Foi um jornal do Minho quem melhor relatou o que se passou neste fim de semana, mas infelizmente só no final do Simpósio da ANICT. Mesmo assim, muito melhor que todos os outros jornais que li.
Ciência: Ciência em Portugal depende de a população continuar a acreditar nos investigadores - ministro
O ministro da Ciência e Tecnologia considerou ontem que a questão mais 'crítica' para a política científica de Portugal no futuro é que a população portuguesa continue a acreditar no que faz a comunidade científica.
'Estes últimos vinte anos de desenvolvimento científico português - que são únicos em toda a Europa - têm uma fonte, que é a convicção da população portuguesa, com índices de escolaridade baixíssimos, de que aquilo que os cientistas estão a fazer é bom', disse ontem Mariano Gago num simpósio em Lisboa de investigadores científicos.
'Esta relação de proximidade entre cientistas e não-cientistas é a questão mais crítica que temos para a política científica para os anos que vêm. Dela depende tudo, haver políticas científicas progressivas ou haver políticas económicas que digam 'vamos dar dinheiro à ciência e cortar em tudo o resto'', sublinhou o ministro.
O mesmo responsável considerou paradigmáticos da 'generosidade social' dos portugueses face à ciência os inquéritos europeus feitos à população.
'Os inquéritos europeus feitos em Portugal diziam esta coisa extraordinária: 'está de acordo que parte dos seus impostos seja entregue à investigação científica em áreas cuja aplicação se desconhece ou pode nunca existir?'. E a resposta em Portugal foi sistematicamente maioritária, mais de 50 por cento', recordou Mariano Gago.
Sem esta 'generosidade social, não haveria cientistas em Portugal, nem ciência em Portugal, nem teria havido este desenvol vimento', concluiu.
Para o ministro, 'se houvesse dúvidas na população portuguesa, não haveria política que valesse', pois nenhum governo 'iria apostar numa coisa em que ninguém acredita havendo tantas dificuldades, tantas necessidades de investimento noutras áreas'.
Já sobre a atitude dos próprios investigadores, Mariano Gago recordou que têm a obrigação de 'não acreditar', 'exigir provas', porque 'isso é que é boa ciência'.
Mariano Gago também lembrou aos muitos investigadores portugueses e estrangeiros presentes na sala a alta percentagem de mulheres na comunidade científica em Portugal.
'Foi o facto de haver uma consciência social - um período em que as famílias queriam que os seus filhos se educassem, em que as mulheres entravam no mercado de trabalho maciçamente, em que as mães disseram às filhas que tinham de ser independentes e que tinham de estudar - foi este período pós-25 de Abril em Portugal, e que dura até hoje, que faz com que tenhamos esta coisa extraordinária de ter 44 por cento de mulheres no meio científico', referiu o ministro.
'Isto não acontece em mais lado nenhum', frisou.
Mariano Gago falava na sessão de encerramento do primeiro Simpósio Nacional da Associação Nacional de Investigadores em Ciência e Tecnologia (ANICT), que reuniu ontem em Lisboa vários oradores especialistas e representantes de empresas ligadas à investigação.
2010/05/11
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