(João Gaspar, olha que tenho alunos que gostam da praxe; acho que os vou chumbar. Estou a brincar. Obrigado e até à próxima corrente.)

2007/10/30

Para acabar de vez com a praxe

Não adianta nada desdenhar dos alunos que participam voluntariamente na praxe sem compreender que, na sua maioria, são alunos deslocados que estão sozinhos numa cidade nova e, para eles, desconhecida, sem amigos ou família. A praxe é, porventura, a única socialização possível. Mas não deixa de ser um hábito humilhante e – mantenho – provinciano. Se se quer circunscrever este hábito a quem queira legitimamente participar nele, há que fazer primeiro com que não seja a única alternativa de socialização disponível. É aqui que as faculdades devem actuar. E está visto que não basta deixar o assunto entregue às associações de estudantes, embora estas possam desempenhar um papel importante, desde que não sejam comandadas por indivíduos com traje académico que julgam que ser estudante universitário lhes dá um estatuto especial.
Para encerrar este assunto recomendo a leitura de dois interessantes e esclarecedores comentários ao meu texto anterior, pelo João André e pelo Tárique. A ambos agradeço.

2007/10/29

A praxe e o provincianismo

Ainda voltando ao tema do texto de há um mês atrás (que registou o recorde de comentários neste blogue), mas para recomendar a leitura de um comentário deixado por um dos mesmos veteranos da LEIC, só que desta vez no blogue do MISTA. Vale a pena ler:
"caros estudantes do técnico. até há poucos anos não se via ninguém do técnico de traje. perguntem a quem quiserem, nunca houve essa tradição, aliás nunca houve praticamente em toda a academia em lisboa."

Não sei se tens noção (pelos vistos não) que toda a gente em Lisboa tem noção disso. E é precisamente por isso que todos nos empenhamos em trazer a tradição académica para Lisboa. Se tu julgas que isto é uma tradição "recém-inventada tradição", cópia da "rasquice alheia" e é a causa de o técnico ser "uma merda igual às outras", tenho pena de ti porque não percebes nada disto.
Pela minha experiência pessoal, um aluno em Lisboa que seja adepto da praxe não pode ser lisboeta. Nenhum aluno lisboeta se quer sujeitar a essas figuras; só os de fora de Lisboa. Daí o referido (e eloquente) “querer trazer” a praxe da província para Lisboa. (Os meus leitores de fora de Lisboa que são contra a praxe que me desculpem o “província”; uma boa definição de “provincianismo” é ser a favor da praxe, mas tal não significa necessariamente ser-se de fora de Lisboa. A implicação oposta talvez seja verdade.)
Mas há um pormenor importante: tipicamente um aluno de Lisboa, em Lisboa, não é deslocado, isto é, vive com os pais. Um aluno deslocado acabou de sair de casa e quer “emancipar-se”. Participar na praxe, seja para se submeter ou submeter os outros, pode ser visto como parte dessa “emancipação”. Seria necessário saber o comportamento dos alunos lisboetas deslocados fora de Lisboa, e eu não sei. Mas há outras razões para a minha desconfiança: pessoas que eu conheço e considero civilizadas, tendo estudado no Porto e em Coimbra nem por isso se furtaram a usarem o “traje académico”.Até prova em contrário, portanto, continuo convencido de que a praxe é mais uma manifestação da famigerada “regionalização”. Atente-se neste episódio digno do mais típico “espírito académico”.

2007/10/26

Excelentes debates

Assisti a várias boas palestras no primeiro dia da conferência Gulbenkian "Is Science Near Its Limits?". Mas o melhor do primeiro dia só eu e mais uns poucos privilegiados pudemos assistir: um debate entre Luis Alvarez-Gaumé, Dieter Luest (a defenderem as teorias de supercordas) e Peter Woit (a atacá-las). Em breve espero poder divulgar mais sobre este debate. Hoje é o segundo e último dia.
Outro excelente debate ocorreu recentemente entre o Rui Tavares e o João Miranda, nos (mais de 100) comentários a este texto do João. Vale a pena ler os comentários e seguir o debate, sobre as polémicas declarações de James Watson e tudo o que se lhes seguiu. Altamente recomendável. Também espero abordar este assunto, mas só para a semana que vem.

2007/10/25

A ciência terá limites?

Hoje e amanhã vou andar por aqui, na Fundação Gulbenkian. Há debates imperdíveis, como o de hoje à tarde: A teoria das cordas e o paradoxo da não-verificabilidade. Sobre este assunto, sugiro as seguintes leituras:
  • String theory is losing the public debate, por Sean Carroll;
  • Some elementary myths about quantum gravity, por Lubos Motl;
  • as recomendações desta página, no item La faillite de la théorie des cordes?
Finalmente sugiro ainda a audição de um debate semelhante ao de amanhã à tarde na Gulbenkian, que teve lugar em Junho na Cité des Sciences em Paris.
Este é um debate da maior importância, que tem vindo a ocorrer um pouco pela Europa e EUA, e que finalmente chega agora a Portugal.

2007/10/24

Blasfémias na TAP é que não!

As greves do pessoal de transporte aéreo, sejam da tripulação ou do pessoal de terra, são sempre das mais incómodas e que mais transtorno causam. Por isso, aqui deixo a minha simpatia para quem tem que viajar na TAP nos próximos dias.
Dito isto, greves como esta ocorrem em todos os países civilizados. Não é só em Portugal e na TAP. Ainda esta semana houve uma greve do pessoal aéreo em Itália (que afectou a viagem do Sporting a Roma, por exemplo). Para esta semana também está marcada uma greve da Air France. Só os liberais portistas, na sua dupla cegueira anti-TAP (e empresas públicas em geral) julgam que isto só ocorre com a principal transportadora portuguesa, onde se recusam a viajar. Nem que para isso tenham que perder muito mais tempo com escalas do que perderiam num vôo directo. Nem que tenham que ir a Londres para voar do Porto até Madrid...
O CAA deve conhecer muitos aeroportos de muitas cidades. Ele que vá mandando uns postais de todas as suas escalas...

2007/10/23

Os grandes vencedores

Jean Todt soube sempre preservar os pilotos das influências externas. Recusou (e muito bem) terminantemente considerar a contratação de Fernando Alonso. Pelo contrário: disse que a Ferrari estava muito bem servida de pilotos e prolongou o contrato de Filipe Massa. E em corrida a Ferrari voltou a demonstrar uma excelente estratégia. Mas, mais do que isso, agiu como equipa. Jean Todt é um dos maiores vencedores deste campeonato, por demonstrar que não precisava de Michael Schumacher para ser campeão.
Kimi Raikkonen é outro grande vencedor. Finalmente conquistou um título e calou todos aqueles que chegaram a duvidar do seu valor – entre os quais, admito, me incluia. Preferia que fosse um piloto mais dedicado à afinação do carro, como é Alonso e eram Schumacher, Senna e Prost, mas não deixa de ser engraçado ver como campeão um piloto tão politicamente incorrecto, que diz sempre o que pensa e gosta de uma noite de farra e copos.
Falta Filipe Massa, mas os títulos não teriam sido possíveis sem ele. É o melhor segundo piloto que a Ferrari teve em mais de dez anos, e merece sem dúvida voar mais alto. Esperemos que sim.
Parabéns a todos. Para o ano isto vai ser giro...

2007/10/22

O grande derrotado

Passou uma época a ver os seus dois pilotos digladiarem-se. Não foi isento nessa luta, apostando tudo num novato que, veio-se a ver, é um grande piloto mas ainda é inexperiente. Mas não prescindiu dos (bons) serviços do bicampeão do mundo em título, que afinava o carro e sabia (como o novato não sabe e nem saberá tão cedo) tirar partido dele. O bicampeão do mundo que tem um ego sem limites e, naturalmente, achava que era o maior e que não podia ter outro concorrente à altura dentro da equipa. Ambos os seus pilotos perderam o campeonato de condutores por um ponto, o que demonstra a total ausência de “jogo de equipa”. A McLaren este ano não foi uma equipa.
Perante isto, quase que nos esquecemos do aspec to mais negativo – e vergonhoso- desta temporada: o castigo à McLaren por espionagem. Só a equipa foi castigada – os pilotos puderam continuar a disputar o mundial pois supostamente “não eram culpados”. Pois nem depois de consumada a derrota este homem desiste, e quer à viva força conseguir para o seu “menino” na secretaria o que não conseguiu na pista. Nem que para isso a duplicidade de critérios tenha que ser total: os pilotos da McLaren são inocentes dos erros da equipa, mas os da Williams ou Sauber pelos vistos já não seriam...
Ron Dennis é um trapaceiro que não sabe perder.

"I was having a shit"

O novo campeão do mundo de Fórmula 1, no final da época passada.

2007/10/21

Foi lindo!

Quem eu quero que seja campeão do mundo?

Qualquer um menos o Alonso. Amanhã eu explico melhor depois de se saber o resultado.

Como estará Paris?



Faz hoje um ano que apanhei o avião no aeroporto Charles de Gaulle e, desde então, não mais lá regressei. As obras do trólei do Boulevard Jourdan, que a fotografia documenta e que me acompanharam por toda a minha estadia e mais algum tempo, já acabaram com certeza. Esta é a última foto por mim conhecida, com a minha antiga casa à direita. Como estará tudo agora? A Casa de Portugal da Cité Universitaire já reabriu, só uns meses depois do previsto. Foi inaugurado o museu da imigração. O Sarkozy é presidente.
Ninguém deveria passar mais do que um ano sem ir a Paris. Ai que saudades!

2007/10/19

Quem será a Abelha Maia?


Há três clubes chamados grandes no futebol português: a Cigarra, a Formiga e o Kalimero.
A Cigarra é o Benfica: faz-se tratar por «A Instituição» e auto-intitula-se de «maior clube do mundo». (...)
A Formiga é o FC Porto: (...) Ela sabe que, para ganhar mais vezes do que os outros é preciso muito trabalho, muito talento, muita organização, muita humildade e uma cultura de vitória que não se consegue com simples proclamações de superioridade natural.
O Kalimero é Sporting e é o caso mais problemático. (...) O Sporting não sabe perder e, por isso, adoptou a atitude do Kalimero, sempre a queixar-se dos «meninos maus» que lhe roubam a bola no recreio. É já uma cultura entranhada entre os sportinguistas, tão entranhada como o é a cultura de vitória entre os portistas ou a cultura de superioridade entre os benfiquistas.
(Miguel Sousa Tavares, A Bola, 02-10-2007)

Por mim não me importo. Sempre adorei o Calimero (com C). Agora nesta história quem é a Abelha Maia?

O testador que não resolve problemas

Um instrumento muito útil para quem usa frequentemente pilhas (mesmo recarregáveis, como eu) seria um testador digital de pilhas, como o que é proposto esta semana por uma conhecida cadeia de lojas de desconto. Só que o testador que eles propõem funciona... a pilhas. Ora pipocas.

2007/10/18

Terá Jardim influenciado o resultado do PSD?


Esta fotografia, que encontrei no blogue do João Paulo Pedrosa, recorda-me um bom motivo para a saída de Marques Mendes da liderança do PSD: a sua vergonhosa subserviência a Alberto João Jardim, para garantir os votos dos militantes da Madeira nas eleições directas. Alguém se lembra das palavras de Jardim? Segundo o Público, Marques Mendes perdeu-se na multidão do Chão da Lagoa. Jardim perguntou: “Onde é que se meteu esse sacana? É tão pequenino que ninguém o vê.” (É uma pena que não haja gravações.) Se este facto influenciou os militantes do PSD, por terem vergonha de um líder que se presta a uma cena dessas, eu fico algo aliviado. Mas não muito: não creio que com a mudança de líder a relação de Alberto João Jardim com o “continente” (a começar pelo seu próprio partido) se altere.

2007/10/17

É necessário mudar algo para que tudo fique na mesma

A Coluna Infame, o primeiro blogue que eu li (e, talvez, o melhor blogue português de sempre) voltou. Somente com os seus dois elementos produtivos, e que deram a merecida reputação ao blogue. Desta vez, a Coluna Infame chama-se Gattopardo.

Adriano e a sua voz nos blogues


Adriano Correia de Oliveira, nascido no Porto a 9 de Abril de 1942, deixou-nos muito cedo, aos 40 anos.

A sua vida foi breve, mas, não foi em vão.

Entre 1960 e 1980, gravou mais de 90 temas, sendo a sua música sempre repleta de muita emotividade, evidenciando dedicação aos trabalhadores, ao povo, aos ideais da liberdade, da democracia e do socialismo.

Morreu em Avintes, localidade que o viu crescer, a 16 de Outubro de 1982.

No dia 16, vamos congregar esforços, para ouvirmos a sua voz nos blogs.


Uma excelente iniciativa do Vozes Silenciadas.

2007/10/16

Aquecimento global e Nobel da Paz

Alguns esclarecimentos sobre os comentários que os meus textos sobre o Nobel da Paz de 2007 suscitaram.
O Prémio Nobel da Paz é um prémio político. Não é um prémio científico. De nenhum modo a atribuição deste prémio significa um reconhecimento da realidade do aquecimento global. É antes um reconhecimento do seu trabalho em prol de uma causa meritória para a humanidade. É um prémio que pressupõe um julgamento moral.
Nesse aspecto dou razão ao Luís Aguiar Conraria no seu comentário: um prémio como o Nobel da Paz não deve ser atribuído para um trabalho que deve ser científico. A ciência não tem moral e nem responsabilidade social; o seu objectivo é, pura e simplesmente, a procura da verdade, por mais inconveniente que esta seja. Por isso o prémio teria sido melhor atribuído a Al Gore (cuja dedicação à causa do ambiente é muito antiga) e a grupos ecologistas.
A hipótese do aquecimento global causada pelo homem é o melhor que nós conhecemos. É presentemente a nossa realidade. É suportada por 90 por cento dos especialistas em climatologia, baseada no trabalho de perto de uma década de mais de 1000 investigadores provenientes de 130 países diferentes. O que não quer dizer que seja a última palavra a dizer sobre o assunto. Agora quem (legitimamente) não está satisfeito com a melhor explicação conhecida para o aquecimento global, que trate de propor outra e mostrar, com base em experiências credíveis, que a actual explicação está errada ou, pelo menos, que existe uma melhor explicação. É assim que funciona a ciência. Eu nunca vi isso em lado nenhum. Pelo contrário, só vi pessoas (por vezes cientistas) a contestarem a actual explicação por esta lhes ser... inconveniente. Por esta requerer uma alteração dos seus hábitos de vida, que há muito se sabe serem poluentes. Por estarem mais preocupados em continuarem a trnasportar-se de carro todos os dias, para não terem de se misturar com o “povo” em transportes públicos. Por não se quererem dar ao trabalho de reciclar. E de usar mais vidro e menos plástico. O que eu não posso aceitar é que esses cientistas disfarcem o seu comodismo e o seu egoísmo como "ciência".
Tudo isto implica um certo esforço, mas não é assim tanto. Na Holanda, toda a gente se transporta de bicicleta ou transportes públicos. Tal como se comia e bebia em louça, pode voltar-se à louça e abandonar os pratos, copos e talheres de plástico. Tudo é uma questão de mentalidade.
Finalmente, quero recordar algo ao Ricardo S. Carvalho (francamente, não sei mesmo se ele sabe). O Prémio Nobel da Paz pressupõe um julgamento moral, como referi. Ser-se “de esquerda” também. São duas coisas diferentes: o Prémio Nobel da Paz não é necessariamente de esquerda (das últimas vezes tem sido, mas nos anos 70 até ganhou o Kissinger). Pode acontecer estarem ambas erradas: prémios Nobel mal atribuídos, que não façam sentido, e opções políticas de esquerda (acontece às vezes). A verdade científica deve prevalecer, mas enquanto ela não existe (e isto admitindo que ela ainda não existe para o aquecimento global, o que está longe de ser pacífico), a esquerda tem o direito de ter as suas opções. Neste contexto, só uma opção de preservar o meio ambiente e melhorar a vida para todos no nosso planeta (contrária aos grandes interesses económicos) se pode considerar de esquerda. Isto é: só uma opção ecológica. Anteriormente falava do Prémio Nobel da Paz; agora falo de esquerda. Não estou a falar de ciência. Para isso (no que diz respeito ao aquecimento global), não sou o mais qualificado.

Sobre este assunto ler ainda o Klepsýdra, o De Rerum Natura, o Vida Breve, o Verdade ou Consequência e o Cosmic Variance.

2007/10/15

Paulo Autran (1922-2007)


Morreu talvez o maior actor do Brasil. Nunca me hei-de esquecer: uma vez, na década de 90, Autran trouxe a Portugal o seu espectáculo teatral. As críticas nos jornais foram todas bastante favoráveis, mas uma - do Público - incluia uma "sugestão" supostamente cúmplice ao mui erudito leitor, ao recomendar a peça: "esqueçam que é brasileiro"! Esqueçam que é um actor das telenovelas! Compreensivelmente, Autran declarou sentir-se discriminado em Portugal.
Já não me recordo do "crítico" que proferiu tal "recomendação". Nem interessa; ninguém se vai recordar do crítico, mas quem viu o Paulo Autran a actuar jamais o esquecerá. Masmo que tenha sido só em telenovelas, como eu.

Morreu o Bimbo


Mais aqui e aqui.

2007/10/13

Pseudo-cientistas ao serviço do lóbi das petrolíferas

Não é nada surpreendente como no Insurgente reagem ao Nobel de Al Gore. Mas sobre esta questão, dois pontos. Desde quando é que um prémio Nobel da paz é um prémio científico? Quanto à ciência propriamente dita, não é demais recordar que 90% (noventa por cento) da comunidade científica está de acordo em que o aquecimento global existe e deve-se principalmente à acção do Homem. O AAA poderia apresentar-nos argumentos dos 10% de cientistas que não concordam. Mas da próxima vez por favor não remeta para argumentos de quem de cientista não tem nada.
Sobre esta questão: realmente Al Gore não é cientista. Mas o prémio foi partilhado com o IPCC, que merece todo o crédito. Leiam ainda o Klepsýdra.

2007/10/12

Aforismo à João Miranda

De acordo com a sua forma de raciocinar, o João Miranda é um inimigo da paz.

Parabéns, Mr. Gore! (2)

Imagem Mónica Almeida/NYT

Basta vir aqui para perceber que este prémio incomoda muita gente. A batalha da opinião pública está ganha; resta o mais difícil, que é a batalha do dia a dia - convencer o cidadão comum a emitir menos CO2 reciclando, utilizando transportes públicos...

2007/10/11

Por falar em países desenvolvidos...

Eu penso que, num país desenvolvido, as pessoas trabalham se querem enriquecer. O ganhar dinheiro é visto como recompensa de um esforço, de mérito. Sobretudo, o trabalho, o esforço, o mérito são reconhecidos pela sociedade. É da sociedade que estamos a falar. E é isso, essa vontade quotidiana das pessoas, que torna esses países desenvolvidos. Tentativas de ganhar dinheiro fácil, como todo o tipo de jogo, também existem, mas só nos países onde as pessoas não acreditam que com o seu esforço seja recompensado existe um enorme entusiasmo com as apostas mútuas. Como se o sorteio do totoloto ou do euromilhões fosse o momento mais interessante da semana. A conversa típica da classe média-baixa (de que eu faço parte, e conheço bem) roda sempre à volta dos planos sobre “o que eu faço se me sair o totoloto”.
Os portugueses lideram a tabela europeia no número de apostas per capita no euromilhões, noticiava esta segunda-feira o Metro na primeira página. Ninguém fala nisto, ninguém comenta isto. Toda a gente parece achar isto muito normal. Eu acho este facto preocupante e sintomático.

2007/10/10

Superioridade civilizacional

Não tenho problemas em admitir que há países objectivamente mais desenvolvidos do que outros e onde se vive melhor, mesmo se isso já me custou chamarem-me elitista ou colonialista. Essa minha apreciação tem a ver com factos concretos e não implica um julgamento sobre os respectivos povos, que acredito que possam sempre desenvolver-se. Sei que o caminho para o desenvolvimento não é único, mas há aspectos que considero indiscutíveis.
Os aspectos em que os EUA são mais desenvolvidos prendem-se com o empreendedorismo do povo americano, que se traduz numa sociedade baseada na tecnologia e no progresso. Os aspectos em que a Europa é mais desenvolvida são (considero) civilizacionais. Um deles, de que muito me orgulho, é a rejeição do ensino do criacionismo por parte do Conselho da Europa, apesar do voto contra a resolução por parte de representantes de partidos de direita, entre os quais João Bosco Mota Amaral. O outro é a reduzida aplicação da pena de morte. Prefiro viver num país que tem um modelo social, onde o porte de armas não é livre, mas também onde não se ensina o criacionismo na escola e onde a pena de morte foi banida. Gorada que foi a instauração do dia europeu contra a pena de morte para hoje, graças ao veto da Polónia, faço votos para que em breve esta seja uma realidade em toda a Europa e,espero eu, um dia em todo o mundo.

2007/10/09

“Sem perder a ternura...”


Faz hoje 40 anos que morreu o Cristo da esquerda ingénua, Ernesto Che Guevara.
A meu ver o principal motivo para recordarmos Che (tal como Trotsky, outro ídolo de uma esquerda já não tão ingénua) não é propriamente o seu legado em vida, mas a forma cruel como foram mortos. A forma como ambos foram assassinados demonstra a crueldade de quem os assassinou (mesmo se um um assassinato não tem absolutamente nada a ver com o outro). Dito isto, a maneira como ainda hoje são recordados tem a ver com o mito de pureza revolucionária que lhes está associado. Um estudo mais aprofundado das suas vidas mostra que nenhum deles era um exemplo de pureza. Mas não há dúvida de que principalmente Che é um ícone do século XX. Um ídolo pop. Tem muito a ver com ser argentino.

Imagem tirada ao Arrastão.