Falar sobre eleições, mantendo-se independente, por vezes é complicado. Não quero usar este espaço para criticar candidatos à Câmara de Lisboa (mesmo aqueles que dizem que se houvesse mais como eles, haveria menos carros, mas numa entrevista publicada pouco tempo antes de as eleições terem sido convocadas afirmam tranquilamente que só andam de transporte privado dentro da cidade: boleia ou táxi. Desculpem mas não resisti).
Mas o sentido do meu voto está decidido, e eu não vou escondê-lo, até porque é sobre ele que eu vou falar. Nestas eleições vou votar na CDU. Não tenho e nem nunca tive nenhuma ligação ao PCP ou a nenhum outro partido e, talvez por isso mesmo, ao contrário da maioria dos blógueres de esquerda, não acho que este partido tenha “lepra” e sei reconhecer o mérito do trabalho dos seus eleitos. O meu voto nestas eleições é na CDU (como noutras é noutros partidos) por achar genuinamente que esta é a melhor candidatura, a que melhor serve os lisboetas, embora não seja a única boa opção (não teria problemas em votar noutras candidaturas, e acho que os lisboetas não se podem queixar de falta de boas alternativas). Mas, vejam bem, o meu objectivo com este texto é mesmo criticar a campanha desta candidatura (e não fazer campanha por ela, algo que não seria adequado neste espaço – e nem eu o faria).
A verdade é que a campanha da CDU é má, e não tira proveito nenhum dos seus candidatos. A desorientação desta campanha começa pelo slogan fácil e estereotipado, “CDU – força alternativa”. Mas alternativa a quê? O PCP não é e nunca foi “alternativo”. Quem vota no PCP não está à procura de uma “alternativa”: está à procura daquilo que o PCP sempre foi, e que em termos de trabalho nas autarquias sempre foi muito bom. “Alternativo” é o Bloco de Esquerda. Se isto continua assim, algum dia temos comida vegetariana ou japonesa e cerveja com sabor a pêssego na Festa do Avante! Começamos mal.
Um dos principais motivos para o meu voto é mesmo o candidato. Em qualquer inquérito, em qualquer pergunta que lhe seja feita, vê-se imediatamente que Rúben de Carvalho, para além de ser um homem de cultura (no verdadeiro sentido da palavra), é um lisboeta autêntico, que conhece a cidade e gosta dela como poucos. É de esquerda e tem uma cultura de esquerda como nenhum dos outros candidatos apoiados por partidos de esquerda (não necessariamente “candidatos de esquerda”) tem. E conhece bem a Câmara (sem ser responsável pelo descalabro a que lá se chegou). Não é nenhum pára-quedista: é um candidato natural, e um excelente candidato. O PCP sempre se viu como um “colectivo” e sempre recusou qualquer protagonismo individual. Faz parte da cultura do partido, e só quem o conhecer (ou, pelo menos, quem tiver lido uns livros do Álvaro Cunhal) a poderá entender. Creio sinceramente que Rúben de Carvalho representa uma mais-valia da CDU nestas eleições (como o era, ainda mais, por exemplo Carlos de Sousa em Setúbal há dois anos). Mais-valia que não está a ser usada de todo na campanha. Será que o PCP quer ficar à vontade para poder substituir o candidato, mais tarde, depois de ele ser eleito? Esperemos que não seja esse o caso.
O pior aspecto da campanha da CDU reside, a meu ver, numa confusão deliberada entre a política nacional e a política autárquica. O PCP aposta em capitalizar algum descontentamento popular com as políticas do governo, e se tiver um bom resultado vai com certeza falar em “derrota do governo”. Esta é uma aposta errada por duas razões. A primeira é que o descontentamento popular talvez seja mais aparente do que real, principalmente entre a população residente em Lisboa. Talvez o tiiro lhes saia pela culatra. Independentemente dessa circunstância, e mais importante ainda: estas são eleições locais, que nunca devem ser confundidas com eleições nacionais. É perfeitamente possível (e muito frequente) votar-se na CDU nas eleições autárquicas e apoiar-se, pelo menos na generalidade, as políticas no governo.
Vou votar na CDU e espero que tenham um bom resultado mas, no caso de este não ser atingido (ou seja, se pelo menos não se mantiver a vereação actual), a culpa será só do PCP e da sua estratégia.
2007/07/10
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6 comentários:
Ó Filipe,
então passas a a vida a dizer que não és de extrema-esquerda, reclamando constantemente com os insurgentes que te apelidam de tal forma..., e agora anuncias que vais votar no Partido Comunista?
Penso que começo a perceber melhor porque é que me consideras um perigoso neo-liberal de direita.
LA-C
O PCP nunca foi extrema esquerda, Luís. Até o João Braga já votou no PCP. De qualquer maneira eu não voto sempre no PCP e nem sigo a agenda deste partido. Basta lerem-me para concluirem isso. Se lessem o que escrevo antes de me porem rótulos fariam melhor.
É bom que vás percebendo algumas coisas... Já agora, em quem costumas votar?
No outro dia não te cheguei a dizer que hoje em dia gostaria de saber muito mais de economia.
"O PCP nunca foi extrema esquerda, Luís."
Desculpa lá, mas o que entendes por extrema esquerda? Tás doido? Este é o único partido português que revela simpatia pelo regime cubano, pelo regime coreano e que serviu de lança ao PCUS.
"É bom que vás percebendo algumas coisas..."
Sim, hoje fiquei a perceber que um partido que tem a revolução nos seus estatutos, que tem o Marxismo lennismo nos seus estatutos, que defendeu as nacionalizações até ao fim, que apoia o regime cubano, o coreano e que anseia pelo regresso da Uninão Soviética, não é, nem nunca foi, de extrema-esquerda. Tens mesmo a certeza de que sou eu que preciso de entender algumas coisas?
Mas, e penso que finalmente estamos de acordo, se o PCP não é de extrema-esquerda, então deves pensar que é apenas de esquerda. E nesse caso estou de acordo contigo. Eu não sou de esquerda, eu recuso-me a querer uma ditadura para o meu país. Daqui para a frente, sempre que me acusares de não ser de esquerda eu sei que tal é sinónimo de me acusares de ser democrata, e como tal considerarei isso um elogio.
"É bom que vás percebendo algumas coisas... Já agora, em quem costumas votar?"
Não penso que seja correcto da tua parte fazeres perguntas destas sobre um assunto que é privado, e por algum motivo se diz que o voto é secreto.
De qq forma, e para não fugir à pergunta, nas presidenciais votei, como foi público, no Alegre. Em eleições legislativas e autárticas, o voto foi-se dividindo entre o BE (quando era mais jovem), o PS e agora tem andado branquinho.
Leninismo, união, autárquicas e outras gralhas.
Luís, vamos por partes.
O PCP historicamente nunca representou a extrema esquerda em Portugal. Esse sector foi representado por alguns dos partidos que vieram a dar origem ao partido em que votaste quando eras mais "jovem" (bolas, somos da mesma idade). O grave é que o PCP historicamente ganhou a reputação por atitudes e ocorrências que não lhe podem ser imputadas. Muitos membros do PS, incluindo membros do actual governo, poderão corroborar o que digo. Se há coisa que me irrita é a superioridade com que certos senhores desse partido, que ainda hoje não têm lições de democracia nenhumas a dar ao PCP, falam em relação a este partido!
Significa isto que eu concorde com a generalidade das posições do PCP, especialmente em política internacional? Claro que não. Tu, que és meu leitor regular, facilmente podes confirmar isso. Para afirmar o contrário, desculpa mas é preciso cegueira ou má-fé. Agora creio que o problema do PCP não é estar "demasiado à esquerda" (apesar de se situar à minha esquerda, atenção). O problema do PCP é estar parado no tempo. E isto só o tempo resolve.
Nada disto é relevante para umas eleições autárquicas, onde o PCP costuma ter votações superiores. Se visses as pessoas que vão votar na CDU, gostaria de ver se lhes chamavas "extrema esquerda". É claro que a classificação de "extrema esquerda" é subjectiva. Podes chamar-me de "extrema esquerda", se quiseres, mas não te esqueças por favor de dizeres o motivo: consideras-me de extrema esquerda porque voto no Rúben de Carvalho numas eleições autárquicas.
Quanto a ti, não creio alguma vez ter-te chamado alguma coisa. E isto porque não posso. Deixa-me chamar-te algo pela primeira vez. És um tipo que nunca toma posições claras e que parece nunca se querer comprometer com nada. A única coisa que eu te vejo fazer é criticares as posições de outros, sejam as minhas ou do João Miranda. Quando te vejo tomares posições, como no caso dos impostos, parece-me ser mais por provocação do quie por outra coisa. Não sei onde queres chegar. Esquerda, para mim, está associada à igualdade, tal como a direita está à liberdade individual. Ambas podem ser democráticas ou ditatoriais. Não me lembro de ter lido alguma coisa de esquerda escrita por ti, Luís. Se puderes mostra-ma. E isto não tem nada a ver com querer uma ditadura para Portugal, que não quero e a maior parte das pessoas de esquerda não quer. Se julgas que é isto que está em causa, então não vale a pena conversarmos.
Quanto ao PCP ser ou não de extrema-esquerda, não me parece que seja possível tu mudares de opinião. Como para mim também não, não vale a pena continuar essa parte da discussão. Penso que tudo tem a ver com o referencial que se toma como centro e, para ser sincero, nem me parece que nos dias de hoje a distinção esquerda direita seja a mais relevante.
"Nada disto é relevante para umas eleições autárquicas,"
Claro que é. A política de imigração não está em causa nas eleições autárquicas, mas ao se votar naquele partido fascista merdoso, está-se-lhe a dar força que pode ser capitalizada a nível nacional. Também não está em causa o regime republicano nestas eleições, mas se o Partido monárquico tivesse a maioria dos votos isto daria uma visibilidade maior à causa monárquica.
Isto é, parece-me, bastante claro, e o PCP percebe-o bem (como, de resto costuma perceber). Por isso o PCP nunca se esquece de referir a relevância nacional deste tipo de eleições.
"És um tipo que nunca toma posições claras"
Queres que eu tome posições claras sobre o quê? Faz perguntas directamente, que quando eu tiver uma resposta, respondo.
Sobre imigração? Penso que devias ter as fronteiras mais abertas e penso que deveria ser mais fácil obter a nacionalidade portuguesa e penso que quem nasça cá deve ser português (independentemente de os pais serem imigrantes legais ou ilegais).
Sobre a legalização do aborto? As minhas posições foram públicas.
Sobre o Ensino? Deve ser assegurado pelo Estado a toda a gente. (quanto à forma é que pode ser diferente, podendo ser via cheque-ensino, mas não vale a pena tomar posição sobre o assunto, quando há experiências a decorrer noutros países, aguardemos para ver como correm).
SMO? Sou contra.
Controlo de preços, em mercados que funcionam mais ou menos bem? Sou contra.
Privatização da REN (electricidade)? Sou contra, vai-se substituir um monopólio do Estado por um privado, com consequências potencialmente desastrosas.
Enfim, por aí fora, é um pouco difícil falar em seco. Pergunta o que quiseres que se for de resposta curta eu respondo (desde que tenha opinião formada, claro).
LA-C
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