Nambu foi galardoado pela aplicação da quebra espontânea de simetria à física teórica de partículas. Ora o melhor exemplo de aplicação da quebra espontânea de simetria neste campo reside no mecanismo de Higgs, em que as partículas adquirem massa através da presença do célebre bosão anónimo. Faria mais sentido atribuir-se o nobel a Nambu depois da descoberta do bosão de Higgs. Mas não “a propósito” do bosão de Higgs: se este for descoberto, há pelo menos seis físicos teóricos candidatos a receberem o nobel pelo mecanismo “de Higgs”, assim baptizado por ‘t Hooft: Higgs e mais cinco. Quando as regras do nobel só permitem três premiados em cada ano. Acrescentar-lhes Nambu aumentaria a confusão.
Isto se se descobrir o bosão de Higgs: se este nunca for descoberto, tal representa uma severa machadada na “quebra espontânea de simetria em física de partículas” (não noutros campos da física). A quebra espontânea de simetria é um fenómeno fascinante; porém, estritamente em física de partículas nunca foi observada em simetrias exactas, de gauge (no caso da simetria electrofraca tal constituiria o mecanismo de Higgs).
Desta forma, este prémio Nobel pode parecer um pouco prematuro. A não ser que se queira premiar a quebra espontânea de simetria nos casos em que esta é realmente verificada: em simetrias globais (que não são de gauge), aproximadas. Mas aí é também, naturalmente, um fenómeno aproximado. Se for este o caso (presumo que sim) parece-me óptimo, com dois reparos importantes.
É injusto premiar Nambu e não premiar Goldstone, que previu as partículas sem massa que se formam nesta situação (os justamente chamados bosões de Nambu-Goldstone, e que nas situações aproximadas de que eu falei correspondem a partículas de massa muito pequena, os piões). É portanto a segunda grande injustiça que se comete com este Nobel (em conjunto com Cabibbo). Este Nobel deveria, portanto, ter sido dividido em dois, um agora e outro noutro ano (até pela diferença nos temas).
Ao antecipar-se a atribuição deste prémio, está-se a reconhecer a importância desta ideia, mesmo que ela não se venha a verificar em toda a sua plenitude. Tal facto abre um precedente na história do Nobel da Física, e poderá dar origem a que venham a ser atribuídos prémios a ideias com origem nas teorias de supercordas (mesmo que estas não se venham a confirmar) e que tiveram aplicações para além destas teorias. Há vários exemplos: diversos tipos de dualidades, a holografia, a correspondência AdS/CFT... Nem de propósito, Nambu foi um dos grandes percursores da teoria de cordas (com a acção de Nambu-Goto). É o segundo prémio Nobel dado a um físico que trabalha ou trabalhou em teorias de cordas (depois de David Gross em 2004). A quem critica a teoria de cordas por criticar muitas vezes faria bem estudá-la um pouco...
Para ler mais: The Reference Frame e Cosmic Variance (aqui e aqui).
2008/10/10
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