2007/07/13
No mundo ficcional da direita "liberal"
Admiti aqui que votarei na CDU no domingo. De acordo com estes senhores (e o seu habitual compagnon de route Luís Aguiar-Conraria), tal voto implica que eu quero "instaurar uma ditadura comunista" em Portugal. Certamente as dezenas de câmaras da CDU, de Peniche ao Alentejo, de Setúbal à Marinha Grande, vivem numa "ditadura comunista". Os doze anos em que a CDU partilhou a gestão autárquica de Lisboa (e que foram os melhores anos recentes da capital portuguesa) foram anos... de ditadura comunista. Agira já sabem. Agradeçam-lhes por vos avisarem. É melhor não os contrariar.
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6 comentários:
Engraçado como estávamos a trocar uns comentários cordiais, nos quais até me disseste que nunca me tinhas etiquetado (porque eu nunca tomava posições claras sobre nada) e agora, a pretexto de um post do AAA, já me etiquetas “compagnon de route”. Isto depois de eu me ter disponibilizado para esclarecer as posições sobre qualquer assunto. Mas pronto, sou “compagnon de route” do AAA. Já estou a imaginar o AAA a participar em marchas a defender os direitos dos homossexuais ao casamento, e o direito das crianças a serem adoptados por homossexuais. Imagino o AAA, a meu lado, a combater por uma política de portas abertas a respeito da imigração. Será também interessante ver o AAA preocupado com a redistribuição do rendimento via impostos, para não falar no aumento do investimento do Estado na Educação.
Bem, deixemo-nos de tretas, e voltemos ao nosso assunto inicial. E o assunto inicial era saber se o PCP era um partido de extrema-esquerda ou não. O PCP é, lembremos, o único partido português (relevante, naturalmente que não me interessam as posições do POUS, ou afins) que apoio o regime cubano. Que para condenar o massacre de Tiananmen… teve de o fazer com pinças para não ofender os camaradas chineses. É um partido a quem nunca se ouviu uma crítica à Coreia do Norte. É um partido que votou contra a alteração na constituição que permitiu que as empresas nacionalizadas fossem re-privatizadas. Sinceramente, se não é de extrema-esquerda, então o que entendes por extrema-esquerda? Mas tudo bem, ‘for the sake of argument’. O PCP é um partido de esquerda. Apenas e sem extremos.
Não me parece que eu tenha dito que o teu voto implica que tu queiras instaurar uma ditadura comunista. O que eu disse foi que o teu voto contribui para reforçar um partido que, se dependesse dele, gostaria de aqui ter uma ditadura. Tal como se alguém votar naquele medroso partido fascista (o PNR), o mais provável é que vote por ignorância, por medo do desemprego e outras coisas do género. Agora, e isto parece-me ser um dado histórico que não podes contestar, os regimes comunistas foram pelo menos tão ditatoriais e sanguinários como os fascistas. Não vejo porque pode haver votos de boa-vontade nos comunistas (votos como o teu, que ninguém duvida que não quer uma ditadura instaurada no país) e não possa haver votos do mesmo género no outro extremo. O argumento das câmaras que vivem sobre ditadura comunista não colhe porque ninguém disse isso. E não colhe porque se o PNR ganhasse a câmara de Cantanhede, Cantanhede não passaria a vier numa ditadura fascista (obviamente), tal como se o Partido Monárquico ganhar em Lisboa, nem o país nem Lisboa deixa de ter um regime republicano. Vê lá que até já tivemos uma partido de extrema-direita no governo da Áustria e nem assim a Áustria deixou de ser uma democracia. Agora, e aqui penso que tens de concordar, um voto (ou muitos, melhor dizendo) em partidos não democráticos dá-lhes força. A questão é saber o que fariam se lhes dessem força suficiente.
E agora pergunto. Há algum país onde um Partido Comunista tenha chegado ao poder (por mais do que 3 ou 4 anos, claro) e que não se tenha tornado numa ditadura? E, presumindo que não haja (ou que a haver, serão raríssimos os exemplos) por que pensas que em Portugal seria diferente?
Estamos a falar de um partido que servia de lança do PCUS na Europa, que apoio a invasão soviética à Checoslováquia, um partido que tinha os seus dirigentes entre os mais importantes dirigentes da Internacional Socialista, um partido cujos dirigentes ansiaram pela reinstaurarão da ditadura na Rússia (isto em plenos anos 90), um partido que tem um líder parlamentar a afirmar que não sabe se a Coreia do Norte não é uma democracia, um partido que recebe as FARC, e as apoia, na sua festa anual… enfim, muito mais poderia ser dito; mas concluo, repetindo, a pergunta o que te faz pensar que em Portugal seria diferente?
LA-C
P.S. Filipe, tenho feito comentários aos teus post nos últimos dias, e penso fui sempre delicado e pertinente. Agradecia que destas vez me respondesses mais a sério, evitando ironias espúrias, e não pondo palavras que eu não disse na minha boca. E por favor, se te for possível, não me coles aos insurgentes. Esse argumento está gasto, toda a gente sabe o que nos une (o liberalismo económico) e o que nos separa (o liberalismo social e as preocupações com a redistribuição e com as políticas sóciais).
È óbvio que o PCP é a extrema-esquerda em Portugal. É obvio que as dezenas de câmaras da CDU, de Peniche ao Alentejo, de Setúbal à Marinha Grande, não vivem numa "ditadura comunista". È óbvio que, em termos ideológicos, LA-C nada tem a ver com AAA.
Embora seja um facto histórico indesmentível que os regimes comunistas foram pelo menos tão ditatoriais e sanguinários como os fascistas, não acredito que o PCP de hoje gostasse de ter aqui uma ditadura.
"Já estou a imaginar o AAA a participar em marchas a defender os direitos dos homossexuais ao casamento, e o direito das crianças a serem adoptados por homossexuais."
Esta é uma causa que pode perfeitamente ser abraçada por pessoas de direita.
Gostava de te ver dizer alguma coisa sobre a redistribuição de riqueza. Isso para mim é que é esquerda. É por isso que eu escrevi que nunca li nada de esquerda escrito por ti. A redistribuição de riqueza não é muito liberal, e por isso custa-me a conceber a ideia de um liberal de esquerda.
"Será também interessante ver o AAA preocupado com a redistribuição do rendimento via impostos."
Aqui não sou economista, mas o que escreves sobre este assunto não me parece particularmente de esquerda. A malta do Ladrões de Bicicletas (e lá há bons economistas) encarregou-se de o demonstrar.
Quanto ao PCP, é evidente que sociologicamente não é de extrema esquerda. Em alguns aspectos é bem conservador.
Luís, desculpa o meu "mau feitio" no meu último post. Estou com uma amigdalite de último grau, e amanhã depois de votar no Ruben parto para Madrid para um congresso. Imagina a minha disposição. Era bom que trocássemos umas ideias sobre este assunto um dia, quiçá pessoalmente. Por favor não fiques aborrecido comigo.
Um abraço.
“Aqui não sou economista, mas o que escreves sobre este assunto não me parece particularmente de esquerda. A malta do Ladrões de Bicicletas (e lá há bons economistas) encarregou-se de o demonstrar.”
Muito pelo contrário, nada demonstraram porque nem sequer argumentaram. Limitaram-se a catalogar-me. Peço-te que vás ler os posts deles e indiques um (um só!) argumento que eles tenham dado sobre o assunto. Eles adivinharam, quais bruxos, as minhas intenções em vez de lerem o texto. Se se tivessem dado ao trabalho de ler o artigo teriam percebido o absurdo do que escreveram.
A minha proposta sobre o sistema fiscal tinha duas componentes: uma taxa de imposto única e um subsídio de valor único dado a toda a gente. Para simplificar a análise, pressupõe que a taxa de imposto única era sobre os rendimentos (e não sobre o consumo, como na altura referi no artigo, a distinção pode parecer importante mas, de facto, não é como qualquer macroeconomista moderno sabe). Não custa muito perceber, que o que defendi dá margem quer a políticas de esquerda quer de direita. Vê estes dois extremos:
1) Imposto baixo sobre toda a população (tipo 20%). Redistribuição nula, ou seja taxa de subsídio 0%. O que é isto? Uma política de direita com redistribuição de riqueza nula.
2) Taxa de imposto de 100% sobre todo o rendimento. Todos os impostos (depois de descontado as despesas de funcionamento do estado) eram dados de volta sobre a forma subsídio de valor único dado a toda a gente. O que é isto? Uma política fiscal de absoluto igualitarismo. (Mais de esquerda, só se levarmos os capitalistas para o Campo Pequeno, como queria o Otelo.)
Os dois exemplos são extremos, obviamente, mas ilustram bem que a proposta fiscal que eu fiz não pode ser, sem mais, catalogada como sendo de esquerda ou de direita. Tudo depende das taxas escolhidas, e com certeza que num sistema fiscal deste género o Bloco de Esquerda e o CDS escolheriam taxas diferentes (além de também terem opiniões diferentes sobre o tipo de despesas, provavelmente o Louçã não gastaria tanto dinheiro com submarinos).
Aquele artigo é um artigo de um Economista que apenas se limitou a demonstrar que o nosso sistema fiscal é absurdamente complicado e que seria possível simplificá-lo imenso sem pôr em causa a redistribuição que existe (e que é das mais ineficientes da União Europeia) e que podia ser bastante melhor (como também argumento no artigo)
Dizes que os ‘ladrões de bicicletas’ percebem de Economia. (Imagino que compreendas que a tua opinião sobre quem percebe de Economia tem o mesmo valor que a minha sobre quem percebe de Física.) De cinema percebem, com certeza, ou não teriam escolhido tal nome para o blogue. De Economia não sei se percebem ou não, mas se percebem…, para ser sincero, não parece. E também não me interessa, novamente sendo sincero, deixei de os ler quando tiveram a indelicadeza de me atacar sem argumentos e depois não tiveram a delicadeza de me responder quando fiz um post dedicado às suas tontices. Compare-se a atitude deles com o nível que Vital Moreira mostrou, argumentando e contra-argumentando).
“Por favor não fiques aborrecido comigo.”
De forma alguma!
Errata
Em vez de "De Economia não sei se percebem ou não, mas se percebem…, para ser sincero, não parece."
devia estar:
"De Economia não sei se percebem ou não, mas se percebem…, para ser sincero, não pareceu."
Continua o incompreensível direito de voto exclusivo em Lisboa dos residentes em Lisboa.
Sendo que residir em Lisboa é cada vez mais raro, como se sabe, relativamente ao número de pessoas que aí vivem todo o dia, porque aí trabalham, estudam, ou porque passam aí quase todo o seu tempo.
Todos aqueles que penam no IC19 ou na autoestrada Cascais-Lisboa ou na Ponte 25 de Abril, Vasco da Gama e afins passam o seu dia em Lisboa.
Muitas vezes mal conhecem o sítio onde vivem, desde os vizinhos a quem é o presidente da Câmara, para não falar no -- nunca soube quem é, nem de que partido é -- presidente da 'junta'.
No entanto, não votam em Lisboa.
A mesma Lisboa onde fazem tudo, onde gastam e ganham dinheiro, que conhecem melhor que o concelho onde vão dormir.
O que leva L. a pensar se os resultados eleitorais em Lisboa não serão injustos, errados e inúteis.
Pelo menos enquanto os universitários e restantes estudantes, e todos os que 'dormem' fora de Lisboa, que trabalham em Lisboa, aqueles cujo BI não diz Lisboa em 'residência', não votarem em Lisboa.
Porque vendo bem, são eles que vivem -- e que são -- a Capital.
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