É repetindo o lema "devolver o Sporting aos sócios" que uma lista, da qual fazem parte (um como apoiante e dois como membros da direcção) as três figuras ao lado, se apresenta. Mas "devolver" o quê, a quem?
Comecemos pelo candidato, Sérgio Abrantes Mendes. Não apresenta nenhuma alternativa concreta, para além das células fotovoltaicas na Academia (que até seriam uma ideia engraçada, mas não seria isso a viabilizar financeiramente o Sporting). Abrantes Mendes promete tudo: mantém uma equipa forte, mantém o eclectismo, não vende património. Só não diz como... A única coisa que afirmou foi que tinha um acordo com um banco credor do Sporting, no que foi logo de seguida desmentido pela administração desse banco.
De seguida vemos um antigo capitão, não de muito boa memória. Representa o pior período da história do Sporting, os dezoito anos sem títulos. Não saiu pela porta grande, e nem é especialmente bem recordado quando comparado com outros mais recentes. Desde então tem estado afastado do futebol; no entanto, recentemente foi convidado para integrar a equipa técnica. Fez saber que só aceitaria se fosse como chefe do departamento de futebol, apesar da sua experiência nula nesse tipo de cargos. Sempre se teve em grande conta este Oceano.
Finalmente, ao meio temos a Dona Isabel Trigo de Mira. Recentemente a Dona Isabel Trigo de Mira era a presidente dos Leões de Portugal, uma instituição particular de solidariedade social ligada ao Sporting, criada e mantida por sportinguistas e destinada a apoiar os sportinguistas mais necessitados, bem como o auxílio financeiro nos estudos dos "leões" mais jovens. Um daqueles pequenos pormenores que distinguem o Sporting, e que o tornam - que é - um clube diferente, sem paralelo.
Bem, mas o que afirmo de seguida não tem nada a ver com os Leões de Portugal, de cuja direcção a Dona Isabel Trigo de Mira em boa hora se afastou, a partir do momento em que é candidata à direcção do clube. Tem mais a ver com o tempo em que a Dona Isabel Trigo de Mira era mesmo membro da direcção. Não conheço a senhora, mas vejo-a como uma "invenção" de José Roquette, que teve continuação com Dias da Cunha. A missão da Dona Isabel Trigo de Mira era correr o mundo e "apoiar" os núcleos sportinguistas no estrangeiro, constituídos por emigrantes. É claro que estes núcleos merecem apoio - por experiência própria, afirmo que é comovente conhecer-se alguém que nasceu e sempre viveu fora de Portugal e sofre cada domingo pelo Sporting como quem vai a Alvalade. Eu conheci casos assim. Só que uma forma peculiar arranjada para promover esses núcleos de emigrantes era organizar jantares com a presença de figuras do clube. E quem era a melhor figura que o Sporting arranjava para se promover no estrangeiro? O Carlos Lopes? O Vítor Damas? O Jesus Correia? Não! Era... a Dona Isabel Trigo de Mira, que adorava estes jantares-convívio. Lembro-me de os ver anunciados nas lojas da comunidade portuguesa de Farmingville, em Nova Iorque, perto de onde vivi. Dois jantares no mesmo restaurante e com o mesmo menu, o de sportinguistas e benfiquistas. O do Benfica tinha presente o Eusébio. O do Sporting, para além de ser cinco dólares mais caro, em vez do Eusébio tinha a presença... da Dona Isabel Trigo de Mira, que é uma senhora muito preciosa (vale mais cinco dólares por cabeça do que o Eusébio). Fez parte das direcções de Roquette e Dias da Cunha, mas recusou (ou não foi aceite por) Soares Franco.
O principal, no entanto, é que se se falar com pessoas como a Dona Isabel Trigo de Mira e muitas pessoas que apoiam a lista de que ela faz parte, elas acham muito natural "representarem" o Sporting com viagens pagas, mesmo que não façam mais pelo clube do que isso. São eles os "verdadeiros sportinguistas". Alguns monárquicos, alguns antigos atletas, alguns dirigentes de má memória, que pouco ganharam mas que têm imensas saudades de si mesmos. E que não têm nada a ver com a realidade do clube hoje. Quando afirmam que querem "devolver o Sporting aos sócios", na verdade querem devolver o clube a eles mesmos. Para eles, "eles" são o Sporting. Está na altura de lhes provar que não têm razão.
2006/04/28
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