Como já devem ter notado, gosto muito de futebol. Gosto do jogo, da sua lógica e estratégia, que combina o sentido de equipa com o talento individual, da escola de qualidades humanas que o futebol pode constituir pela vida fora.Gosto da paixão, do clubismo, das cores, dos jogadores excepcionais. E gosto de tudo no espectáculo de futebol: os estádios, as luzes, a relva, a estética, a coreografia, os sons e o ambiente. Só tenho pena, uma infinita pena, que os modernos estádios portugueses tenham posto fim àquelas fantásticas roulottes de sandes de entremeada e courato, vinho morangueiro e imperial, em benefício dos assépticos e estúpidos bares inspirados nessa sinistra invenção dos nosso tempos que são os McDonalds e afins.
Mas, para mim, o futebol é apenas isto: um grande jogo, um magnífico desporto e, por vezes, um deslumbrante espectáculo. E nada mais. Não é, nem será nunca, compensação para frustrações alheias à coisa em si, fonte de inspiração patriótica ou motivo de redenção nacional. Eu já adorava futebol quando o Estado Novo usava o futebol para nos distrair da miséria política e cultural em que vivíamos, tentando fazer-nos crer que, por termos aquela fabulosa equipa do Eusébio e seus pares de 66, só podíamos ser um grande país. Eu não irei, pois, pendurar a bandeira nacional na janela de minha casa ou do meu carro nem irei associar-me a imbecis manifestações de patrioteirismo ad hoc, a mando de um seleccionador brasileiro que se convenceu de que nos havia de transformar a todos em súbitos patriotas, à boleia da Selecção. E enjoo só de pensar que a cidadania patriótica vai dar pretexto e fornecer representação àquelas patéticas criaturas do jet-seis nacional para se vestirem com as cores da bandeira e jurarem o seu desvelo pela Selecção-pátria.
Tal como aprendi as ver as coisas, o patriotismo não é arvorar bandeirinhas nacionais às janelas quando do Europeu ou do Mundial. O patriotismo, para mim, é pagar impostos, ser útil à comunidade de alguma forma, servir o seu país, quando se tem ocasião para tal e sem esperar nada em troca.
2006/06/10
O patriotismo é pagar impostos
No Dia de Portugal, e ao fim de um dia de Campeonato Mundial da FIFA, quando se voltam a ver as tolas bandeirinhas penduradas, é altura de pensar em patriotismo. Sugiro um excerto de uma excelente crónica de Miguel Sousa Tavares no jornal A Bola, na semana passada.
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