O João Miranda tem o direito de pensar o que quiser sobre a ciência que eu faço para escrever textos como este. Já o usar o termo “anacleto” quando se refere a mim, parece-me desonesto, ainda mais num texto sobre ciência. Não é de agora que o João me lê. Não é de agora que ele sabe que eu tenho sérias divergências com o Bloco em assuntos científicos. Traduzidas em textos meus como este (com a ressalva de Francisco Louçã ser ele próprio um economista bastante competente, apesar de não entrar no Dia D). Ou este. E sobretudo textos como este, este e este, no Blogue de Esquerda, dedicados a desmontar baboseiras ditas por bloquistas e outros tipos de animadores culturais. O último valeu-me uma certa animosidade por parte do assessor de imprensa, manifestada mais tarde, uma vez mais a propósito da ciência (ler os comentários).
E falar na “falta de pluralismo” na secção de ciência do Público parece-me disparatado. Quanto muito deveria haver pluralismo nas diferentes áreas científicas que são cobertas e esse existe. Agora o conceito de pluralismo em ciência é discutível. Ao contrário de muitas luminárias (infelizmente) de esquerda, eu acredito que existe algo que pode ser classificado como “verdade”, e o objectivo da ciência é descobri-lo. Acredito que pode definir-se, dentro de certos limites, se algo é ou não “verdade”, e a partir daí deixa de haver espaço para “pluralismo”. Este conceito é muito mais fácil de definir nas ciências exactas (certas luminárias infelizmente de esquerda nem devem acreditar na existência de ciências exactas). Mas embora também existam sem dúvida “verdades” em Economia, esta não é uma ciência exacta. Ao contrário do que o João Miranda nos tenta convencer, há lugar para pluralismo em Economia. Em particular, é possível mesmo – suprema ousadia! - não concordar com ele! É tudo uma questão de condições fronteira, como eu disse uma vez.
Só se o João Miranda está preocupado com o pluralismo político da secção de ciência. Mas aí, embora eu não faça a mínima ideia do posicionamento político dos meus colegas, e nunca tenha falado de política desde que lá estou, asseguro-lhe que tal é irrelevante na referida secção. Conforme já escrevi repetidamente – ler por exemplo os comentários deliciosos a este texto – a ciência de qualidade não tem e nem pode ter ideologia, nacionalidade, credo… O que não significa que os cientistas – que são homens e mulheres – não os tenham: é evidente que os têm. Grave seria que argumentos de ideologia, nacionalidade ou credo contassem para alguma coisa em ciência, e que devido a eles a boa ciência ficasse pelo caminho. (No caso da secção de ciência de um jornal, que deixasse de ser publicada.) Se é essa a acusação do João Miranda à secção de Ciência do Público, ela não tem qualquer fundamento. Embora não me caiba a mim demonstrar nada, tentarei reforçar o que disse com um exemplo recente de um texto que me deu muito gosto escrever (e que já tinha intenção de pôr aqui de qualquer maneira). Já a seguir.
2006/08/16
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6 comentários:
Eu estava a ser irónico.
Tentando resumir o meu post: há um ponto a partir do qual criticar a falta de pluralismo num jornal de economia faz tão pouco sentido como criticar a falta de homeopatas na secção de ciência do Público. É esse o meu ponto.
Não critiquei a ciência que o Filipe faz. Antes pelo contrário. Parti do princípio que quem faz ciência terá facilidade em perceber que economia não é uma questão de opinião.
Peço desculpa não escrever mais. Vou estar fora nos próximos 12 dias.
JM
Só mais uma coisa:
No meu post há uma única crítica ao Filipe: o Filipe em questões económicas, e tendo em conta aquilo que tem escrito sobre o assunto, está mais próximo da má ciência do que da boa. O que eu tentei dizer é que o Filipe tem que pelo menos aceitar que na ciência económica existem coisas muito erradas que são claramente erradas e estão fora de qualquer discussão que valha a pena. E por isso devemos esperar que os jornais de economia sejam menos pluralistas que os outros.
Quanto às suas opiniões sobre todas as ciências chamadas exactas, não tenho nada a criticar.
A questão podia ser essa, do sem sentido da economia comunista mas o seu oposto não me parece ser obrigatoriamente o engalanar do liberalismo.
Mas até nem é preciso ir já por aí. Do pouco que li de alguns textos, o facto do assunto ser economia é apenas decorativo, um pretexto para se fazer propaganda de outra coisa que tem mais o nome de ideologia que de ciência.
Está aqui um exemplo. Não sei quem foi o autor, mas sei que nem é preciso ter qualquer conhecimento económico para se ver que isto é banha-da-cobra.
"Ora, sendo o Homem um ser livre e autónomo, que jamais poderá viver numa sociedade igualitária dada a sua natureza, justificar uma solidariedade ‘à força’ baseando-se no ‘bem comum’, não faz sentido. Para além do mais, esta imposição de solidariedade por parte de um poder executivo, corresponde a um esvaziamento do próprio acto de doação. Podemos dizer que assistimos nos dias de hoje a uma transferência de responsabilidades do cidadão para o Estado, tendo este movimento repercussões na própria sociedade. Para além de constituir um problema de restrição de liberdades (já que cada um deve ser livre de poder escolher se quer ou não contribuir para um determinado fundo de solidariedade), pode ser também um factor de desagregação social, dado que o imperativo moral de muitas pessoas é transferido para a instituição Estado."
O que fica por perguntar é em nome de que ciência foi escrito.
e se isto é para se aplicar a um país de vigaristas onde só quem não pode não foge ao fisco, então há-de haver lobby e do grosso no tal dia D.
Mas aí nem dizia que era de financiamento" de pensamento liberal. Podia ser do major Valentim
ahahaha pois é, MP-S ":O)))
Mas o major era capaz de se integrar neste grupo de homens livres que não sente o constrangimento de delegar o imperativo moral no Estado.
Ele alivia-se com electrodomésticos
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