2006/09/26

Onde estava o Professor Pedro Arroja no 25 de Abril?

A resposta a esta e a muitas outras perguntas na entrevista que Pedro Arroja deu (ou terá vendido?) a Fernanda Câncio, em 1994. É o Blasfémias condensado num texto. Vale a pena ler. Obrigado ao zèd pela sugestão. Alguns destaques:
«Mas é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?»

Ou ainda:
«Por isso é que eu acho que a Constituição devia seguir o exemplo da americana, que diz o que o Estado não deve fazer, ao invés de dizer, como a nossa, o que ele deve fazer. A ideia é limitar os poderes do Estado, que é para prestar serviços gerais à população, como a defesa. Não é para andar a tratar da vida de toda a gente, a dar saúde, emprego, etc. Isso cada um trata da sua vida.»

Ou melhor (destaques meus):
«Posso-lhe dizer que não há país do mundo onde os negros vivam tão bem como na América. (...) Repare, eu acho que eles têm todo o direito à liberdade, é a terra deles. Agora não se esqueça que os negros americanos não estão na sua própria terra. (...) Foram eles que foram. Atraídos pelo nível de vida que não têm em mais parte nenhuma do mundo. (...) Alguns foram levados como escravos. Mas ainda hoje há gente a emigrar para lá, negros. E deixe-me dizer-lhe uma coisa. O homem que ganhou o prémio Nobel, este ano, Robert Fogel, provou que se o sistema da escravatura era politicamente inaceitável, em termos económicos, para os negros, era um sistema muito eficaz. Mais: que o trabalhador negro da época, escravo, vivia melhor que o trabalhador médio branco. Certamente que a conclusão é surpreendente, é por isso que ganhou um prémio nobel. Mas documentou extraordinariamente bem (...) Diz-se que os negros não trabalham, não sei quê, e isto vem provar o contrário: mesmo sob condições de adversidade, a escravatura, os negros eram duplamente mais produtivos que os brancos. E os estados do sul, onde eles estavam concentrados, prosperaram muito mais do que os do Norte. Fantástico. (...) Sabe, não há nenhum prémio Nobel da economia a sair dos países católicos do sul da Europa, e é porque a pretensão é chocante. Estou aqui a falar de estudos documentados, prémios Nobel, e as pessoas riem-se, porque não é aceitável. Eu acho admirável a capacidade de levar a razão humana a este ponto.»

É de morrer a rir. E isto é só uma pequena amostra. Passem por e leiam tudo. A vantagem de se viver na Europa é esta: na Europa lemos uma entrevista destas e rimo-nos.

4 comentários:

André Abrantes Amaral disse...

Rimo-nos, porque o sistema miserável em que vivemos dá vontade de chorar. Desculpa, mas o preconceito da esquerda, nos dias de hoje, é atroz.

JSA disse...

Caro André, que não respondo pelo Filipe, mas por mim, que sou também de esquerda, pergunto: preconceito?!?!

O que o arrojado disse foi que era melhor (economicamente) ser-se escravo que ser-se livre. Que os votos deveriam ser comprados. Que não deveria haver controlo aos medicamentos colocados no mercado. Que a pena de morte diminuía a criminalidade. que os tribunais deveriam ser privatizados...

Quem é que tem preconceito, afinal?

Eu até posso concordar que há estado a mais. Não acho que deveria haver tão pouco estado como os liberais gostariam, mas como o Pedro Arroja advoga? Pel'amor de sei lá quem: o homem é essencialmente louco. Ou então não, lucidíssimo e diz isto para se divertir. E a nós.

Filipe Moura disse...

André, não é preconceito... Eu também detesto que se riam de mim. Não gosto mesmo da atitude, apesar de ser frequente (e não necessariamente por motivos políticos). E eu não me rio dos liberais ou do liberalismo, nem creio que essa atitude seja construtiva. Mas como diz o João este homem, se se leva a sério, é essencialmente maluco! Passa todos os limites do bom senso.

LJ disse...

bem, o primeiro e o último excerto obviamente que não se devem levar a sério.. agora o do meio? o tal que diz que o estado deve prestar os serviços mínimos à população e não ser pai de toda a gente.. aí falhou-me onde é que está o humor? eu cá até acho aquela parte a mais lógica de toda a entrevista.