2008/12/04

Graus Celsius e graus Fahrenheit

Mais uma carta minha ao Provedor dos Leitores do DN:

Exmo. senhor provedor,
o que me leva a escrever-lhe é a notícia de ciência publicada na edição de 19 de Novembro: "Vapor de água acelera aquecimento global"
Nos créditos aparecem as iniciais I.P., e percebe-se que é uma notícia fortemente baseada numa nota de imprensa estrangeira, como se vê aqui ou aqui, com os principais factos seleccionados. Tudo isto é perfeitamente legítimo, uma vez que - facto importante - a fonte original (o artigo da Science Daily que referi) é citado. O facto de certas partes do artigo do DN parecerem transcritas do original é praticamente inevitável, tratando-se de uma notícia científica baseada em depoimentos e informações de carácter técnico, que é difícil escrever de outra maneira. Não se trata a meu ver de nenhum caso de plágio.
Mesmo assim, merece reparo a forma pouco cuidadosa como a notícia é transcrita, nomeadamente a parte "Em termos específicos, se a Terra aquecer 1,8 graus Fahrenheit, o aumento associado em vapor de água criará um aprisionamento extra de dois watts por metro quadrado." Façamos um cálculo simples. 0 graus Celsius são 32 graus Fahrenheit; 100 graus Celsius são 212 graus Fahrenheit (aprende-se na escola e vê-se facilmente após pesquisa na rede). Portanto, uma diferença de 180 graus Fahrenheit corresponde a 100 graus Celsius, ou seja, um aquecimento de 1,8 graus Fahrenheit corresponde a um aumento de um grau daqueles da escala que os leitores do DN usam todos os dias. É ridículo que um grau "de todos os dias" venha indicado no DN como "1,8 graus Fahrenheit". Tanto mais que a notificação original viria com certeza em graus Celsius (em Física usa-se a escala Kelvin, cuja variação é idêntica à de Celsius); a adaptação para graus Fahrenheit destinava-se à imprensa americana. Não há absolutamente nada de errado em (algum) jornalismo científico basear-se nas "press releases" internacionais (bem pelo contrário), mas há que saber adaptá-las de modo a serem legíveis pelo leitor comum português.
Apesar deste reparo, é com agrado que noto (e é justo fazê-lo) que a ciência tem merecido ultimamente uma maior atenção nas páginas do DN. Espero que esta atenção continue.

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