2008/09/08

Os snipers no BES e nas FARC

Regressando de viagem verifico que pelo Blasfémias pouco mudou.
João Miranda continua entretido com as suas teses libertárias, mas não percebo como pode falar em “presunção de inocência” (neste caso necessariamente do falecido assaltante) num crime que era flagrante e que estava a ser transmitido em directo pela TV. Se a polícia tivesse que pressupor sempre inocência, nunca poderia actuar e mais valia acabar com ela. No fundo, segundo a lógica habitual de Miranda milícias privadas não custariam dinheiro ao contribuinte.
Mas ocorreu-me uma comparação interessante entre o assaltante do BEs e o membro das FARC assassinado no resgate de Ingrid Betancourt e outros reféns das FARC. Este último resgate teve o júbilo merecido e justificado da maioria da blogosfera portuguesa (o meu incluído). No entanto, e embora este motivo não seja suficiente para eu lamentar a operação, tenho pena de que tenha havido uma baixa, de um guerrilheiro das FARC. Embora não defenda nem um bocadinho procedimentos das FARC (apesar de achar que existem justas razões de queixa contra o governo colombiano), aqui admito que tive pena de que aquele homem tinha morrido. E tive pena por várias razões: ele não era um dos comandos principais das FARC e, sobretudo, teve azar – estava no momento errado na hora errada.
Ao contrário do assaltante do BES, que em conjunto com o seu colega era totalmente responsável pelo que se estava a passar e deveria saber os riscos que corria, ainda assim tomando a decisão de manter o rapto e não se render, quando teve oportunidades para isso. O guerrilheiro das FARC está certo que se juntou à organização por escolha sua, e um pouco responsável seria sempre, mas não era de longe o único responsável por aquela situação. Não sabemos se teve oportunidade de se render no acto do resgate. E não há dúvida de que, em vez dele, poderia ter sido outro qualquer a morrer, pelo que evidentemente teve azar. Eu tive pena dele.
Cronistas como Ferreira Fernandes dedicaram uma crónica inteira a dizer que a morte do guerrilheiro das FARC foi justa e valeu a pena. Mas coerentemente Ferreira Fernandes também defendeu a morte do assaltante do BES.
O resgate de Ingrid Betancourt foi efusivamente comemorado no Blasfémias, onde João Miranda continua a lamentar a morte do assaltante do BES por parte da polícia do Estado. Por que razão não lamentou então João Miranda a morte do combatente das FARC?

1 comentário:

MFerrer disse...

O JM está em campanha contra a autoridade do Estado e o seu exercício.
Quer-nos fazer crer que as acções contra-terroristas e, ou, contra assaltantes com refens ( qual a diferença?),deviam ser precedidas de um largo debate público e dois referendos, pelo menos!
Mais, tinham que ser julgados e condenados e como não há por cá pena de morte...a conclusão fácil é de que os snipers deviam ser despedidos e condenados por crime de assassinato.
Valha-o Deus!Que grande confusão.
Quer dizer, o JM não atenta ao estado de necessidade, nem à recusa do diálogo com a polícia, nem sequer ao risco de vida dos refens. Não. O JM só está preocupado com o uso da força contra perigosos assaltantes.
E, pq lhe não convém ao argumentário, nem refere que um dos assaltantes teve a sorte de sobreviver aos tiros dos snipers e da polícia que o poderia ter morto á posteriori, sem que daí viesse qq problema. E que o facto de ter sobrevivido, dá toda a razão ao uso da força num caso em que era necessário e indispensável livrar refens inocentes e retirá-los do perigo de morte que corriam.
Este era o seu "estado de necessidade" a que o Estado deve prover protecção!
O sobrevivo pode agora agradecer poder ser julgado e condenado, como queria o JM!
MFerrer