2010/01/29

Algumas ideias sobre a CP e os comboios

Durante esta semana foi moda comentar este artigo do Público sobre os conhecidos defeitos da CP. Eu sou utente regular da CP, na Linha do Norte e nos Urbanos do Porto (e linha de Cascais no verão). A CP tem muitos defeitos, excetuando talvez justamente as linhas que uso (e os Urbanos de Lisboa) – os serviços com mais procura. Custa-me por isso ler críticas tão pouco fundamentadas, patentes no artigo, como “a inexistência de uma ligação directa Estarreja-Azambuja”. Existem vários intercidades Aveiro-Vila Franca de Xira (duas vezes por dia, até param em Estarreja). Perfeitamente sincronizados com esses intercidades, existem urbanos para as ligações Estarreja-Aveiro e Vila Franca – Azambuja. Por que raio haveria de haver essa ligação direta?
Outra crítica descabida é a do Bruno Sena Martins. Intercidades Porto – Lisboa há a cada duas horas tirando a meio do dia (param todos em Coimbra). A isto acrescem os intercidades Lisboa – Guarda (também param em Coimbra). Conto um total de dez intercidades Lisboa – Coimbra por dia (fora os alfas, que são onze). Os horários “não servem” ao Bruno? Comentários como este e o da Azambuja-Estarreja levam-me a concluir que esta gente não quer comboios – quer é táxis!

2010/01/28

Mais livre do que um tipo sem casa, só mesmo um tipo sem emprego

Já todos conhecemos mais ou menos os argumentos dos que se dizem a favor do arrendamento de casas (mesmo se tal prática constitui um feudalismo dos tempos modernos que perpetua uma distribuição desigual dos bens imobiliários, quando o direito à habitação está garantido na Constituição). O arrendamento deveria ser encorajado porque há casas desabitadas (que os senhorios não querem vender). As rendas deveriam ser aumentadas porque os senhorios não têm dinheiro para fazerem obras e as casas degradam-se (mas nem pensar em os senhorios venderem as casas!). Enfim. Um argumento mais recente, lançado há uns anos por Francisco Sarsfield Cabral num artigo do DN e bastante usado na blogosfera de direita, defendia a precariedade laboral disfarçada nas supostas “boas” intenções do mercado do arrendamento: um indivíduo não deveria comprar casa porque deveria estar sempre pronto para mudar de emprego, de local e mesmo de cidade de trabalho. Eu até aceito este argumento para um jovem, mas só até a uma certa idade. Pelos vistos há quem ache que a precariedade e instabilidade laboral devem durar toda uma vida. Agora, no Blasfémias vai-se mais longe: “cada vez que uma família se vincula a uma casa – habitação própria, alugada ou de renda social – compra a sua própria escravidão.” Não nos vinculemos a casas. Não nos vinculemos a emprego. Não nos vinculemos a nada, pois caso contrário somos “escravos”. Eu ainda hei-de ver esta gente defender que um desempregado é mais livre do que quem trabalha. O que nem deixa de ser verdade: um desempregado não tem horários nem patrão nem responsabilidades. Ainda hei-de ver algum deles escrever que, sempre que um patrão despede empregados, está a contribuir para a sua liberdade.

Também publicado no Esquerda Republicana

2010/01/24

How do we solve a problem like Sá Pinto?


É claro que ele não tinha perfil para director do futebol. É claro que ele não tem perfil para nenhum cargo de liderança.
Mesmo num caso em que a culpa fosse repartida, o Sá Pinto seria o elo mais fraco. O Liedson é indispensável à equipa; o Sá Pinto é dispensável na estrutura do futebol. Mas ainda por cima o Sá Pinto é o culpado: como era de se esperar, foi ele que partiu para a agressão! Digo "como era de se esperar", porque os antecedentes são bem conhecidos. E é isso que custa mais: o Sá Pinto já se humilhara publicamente, já tinha esta justa reputação, e demonstra que não aprendeu nada.
Dito isto, temos aqui um caso complicado. Vejamos as coisas nesta perspectiva: um jogador que tem adeptos do Sporting que se deslocam de propósito para o apoiarem a jogar noutro clube, em Espanha; um dirigente que obriga os jogadores, no final da partida, a irem agradecer aos adeptos (eu ouvi isto), e que não permite que um jogador proteste com os protestos do público. Entre o Sá Pinto e os adeptos do Sporting há uma relação de amor. Pode um clube dispensar um ícone assim, numa altura em que cada vez há menos amor à camisola e os clubes cada vez têm menos referências? No caso do Sá Pinto, claramente não lhe podem dar um cargo directivo profissional. O que fazer com ele?

2010/01/20

Está um frio do caraças lá fora...


...e eu estou sempre com este gajo. Não tenho propriamente pena dele e nem da sua indemnização. Mas espero que regresse já a Nova Iorque e que regresse depressa à televisão com o seu humor (que, pelos vistos, não agradou às audiências americanas das 23:30). Até lá vou ter saudades.

2010/01/19

O casamento gay de Santo António

Claramente o casamento civil é uma instituição laica, e isso é válido também para os casamentos civis "de Santo António", apoiados financeiramente pela Câmara Municipal de Lisboa. Uma vez aprovado (como julgo que esperamos) o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a questão do apoio financeiro a esses casamentos por altura do Santo António teria que se pôr (e a resposta correta seria, claramente, a não discriminação, como manda a constituição). Mas essa questão só deveria ser posta nessa altura: tudo o que fosse pô-la antes da aprovação definitiva da lei seria uma provocação inútil e com consequências nefastas. Não me refiro somente à opinião dominante na sociedade sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo: refiro-me mesmo aos agentes que ainda têm que intervir no processo (Presidente da República; juízes do Tribunal Constitucional). Provocar a Igreja Católica pode ter graça para alguns, mas provocar estes senhores (e alguns deles podem sentir-se provocados por esta questão dos casamentos de Santo António) pode ter consequências desagradáveis, numa altura em que a lei ainda não passou (e não se sabe se passa).
Foi isso que eu pensei quando soube que esta questão se punha: falta de sentido de oportunidade. E é bem possível que a Fernanda tenha razão: pode ter sido uma ratoeira lançada pela Igreja Católica. E que a Câmara Municipal de Lisboa mordeu.

Texto também publicado no Esquerda Republicana

2010/01/18

O meu fim de semana foi em grande parte assim

Não demorei foi três minutos (e os móveis não são do IKEA). O autor e intérprete deste vídeo, meu colega e amigo, é um verdadeiro engenheiro da LEFT!

2010/01/14

The New York Times visita o Ironbound


A baixa de Newark, cantada por Suzanne Vega e onde habita uma grande comunidade portuguesa, voltou a ser visitada pelo The New York Times. A padaria que referem fornecia o pão para muitos supermercados na área metropolitana de Nova Iorque, incluindo Long Island.

2010/01/13

Sai um subsídio para o blasfemo ir estudar

Quem contrapõe valores quase instantâneos, medidos ao longo de dias, a valores médios, medidos ao longo de muitos anos, não percebe nada de estatística. Deveria sair um subsídio era para o João Caetano Dias (um engenheiro do Técnico) ir repetir a cadeira de Probabilidades e Estatística. Ele já não se lembra do que é uma média.

Também publicado no Esquerda Republicana

2010/01/12

Braga americaniza-se

Depois da neve por dois anos seguidos (em ambos eu estava a dormir), agora temos tiroteio numa escola secundária.

2010/01/08

Resumo do dia


Bom resumo no Jugular (a quem roubei a ilustração): um passo importante na luta pelo fim da discriminação (mas a luta continua). Por outro lado, tenho saudades do tempo em que havia uma ministra da educação (e não eram os sindicatos a mandar no ministério).

2010/01/07

José Maria Pedroto desapareceu há 25 anos

Entrevista a Mário Wilson:

- Em 1963 acaba como jogador. Passa a adjunto de Otto Bumbel, depois de Janos Biri e de Mário Imbelloni e a fechar este ciclo é adjunto de Pedroto.
- Quando o Pedroto sai é que eu assumo o lugar de treinador da Académica. O Pedroto era intratável. Tinha atitudes que roçavam o racismo. Ele queria sempre ser o big boss. «Pedroto era ele, ele e só ele»
- As grandes lutas Norte-Sul começam entre Pedroto e Wilson. E são lutas duras...
- São, são... Mas em Coimbra eu era o Capitão e os jogadores andavam à minha volta, pouco ligavam ao Pedroto. Eu era o espírito académico, o Pedroto era ganhar, ganhar...tinha uma determinação própria, um pouco a destoar daquele ambiente de Coimbra.
- Pedroto deixa a Académica por dar uma punhada num jornalista de Coimbra, não é?
- Exactamente. Ele foi acumulando pequenos ódios. Tinha coisas tal como o Pinto da Costa,de uma determinação inabalável. Uma das máximas do Pedroto era: «Morrer por morrer, que morra o meu pai, que é mais velho». Isto era Pedroto.
- Ia falar da saída de Pedroto...
- O Porto foi jogar a Coimbra e esse tal jornalista, depois do jogo, escreveu: «Este jogo antes de começar já estava perdido.» O Pedroto não esperou, foi ao café onde se reuniam os teóricos, viu o jornalista e perguntou-lhe: «Foi você que escreveu isto?». - «Fui, porquê?» E Pedroto respondeu-lhe com um soco nos queixos. Isto era Pedroto.

A BOLA - 17-10-2009

2010/01/05

"Café Com Blogues" hoje n'"A Brasileira"

Em Braga, a partir das 21:15. Um programa da RUM gravado ao vivo. Apareçam!

2010/01/04

Um furo para começar bem o ano

Um furo no pneu dianteiro da minha bicicleta. Foi na "ciclovia" Cais do Sodré - Belém, junto às Docas de Alcântara, numa zona (vejam bem) da tal "ciclovia" onde é suposto o ciclista desmontar-se e seguir a pé (eu sei que contado ninguém acredita, mas é verdade). Desobedeci e não vi uns vidrinhos que lá estavam. Poderiam ser restos de garrafas partidas na passagem de ano, mas também pode ser que estejam lá postos de propósito para travar quem não segue a pé (e obviamente só vê os tais vidrinhos depois de lhes ter passado por cima). Enfim. Mais tarde, nesta semana ou na próxima, conto escrever sobre as novas "ciclovias" de Lisboa.

2010/01/03

Fuga para a vitória


A sensacional fuga do forte de Peniche por parte de Álvaro Cunhal e outros dirigentes comunistas faz hoje 50 anos. A ler a evocação no Diário de Notícias de hoje (inclui também uma entrevista a Eugénia Cunhal). Tal como eu, o jornalista sonha com o dia em que este episódio passe ao grande ecrã. Através de um estúdio de Hollywood? Não me admiraria nada.

2010/01/01

Se os recursos fossem ilimitados, não precisaríamos da esquerda para nada

“Assumindo recursos infinitos, a economia continuará a crescer, em média, com mais ou menos crises pelo meio”, prevê candidamente o Ricardo Schiappa. “Quase todos nós tendemos a encarar a presente crise como uma breve pausa no processo de crescimento”, escreve naturalmente o João Pinto e Castro. Neste caso não me parece que seja isto que ele pensa, mas de qualquer maneira o que me incomoda é o “quase todos nós” que o João familiarmente escreve. “Quase todos nós” achamos que o crescimento não parará. Que é como quem diz que “quase todos nós” achamos que os recursos naturais são inesgotáveis. Estamos aqui a falar do setor primário: sem ele não há comida. Mas mesmo o setor terciário, o das “ideias”, das “oportunidades”, que contribuem para o crescimento económico e em teoria podem ser inesgotáveis, não o é na vida real.
Estes “quase todos nós” a que o João Pinto e Castro se refere somos nós, do hemisfério norte, que crescemos e vivemos habituados a uma economia do desperdício. Tal facto é particularmente notório nos EUA, mas também se verifica na Europa. Continuamos a conduzir estupidamente os nossos carros, mesmo em percursos de centenas de metros, mesmo em localidades bem servidas de transportes públicos, como se o petróleo fosse inesgotável e o espaço para circular e estacionar nas cidades fosse infinito (sem falar nos enormes prejuízos ecológicos, de que o aquecimento global é só um exemplo). Continuamos criminosamente a comer jaquinzinhos e petingas, sem nos preocuparmos se no futuro os nossos filhos poderão comer carapaus e sardinhas frescos, capturados no mar. E assim sucessivamente – os exemplos não são poucos.
Que as pessoas de direita pensem, erradamente, que os recursos são inesgotáveis, ainda compreendo. O que não consigo entender é que tal passe sequer pela cabeça de pessoas que se digam de esquerda. Marx, provavelmente o primeiro ecologista, apercebeu-se da finitude dos recursos, ou não teria escrito “O Capital”.