2007/05/27

António Brotas: a Ota e a Câmara de Lisboa (II)

A campanha para a Câmara de Lisboa estava em risco de se transformar num referendo pró, ou contra o aeroporto da Ota.

A intervenção de ontem do Exmo. Senhor Presidente da República alterou profundamente a situação.

O país vai mesmo discutir a localização do novo aeroporto de Lisboa (do NAL).

Esta discussão durará, possivelmente, dois anos. Se, no final, se concluir que o NAL pode ser construido num local da margem Sul (há vários locais pelo menos à primeira vista propícios para isso) são ganhos dois anos porque um aeroporto na margem Sul demora, no mínimo, quatro anos menos a construir do que um aeroporto na Ota.

Infelizmente, o ministro Mário Lino não esperou três dias. Abriu um concurso para adjudicar o projecto de um aeroporto na Ota e fez esta semana uma pré-selecção de três concorrentes. Por mais competente que seja o vencedor e por melhor que trabalhe, projectará sempre um aeroporto acanhado, com maus acessos, deficiente sobre muitos aspectos, caro, muitíssimo dificil de construir e insuficiente para servir o país por um largo periodo. (Que o ministro comparou a um indivíduo sem uma perna, com um braço partido e todo torto, mas sem um cancro).

Se, entretanto, se concluir que que o NAL pode ser construido na margem Sul, o projecto do aeroporto da Ota vai para o lixo. O país perderá bastante dinheiro, mas não fica com o futuro atrofiado como seria o caso de embarcar numa obra errada.

A única questão que pode ser impeditiva da construção do NAL na Margem Sul e que exige um estudo sério e aprofundado é o da protecção dos aquíferos subterraneos. O debate sobre esta questão, que foi levantada por alguns ambientalistas, pelo próprio ministro, pelo Presidente da CCRLVT e, mais recentemente, por alguns professores de Coimbra, deve ser conduzido com grande abertura e limpidez para ser convincente. Dispomos de dois anos para o fazer porque os estudos sobre o aeroporto da Ota propriamente dito estão atrasadíssimos.

Em qualquer caso, os estudos sobre os aquíferos serão sempre uteis, pois sensibilizarão o país para a importantíssima questão da sua protecção, que não é um problema posto unicamente pela construção de um aeroporto mas, também, por uma série de outros projectos industriais, urbanísticos e agricolas.

O outro argumento impeditivo apresentado pelo ministro, o dos choques de aviões com aves migratórias, é perfeitamente risivel. Numa primeira ocasião procurarei escrever sobre ele para recordar os estudos de 1999 e me interrogar sobre os actuais.

É altamente desejavel que os candidatos à Câmara de Lisboa se interessem por estes assuntos e exijam que sejam sériamente estudados. Mas, no periodo curto da campanha, não são eles que o podem fazer, e há outros assuntos mais directamente relacionados com a cidade que devem reter a sua atenção.

António Brotas

2 comentários:

Rui Curado Silva disse...

Caro Filipe,

A autoridade do tráfego aereo internacional já disse que não autorizará voos para a margem sul, dado que é uma zona de intenso fluxo de voo de aves migratórias, é perigoso para aviação comercial.

Além disso, isso obrigaria que o TGV atravessasse o Tejo, o que obrigaria a pagar à Lusoponte uma quantia astronómica que faz parte do contracto de concessão da Vasco da Gama, para além de uma distribuição menos racional das linhas de TGV previstas (há uma tese de doutoramento do Manuel Tão que explica isso preto no branco).

A opção a sul de Lisboa só seria possível muito a sul de Lisboa, para lá da chamada margem sul. O que seria inviável para a maior parte dos utilizadores do aeroporto da portela, os da região Centro (1 milhão e 700 mil habitantes) e os do Porto (o aeroporto do Porto tem um leque de escolha muito limitado).

Filipe Moura disse...

Rui, sou contra o Rio Frio ou o Montijo. Prefiro as Faias ou o Poceirão, e contra estes não há problemas ambientais ou de segurança.
Compreendo os teus argumentos, mas contraponho dois.
Não é bom de todo para o país a subalternização do aeroporto do Porto, que deveria ter - e vai passando a ter - um leque de escolha menos limitado. Se calhar a malta de Coimbra deveria passar a viajar mais pelo Porto (que tem boas acessibilidades).
As Faias ou o Poceirão ficam à mesma distância de Lisboa que a Ota, é verdade. Mas ficam mais próximas da população da Margem Sul de Lisboa e Setúbal, que de outra forma ficaria muito longe de um aeroporto internacional. A Ota interessa a Coimbra, Santarém e Leiria; a Margem Sul interessa a Setúbal, ao Alentejo e... ao norte.
Acima de tudo, a opção na margem sul permite construir um aeroporto muito melhor e com muito mais futuro do que a Ota.