2007/04/02

O primeiro de Abril do "Ciência Hoje"

O caso foi contado no De Rerum Natura (aqui vai em latim) e no Esquerda Republicana. Gostaria de saudar Jorge Buescu pela atitude que tomou e pelos princípios que defende para uma página como o Ciência Hoje. É que já não é a primeira vez que a pseudociência tem voz (infelizmente) naquela página (que, como refere o Ricardo Alves, é meritória e bem intencionada). Refiro-me concretamente a textos como este, cujo autor se apresenta como responsável por um blogue, sem mostrar nenhumas outras credenciais... que não podia. De facto o autor é engenheiro, o seu grau académico mais elevado é um mestrado (não sei por que universidade) e é professor numa universidade privada portuguesa (não sei em qual, nem de quê). Não sabemos que contribuições deu para a investigação neste assunto, que artigos publicou, em que revistas... Para enriquecer o currículo, poderia acrescentar ser referido frequentemente em tons elogiosos pelo insurgente André Azevedo Alves, que como se sabe é reconhecido pela sua isenção, independência e amor pela ciência... E é com estas credenciais que escreve no Ciência Hoje, onde põe em causa uma explicação de um facto aceite por 90% dos melhores especialistas mundiais. Felizmente o seu texto é bem refutado (logo) nos comentários, mas nem sempre se pode esperar que isso aconteça. Para o futuro, e para evitar mais casos como o que deu origem à saída de Jorge Buescu, sugiro assim ao Ciência Hoje mais cuidado com os textos de “opinião” que aceita, pois embora seja desejável e necessária a discussão em ciência, tal não se reduz à “opinião” e nem a torna democrática... Caso contrário, vemo-nos reduzidos às famosas teses de Boaventura de Sousa Santos.

9 comentários:

Rui M disse...

Os senhores do Ciência Hoje andam muito confusos.Entretanto retiraram esse texto e publicaram uma explicação para tal facto que entretanto também foi retirada...
Em relação ao senhor dos Mitos Climáticos, que vive na ilusão que um blog refuta uma das teorias mais bem fundamentadas da actualidade, parece que o seu "mestrado em climatologia" foi tirado via ISEG que penso não ser uma escola muito conhecida pelo trabalho aí desenvolvido em climatologia... Veja-se aqui uma pequena auto biografia do próprio:

http://www.meteopt.com/showthread.php?t=452

Transcrevendo:

Fiz a minha travessia profissional no sector da electricidade (Repartidor Nacional da Cargas, Despacho da Rede Primária, Companhia Nacional de Electricidade, Companhia Portuguesa de Electricidade e Electricidade de Portugal). Com a abertura dos mestrados, frequentei no Instituto Superior de Economia o primeiro sobre Economia, Energia e Ambiente. Foram especialmente úteis dois módulos: Modelação e Epistemologia. O último serviu para concluir que “só sei que nada sei e mesmo disso tenho dúvidas”, ou seja para me precaver contra os trapalhões da ciência. O primeiro para conhecer por dentro e por fora os limites dos modelos. Serviu ainda para, dado o meu aproveitamento escolar, ser requisitado por escolha do governo de então para ir trabalhar para Bruxelas. Dentro da Comissão das Comunidades Europeias tive oportunidade de começar a duvidar dos fundamentos do tema que despontava: «global warming» e a «climate change».

Filipe Moura disse...

Obrigadíssimo, Rui. Eu em tempos tinha pesquisado algo de semelhante na net, mas não guardei o link.

JV disse...

.... Caso contrário, vemo-nos reduzidos às famosas teses de Boaventura de Sousa Santos." FM

Permite-me que te diga que este remate é completamente despropositado. Boaventura de Sousa Santos é dos maiores cientistas portugueses da actualidade, reconhecido internacionalmente. Quero crer que para o Filipe o estudo das ciências sociais não é uma coisa menor. Ou estarei enganado?

Filipe Moura disse...

Tem calma, JV. Refiro-me a famosas teses de Boaventura de Sousa Santos sobre a ciência que considero absurdas (como qualquer outro cientista). Não me refiro ao seu trabalho naquilo que sabe, que acredito que seja muito bom. Devo dizer que só por ter fundado o Centro de Documentação 25 de Abril, Portugal já deve muito ao Boaventura de Sousa Santos. O problema é o resto...

Fiambrelete disse...

Parece-me que actualmente se esquece o que é ciência e que por andar quase toda a gente a defender uma teoria não implica que ela seja verdade. É essencial o contraditório e a liberdade de se exercer o contraditório.
Eu pessoalmente sou um céptico quanto ao aquecimento global provocado pelo homem. Ao que parece existe mesmo um aquecimento global, e as variações de temperatura são coincidentes com as variações de actividade solar. Portanto pode ser o Sol a causa do aquecimento global e não o homem. Em simultâneo se o aquecimento global se devesse a gases de estufa a temperatura atmosférica aumentaria com a altitude e segundo dados da NASA parece que acontece o contrário.
De qualquer forma podem optar por não ligar nenhuma ao que ao digo pois não sou doutorado em climatologia.
Lembro no entanto que nos anos 70 se falava de arrefecimento global que agora achamos descabido.

Filipe Moura disse...

Fiambrelete, muito menos eu serei especialista em climatologia. E frisei bem a necessidade de confronto de ideias para a ciência poder progredir. Mas para haver esse confronto de ideias é necessário tê-las: ter ideias próprias, realizar investigação, apresentar trabalhos. Nem é obrigatório o doutoramento, mas é fundamental isto que eu disse. Pelo que ficou escrito acima esse senhor não tem nada disso. Limita-se a papaguear acriticamente ideias alheias como se fossem "a verdade".

Filipe Moura disse...

Fiambrelete, muito menos eu serei especialista em climatologia. E frisei bem a necessidade de confronto de ideias para a ciência poder progredir. Mas para haver esse confronto de ideias é necessário tê-las: ter ideias próprias, realizar investigação, apresentar trabalhos. Nem é obrigatório o doutoramento, mas é fundamental isto que eu disse. Pelo que ficou escrito acima esse senhor não tem nada disso. Limita-se a papaguear acriticamente ideias alheias como se fossem "a verdade".

JSA disse...

já agora, e para o fiambrelete, duas notas rápidas: nos anos 70 existiu, de facto, um arrefecimento global. deveu-se a uma acumulação de partículas suspensas na atmosfera, libertadas por combustões e outros processos industriais. sendo que estas partículas, para lá de causarem um arrefecimento global, também eram um perigo para a saúde, começaram a instalar-se filtros nas chaminés e outros escapes de gases. as partículas começaram então a cair de novo na terra e o efeito de arrefecimento global começou a dissipar-se.

quanto á temperatura diminuir, isso é devido exclusivamente à menor densidade da atmosfera. na termosfera, por exemplo, as temperaturas podem ser para lá dos 500ºC, mas só quando existe libertação de calor por contacto com alguma molécula. dado que esta densidade de gases é muito baixa, a temperatura que se sentiria (caso se vivesse o suficiente para se sentir alguma coisa) seria mais baixa da que realmente poderia existir na zona. por outro lado, o que o CO2 faz é reter parte da radiação que é reflectida pela terra. isto é feito na gama dos infravermelhos. o que depois se passa é que esta radiação, que em condições normais seria dissipada para o espaço, é novamente reenviada para a terra, ou seja, não consegue escapar-se, criando assim o efeito de estufa. o calro, portanto, não é mantido pelas moléculas de CO2, apenas é impedido de prosseguir a sua viagem de regresso ao espaço.

JSA disse...

note-se que também não sou especialista em climatologia, apenas li algumas coisas sobre o assunto com espírito crítico e com a minha bagagem passada em ciência, nada mais.