Cinco anos depois do dia que mudou a História, vale a pena reflectir sobre a questão do título.
A meu ver, uma das grandes falácias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001 foi esta: passou a colocar-se todo o tipo de terrorismo no mesmo saco, e a condená-lo indiscriminadamente. Será este procedimento honesto e aceitável? Julgo que não. Visa somente satisfazer os objectivos da direita e extrema direita no poder nos EUA. Lamentavelmente este tipo de raciocínio tende por vezes a ser adoptado mesmo por pessoas que eu respeito e gosto muito de ler.
A meu ver, o terrorismo não é aceitável em Estados de Direito. Os métodos usados por organizações como a ETA ou o IRA não são, portanto, aceitáveis (vamos deixar Israel e a Palestina de fora da discussão por agora). O que não significa que sejam indefensáveis os objectivos destas organizações; só o são os seus métodos. A partir do 11 de Setembro de 2001 passou a considerar-se “ilegítima” e “indefensável” qualquer causa que fosse defendida por um grupo terrorista, e impensável sequer tentar compreender os motivos por trás do surgimento deste terrorismo. Quem o tentar fazer é logo acusado de “conivência” com o terrorismo (este ponto da discussão já se aplica perfeitamente ao conflito israelo-palestiniano).
Há no entanto a meu ver casos em que uma resistência armada (que pode ser chamada “terrorista”) é inevitável: é quando a autoridade não é um Estado de Direito e pratica ela mesma o terrorismo. Foi o caso do ANC de Nelson Mandela (sim, Nelson Mandela, a meu ver o Homem do séc. XX, também foi considerado “terrorista”), a resistir ao apartheid da África do Sul, e de muitos movimentos anticolonialistas. Foi também esse o caso de muitos movimentos de luta contra as ditaduras da América Latina entre os anos 60 e 80. Em qualquer um desses casos a luta armada parece-me aceitável e, em alguns casos, provavelmente inevitável.
O que não é aceitável é o uso de violência contra inocentes. Os casos que eu anteriormente foquei usavam a violência contra agentes da autoridade. Agentes corruptos e ditatoriais.
Na Colômbia vigora um regime corrupto de extrema-direita dominado por militares e barões da droga, que aterrorizam quem se lhes opuser. A resistência armada a um regime destes é aceitável e legítima.
Lamentavelmente, não é só isto que fazem as FARC. As FARC raptam e matam indiscriminadamente. O exemplo mais conhecido e mediático é o de Ingrid Betancourt, candidata pelo Partido Ecologista às eleições presidenciais de 2002, sem nenhuma ligação ao governo colombiano, e raptada e mantida em cativeiro pelas FARC desde essa altura. Por isso as FARC são um movimento terrorista, tal como o é o Sendero Luminoso no Peru. Quando os actos terroristas são ilegítimos, uma resposta armada é legítima.
Queria terminar referindo que os terríveis acontecimentos de há cinco anos foram um atentado terrorista ilegítimo, e como tal, na mesma ordem de ideias do que tenho vindo a escrever (e sempre defendi), a resposta dos Estados Unidos da América foi legítima.
2006/09/11
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4 comentários:
a sova no Afeganistão tinha de ser. É compreensível.
A invasão do Iraque, não.
Partindo do princípio que não há cabala. Não consigo alinhar nas teorias de conspiração. É como acreditar em mezinhas de medicinas alternativas. Não faz o meu género ainda que seja por aí que muitas vezes as coisas têm grandes reviravoltas.
Mas não consigo acreditar na teoria do Bush ter morto aquela gente toda para depois se meter nas alhadas em que se meteu.
É demasiado maquiavélico. Não acredito.
quanto aos teus exemplos todos de terrorismos o único que considero digno é o do Mandela. É a única personagem no género que admiro. Mais nenhum. Nem Xananas nem o raio que os parta.
E detesto toda a mania de indepências. Aquelas cenas de excesso de história (no sentido que lhe empregou o Nietzsche) na incapacidade de esquecer e na treta da bandeira a todo o custo e contra todo o pragmatismo.
Detesto todos eles. Iras, Etas, merdas no género. São sempre uma cambada de utópicos xenófobos.
Se fossem Poder, com letra grande, ninguém gostava deles e chamavam-lhes fascistas, Como são lutas de micro-histórias lá vem o romantismo a desculpar tudo.
Essas coisas tiveram o seu tempo. Hoje em dia é anacrónico. Querem ser independentes para depois alguém os sustentar e na volta ainda aderirem à UE.
Sabes o que me faz lembrar estes excessos de causas: aqueles pais de família que obrigam os filhos a continuar o negíco que já vinha do tetravô em nome dessas raízes. Em nome do "meu pedacinho de terra".
Agora, é claro que há casos em que os ditos movimentos terroristas são forças duplas dos próprios estados ou das populações. Aquilo do Hamas e do Hezbollah, por exemplo, é bem mais complicado. Fazem o trabalho sujo enquanto os poderes oficiais lá tratam da dipomacia...
Mas aqui não se trata de querer ser independente. Apenas de existir e não ser comido pelos canibais maiores, com bandeiras idênticas e causas ainda mais paranóicas que as deles.
Caro Filipe Moura:
Penso que o que diferencia uma organização terrorista é esta focar a sua acção sobre os civis e não sobre as forças militares. Por muito feroz que seja uma ditadura, por muito corruptos que sejam os dirigentes, por muito nobres que sejam os objectivos, não vejo justificação para rebentar um avião comercial, uma carruagem de metro ou de comboio ou um autocarro cheio de civis.
Creio por isso, que existe no início do seu texto alguma confusão quanto ao meter todo o terrorismo no mesmo saco. Ou é terrorismo (centrando a sua acção na morte de civis inocentes) ou não é... O ANC teria ganho alguma coisa se começasse a mandar suicídas contra autocarros ou comboios cheios de brancos??
"Essas coisas tiveram o seu tempo. Hoje em dia é anacrónico. Querem ser independentes para depois alguém os sustentar e na volta ainda aderirem à UE."
Nem mais, Zazie! Quanto à reacção americana ao 11 de Setembro, refiro-me ao Afeganistão e a nada mais.
Nuno, obrigado pelo seu comentário. Concordo com a sua definição de terrorismo, mas o meu texto não é sobre a definição de terrorismo: é sobre quando será este hipoteticamente aceitável.
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