2006/09/18

As FARC, o PCP e as petições

A minha posição sobre as FARC é bastante clara. Sobre a sua presença na “Festa do Avante”, o PCP já esclareceu: não foram convidadas. Quem foi convidado foi o Partido Comunista da Colômbia e uma revista que apoia a acção das FARC. É natural que surjam panfletos e cartazes menos felizes numa festa do cariz da Festa do Avante!, como também surgem em manifestações.
No entanto o PCP não se furtou a responder à questão: “apoiava” a sua luta. Na sua resposta o PCP referiu ter uma concepção de terrorismo “diferente”. Fez bem em demarcar-se da definição de terrorismo do governo americano, tal como referi no texto anterior. Infelizmente, o conceito de “terrorismo” do PCP é também bem diferente do meu, uma vez que o PCP referiu “não considerar” as FARC terroristas. Apesar de referir que “não os utilizaria”, o PCP não condenou os métodos das FARC. O que é pena e é lamentável, e confirma mais uma vez que, em termos de política internacional, o PCP não pode ser levado a sério. Não que essa posição seja surpreendente: afinal, e infelizmente, é coerente com muitas posições do PCP em política internacional. Não nos esqueçamos de Albano Nunes que, durante os bombardeamentos ao Afeganistão, desconfiava da ajuda humanitária americana: o seu objectivo era “habituar as populações às marcas americanas”.
Dito isto, ao contrário do Tiago Barbosa Ribeiro eu julgo que o PCP tem um papel muito importante na democracia portuguesa e não deve nunca ser marginalizado. Há alturas em que se têm de fazer demarcações claras, de traçar uma linha, mas nenhum partido que se diz de esquerda pode tratar os comunistas como se não contassem. E impressiona-me sempre que vejo uma pessoa que se diz de esquerda a fazer do PCP o seu adversário principal, algo que no caso do Tiago Barbosa Ribeiro é recorrente. Se fizermos uma estatística ao Kontratempos, os textos contra o PCP ultrapassam em número, de longe, os contra qualquer outro partido, se é que estes existem.
Não posso deixar de sorrir quando o Tiago, num assomo de ingenuidade juvenil, afirma esperar que o Bloco de Esquerda isole o PCP e se junte aos restantes partidos num eventual protesto contra a presença das FARC. A maior parte das demarcações que eu referi são válidas quer para o PCP quer para o Bloco de Esquerda, uma organização política com uma forte influência da IV Internacional (trotskista). Em termos de política internacional, eu não vejo grandes diferenças entre o Bloco de Esquerda e o PCP. Mais: nas matérias em que possa haver divergências teóricas (não na prática), como na política europeia, as posições do PCP, sendo retrógradas, são muito mais coerentes do que as do Bloco.
Mas o tema era o PCP e as FARC, e não o Bloco. O PCP não deveria falar como fala das FARC, e o Tiago tem o direito de protestar, se tal o incomoda tanto (embora eu também tenha o direito de achar que tal faz sobretudo parte de uma obsessão anti-PCP da sua parte). De resto, eu sempre achei o Kontratempos um blogue muito informativo e coerente, que não hesita em dizer algumas verdades inconvenientes (só para dar um exemplo refiro o texto A Diferença Toda de hoje). Quando eu discordo do que leio no Kontratempos (algo que nem sucede assim tantas vezes), é um prazer para mim: estar a discordar de uma posição bem fundamentada ajuda-me a organizar melhor os meus pontos de vista. Foi o caso da petição que o Tiago achou por bem fazer. Depois explicarei porquê.

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