O indiano Ashoke Sen é um dos líderes mundiais na comunidade dos físicos teóricos, na área da teoria das cordas. Doutorou-se na mesma universidade que eu e era lá visita frequente. Fazia-se acompanhar pela sua mulher, também indiana. Ambos formam um casal muito simpático e muito simples. A simplicidade de Sen traduz-se neste facto: poderia ser professor em qualquer das melhores universidades do mundo e ganhar muito mais dinheiro pelo que faz, mas prefere continuar na sua Índia natal e contribuir para o seu desenvolvimento científico. Valha-lhe o facto de ser respeitado, não só no resto do mundo civilizado mas, também, no seu país.
Para mim a melhor prova da simplicidade de Sen é este facto recente (com poucas horas): escrevi-lhe um email a colocar umas questões sobre o seu artigo mais recente, sobre a entropia de buracos negros, e exactamente no mesmo tópico em que estou a trabalhar. Mesmo assim deixem-me dizer com clareza: ao pé do Sen, eu não sou nada (e apesar de já o ter visto várias vezes, não o conheço pessoalmente). Pois Sen respondeu ao meu email em poucas horas, reconheceu que eu tinha razão na minha observação, argumentou a sua hipótese e terminou assim:
Please let me know if you agree.
With best regards
Ashoke
Já viram isto? Eu confesso que ainda estou nas nuvens.
2006/04/27
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1 comentário:
Nota-se frequentemente uma forte diferença cultural entre alguns cientistas estrangeiros e os típicos portugueses nesse aspecto.
Tive aliás uma história semelhante, no ano passado, durante uma conferência. Um dos especialistas mundiais no campo, membranas com aplicação biomédica, Elias Klein, especialmente no campo de membrans de afinidade, para substituição de colunas de partículas cromatográficas, foi o orador que abriu a conferência. Falou e apresentou o seu trabalho e as suas visões. A conferência depois seguiu. Mais tarde, durante a apresentação de posters, ele viu no meu uma referência a um artigo dele, citadíssimo em termos mundiais. Disse-me simplesmente que o achava hoje sobrevalorizado e que o meu trabalho (cuja ideia original nem é minha) lhe parecia muito mais interessante que qualquer apontamento que ele tivesse feito no artigo. Ou seja, por outras palavras estava a dizer-me que não achava que o artigo - já algo antigo - não mereceria ser associado a este trabalho que ele considerava muito promissor.
Ainda hoje penso que ele provavelmente terá dito isso a todos os autores de trabalho que o citassem. Ainda assim, o facto de o fazer demonstrava a disponibilidade dele para conversar, para não se alcandorar a um estatuto "intocável". Nota, estamos a falar de um senhor na casa dos 70 anos, não com cerca de 30. Isto torna a história ainda mais notável.
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