Era de esperar – e é compreensível, ainda mais tratando-se de futebol – um certo sentimento de desforra por parte dos adeptos do Gil Vicente, tendo em conta a forma como a equipa de Barcelos desceu de divisão em 2006, depois de no campeonato tertido mais pontos que o Belenenses. Também não surpreende que a principal aglutinação de minhotos em toda a blogosfera tome posição contra o Belenenses neste caso. O autor, Pedro Morgado, só vê o Minho à frente, e fará tudo o que puder pelo Minho e só pelo Minho. O que eu não esperava – e sinceramente me surpreende pela negativa – é que o autor desse largas ao seu populismo e transformasse este caso em mais uma (suposta, na cabeça dele) guerra da “província” contra “Lisboa”, que como sempre tem as costas muito largas. A agressão demonstra o suposto “provincianismo” dos adeptos do Belenenses (vejam bem o que ele vai buscar!).
Demos de barato que Belém é quase um “enclave” do concelho de Lisboa em Oeiras; de certas zonas da cidade é mais rápido e fácil chegar a Sintra que a Belém, e os moradores de Belém, quando vêm ao centro da cidade, dizem que vão a “Lisboa”. Mas é claro que Belém é Lisboa, e a questão não é essa.
A ver se a gente se entende: há uns meses atrás eu afirmei que quem pratica a praxe académica é provinciano, e que todas as pessoas que eu conhecia e que praticavam a praxe eram de fora de Lisboa (por muito que isso custe ao Pedro). Nada do que eu escrevi permite concluir que todas as pessoas de fora de Lisboa apoiam a praxe, e muito menos que são provincianas! Não é isso que eu penso e tal seria um grande disparate. Mas pelos vistos, para o Pedro, o comportamento vândalo de alguns adeptos do Belenenses demonstra o “provincianismo (!)” de Lisboa! Como se o guarda Abel fosse representativo de todos os adeptos do FC Porto... A questão é que o populismo regionalista do Pedro Morgado fá-lo tomar sempre a parte (pequena) pelo todo. Já tínhamos percebido. O que era escusado era mais esta demonstração cabal de rancor antilisboeta.
2008/01/16
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10 comentários:
Está enganado, Filipe Melo.
O Pedro Morgado limitou-se a aplicar os mesmos critérios que foram utilizados há dois anos para caracterizar os Barcelenses em geral e os adeptos do Gil Vicente, pela comunicação social lisboeta, concluindo que se tratavam dos tipicos provincianos.
Ora, como neste caso do Belenenses os seus dirigentes e adeptos tiveram um comportamento muito mais lamentável que os atrás referidos (em Barcelos nunca houve agressões), são por conseguinte, tão ou mais tipicamente provincianos.
A crítica que faz, deve dirigí-a a quem defende esta forma de caracterizar as populações, que é a comunicação social lisboeta. E é isso o que o Pedro Morgado faz, expondo o seu ridiculo.
De resto, a pseudo-superioridade arrogada pelas elites da capital não tem cabimento, e este episódio demonstra-o. Quando vos sobe a mostarda ao nariz, há entre vós quem tenha comportamentos tão ou mais lamentáveis do que os verificados em qualquer outra parte do país.
Vou pegar no seu comentário no Blasfémias:
"Pelo menos agora, muitos portugueses (não só lisboetas, e nem todos os lisboetas) põe a mão à cabeça e estão a pensar que "se calhar, afinal os barcelenses não são assim tão parolos". É triste que as coisas tenham que acontecer desta forma para que as pessoas passem a ser menos preconceituosas..."
O Pedro conhece algum lisboeta? Eu não conheço nenhum que pense as coisas que lhe imputa. O Pedro faz uma caricatura muito imperfeita dos lisboetas, porque lhe dá jeito, e depois usa-a. Nada do que afirma sobre os lisboetas é verdade. Assim não dá para discutir.
Ora, ora, vai-me dizer que a comunicação social lisboeta é escrita por alentejanos ou minhotos?
Sei que há trigo e há joio. E por isso mesmo fiz questão de direccionar muito bem o meu comentário no blasfémias: a todos os portugueses (lisboetas e não lisboetas) que julgam os habitantes de determinadas cidades de provincianos e parolos por dá cá aquela palha, muitas vezes por comportamentos nada parolos (no caso do Gil Vicente era tão somente por querer recorrer à justiça, e não por agredir pessoas), e que se verificam em todas as cidades portuguesas.
Ora, a acusação de provinciano, por norma, costuma vir de quem não se considera da provincia.
Daí que acho que há legitimidade em levantar a questão: onde estão agora todos aqueles que chamaram aos adeptos do Gil Vicente de provincianos e parolos? Porque não acusam agora os adeptos do belenenses com os mesmos impropérios? Qual a explicação para o fenómeno?
A minha, é que a comunicação social lisboeta acha que "parolo" é um adjectivo que só se aplica fora de Lisboa. (o que me parece uma atitude verdadeiramente parola).
E a sua explicação, qual é? Acha normal a dualidade de critérios?
P.S. Conheço muitos lisboetas. Há trigo e há joio, como em todo o lado. Mas não é preciso conhecer os lisboetas para fazer estes comentários. Basta estar atento à comunicação social. E a comunicação social, em portugal, é descaradamente xenófoba em muitas situações. Só que nós crescemos com isso, e por vezes nem nos apercebemos. O ano passado tinhamos um programa em horário nobre, líder de audiências, e destinado ao público infantil, onde a actriz principal era insultada, em todos os episódios de "estúpida tripeirinha". É assim que se ensina o preconceito desde a infância.
«onde estão agora todos aqueles que chamaram aos adeptos do Gil Vicente de provincianos e parolos?»
Não sei. Não os vi. Eu nem simpatizo com o Belenenses.
«O ano passado tinhamos um programa em horário nobre, líder de audiências, e destinado ao público infantil, onde a actriz principal era insultada, em todos os episódios de "estúpida tripeirinha". É assim que se ensina o preconceito desde a infância.»
Se houver um novo referendo à regionalização, na campanha não se esqueça de dar esse exemplo.
Caro Filipe,
Penso que interpretou mal as minhas palavras. É óbvio que o post não se dirige a todos os liboetas, mas apenas aos que «imaginam que as mulheres de Viana vão trabalhar envergando os famosos trajes festivos».
Mas quanto às generalizações, o Filipe poupa-me a argumentação. Neste post, acusa-me de generalizar e acaba por repetir a toada de que todos os praxistas são de fora de Lisboa. Mesmo não pondo em causa o seu vasto conhecimento da realidade praxística lisboeta, parece-me que é uma generalização infeliz e abusiva. Mas isso são contas de outro rosário.
De qualquer modo, aquando do caso Mateus fartaram-se de ridicularizar o Presidente do Gil Vicente. E foram os mesmos que agora desvalorizam agressões.
O que quis dizer com o meu post, como fica bem claro nas últimas frases, é que Lisboa não é mais nem menos do que o resto do país, embora haja lisboetas que não conseguem deixar de andar em bicos de pés.
Cumprimentos,
PM
Caro Pedro,
sobre as praxes e os lisboetas, o que afirmei resulta de uma observação empírica. Tive o cuidado de o deixar sempre claro - é da minha experiência. Mas olhe que eu conheço muitos estudantes de várias gerações. É uma afirmação falsificável; demonstre que está errada.
Por favor seja honesto e reconheça que escreveu a frase
"Para os lisboetas, esses espécimes que imaginam que as mulheres de Viana vão trabalhar envergando os famosos trajes festivos, «a província» é um mundo distante onde radicam todos os males do país."
É aplicada a todos os lisboetas, não é?
Lisboa não é nem mais nem menos do que o resto do país, é claro. E gente em bicos de pés há em todo o lado. Onde o Pedro vê um complexo de superioridade lisboeta, eu vejo um complexo de inferioridade e rancor nortenho. Sim, nortenho.
Um abraço,
Filipe.
Pois, mas não me parece que tenham sido os barcelenses que começaram a chamar parolos e provincianos a si próprios...
Rancor? Seguramente! Mas o rancor não é uma falha moral. É o não perdão de uma falha moral de outrem. Neste caso em particular compreende-se. A falha moral veio de Belém, e em proveito próprio. O Gil Vicente sofreu duros golpes: injustamente despromovido, coartado a não recorrer à justiça, e insultado e ridicularizado pelos media e população em geral pela "parolice" de querer fazer valer os seus direitos. Em síntese, violentados no corpo (despromoção) e na alma (opinião pública contrária).
É óbvio que há rancor. Como poderia não haver? Os minhotos são religiosos, mas não são o Dalai Lama. "Quem não se sente, não é filho de boa gente."
"Rancor - Ressentimento profundo e reservado decorrente de mágoa que se sofreu sem protesto".
E para comprovar a minha tese sobre a xenofobia e provincianismo da comunicação social lisboeta, deixo aqui um texto do editor-executivo (note-se que não é um jornalista qualquer) do 24 horas, publicado também no global notícias:
"OS COELHOS COM
STRESSE HAVIAM
DE VIR PARA LISBOA"
"Uns aviões militares rasam dois
casebres, e estala o alvoroço. Até
os coelhos, com o estampido das
asas a rasgar o céu, ficaram stressados e a perpetuação da espécie está em risco naquelas paragens. A população está furiosa e dois deputados eleitos por Castelo Branco escreveram a maçar o ministro da Defesa com perguntas...
E pergunto eu, quem me protege a
mim dos idiotas que não conseguem
tirar a mão da buzina do carro, e dos javardos do estádio de futebol junto à minha casa que põem música aos berros como se aquele batatal fosse uma discoteca, e dos adolescentes (muitas vezes, ser adolescente já é suficientemente
mau para dispensar mais qualificativos) que andam pelas
ruas aos urros?
Barulho a sério aturo eu todos os
dias. Aquilo na Meimoa foi só um
festival aéreo..."
Quem diria: o "cosmopolita" Gonçalo Pereira, no meio de tanta "civilização" não faz a mais pequena ideia do barulho que um Caça em acção pode causar... espero que lhe passem muitos 200m acima do tecto.
Nota: O Global notícias, onde o texto foi publicado, é o jornal com maior circulação em Lisboa e Porto. A população de Penamacor sofre danos materiais e ainda é enxovalhada pela comunicação social Lisboeta. Antevejo rancor beirão. Sim, beirão. Parece-lhe despropositado?
Esqueci-me de deixar o link. Página 2, do lado direito.
http://www.globalnoticias.pt/gnpdf.pdf
Pelos vistos também existe "rancor" algarvio. Sim, Algarvio...
http://www.semanario.pt/noticia.php?ID=3854
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