Começo por discordar na argumentação deste texto do Tiago Barbosa Ribeiro: conforme lá escrevi algo provocatoriamente, antes uns burgueses terem os seus carros queimados à porta do que ter-se um “In God we trust” impresso nas notas! Ou um “God bless America” nas contas do supermercado, como eu tinha depois do 11 de Setembro. A relação dos Estados Unidos com a religião está longe de ser modelo para algum país desenvolvido. Ao contrário do que o Tiago Ribeiro provavelmente julga, não é só no Irão que existem fundamentalistas religiosos. Eles existem também nos EUA e têm mais influência do que ele possa julgar, incluindo a administração Bush filho (mais do que qualquer outra). Pode haver respeito de umas religiões relativamente às outras, mas há um predomínio da religião (de Deus) traduzido no “In God We Trust” nas notas bancárias, que pelos vistos tanto lhe agrada. A América é uma nação temente a Deus, seja este qual for. Pouco lugar há para agnósticos e ateus: são uns excêntricos que vivem no mundo académico e pouco mais.
Dito isto, não posso concordar com as ridículas manifestações de “politicamente correcto” que constituem a supressão de algumas celebrações de Natal em empresas europeias. Queira-se ou não, o Natal é celebrado, por razões históricas e culturais, pela esmagadora maioria das pessoas, crentes e não crentes. Já era celebrado o solestício de Inverno muito antes de Cristo! Por isso é feriado nacional. Tem de se respeitar os feriados celebrados historicamente nos diferentes locais. Em Nova Iorque observavam-se todos os feriados judeus, e eu dei aulas numa sexta-feira santa. No instituto onde me doutorei, entre os docentes a maioria era judaica. Os enfeites de Natal conviviam com as velas de Hannukah. Nunca deixou de haver uma festa na segunda ou terceira semana de Dezembro!
O final de cada ano é sempre um motivo para celebrar. Toda a gente o sente. As festas numa empresa ou numa escola não devem ter um carácter proselitista. Desde que esta condição se verifique, deve prevalecer o princípio de que uma festa, desde que desejada por um número significativo de pessoas, não pode ofender ninguém.
Concluo tudo isto desejando, muito laicamente, boas festas a todos os meus leitores e amigos.
2006/12/22
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5 comentários:
Um santo Natal para ti também.
E convém ainda referir que a relação dos Estados Unidos com a religião tem vindo a piorar ao longo dos tempos ("piorar" quer dizer misturar-se política com religião). Os EUA foram dos primeiros países do mundo a consagrar a separação entre religião e estado, logo após a independência (primeira emenda à constituição). A menção "In God we trust" só apareceu nas moedas e notas americanas em 1953, em consequência da Guerra Fria (e o medo do "monstro Comunista Ateu"). A "Pledge of Allegiance" que muitas crianças americanas recitam na escola ao começar as aulas, tal como foi escrita originalmente pelo "esquerdista" Francis Bellamy em 1892 não continha a menção "under God", que só foi acrescentada em 1954.
Em termos de laicidade os EUA têm vindo de facto a regredir.
Caro Filipe
O actual PM de Timor-Leste assumiu-se como IRMÃO de Bn Laden. Exigimos a demissão de Ramos Horta
Bom Natal e Bom Ano,
Sobre o tema religião e Estados Unidos aconselho vivamente a ler o livro «Entre Césares e Deuses» de Fernando Catroga, que também aborda o caso francês e português.
Catroga considera que nos EUA existe uma «religião cívica», em que o nome o Deus invocado não é o Deus de uma determinada confissão, mas um princípio que avaliza o contrato social. Por vezes, a invocação de Deus tem de ser interpretada mais num sentido metafórico do que literal. Mas não há dúvida de que um forte fundamentalismo religioso nos EUA «torce» pela interpretação literal do termo.
Boas festas a todos. João, obrigado pela recomendação.
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