2007/07/02

A não perder

Do enviesamento ao princípio da incerteza, pelo Tiago Mendes no Cinco Dias. Deveria ser lido com atenção especialmente no Centro de Estudos Sociais.
Já mais antigo, mas mesmo muito bom: Para que serve a Matemática?, por Jorge Buescu no De Rerum Natura.

14 comentários:

pjv disse...

caro felipe espero que o facto de teres linkado o CES seja indicativo de que conheces bem o trablho cientifico realizado naquele espaço...
de resto quando ao debate em questão no cinco dias... é isso uma debate!

Filipe Moura disse...

Paulo, confesso-te que eu é que já não tenho paciência para este tipo de debates. A ignorância de conceitos de física básica é atroz - será que a Anabela Rocha sabe que o conceito de incerteza inerente a cada medição já existe desde o tempo dos dinossauros? E falam como se soubessem tudo. Depois não querem que pensemos que as ciências sociais são uma leviandade! A falar de ciências naturais, pelo menos a maior parte das vezes são!

pjv disse...

a verdade que me parece é que classificar as ciências sociais de leviandade é sim uma atitude leviana! pois...

Filipe Moura disse...

Paulo, não foi bem isso que eu afirmei. Lê bem o que escrevi.

pjv disse...

Depois não querem que pensemos que as ciências sociais são uma leviandade! A falar de ciências naturais, pelo menos a maior parte das vezes são!
esta é a tua frase... a questão parece que nao é com a ciencias sociais no geral... talvez só com os chamados 'estudos sociais da ciência' um área interdisciplinar que tem trabalhado na construção social do conhecimento científico... talvez problema este ai... todo o conheccimento - e também o científico - é conhecimento social e cultural!

Unknown disse...

[todo o conheccimento - e também o científico - é conhecimento social e cultural]

Interssante..desconhecia que a lei da gravidade tem variantes culturais e sociais. Estava convencidíssimo que os objectos caíam da mesma maneira entre os americanos e entre os massai.
Pelos vistos não..

JV disse...

A simples ideia de superar a distinção entre ciências naturais e ciências sociais é uma coisa do outro mundo. Então quando se fala que essa superação ocorre sob a égide das ciências sociais, isto é, que os fenómenos naturais sejam estudados como se fossem fenómenos sociais, em vez do inverso, estamos perante a maior heresia de todos os tempos.
A verdade é que BSS só pelo facto de proferir tais heresias merece ficar na História do pensamento.

JV disse...

A ciência pós-moderna é uma ciência analógica que conhece o que conhece pior através do que conhece melhor. BSS refere que a analogia lúdica, a analogia dramática bem como a analogia biográfica, figurarão entre as categorias geradoras do paradigma emergente. Ou seja, não virá longe o dia em que a física nos fale do jogo entre as partículas ou a biologia nos fale do teatro molecular, por exemplo.
E chegamos assim à segunda tese do conhecimento científico pós-moderno.Todo o conhecimento é local e total.

Lindo. Diga-se o que se disser isto é muito bonito.

Luís Aguiar-Conraria disse...

"Paulo, confesso-te que eu é que já não tenho paciência para este tipo de debates. A ignorância de conceitos de física básica é atroz "

Imagino que seja verdade. Assim, penso que imaginas o que a malta de Economia e de outras ciências sociais pensa de Físicos a falar de Economia ou Sociologia.

Por exemplo, imagina que de repente descubro um doutorado em Física a dizer que os preços de alguns bens devem ser fixados pelo Estado. Que é que se pode dizer? Parafraseando-te, diria que ´a ignorância de conceitos de economia básica é atroz`.

A basear-me em tal frase, diria que tal Físico com certeza que acredita que o universo não tem mais de 10 000 anos. Mas, obviamente, se o fizesse estaria a dizer um disparate. Afinal, faz algum sentido avaliar os conhecimentos que alguém tem na Física com base na sua ignorância de conhecimentos económicos? Penso que não.

Pela mesma ordem de razões, será absurdo acusar os cientistas sociais de leviandade só porque os seus conhecimentos de Física são fracos.

Apesar de tudo, noto a tua indisponibilidade para responder a quem te questiona. Já os Economistas, e outros cientistas sociais, são muito mais abertos e democráticos, disponibilizando-se, com bastante frequência para debater com pessoas que defendem teses em Economia que são tão disparatadas como as teses criacionistas em Biologia.

Filipe Moura disse...

Luís, as ciências naturais têm algo que a economia não tem, que é o confronto experimental: a possibilidade de realizar experiências, a descirção de resultados independente do observador. Por isso é muito mais fácil dizer que alguém está errado em física que em economia. Õ que não quer dizer que em economia seja impossível... Mas será que dá para explicares de forma simples sob que pressupostos científicos é que a fixação de preços pelo Estado é "errada"?

Luís Aguiar-Conraria disse...

"Mas será que dá para explicares de forma simples sob que pressupostos científicos é que a fixação de preços pelo Estado é "errada"?"

Melhor do que eu, dirijo-te a Adam Smith e ao seu livro a Riqueza das Nacoes. E' um livro que data de 1776. Sera' talvez o primeiro tratado de Economia da historia. Existe traduzido em portugues, numa publicacao da Gulbenkian. E' bastante baratinho e a traducao e' excelente.

Filipe Moura disse...

Vou tomar nota da tua sugestão, Luís, mas queria que fosses tu a explicar-me isso, como economista, com as tuas próprias palavras. Se era para me mandares ler alguém, eu também te posso recomendar o Marx...

Luís Aguiar-Conraria disse...

Caro Filipe,
Se me mandasses ler Marx, responder-te-ia, naturalmente, que já tinha lido, e com o qual aprendi imenso. Vê lá que até tenho um artigo aceite para publicação numa revista científica sobre um modelo marxista do Ciclo Económico. Conheço bem a literatura de Economia radical, e conheço melhor a de esquerda do que a de direita, ou não tivesse o Francisco Louçã sido meu (excelente) orientador de mestrado.

Mas tens razão, não respondi a uma pergunta directa da tua parte, sobre qual o pressuposto necessário para que os preços fixos fossem um mal: O pressuposto essencial é que as trocas são voluntárias, ou seja que nenhum polícia te obriga, de arma em punho, a comprar um bem que não queres comprar ou a produzir e vender um bem que não queres produzir.

De qualquer forma, o objectivo do meu comentário não era dizer que sei mais Economia do que tu, isso era tão ridículo como tu deixares um comentário no meu blogue a dizeres que sabes mais Física do que eu. Mal de nós se depois de termos completado os nossos doutoramentos não soubéssemos mais sobre a nossa área do que a generalidade das pessoas.

O meu objectivo era dizer que não podemos avaliar a seriedade dos cientistas sócias pelos disparates que dizem sobre Física. Especialmente porque o ensino em Portugal é tão mau. Eu, por exemplo, no liceu nunca estudei a relatividade e a relatividade geral, quanto mas estudar a Física Quântica! Tudo o que sei sobre esses assuntos foi a título de curiosidade pessoal, com a ajuda de alguns livros de divulgação científica (facilitado, naturalmente, pelos meus conhecimentos de matemática). E a verdade é que muito provavelmente tu nunca tiveste uma disciplina no liceu sobre actividade económica (e se a tivesses tido provavelmente teria sido muito mal dada).

Luís Aguiar-Conraria disse...

Correcção: “não podemos avaliar a seriedade dos cientistas sociais pelos disparates que dizem sobre Física.”

Já agora, comecei agora a estudar, por motivos profissionais, o princípio da incerteza de Heisenberg. Aquela desigualdade é, de facto, extraordinária.
Bem, tenho de ir. Por estes dias a destreza das dúvidas tem andado apagada, por excesso de outros trabalhos. Mas daqui a uma semana ou duas voltará à actividade. Vai passando por lá, que gostamos de te lá ter, independentemente das nossas trocas de palavras mais ou menos agrestes, mas sempre amistosas.