2007/12/10

Sidney Coleman (1937-2007)

2007 foi um ano fatídico para físicos teóricos. Abrimos um livro ou artigo de revisão de supersimetria e os autores dos principais resultados já não estão todos vivos. Depois de Julius Wess, agora desapareceu Sidney Coleman. Coleman nunca trabalhou em supersimetria, mas descobriu (em conjunto com Mandula) um teorema, sobre as álgebras admissíveis para traduzirem as simetrias de uma teoria quântica de campo, todas elas "clássicas", com geradores e parâmetros comutativos. Para se poder contornar esse teorema e introduzir as simetrias mais gerais possíveis para uma teoria quântica de campo, houve quem tivesse a ideia de considerar superálgebras, com geradores e parâmetros anticomutativos, traduzindo a supersimetria.
Pedagogicamente Coleman ficou conhecido por ser um excelente professor de Teoria Quântica de Campo. Amigos meus, que foram seus alunos em Harvard e no MIT, confirmam-no. Eu nunca fui aluno dele, mas aqui confesso que a minha impressão não é essa. Passo a explicar. Há um conjunto de aulas de Coleman sobre aspectos não-perturbativos da teoria de campo, assunto em que trabalhou, reunidas em livro. O capítulo "Classical lumps and their quantum descendants" é uma referência standard para quem estuda instantões. Eu tentei lê-la e não consegui passar das primeiras páginas. Coleman cultivava um estilo palavroso e com muito poucas fórmulas, que não agradava a quem, como eu, aprecia a concisão e clareza da escola russa. O que mais me irritava, no entanto, era mesmo o seu elaborado estilo de escrita, usando palavras rebuscadas que eu desconhecia! O meu maior problema com as línguas estrangeiras (e mesmo a língua portuguesa) sempre foi o vocabulário, e não a gramática. Eu ainda aceitaria o ler as notas de Coleman e não perceber, se isso se devesse a não entender a Física nelas subjacente. Mas não entender umas notas por não perceber as palavras rebuscadas era um caso único (só me sucedeu com Coleman, e eu tenho muitos anos de estudo em inglês) e para mim muitíssimo irritante. O estilo literário rebuscado não é para as notas de Física, onde deve prevalecer a clareza! Coleman pode ter sido um excelente professor, mas para mim, de acordo com a minha experiência, era um escritor falhado. Lubos Motl e Sean Carroll não pensam assim, porém; eles conviveram de perto com ele e a sua opinião deve ser mais para levar a sério que a minha.

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