2006/09/01

O fim de "O Independente" e a velha direita

Contam-se pelos dedos de um pé as vezes que li "O Independente", sempre na fase considerada “áurea”, de Paulo Portas & Miguel Esteves Cardoso. Não vou mentir – não gostava, e o meu balanço do jornal está longe de ser tão favorável como se lê genericamente pela blogosfera fora. E a razão é uma – e nisso estou de acordo com os leitores de "O Independente" – a marca de Miguel Esteves Cardoso no jornal. Só que ao contrário da maioria das pessoas “cool-tas” da minha geração, eu abomino o Miguel Esteves Cardoso e mais o seu insuportável elitismo sem ter onde cair morto. Já o afirmei aqui, onde afirmava não compreender o fascínio de uma esquerda por este autor. Mas, embora não diga respeito às minhas ideias políticas, igualmente não compreendo o mesmo fascínio por parte de quem deveria ser uma “nova direita”, como é o caso do André Abrantes Amaral, um meu amigo que eu não conheço. O André foi o colaborador de O Insurgente a quem coube a tarefa de escrever esta semana na opinião da Dia D – um texto muito interessante, e que embora seja aparentemente dirigido à direita poderia ser dirigido ao país todo. No fundo o que o André advoga é um pouco mais daquilo que se chama “ética protestante”, algo que está indesmentivelmente presente nos países mais desenvolvidos e de que a mentalidade das elites portuguesas – de esquerda e de direita – foge como o diabo da cruz. Em grande medida aquilo que o André defende passa por aí. Como pode o André então defender o Miguel Esteves Cardoso, defensor dos privilégios e tradições e a maior negação da “ética protestante”, e ao mesmo tempo pedir uma “nova direita”? E genericamente como se pode falar de "O Independente" como “nova direita”? Para mim “O Independente” representava uma direita portuguesa bem velha. Tenho cá para mim que uma “nova direita” deve muito mais a certos autores do Blasfémias – onde nunca vi ninguém elogiar o Miguel Esteves Cardoso - do que a “O Independente”.

Relativamente a "O Independente", de que tenho pena? Como em todos os projectos, há profissionais sérios que ficam sem trabalho, e é isso que eu mais lamento. Particularmente quando um deles é outro amigo que eu não conheço, o Leonardo Ralha, um tipo que pensa muito pela sua cabeça e a quem desejo que esta situação passe depressa. Sou jornalista até ao fim deste mês – quem sabe ainda o encontro aqui pela Rua Viriato?

4 comentários:

sabine disse...

Para mim não há nada de contraditório nisso. Antes sao duas faces da mesma moeda.
Nota: Sempre gostei das cronicas do MEC. E só recentemente lhes descobri a vertente ideologica. Em termos ideologicos concordo consigo em relaçao a MEC.

João Miguel Almeida disse...

Completamente de acordo com a análise ideológica de MEC. Lembro-me de uma vez ele ter dito que, em termos políticos, só havia colectivistas e individualistas e ele era colectivista - de inspiração nacionalista, claro. Não podia ser uma posição mais anti-liberal, anti-ética protestante. Ainda recentemente disse que concordava sempre com Israel, fizesse o que fizesse.
Se nunca tive ilusões ideológicas sobre MEC, apreciei-o como cronista. Neste género, foi um inovador e tinha piada. Era uma promessa literária que não se concretizou.
O melhor de «O Independente» era o lastro cultural de gerações anteriores: João Bénard da Costa, Vaco Pulido Valente, Francisco Sousa Tavares.

Leonardo Ralha disse...

Obrigado pela força, Filipe. Só não me parece que vá aparecer pela Rua Viriato...

João Miguel Almeida disse...

Em «O Independente» também nasceram muitos profissionais competentes, que não tinham necessariamente de subscrever a linha editorial. O fecho de um jornal é sempre triste.