2007/12/18

O acordo ortográfico, num sol de quase dezembro

O que eu penso sobre a questão do acordo ortográfico é sumarizado neste artigo do Pedro Lomba, cuja leitura recomendo a todos aqueles que alimentam pretensões de o português de Portugal poder sobreviver na era da globalização. O acordo ortográfico é como o Tratado de Lisboa: mais importante do que o que eles dizem é mesmo assiná-los.
Dito isto, não gosto de tudo o que o acordo propõe, mas é o acordo possível. E seguramente é muito melhor do que haver duas grafias oficiais. Nunca percebi a necessidade das consoantes mudas – por cada exemplo que se der de vogal por elas “aberta”, arranja-se um contraexemplo. O próprio Francisco Frazão reconhece isso.
Uma das questões que deveriam ser resolvidas de vez no acordo é a diferença entre “por que” e “porque”. Até há muito pouco tempo julguei que sabia essa diferença. Só muito recentemente aprendi – no processo de edição do último volume da Gazeta de Física, na revisão deste artigo – que as regras são diferentes em Portugal e no Brasil, e que as regras que eu sempre apliquei (e – garanto aprendi na escola) são as brasileiras. E experimente-se explicar essas regras a um estrangeiro que esteja a aprender português. As regras brasileiras para o “por que” são inteiramente consistentes e muito mais simples. (Eu não percebo as portuguesas, e vou continuar a escrever o “por que” à brasileira, como sempre escrevi.) Para além disso, as regras brasileiras não são usadas pelo MEC, e só o prazer de corrigir o MEC justifica que sejam estas as utilizadas. Por isso “duas palavras” não, caro Francisco: três palavras, como o Caetano canta numa das mais belas canções desta língua que as nossas línguas tanto gostam de roçar. Eu vou, por que não? Por que não? Por que não?

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