2007/05/10

O affaire Arroja (2)

A “dupla precaução” de Arroja com os judeus é errada por ser geral. À partida eu não tenho (e não se deve ter) um preconceito contra um judeu (ou outra etnia ou religião qualquer) por um texto sobre um tema arbitrário. Posso ter uma dupla precaução se achar que existe um conflito de interesses. Por exemplo, eu tenho uma dupla precaução ao ler textos de autores judeus sobre temas sensíveis para os judeus (como o conflito do Médio Oriente). Tal como tenho uma dupla precaução ao ler textos de autores católicos sobre temas sensíveis para os católicos. Uma dupla precaução: só isso e nada mais. Não deixo que tal precaução extra influencie o meu julgamento, e frequentemente tenho surpresas agradáveis.
O primeiro texto de Arroja é infeliz pela sua generalidade e por demonstrar um preconceito e por nos tentar convencer do mesmo. Mas qualquer pessoa pode ver que o que incomoda os autores do Blasfémias não é o preconceito em si, mas o facto de esse preconceito ser dirigido contra os judeus. Fosse o dito preconceito contra católicos ou muçulmanos e aposto que não haveria incómodo nenhum por parte dos autores do Blasfémias. Já lá foram publicadas entradas extremamente ofensivas para com os muçulmanos e ninguém se ofendeu.
Já o segundo texto é muito bom, lançando dados concretos (não se baseando em preconceitos). Gostaria de o ter escrito. No meio da histeria ficou por responder.

14 comentários:

jcd disse...

"Já lá foram publicadas entradas extremamente ofensivas para com os muçulmanos e ninguém se ofendeu."

Uma vez que a frase é bastante assertiva, tenho a certeza que o Filipe não terá nenhuma dificuldade em indicar um desses textos, publicado no Blasfémias, extremamente ofensivo para os muçulmanos.

Obrigado.

Filipe Moura disse...

Olha, jcd, estou a pensar por exemplo num célebre mapa da Europa em 2050, colocado por ti, não sei agora quando. Procurei-o mas não o encontrei. Mas tu e qualquer leitor do Blasfémias sabe do que eu estou a falar. Talvez tenhas a gentileza de no-lo recordar. Eu não o encontro pois é difícil encontrá-lo não sabendo a data nem o título. Mas ele existe.

jcd disse...

Refere-se a este mapa? (postado pelo João miranda)

http://ablasfemia.blogspot.com/2005/11/suicdio-demogrfico.html

É a isto que se refere como uma das "entradas extremamente ofensivas para com os muçulmanos"???

Filipe Moura disse...

Exactamente, esse mesmo. Um perfeito exemplo de islamofobia.

jcd disse...

Um mapa humorístico é um perfeito "exemplo de islamofobia"?

Isso quer dizer que se em vez destes nomes tivéssemos 'República Bushista da Polónia' ou 'Colónia Americana da Grã-Bretanha', seria um insulto para os americanos?

Filipe Moura disse...

Não sei se seria ou não um insulto para os americanos. Agora esses exemplos não têm nada a ver com imigração, nem com uma comunidade inteira.

Pedro Gil disse...

Engraçado é ir aos comentários do tal post e ver uma resposta do jcd:

«jcd:

Deviam ser os democratas a não perdoar "uma dessas".»

Os verdadeiros democratas podem concordar ou discordar e manifestar livremente a sua opinião.

Os PCs (politicamente correctos) manifestam habitualmente a sua indignação com pouco polimento e a um debate construtivo preferem atacar o mensageiro.
jcd | Homepage | 04.11.05 - 3:59 pm | #

Depois é giro ver como as pessoas se portam...
http://ablasfemia.blogspot.com/2007/04/dias-de-liberdade.html
http://ablasfemia.blogspot.com/2007/04/passatempo-judeus-famosos.html

Engraçado...
Abraço
Pedro Gil

jcd disse...

Pedro Gil

E esses dois posts que linkou agora insultam alguém?

Um critica um imã que lançou uma fatwa sobre uma pessoa, o que é muito diferente de criticar os muçulmanos.

O outro, parece-me que nem sequer o entendeu. Quem é que acha que estou a ofender com aquele post?

jcd

JV disse...

"A minha regra é a de usar dupla precaução a interpretar os movimentos filosóficos, científicos ou meramente de opinião cuja liderança seja feita predominantemente por intelectuais judeus. Estão neste caso o neo-conservadorismo americano, o neo-liberalismo e o libertarianismo e várias correntes do chamado politicamente correcto.

Presumo que os intelectuais de cultura judaica são sempre mais fieis à sua cultura do que à verdade e que, em caso de conflito entre ambas, optam pela primeira em detrimento da segunda - e sem hesitação." Pedro Arroja

É assim que se inicia o primeiro texto de PA que o Filipe considera infeliz.

Até pode ser que o texto revele um preconceito, mas é antes de tudo uma opinião. Ademais está por provar que esse preconceito esteja errado. E, como é impossível demonstrar isso ( bem como o seu contrário, diga-se em abono da verdade) o texto de Pedro Arroja é apenas uma opinião, politicamente incorrecta é certo, mas sustentada em alguns factos. O que é certo é que depois de ler o texto tendo a dar razão a Pedro Arroja tendo a dar-lhe razão.

CAA disse...

Confesso que me escapa a essência desta discussão. O critério de aferição de uma suposta ofensa depende, em última análise, de quem se sente ofendido.
Nas postas que o Filipe Moura citou, por mim, não vislumbro qualquer resquício de ofensa. Nem me lembro que no blogue alguém se tenha manifestado nesses sentido.

Coisa muito diferente aconteceu com os textos (que foram as últimas gotas de água, já que muitos mais existiram) que o Filipe Moura analisou nestas suas 2 postas - houve reacções internas de enorme repúdio dentro do Blasfémias. *

Houve ponderações distintas em casos anteriores? Vislumbra-se algum défice de coerência nas sequelas?
Eu julgo que não; mas pode ser que sim.

Mas manter um blogue não comporta qualquer tipo de obrigação social, comunitária, moral ou fiscal (ufffh!). Eu e - julgo - a maior parte dos blasfemos fazemos o blogue por prazer. Por puro gozo. Não nos preocupamos em demasia com os textos uns dos outros. Discordamos muito, até.

Mas quando este prazer em contestar, ripostar e protestar, desaparece porque ultrapassado por um sentimento de repulsa que não se consegue sublimar, então, é porque há um problema que tem de ser resolvido. Caso contrário, o blogue acaba. Como aconteceu com tantos outros.

O Blasfémias não acabou. Por mim, ainda bem.


* Acerca das vicissitudes menos conhecidas do "processo" assumi o compromisso de não falar (claro que uma boa maquia simpaticamente oferecida por um tablóide poderia ser capaz de me fazer pensar na "natureza dos compromissos no mundo contemporâneo"...).

JV disse...

"Mas qualquer pessoa pode ver que o que incomoda os autores do Blasfémias não é o preconceito em si, mas o facto de esse preconceito ser dirigido contra os judeus. Fosse o dito preconceito contra católicos ou muçulmanos e aposto que não haveria incómodo nenhum por parte dos autores do Blasfémias" Filipe Moura

Isto é inteiramente verdade, mas só para alguns blasfemos. O JCD é claramente um deles. Para ele, isenção, rigor, objectividade, independência de espírito, etc são vocábulos que constam do dicionário, apenas.

CAA disse...

jv, tanta pressa em sentenciar sem qualquer fundamentação...

JV disse...

"jv, tanta pressa em sentenciar sem qualquer fundamentação... " CAA

Ok. Exagerei um bocado. O JCD além de tirar umas fotografias catitas, ser um tipo inteligente e com algum sentido de humor, é também um faccioso do catano. Faccioso ao ponto de , não raras vezes, relegar a sua prodigiosa inteligência para segundo, terceiro,etc plano.

Filipe Moura disse...

Caro Carlos,
Devo começar por dizer que não me cabe a mim julgar quem quer que seja pela saída do Blasfémias de Pedro Arroja. Mas compreendo o vosso (dos outros autores) ponto de vista. Pedro Arroja tornou-se – por sua vontade própria – um corpo estranho no blogue. Parecia que a sua única motivação era provocar-vos – a si, principalmente. Eu já fiz parte de um blogue colectivo e já passei pelo que estou aqui a descrever, no meu caso através de mecanismos muito mais tortuosos. Não cabe a mim condenar-vos e nem estou aqui para isso. Mas agora, se me dá licença, vou citá-lo:

«Nas postas que o Filipe Moura citou, por mim, não vislumbro qualquer resquício de ofensa. Nem me lembro que no blogue alguém se tenha manifestado nesses sentido.

Coisa muito diferente aconteceu com os textos (que foram as últimas gotas de água, já que muitos mais existiram) que o Filipe Moura analisou nestas suas 2 postas - houve reacções internas de enorme repúdio dentro do Blasfémias.»

Aí é que está – “ninguém se manifestou”. Mas será que isso por si quer dizer que não havia motivo para alguém se manifestar? Eu já nem digo que alguém dentro do blogue se quisesse manifestar, até porque o Rodrigo Adão da Fonseca manifestou-se uma vez contra um post seu e veja o que lhe sucedeu. Mas não vou – não quero - entrar por esse campo. Admitamos que se ninguém se manifestou dentro do blogue, então é porque toda a gente concorda. Será então que só por isso se deve concluir que não há nada de errado com os textos em questão? Para mim, claramente, não; agora para vocês, pelos vistos, sim. Vocês são parcialíssimos, facciosos (em particular com tudo o que tenha a ver com Israel e o judaísmo) e pelos vistos nem dão por isso. Ou então gostam de passar por imparciais quando claramente não o são. A única coisa que verdadeiramente me aborrece nesta história do Arroja é vocês quererem passar por vítimas e “santinhos” quando não o são.
É isto que eu tinha a dizer sobre este assunto.