2010/12/31
2010/12/24
2010/12/13
Volta ao bilhar grande
Sem poder ganhar títulos relevantes esta época (fora da Taça, e ninguém acredita no campeonato ou na Liga Europa), está na altura de José Eduardo Bettencourt ir pensando em cumprir a sua promessa. O treinador e o diretor para o futebol seguem-no, obviamente, mas tem que começar por cima.
2010/11/25
Elementos para a compreensão do 25 de Novembro
Excelente artigo publicado no Público há um ano atrás.
Contagem decrescente para uma guerra civil
Foram 20 dias alucinantes. O Governo mandou bombardear a Rádio Renascença. Os trabalhadores da construção civil sequestraram o Governo e a Assembleia. O Governo entrou em greve. Os líderes do PS, PSD e CDS fugiram para o Porto, porque ia ser criada a Comuna de Lisboa independente. Os pára-quedistas ocuparam as bases da Força Aérea. A guerra civil ia começar. A reconstituição hoje possível do 25 de Novembro de 1975, a partir de entrevistas com os principais intervenientes e dos livros que, para deixarem o seu testemunho para a História, alguns deles têm publicado. Por Paulo Moura
2010/11/16
Chegando a Vias de Facto
O meu texto Semântica no Trabalho originou uma discussão interessante no Vias de Facto, que eu vou tentar abordar de forma sintética.
A minha ideia era contrapor, ou mesmo refutar, uma tese do Miguel Madeira que me pareceu simplista. Não era apresentar uma tese nova, alternativa. O Miguel Madeira agarrou-se a uma tese que ele pelos vistos julga que eu defendi. Mas não o vi em lado nenhum defender a sua tese inicial, que eu critiquei.
Nos comentários ao texto do Miguel, Manuel Resende, tradutor e cultivador de cenouras que eu tive o prazer de conhecer no salão nobre do Hotel de Ville de Paris aqui há uns anos, perora sobre um futuro tecnológico onde desaparecerão os trabalhos desagradáveis como limpar as retretes. Intuo do texto do Manuel que não sou o único a urinar no pomar (no meu caso, da minha avó), mas para um pomar é uma coisa; para cima das cenouras (ou da salsa) é outra. (Eu sei, é o que fazem os animais selvagens, mas adiante.) E defecar, então, nem pensar (eu é que não queria andar num pomar com esse tipo de adubo não compostado). Isto é para dizer ao Manuel que podemos ser muito tecnológicos e dar excelentes aplicações aos nossos detritos: acho tudo isso ótimo. Mas enquanto não descobrirmos alternativas precisaremos sempre de retretes nas nossas casas e teremos que as limpar. O resto é ficção científica, género que nunca me agradou.
O cervejista Miguel Serras Pereira (este meu texto é tão palavroso e tem tantos links que até parece um dos dele) pega no comentário do Manuel Resende, num texto onde conclui várias coisas. Conclui (bem) que "a interiorização" de uma moral "seria o perfeito oposto da autonomia quer no plano colectivo, quer no da esfera individual" (as minhas objeções à autonomia irrestrita passam por aqui). E conclui (e eu discordo) que o comunismo "só é concebível em condições de abundância e disponibilidade de recursos rigorosamente ilimitadas". Pelo contrário, eu diria isso do autonomismo: só funcionaria em comunidades muito mais pequenas, com populações que não fossem forçadas a conviver e partilhar recursos quotidianamente, isto é, se houvesse muito menos população e menor consumo de recursos.
Disso mesmo se parece ter apercebido o Pedro Viana, que conclui que é necessário "educar para a autonomia e a frugalidade, o que é incompatível com a promoção da dependência e alienação nas actuais sociedades centradas no consumo", mas desde que exista um estado social que "assegure os mínimos". Ora se os mínimos têm de ser assegurados pelo estado é porque dele dependemos, não é? A autonomia e a independência morrem aqui. Por outro lado, concordo inteiramente com o Pedro ser necessário educar ("interiorizar uma moral", diria o Miguel Serras Pereira) para a frugalidade - escrevi isso aqui. A proibição total de publicidade é uma ideia gira, embora algo radical: o que pensaria dela o Luís Rainha?
Não consigo discutir com Zé Neves nem com alguém que chame "formulação cretina" à designação "esquerda cervejista". Não por me chamar cretino a mim; com insultos posso eu bem. Mas por chamar cretino ao Odorico Paraguaçu. Não consigo discutir com quem chama cretino ao Odorico: são demasiadas divergências ideológicas.
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Uma sugestão aos autonomistas
Na terça feira, enquanto estava encalhado no comboio em Vila Nova de Gaia, fui avançando na leitura do Guerra e Paz. (Na verdade eu li foi durante a viagem. Enquanto o comboio esteve parado em Gaia, fazendo-me perder duas ligações, eu não consegui ler nada, stressado que estava a protestar por mais um suicida ter tido a desconsideração de se atirar à linha de comboio, prejudicando a vida de quem queria ir trabalhar, quando tinha o rio Douro ali mesmo ao lado.) A páginas tantas (530, para ser exato), cheguei à seguinte passagem, que aqui transcrevo:
"A tradição bíblica ensina-nos que a felicidade do primeiro homem antes da queda consistia na ausência de trabalho, isto é, na ociosidade. O gosto da ociosidade manteve-se no homem réprobo, mas a maldição divina continua a pesar sobre ele, não só por ser obrigado a ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto, mas também porque a sua natureza moral o impede de encontrar satisfação na inactividade. Uma voz secreta diz ao homem que ele é culpado de se abandonar à preguiça. E, no entanto, se o homem pudesse achar um estado em que cumpria um dever, embora inactivo, esse estado viria a encontrar uma das condições da sua felicidade primitiva. Esta condição de ociosidade imposta e não censurável é aquela em que vive toda uma classe social, a dos militares. Em tal ociosidade está e estará o principal atractivo do serviço militar."Guerra e Paz é uma obra fundamental e Tolstoi é mesmo um génio, pois descobriu o que deveriam os autonomistas fazer: talvez devessem era ir todos para a tropa.
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2010/11/15
Sem ajudas
Ganhasse Webber ou Vettel, seria sempre a vitória da competição aberta contra o jogo de equipa. (Se ganhasse Alonso, a hipótese que eu menos queria, seria exatamente ao contrário.) Para a Ferrari foi uma derrota estrondosa: os resultados arranjados não disfarçaram enormes deficiências. Para a Fórmula 1 julgo que a vitória de Vettel é boa, como é bom que mais uma vez o campeonato só se tenha decidido na última corrida, e desta vez, algo inédito, com quatro potenciais vencedores. Parabéns à Red Bull e ao mais jovem campeão de sempre.
2010/11/02
A minha viagem de comboio
O comboio em que seguia ficou parado na Linha do Norte, em Gaia. Aparentemente mais uma pessoa se atirou à linha. Mais um suicida que não sabe tomar comprimidos, ou que decidiu desforrar-se do mundo atrapalhando a vida a uma série de cidadãos inocentes, atirando-se à linha quando tinha bem perto todo o rio Douro à sua disposição.
Mas será que até no suicídio não temos consideração pelos outros? Um alemão ou um holandês de certeza que não se suicidariam assim - teriam mais consideração pelo próximo. Em lugar de atrasarem a vida dos seus concidadãos, certamente escolheriam um processo que envolvesse menos danos. Sempre seria melhor que andar a atrasar a vida a uma série de cidadãos inocentes, atirando-se às linhas de comboio ou de metro.
Pensando só agora no comboio, poder-se-iam instalar vigias de forma a que as pessoas não se aproximassem das linhas.
Adenda: parece que afinal foi só um homem que decidiu atravessar a linha do comboio de qualquer maneira. Passámos por ele, após estarmos parados quase uma hora e eu ter perdido dois comboios. Estava a ser reanimado. Ainda bem. Espero que, quando finalmente o reanimarem, lhe dêem uma carga de porrada.
Adenda: parece que afinal foi só um homem que decidiu atravessar a linha do comboio de qualquer maneira. Passámos por ele, após estarmos parados quase uma hora e eu ter perdido dois comboios. Estava a ser reanimado. Ainda bem. Espero que, quando finalmente o reanimarem, lhe dêem uma carga de porrada.
2010/10/31
Os limites e as confusões do Nuno
Escreve o Nuno Ramos de Almeida:
“Um dos princípais passos no sentido de uma emancipação global é recusar os limites do pensável que a ideologia do capitalismo nos impõe. (...) Do meu ponto de vista, o erigir de reformas parciais como o alfa e omega de toda a política significa aceitar esses limites. Um verdadeiro partido socialista deve propor medidas que melhorem a vida das pessoas, mas não pode desistir da ideia de uma transformação radical da sociedade. A sua função principal é tornar essa transformação pensável e, como tal, possível.”
Nuno, nem todos os limites nos são impostos pela ideologia capitalista. Posso querer um moto-contínuo ou, mais ainda, uma máquina de produzir energia; posso querer que o calor flua naturalmente dos objetos mais frios para os mais quentes. Mas tal não me serve de nada, pois não os consigo obter. Não consigo obter tais máquinas, mas consigo pensar sobre elas. Como tal, evidentemente é falso que tudo o que seja pensável seja possível. Não é a ideologia capitalista a responsável por nada disto, mas a natureza que, ao contrário do que um teu muito histriónico colega defende, não é nenhuma construção social. E que nos impõe limites, esses sim intransponíveis.
No teu “ponto de vista” sobre as reformas parciais, não explicitas de que limites falas: se os naturais, se os impostos pelo capitalismo. Discordo de que aceitar reformas parciais seja aceitar os limites “do capitalismo” (embora concorde que seja aceitar limites não impostos pela natureza, que eu classificaria como éticos). O “socialismo científico” consiste em saber distinguir os diferentes tipos de limites. Pelo teu texto, é um conceito que pelos vistos tu deixaste cair. É pena. Assim, creio que não vais a lado nenhum.
2010/10/30
Se os recursos fossem ilimitados não precisaríamos da esquerda para nada
“Assumindo recursos infinitos, a economia continuará a crescer, em média, com mais ou menos crises pelo meio”, prevê candidamente o Ricardo Schiappa. “Quase todos nós tendemos a encarar a presente crise como uma breve pausa no processo de crescimento”, escreve naturalmente o João Pinto e Castro. Neste caso não me parece que seja isto que ele pensa, mas de qualquer maneira o que me incomoda é o “quase todos nós” que o João familiarmente escreve. “Quase todos nós” achamos que o crescimento não parará. Que é como quem diz que “quase todos nós” achamos que os recursos naturais são inesgotáveis. Estamos aqui a falar do setor primário: sem ele não há comida. Mas mesmo o setor terciário, o das “ideias”, das “oportunidades”, que contribuem para o crescimento económico e em teoria podem ser inesgotáveis, não o é na vida real.
Estes “quase todos nós” a que o João Pinto e Castro se refere somos nós, do hemisfério norte, que crescemos e vivemos habituados a uma economia do desperdício. Tal facto é particularmente notório nos EUA, mas também se verifica na Europa. Continuamos a conduzir estupidamente os nossos carros, mesmo em percursos de centenas de metros, mesmo em localidades bem servidas de transportes públicos, como se o petróleo fosse inesgotável e o espaço para circular e estacionar nas cidades fosse infinito (sem falar nos enormes prejuízos ecológicos, de que o aquecimento global é só um exemplo). Continuamos criminosamente a comer jaquinzinhos e petingas, sem nos preocuparmos se no futuro os nossos filhos poderão comer carapaus e sardinhas frescos, capturados no mar. E assim sucessivamente – os exemplos não são poucos.
Que as pessoas de direita pensem, erradamente, que os recursos são inesgotáveis, ainda compreendo. O que não consigo entender é que tal passe sequer pela cabeça de pessoas que se digam de esquerda. Marx, provavelmente o primeiro ecologista, apercebeu-se da finitude dos recursos, ou não teria escrito “O Capital”.
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2010/10/29
2010/10/18
Um homem à frente do seu tempo
Artigo de Marco Vaza, Público, 16-10-2010.
Malcolm Allison (1927-2010), o treinador que gostava de viver para lá do futebol Malcolm Allison não escondia de ninguém os charutos nem as garrafas de champanhe. “O champanhe é uma bebida boa, uma bebida limpa”, dizia. Não se importava que os jogadores bebessem, responsabilizava-os pelas suas atitudes, mas premiava-os se fossem vencedores. “Fomos a Paris fazer um jogo particular com o PSV, já depois de termos sido campeões e ter vencido a Taça”, recorda ao PÚBLICO Manuel Fernandes, avançado do Sporting que coincidiu com o técnico britânico em Alvalade em 1981/82, ano de muitas conquistas para o clube. “Depois do jantar, regressámos ao hotel às duas da manhã e eu perguntei-lhe: “A que horas temos de acordar amanhã?” Ele respondeu: “Hoje ninguém vai dormir, vamos para os copos em Paris. Já fomos campeões. Agora temos de nos divertir e conviver uns com os outros.” Regressámos às seis da manhã.” Morreu aos 83 anos o homem do chapéu, dos charutos e do champanhe. Da liberdade responsabilizada e dos métodos inovadores. “Era uma pessoa à inglesa. Para ele, liberdade era igual a responsabilidade. Criou-se essa imagem de uma pessoa anarca e irresponsável, mas era exactamente o contrário. E era igual para todos”, conta ao PÚBLICO António Oliveira, avançado do Sporting daquele tempo, a quem Allison chamava “Oli”. “Se tínhamos um treino à terça-feira, ele dizia: “Oli, vai ver a família, e vem só na quarta-feira.” Ele queria tirar partido da parte psicológica.” Nascido em Dartford a 5 de Setembro, Malcolm Alexander Allison, Big Mal, chumbou de propósito na escola para poder ir jogar futebol, chegando ao Charlton com 18 anos em 1945, depois de ter passado os últimos anos da guerra como moço de entregas para uma mercearia. No Charlton teve poucas oportunidades e passou para outro clube de Londres, o West Ham, onde jogou até aos 31 anos, terminando a carreira de forma precoce devido a uma tuberculose que fez com que lhe retirassem um pulmão. Estreou-se como treinador aos 36 anos no modesto Bath City, andou pelo Canadá e passou pelo Plymouth, antes de chegar ao Manchester City, onde foi adjunto entre 1965 e 1972, cumprindo a época seguinte como técnico principal - como adjunto, foi campeão inglês, venceu as taças de Inglaterra e da Liga e uma Taça das Taças. Ainda em Inglaterra, foi marcante a sua passagem pelo Crystal Palace, clube do qual foi despedido por se ter deixado fotografar nu com uma actriz porno numa banheira nas instalações do clube. Chegou a Portugal em 1981 e conduziu o Sporting ao título e à Taça de Portugal, falhando por pouco o sucesso na Europa - foi eliminado pelo Neuchâtel Xamax nos oitavos-de-final, depois de uma eliminatória anterior marcante com o Southampton de Kevin Keegan, com um triunfo por 4-2 em Inglaterra e um empate sem golos em Lisboa. “Nesse jogo, ele começou por me colocar a defesa-direito e a ordem era: “Meszaros [o guarda-redes], quando tiveres a bola joga para o Oli”. Marcámos quatro”, recorda António Oliveira. Apesar da época de sucessos, a permanência de Big Mal em Alvalade terminou logo no início da época seguinte. O britânico seria despedido, por alegadamente beber demasiado, mas voltaria a Portugal para treinar Vitória de Setúbal e Farense. “Foi um processo muito injusto. Um empresário estava a preparar a vinda do Josef Venglos e inventaram uma história que o Allison tinha bebido uma quantidade impossível de álcool”, lamenta Oliveira, que seria o substituto imediato do britânico, como treinador-jogador antes de Venglos chegar a Alvalade. O Sporting foi o último clube onde teve sucesso como treinador, tendo ainda passagens falhadas pelo Middlesbrough, pela selecção do Kuwait e pelo Bristol, onde terminou a carreira em 1993. Sofreu nos últimos anos da sua vida com os excessos que antes cometera. Quase todos os seus relacionamentos amorosos - um deles com uma coelhinha da Playboy - falharam e a sua saúde degradou-se de forma irreparável pelo álcool que consumiu - admitiu o seu alcoolismo -, terminando os seus dias num lar, já praticamente desligado do mundo. Mas seguramente, garante quem o conheceu, sem arrependimentos. Palavra a António Oliveira: “Era um homem que gostava de viver e transmitia-nos o gozo pela vida para lá do futebol.”
2010/10/15
Malcolm Allison (1927-2010)
Com o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal 1980-81 entregues ao Benfica e sem estaleca para a Taça dos Campeões, o Sporting começou cedo a preparar a época seguinte. Bem ao seu estilo, o presidente João Rocha queria um avançado e um treinador. Para o primeiro objectivo foi ao FC Porto buscar o virtuoso Oliveira para juntar à dupla Manuel Fernandes-Jordão. Já o treinador não foi tão fácil. José Maria Pedroto foi sondado, mas preferiu o Vitória Guimarães. Viria Malcolm Allison. É nessa memorável época de 1981-82 que o Sporting enche o país de verde e branco. À conta de vitórias e bom futebol. O excêntrico Malcolm Allison entra em cena e tem uma equipa de luxo à sua disposição. Além de Oliveira, ex-FC Porto, e Meszaros, guarda-redes húngaro para o lugar de Vaz, chegam Melo, Venâncio, Nogueira, Virgílio e Alberto. O Sporting começa por empatar 2-2 em casa com o Belenenses de Artur Jorge, num jogo com cinco expulsões (4-1 para os azuis). Seguem-se cinco vitórias consecutivas, ciclo travado por Boavista (3-3) e Benfica (1-1). No final da primeira volta, o Sporting continuava invicto, com quatro pontos de avanço sobre o Benfica e cinco sobre o FC Porto. Em Março, o Sporting bate o Benfica em Alvalade por 3-1, num encontro em que o brasileiro Jorge Gomes, o primeiro estrangeiro de sempre nos encarnados, acusa o árbitro Marques Pires. "Ele é que devia ir ao controlo antidoping. Um homem no seu estado normal não faz aquelas coisas!" O título não era uma miragem e tornou-se realidade a três jornadas do fim, no Estoril. Só faltava Jordão ser o melhor marcador. Mas o portista Jacques tirou-lhe o título na derradeira jornada, em que os dois se defrontaram nas Antas (2-0 para os dragões, com um golo de Jacques). A festa continua na Taça, uma semana mais tarde, com um inequívoco 4-0 sobre o Braga, na tarde em que Quinito, treinador do bracarenses, se apresentou no Jamor de fraque creme e laço castanho. Na hora de receber o troféu, Manuel Fernandes despiu a camisola 9, deu-a ao presidente João Rocha e foi de tronco nu para a tribuna de honra, onde estava Ramalho Eanes com a Taça. É a quinta dobradinha na história do Sporting! O mérito é de todos e de Allison, o treinador inglês que nunca mais ganhou nada a partir daí. Big Mal, como lhe chamam, fez ontem 83 anos. Está internado num lar de idosos, com doença de Alzheimer, mas é um homem que continua no coração dos sportinguistas. Por isso, o "i" falou com quatro jogadores para ouvir histórias de outros tempos. Tempos de glória, lá para os lados de Alvalade.
MESZAROS, O REFORÇO PARA A BALIZA "Devo-lhe muito. Ele é que me contratou para o Sporting. E para o V. Setúbal [1987-88]. Há um pormenor de que nunca me esquecerei: num jogo da Taça, em casa, com o Boavista, estávamos a perder 2-1 ao intervalo. Nós, jogadores, estávamos no balneário, ele abre a porta e só nos diz isto: ''Se quiserem ganhar, passem a bola ao Mário Jorge.'' Depois saiu e bateu com a porta. Ficámos todos a olhar uns para os outros. Na segunda parte, o Mário Jorge fez a jogada do 2-2 para o Manuel Fernandes e foi derrubado na área, no lance de que resultou o penálti do 3-2, marcado pelo Oliveira."
EURICO, O PATRÃO DA DEFESA "Há 29 anos acabaram-se os estágios. Allison chegou a Lisboa e deu-nos responsabilidade. Mas não se ficou por aí. Todos nós, jogadores, tínhamos direito a um copo de vinho, sempre servido por empregados à mesa, durante as refeições. Num dos primeiros almoços que tivemos nessa época, um empregado de mesa serviu-nos o vinho e ia levar a garrafa quando se ouviu o Allison a dizer: ''Deixe aí a garrafa!'' "
CARLOS XAVIER, O MIÚDO "De cada vez que jogávamos em Alvalade chegávamos ao estádio às 10h30 e almoçávamos a essa hora. O Malcolm Allison dizia-nos para comer à vontade: batatas, ovos, carne, peixe, massa. Era só escolher. Até ao jogo, ficávamos lá no estádio à espera de entrar em campo. Quando íamos a caminho do relvado já estávamos em pele de galinha, porque o Allison entrava em campo antes de nós e era um espectáculo dentro do próprio espectáculo. Dava a volta ao campo com o braço no ar a segurar o inconfundível chapéu. Os adeptos deliravam e nós também. Houve uma altura em que até havia música ao vivo e se tocava o "Comanchero". O estádio ia abaixo. Nunca o ouvi berrar. Nem nos treinos. Quando eu cometia um erro, aproximava-se e segredava-me qualquer coisa como ''não me lixes'', como quem diz: ''não sejas assim, tão apático, és capaz de muito melhor.'' "
MANUEL FERNANDES, O CAPITÃO "Dois dias depois de ganharmos a Taça, jogámos com o PSV Eindhoven em Paris. Na véspera, à noite, Allison concentrou os jogadores no hall do hotel e começou a falar das aventuras em Inglaterra. A conversa, animada como sempre, durou das 23 às duas da manhã. A essa hora, eu, como capitão, sugeri que fôssemos para a cama. Ele virou-se para mim: ''Fomos campeões, vencemos a Taça e vamos dormir? Nada disso. Vamos todos sair para Paris.'' E lá fomos, todos nós, aos bares e aos cabarés de Paris, àqueles mais conhecidos e tudo, como o Lido. Foi uma noite-manhã inesquecível. Aliás, essa sintonia de grupo já vinha de Agosto do ano anterior [1981], quando o Allison chegou a Lisboa. Dizia-nos para almoçarmos, jantarmos, cearmos ou sairmos à noite, mas sempre na véspera da folga. Como esse dia calhava à terça-feira, o plantel do Sporting, formado por 20/25 jogadores, começou a sair à segunda. Às vezes encontrávamo-nos ao almoço, ficávamos no restaurante até ao jantar e depois ainda íamos dançar até não aguentar mais. A essas noitadas o Malcolm nunca foi. Só mesmo a de Paris e por isso é que foi tão inesquecível. Porque fechou uma época de ouro no Sporting."
2010/10/08
Muita tranquilidade para a seleção
Independentemente da enorme trapalhada que se gerou, regozijo-me pelo afastamento de Carlos Queirós do cargo de selecionador nacional. É indesmentível: enquanto treinador principal de séniores, o currículo de Paulo Bento é muito melhor. E agora desejo que o Paulo faça na seleção um trabalho se possível ainda melhor que o que fez no Sporting.
2010/10/07
Ganhaste o Nobel da Literatura, Zavalita!
Nasceste em Arequipa. Andaste num colégio interno, o Colégio Militar Leôncio Prado. Frequentaste a Universidade Nacional de São Marcos (contra a vontade do teu pai, que queria que estudasses na Católica). Sentiste a ditadura do Odria. Casaste com a Tia Júlia. És tu, Zavalita. És tu o sartrezinho valente que se candidatou à Presidência do Peru com um plano de privatizações à Margaret Thatcher (apesar de tudo, antes tu que o Fujimori) e hoje escreve artigos (no nada conservador El País) a apoiar o PP espanhol. És um gajo de direita, Zavalita – esta frase demonstra-o inequivocamente. Os blogues de direita hoje exultam com o teu prémio, Zavalita. Provavelmente só te conhecem enquanto comentador político. É que, enquanto romancista, continuaste sempre perfeitamente de esquerda – de direita é que não tens nada, em nenhum dos teus livros. Apetecia-me estar contigo hoje, na Catedral, a beber uma cerveja – ou, melhor ainda, um pisco, dedicado a ti. Parabéns, Zavalita: ganhaste o Nobel da Literatura. E continuas fodido.
2010/10/05
RESISTÊNCIA. Da alternativa Republicana à luta contra a Ditadura (1891-1974)
Não é propriamente uma recomendação (acabou hoje e eu só a vi perto do fim), mas antes um reconhecimento: a exposição com este título, que esteve patente no Centro Português de Fotografia, comissariada por Tereza Siza e Manuel Loff, foi das mais interessantes e instrutivas que já visitei. Uma muitíssimo bem documentada revisão de 83 anos da nossa história. Parabéns a quem nela colaborou.
E viva a República!
E viva a República!
2010/09/30
Pão, sal e rótulos
Quem defende que o pão com excesso de sal pode continuar a ser vendido normalmente desde que convenientemente “rotulado”, ou só come pão de forma às fatias ou só compra pão em supermercados e há muitos anos não entra numa padaria. Claro que essa hipótese de o pão salgado ser rotulado é defensável em teoria (embora devesse ser sujeito a um imposto especial, semelhante ao tabaco). Mas não sei onde está com a cabeça quem pensa que numa padaria tradicional, que venda pão a granel, possa haver uma distinção entre pão salgado e pão com menos sal.
2010/09/29
Revista de blogues
A propósito das recorrentes propostas do CDS sobre os beneficiários do rendimento mínimo (desta vez a propósito dos fogos florestais), recordo aqui um texto lapidar do Miguel Madeira:
Se esses trabalhos que se sugere que os desempregados deveriam fazer são mesmo necessários, faria mais sentido, pura e simplesmente, o Estado contratar pessoas para os fazer, não?A propósito da regulação do teor de sal no pão (mais um tema que demonstra quão reacionários são os defensores da “liberdade individual acima de tudo”), "Imagine um país que deixa morrer os seus cidadãos" no StatuQuo:
Era uma vez um país, onde as panificadoras, a seu belo prazer, vendiam 50% da Dose Diária Recomendada (DDR) de sódio numa simples carcaça de 100g. A pândega era tanta que admitiam, com todos os dentes e sem pudor ou vergonha, que o cloreto de sódio (vulgo sal) era colocado a olho. (...) É sempre esclarecedor, que perante um Estado representativo, atento e responsável, existam nichos opositores, desde minarquistas até colectivistas, que criticam o garante da “saúde em dignidade” da população portuguesa. Perante o problema, a solução destes é deixar morrer… Fixem os seus nomes.
2010/08/17
Na sequência do desenho de André Carrilho
Um vídeo notável de Norman Finkelstein via Renato Teixeira. A ver com atenção.
2010/08/16
A evolução das espécies
Desenho de André Carrilho publicado a 01-08-2010 no Diário de Notícias.
A impunidade de Israel explica-se pelas reações como as que assistimos a propósito desta desenho. Israel (e a "comunidade israelita") ou não se apercebem ou fingem não se aperceber do mal que causam aos outros (os palestinianos). E têm a desfaçatez de falarem em nome de "toda a gente": "toda a gente" terá ficado indignada com este desenho, segundo o sr. Carp (exceto os anti-semitas, claro). Olhe, sr. Carp: eu não fiquei. O que me indigna, e o que deveria indignar "toda a gente", é o tratamento diariamente inflingido por Israel ao povo palestiniano.
A impunidade de Israel explica-se pelas reações como as que assistimos a propósito desta desenho. Israel (e a "comunidade israelita") ou não se apercebem ou fingem não se aperceber do mal que causam aos outros (os palestinianos). E têm a desfaçatez de falarem em nome de "toda a gente": "toda a gente" terá ficado indignada com este desenho, segundo o sr. Carp (exceto os anti-semitas, claro). Olhe, sr. Carp: eu não fiquei. O que me indigna, e o que deveria indignar "toda a gente", é o tratamento diariamente inflingido por Israel ao povo palestiniano.
2010/08/13
2010/08/12
Lisboa, a capital do vazio
O excelente El País, "periódico global em espanhol" onde muitas vezes se encontra a melhor informação sobre Portugal e o mundo, publicou no fim de semana passado uma reportagem sobre o abandono a que são votadas muitas casas na capital portuguesa. Destaco a seguinte passagem:
Romão Lavadinho, presidente de la Asociación de Inquilinos Lisboetas, reconoce que "hay muchos pisos en mal estado, por los que el inquilino paga unos 70 euros al mes". "Pero no es menos cierto", añade, "que muchos propietarios dejan que las casas estén al borde de la ruina, para lograr su demolición y construir un inmueble con más pisos y más rentable". Lavadinho también acusa a los ayuntamientos de ciudades como Lisboa y Oporto: "Son los mayores propietarios y los que tienen el patrimonio más deteriorado".
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2010/08/11
António Dias Lourenço (1915-2010)
É de pessoas assim que o PCP se deve orgulhar. Vale a pena ler o depoimento do Nuno Ramos de Almeida e esta pequena biografia, de que destaco as seguintes partes:
"Sou membro do Comité Central do PCP, mas recuso-me a dizer seja o que for", declarou, quando foi preso pela primeira vez, em 1949, antes de ser espancado a cassetete com a preocupação de manter uma expressão que não fosse de dor, como conta no documentário "O Segredo", de Edgar Feldman.
Na fuga de Peniche, quando viu que o grupo de pescadores com quem seguia queria entregá-lo à polícia, abriu o jogo: "Sou membro do PCP, acabei de fugir do Forte, vocês têm de me ajudar". Eles ajudaram.
Em 1960, é Dias Lourenço quem organiza a fuga de Álvaro Cunhal e de mais dez membros do PCP, num "trabalho meticuloso e sigiloso que durou muitos meses", como o próprio recordou numa entrevista dada em 2004 ao jornal Setúbal em Rede.
Entre 1962 e Abril de 1974, haveria de voltar à prisão onde "não podia inventar nada, porque nem papel tinha para escrever".
Mas Dias Lourenço "ia pensando em tudo, fazendo versos, cantando cá para mim", como recorda numa das muitas vezes que voltou a Peniche para recordar passo a passo a audaciosa fuga de 1954.
"Engendrou tudo sozinho, estudou as marés, avisou que ia partir, destruiu a vedação de uma cela solitária, atirou-se ao mar em pleno Dezembro - quando a polícia chegou ao local, constatou que é preciso gostar muito da liberdade para fugir daquela maneira".
2010/08/06
Outras utilidades da água suja do imperialismo
Jogo de xadrez construído com garrafas de Coca-Cola (ou 7-UP ou Pepsi ou outra coisa dessas). Colónia do Sacramento, Uruguai.
2010/08/05
Ainda Mário Bettencourt Resendes
Vale a pena ler os testemunhos de Maria Elisa e João Céu e Silva ("a 24 horas de morrer não se rendeu à fatalidade") e a última crónica escrita enquanto provedor (sobre figuras públicas que expõem debilidades de saúde).
2010/08/03
Mário Bettencourt Resendes (1952-2010)
Da minha experiência pessoal com o recém falecido provedor do DN, recordo a correspondência com ele trocada: sobre o caso "eles" (com direito a referência na coluna) e sobre outros dois casos (aqui e aqui), sem direito a publicação mas que mereceram sempre uma resposta (educada), ende me era garantido que, apesar de a carta não ser publicada, seria encaminhada para os jornalistas responsáveis.
Como jornalista, Mário Bettencourt Resendes foi a imagem e a grande referência do DN na década de 90 e na pimeira metade da década de 90. Como o seu amigo Mário Soares na política, no jornalismo Mário Bettencourt Resendes arriscou muitas vezes, falhou algumas mas acertou muitas mais. Errou no apoio à Guerra do Iraque em 2003 (embora tivesse como diretor adjunto úm tal António Ribeiro Ferreira - como aceitou tal situação é algo que nunca compreendi e nunca compreenderei). Mas o melhor que o DN teve foi sob a sua direção.
Vale a pena ler o que quem com ele trabalhou diz: Albano Matos, Ferreira Fernandes e Luís Delgado. Na blogosfera destaco o Pedro Correia, Pedro Rolo Duarte e a BD de Bandeira.
O DN perdeu a sua grande referência e o jornalismo português ficou mais pobre.
Como jornalista, Mário Bettencourt Resendes foi a imagem e a grande referência do DN na década de 90 e na pimeira metade da década de 90. Como o seu amigo Mário Soares na política, no jornalismo Mário Bettencourt Resendes arriscou muitas vezes, falhou algumas mas acertou muitas mais. Errou no apoio à Guerra do Iraque em 2003 (embora tivesse como diretor adjunto úm tal António Ribeiro Ferreira - como aceitou tal situação é algo que nunca compreendi e nunca compreenderei). Mas o melhor que o DN teve foi sob a sua direção.
Vale a pena ler o que quem com ele trabalhou diz: Albano Matos, Ferreira Fernandes e Luís Delgado. Na blogosfera destaco o Pedro Correia, Pedro Rolo Duarte e a BD de Bandeira.
O DN perdeu a sua grande referência e o jornalismo português ficou mais pobre.
2010/07/30
Frases para recordar
"Worse than working on a credible theory that is far from experiment is to work on a theory close to experiment but which is not credible." (J. Polchinski)
"It has been a historical mistake not to pay more attention to what theorists say." (J. Maldacena)
Na conferência Quantum Gravity in the Southern Cone em que participo.
"It has been a historical mistake not to pay more attention to what theorists say." (J. Maldacena)
Na conferência Quantum Gravity in the Southern Cone em que participo.
2010/07/29
Elas dançam sozinhas
Muitos estudantes da Universidade Nacional de La Plata, na província de Buenos Aires, foram vítimas dos crimes da ditadura argentina nos anos 70. Estes estudantes, e muitos outros cidadãos, eram raptados, provavelmente para serem atirados vivos de aviões. Mas desapareciam sem deixar rasto. As famílias não eram informadas. Nunca mais ninguém sabia deles.
Em frente ao Departamento de Física da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de La Plata existe o monumento da foto, aos estudantes da faculdade desaparecidos. Cada tijolo que falta representa um desses estudantes. Um deles era filho de uma das mais conhecidas “mães de Maio”. Na inauguração do monumento, a faculdade naturalmente convidou-a. Ela não compareceu, alegando que não acredita que o seu filho tenha desaparecido.
Em frente ao Departamento de Física da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de La Plata existe o monumento da foto, aos estudantes da faculdade desaparecidos. Cada tijolo que falta representa um desses estudantes. Um deles era filho de uma das mais conhecidas “mães de Maio”. Na inauguração do monumento, a faculdade naturalmente convidou-a. Ela não compareceu, alegando que não acredita que o seu filho tenha desaparecido.
2010/07/26
A bordo
Não resisto a escrever uma postagem a bordo do Buquebus para Buenos Aires, após um excelente fim de semana no Uruguai. Este barco parece um paquete!
2010/07/19
Numa suíte de um hotel em Barajas, Madrid...
...à espera da ligação para Buenos Aires. A ligação original, esta madrugada, foi impossível de apanhar graças ao atraso do vôo Lisboa-Madrid.
2010/07/18
Rumo ao sul
Vou à terra da Mafalda por duas semanas. Não deixarei de a visitar, como é óbvio. E verificarei se é mesmo verdade que no hemisfério sul as ideias nos caem. E os turbilhões giram em sentido contrário.
2010/07/16
Resumo rápido do Mundial de Futebol
Um campeão do mundo inédito – e uma proeza inédita para uma seleção europeia: ser campeã fora do seu continente. A única seleção que até hoje conseguira tal desiderato fora o Brasil – em 1958 (campeão na Suécia) e em 2002 (campeão na Coreia e no Japão).
Integrando ao longo do tempo (em linguagem comum, historicamente) a Holanda merecia mais um campeonato do mundo do que a Espanha. Mas a verdade é que esta Espanha, nos dias de hoje, é muito mais herdeira do vistoso futebol holandês da década de 70 do que a atual Holanda. Parabéns aos campeões. E aos derrotados, e a todos os que fizeram este magnífico e emocionante mundial.
Integrando ao longo do tempo (em linguagem comum, historicamente) a Holanda merecia mais um campeonato do mundo do que a Espanha. Mas a verdade é que esta Espanha, nos dias de hoje, é muito mais herdeira do vistoso futebol holandês da década de 70 do que a atual Holanda. Parabéns aos campeões. E aos derrotados, e a todos os que fizeram este magnífico e emocionante mundial.
2010/07/11
A mais importante das coisas menos importantes
Por estes dias, nos blogues de esquerda quase só se fala de futebol.
Embora eu concorde plenamente com este texto do Nuno Ramos de Almeida – a política não é definitivamente chamada para explicar o que se passa no relvado -, é
bastante consensual que a forma de jogar das seleções reflete caraterísticas nacionais. Os exemplos são vários: a organização e o coletivo alemães, o individualismo e o improviso sul-americanos, o cinismo e o maquiavelismo italianos… Penso mesmo que as extrapolações da política para o futebol têm mais a ver com as extrapolações destas caraterísticas para a política. E no dia a dia estas caraterísticas, se não fazem a política, fazem parte da realidade internacional.
Um bom exemplo de tais extrapolações será o definir-se, como é habitual, um futebol mais baseado nos rasgos individuais como “de esquerda”, enquanto um futebol mais disciplinado taticamente seria “de direita”. Num contexto internacional, quem pratica o primeiro tipo de futebol são países emergentes como o Brasil ou a Argentina e “PIGS” como Portugal, enquanto o arquétipo de quem pratica o segundo tipo de futebol é quem dita a ordem na Europa, a Alemanha. Mas estes países, como todos os outros, já tiveram governos de esquerda e de direita, e nem por isso as suas caraterísticas mudaram. Esta distinção pode fazer sentido para altermundialistas para quem quem governa é sempre de direita, mas não creio que tenha grande utilidade prática.
Dito isto, falar-se em futebol “de esquerda” como o mais espetacular, o mais aberto, em oposição a um futebol “de direita” mais fechado e mais interessado no resultado preocupa-me pelo que indicia. Então a esquerda não está preocupada com o resultado? Só a direita é que está interessada em ganhar?
Embora eu concorde plenamente com este texto do Nuno Ramos de Almeida – a política não é definitivamente chamada para explicar o que se passa no relvado -, é
bastante consensual que a forma de jogar das seleções reflete caraterísticas nacionais. Os exemplos são vários: a organização e o coletivo alemães, o individualismo e o improviso sul-americanos, o cinismo e o maquiavelismo italianos… Penso mesmo que as extrapolações da política para o futebol têm mais a ver com as extrapolações destas caraterísticas para a política. E no dia a dia estas caraterísticas, se não fazem a política, fazem parte da realidade internacional.
Um bom exemplo de tais extrapolações será o definir-se, como é habitual, um futebol mais baseado nos rasgos individuais como “de esquerda”, enquanto um futebol mais disciplinado taticamente seria “de direita”. Num contexto internacional, quem pratica o primeiro tipo de futebol são países emergentes como o Brasil ou a Argentina e “PIGS” como Portugal, enquanto o arquétipo de quem pratica o segundo tipo de futebol é quem dita a ordem na Europa, a Alemanha. Mas estes países, como todos os outros, já tiveram governos de esquerda e de direita, e nem por isso as suas caraterísticas mudaram. Esta distinção pode fazer sentido para altermundialistas para quem quem governa é sempre de direita, mas não creio que tenha grande utilidade prática.
Dito isto, falar-se em futebol “de esquerda” como o mais espetacular, o mais aberto, em oposição a um futebol “de direita” mais fechado e mais interessado no resultado preocupa-me pelo que indicia. Então a esquerda não está preocupada com o resultado? Só a direita é que está interessada em ganhar?
2010/07/09
O triunfo dos porcos
Puyol marca contra o dirigismo e protecionismo alemães. Pelos povos do sul, em nome de uma Europa solidária. Dança, Angela Merkel, dança!
2010/07/07
Perplexo e boquiaberto com a situação do Sporting
Claramente o Moutinho é um jogador à Porto. O Paulo Bento também é um treinador à Porto (esperava que Pinto da Costa o tivesse contratado). Quem nunca foi um jogador à Porto, apesar de lá ter jogado alguns anos, foi este diretor desportivo que o atual presidente se lembrou de ir buscar para o Sporting.
O negócio é o que menos interessa. O que me importa é um dos principais ativos recusar-se a jogar e ser vendido de qualquer maneira. Que presidente é este?
Não sei onde o clube vai parar assim.
O negócio é o que menos interessa. O que me importa é um dos principais ativos recusar-se a jogar e ser vendido de qualquer maneira. Que presidente é este?
Não sei onde o clube vai parar assim.
2010/07/02
Diz o Público: enquanto não regionalizarem nem fizerem ciclovias mais vale andarmos todos de popó
O “Público” parece ter descoberto as questões relacionadas com mobilidade. Só é pena que, avaliando pelo suplmento da semana passada, esteja a servir-se dela para promover questões que com ela nada têm a ver, pelo menos diretamente.
Num primeiro artigo, anuncia-nos que “já compramos muitas bicicletas – para andar faltam as ciclovias”. Eu sou um defensor da criação de ciclovias em cidades congestionadas por trânsito automóvel (não necessariamente em lugares turísticos só para efeitos de recreio, como se vê agora). Mas, como utilizador quotidiano de bicicleta (sem ciclovias), não posso aceitar que um jornal “decida” que só com ciclovias é que se pode andar de bicicleta. Essa é uma decisão pessoal, que deve ser estimulada (e a criação de ciclovias onde se justifiquem é um bom estímulo), mas que não deve depender nem ficar à espera da criação das mesmas.
Mas o exemplo mais gritante da utilização das questões da mobilidade para fins políticos que lhe são alheios é esta entrevista onde se defende que “sem regionalização não haverá transportes públicos de qualidade”. Eu compreendo que uma rede integrada de transportes públicos extravasa as autarquias, que têm que atuar em rede de uma forma concertada. Mas o principal problema nos transportes públicos em Portugal é a dispersão de operadores – de empresas.
Num primeiro artigo, anuncia-nos que “já compramos muitas bicicletas – para andar faltam as ciclovias”. Eu sou um defensor da criação de ciclovias em cidades congestionadas por trânsito automóvel (não necessariamente em lugares turísticos só para efeitos de recreio, como se vê agora). Mas, como utilizador quotidiano de bicicleta (sem ciclovias), não posso aceitar que um jornal “decida” que só com ciclovias é que se pode andar de bicicleta. Essa é uma decisão pessoal, que deve ser estimulada (e a criação de ciclovias onde se justifiquem é um bom estímulo), mas que não deve depender nem ficar à espera da criação das mesmas.
Mas o exemplo mais gritante da utilização das questões da mobilidade para fins políticos que lhe são alheios é esta entrevista onde se defende que “sem regionalização não haverá transportes públicos de qualidade”. Eu compreendo que uma rede integrada de transportes públicos extravasa as autarquias, que têm que atuar em rede de uma forma concertada. Mas o principal problema nos transportes públicos em Portugal é a dispersão de operadores – de empresas.
2010/07/01
Durma, dr. Soares!
Foi durante o Prós e Contras desta semana (na segunda parte) que Mário Soares contou a história que aqui reproduzo.
Nos anos 80, era ele primeiro-ministro, por duas vezes o ministro das finanças, Silva Lopes, telefonou para sua casa desesperado, às duas da manhã, a dizer que no dia seguinte o país iria entrar em bancarrota e já não haveria dinheiro para pagar os salários. Das duas vezes Mário Soares respondeu que, se isso fosse mesmo verdade como Silva Lopes temia (e em nenhuma das duas vezes tal se confirmou), no dia seguinte ele, Mário Soares, teria de estar bem desperto para decidir o que fazer. "Por isso, ó Silva Lopes, deixe-me dormir!"
Se, aos 86 anos, o velho cometesse a loucura de se recandidatar a Presidente, eu ainda votaria nele. Mário Soares é o último grande português vivo.
2010/06/29
A boa notícia futebolística do dia
A dentição mais fotografada em Portugal ao longo dos últimos três anos vai sair para o Real Madrid. Não me importa muito se é bem vendido ou não: nunca percebi a obsessão generalizada à volta desta dentição, bem como nunca percebi a incapacidade do rapaz em manter a boca fechada.
Quanto à outra notícia futebolística do dia, não é nada de inesperado. Qualquer sportinguista sabe a capacidade do Prof. Carlos Queirós em arruinar estratégias e "partir" equipas com substituições incompreensíveis (para a seguir inventar desculpas esfarrapadas). Desta vez não foram 6 por causa do Eduardo, que em conjunto com o Hugo Almeida era quem menos merecia ser eliminado.
2010/06/25
A falta de sentido de Estado de Cavaco
A ausência de Cavaco Silva do funeral de José Saramago só vem confirmar a sua gritante falta de sentido de Estado. Cavaco é o chefe de Estado e José Saramago era só o português mais conhecido no mundo. Basta comparar a ausência de Cavaco com a presença do governo espanhol (que enviou a vice-presidente) e com as reações do líder da direita espanhola, Mariano Rajoy, com quem Saramago teve grandes polémicas e divergências, para se confirmar mais uma vez que o presidente português é um homem mesquinho e rancoroso, que não prestigia o país.
É verdade que, se Cavaco tivesse ido ao funeral, poderia haver quem o acusasse de oportunismo eleitoral. A origem de todo este problema está na atitude do governo de Cavaco perante Saramago, de que Cavaco nunca se retratou (e oportunidades nunca lhe faltaram). A grandeza de um homem também se vê na capacidade de reconhecer os seus erros. Também aqui a grandeza de Cavaco nunca se viu.
A ler: José Vítor Malheiros, citado pela Shyznogud.
É verdade que, se Cavaco tivesse ido ao funeral, poderia haver quem o acusasse de oportunismo eleitoral. A origem de todo este problema está na atitude do governo de Cavaco perante Saramago, de que Cavaco nunca se retratou (e oportunidades nunca lhe faltaram). A grandeza de um homem também se vê na capacidade de reconhecer os seus erros. Também aqui a grandeza de Cavaco nunca se viu.
A ler: José Vítor Malheiros, citado pela Shyznogud.
2010/06/23
O que vale um ex-diretor do Público
São várias as inconsistências e incorreções neste texto de José Manuel Fernandes. Do lado dos escritores que nunca ganharam o Nobel, para além de referir incorretamente um premiado (como recorda o Nuno Ramos de Almeida), inclui pelo menos dois escritores ainda vivos (Rushdie e Vargas Llosa), que nada garante que não o venham a ganhar.
Do lado dos que ganharam o Nobel da literatura sem grande mérito, esquece-se de mencionar o mais injustificado destes prémios: o atribuído a Winston Churchill. Deve ser por Churchill ser a sua grande inspiração ideológica.
Mas nem isso é o mais importante. O que conta, a meu ver, é esta realidade: JMF lamenta sempre a “falta de reconhecimento do mérito dos melhores” por parte da nossa sociedade – desde que sejam empresários, “empreendedores”. Na hora da morte do mais reconhecido escritor português, JMF prefere desvalorizar desta forma o prémio que o imortalizou, revelando assim a sua mesquinhez e pequenez.
É verdade que Saramago não teria todo o reconhecimento universal que teve se não tivesse ganho o Nobel da literatura (embora já fosse um escritor conhecidíssimo internacionalmente quando o ganhou). Mas também que reconhecimento teria José Manuel Fernandes se não tivesse sido diretor do Público?
Do lado dos que ganharam o Nobel da literatura sem grande mérito, esquece-se de mencionar o mais injustificado destes prémios: o atribuído a Winston Churchill. Deve ser por Churchill ser a sua grande inspiração ideológica.
Mas nem isso é o mais importante. O que conta, a meu ver, é esta realidade: JMF lamenta sempre a “falta de reconhecimento do mérito dos melhores” por parte da nossa sociedade – desde que sejam empresários, “empreendedores”. Na hora da morte do mais reconhecido escritor português, JMF prefere desvalorizar desta forma o prémio que o imortalizou, revelando assim a sua mesquinhez e pequenez.
É verdade que Saramago não teria todo o reconhecimento universal que teve se não tivesse ganho o Nobel da literatura (embora já fosse um escritor conhecidíssimo internacionalmente quando o ganhou). Mas também que reconhecimento teria José Manuel Fernandes se não tivesse sido diretor do Público?
2010/06/21
Discurso da Ministra da Cultura na Cerimónia de Homenagem a José Saramago
Um discurso notável, para recordar mais tarde.
Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra, um soldado maneta, uma mulher que tinha poderes, e um padre que queria voar numa Passarola e que morreu doido;
Era uma vez Jesus, que disse a Maria Magdalena - “quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos”;
Era uma vez um cão que lambeu as lágrimas a uma mulher desesperada num mundo de cegos, desejando também cegar para ser poupada aos horrores que a vista lhe trazia;
Era uma vez a morte, que tinha um plano e que o cumpriu – abraçou-se ao homem sem que ele compreendesse o que lhe estava a suceder, e ela, a morte, que nunca dormia, deixou descair suavemente as pálpebras enquanto adormecia; no dia seguinte, ninguém morreu;
Era uma vez um homem, que quando morreu, partiram 2 pessoas: saiu ele, de mão dada com a criança que foi – tal como o próprio José Saramago previu, nas suas próprias palavras.
Era uma vez e tantas outras vezes, o respeito à terra e aos homens, a luta contra as injustiças, a defesa dos direitos humanos, a denúncia contra a guerra do Iraque ou contra a ocupação palestiniana, as causas dos Sem Terra, do movimento anti-globalizante, da preservação do ambiente, ou do anti-clericalismo desassombrado.
Estas e tantas outras, foram as histórias com que o ateu místico, religioso laico, interrogador de Deus e dos homens, José Saramago, “comunista hormonal” nas suas palavras, questionou Portugal e o mundo incessantemente, directa ou metaforicamente.
A liberdade do pensamento define o criador: Saramago foi voz lúcida, inconformada, firme, insubmissa na luta contra a desigualdade entre os homens – esta sim “a verdadeira miséria”, dizia.
Parte da imensa receptividade que as suas obras têm merecido em todo o mundo, e que a atribuição do Nobel cimentou e glorificou, deve-se a esse carácter humanista, à esperança que a sua obra impõe ao Homem.
Recebeu o Prémio Nobel da Literatura «... pela sua capacidade de tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolas sustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia», segundo a Academia Sueca.
Fiel ao seu compromisso com a consciência, usou a escrita para uma reflexão sobre as grandes causas da humanidade, edificando uma obra coerente, ousada, sólida, moldada pela ética, visando, sempre, a dignificação do Homem.
E fê-lo por vezes subvertendo normas - quer de narrativa (o seu estilo é inconfundível, nas suas frases longas e de pontuação singular), quer enfrentando dogmas - não tinha fé em Deus (mas certamente Deus teve fé nele).
Para ele a escrita, enquanto forma de expressão do pensamento e de intervenção intelectual, foi instrumento, foi arma, foi agente provocador e plataforma de interrogação permanente do indivíduo e da sociedade.
Com a sua actividade cívica aliada à criação literária, cumpriu aquilo que é mais caro aos criadores e aos artistas – conseguiu com a sua obra fazer pensar os destinatários, perturbar os conformados, incomodar as consciências e aguçar a lucidez.
Deixa a Fundação José Saramago, à qual se dedicará a companheira e musa da sua vida, Pilar Del Rio, força inabalável que foi determinante na sua alma e na sua obra, a quem também prestamos aqui homenagem. Fundação José Saramago que assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos e o cuidado do meio ambiente.
Enquanto escritor português, José Saramago deu um incontestável contributo para a afirmação e difusão da Língua Portuguesa, para a divulgação da Literatura Portuguesa e para a união do mundo lusófono. Embaixador da cultura portuguesa no mundo, a influência da sua obra estendeu-se a um amplo espectro de outras expressões artísticas - na ópera, no cinema, nas artes visuais, sublinhando a universalidade da sua linguagem.
A Literatura Portuguesa, as Literaturas em Português, com Saramago, adquiriram ressonância internacional e prestígio global, pela universalidade das questões que o Escritor agarra e reflecte com tenacidade e vigor, e pelo génio sísmico com que as dá a ler, a pensar, através da sua escrita.
Portugal homenageia hoje o homem, simples, sensível e corajoso;
Portugal celebra em Saramago, a sua humanidade, grandeza e universalidade;
Portugal orgulha-se do Escritor e engrandece-se com a sua obra, poliédrica, ímpar e seminal.
Portugal agradece, sentida e sinceramente, o encontro mágico de Saramago com a Literatura, e o lugar único e perene que José Saramago ocupará para sempre na Literatura e na Cultura do mundo.
Como escreveu ontem um amigo a Pilar, - Não há palavras. Saramago levou-as todas…
Obrigado José Saramago.
2010/06/20
Até sempre, Saramago
Fui apanhado (fomos todos) completamente de surpresa. Ainda me custa a acreditar. Faço minhas as palavras de Hélia Correia:
"Palavras e palavras vão cair com um grande barulho neste dia e todas elas ficarão aquém da grandeza deste homem".
2010/06/19
O fator Deus
Texto de José Saramago, Público, El Pais e Folha de São Paulo, 19/09/2001
Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.
Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um
negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo.
Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.
Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um
negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo.
2010/06/18
Obrigado, José Saramago
Obituário do The New York Times
José Saramago, Nobel Prize-Winning Writer, Dies
By FERNANDA EBERSTADT
José Saramago, the Portuguese writer who won the Nobel Prize in Literature in 1998 with novels that combine surrealist experimentation and a kind of sardonic peasant pragmatism, died Friday at his home in Lanzarote in the Canary Islands. He was 87. The cause was multiple organ failure after a long illness, the José Saramago Foundation said in an announcement on its Web site.
2010/06/15
"Padre João Resina: o engenheiro de Deus"
Por António Marujo, Público, 11.06.2010
Havia quem não gostasse das homilias do padre João Resina, que morreu no dia 3, em Lisboa. Quando passou pela paróquia de Santa Isabel, em Lisboa, era escutado por agentes da PIDE, polícia política do Estado Novo, que tentava apanhá-lo nas críticas ao regime.
Os agentes colocavam-se junto das colunas de som, com gravadores. O padre João decidiu fazer o mesmo, para que a PIDE não inventasse acusações: escondia um gravador sob o altar. Antes do fim da missa, tirava discretamente a cassete e guardava-a.
"Nunca em Santa Isabel houve tanta PIDE", recorda ao P2 José Maria Fontes, de 79 anos, sacristão durante 39 anos, até Janeiro de 2000. "Ficavam perto das colunas." Ainda assim, João Resina não foi molestado pela polícia política.
Vários amigos passaram a gravar as homilias. Já em democracia, alguém lhe pediu que escrevesse uma síntese. No final das missas, o padre passou então a dar, a quem pedia, a folha com o resumo. O hábito deu origem aos dois volumes de A Palavra no Tempo (ed. Multinova e Entrelinhas, respectivamente), que recolhem muitos desses textos.
João Manuel Resina Rodrigues nasceu a 5 de Outubro de 1930, em Carnaxide (Oeiras). Em 1953, licenciou-se em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico. Só depois decidiu ser padre: foi ordenado em 1959. O gosto pela ciência fê-lo regressar ao Técnico, onde deu aulas durante 30 anos e integrou o Centro de Física da Matéria Condensada. Publicou várias obras sobre Física e História e Filosofia das Ciências.
Augusto Moutinho, de 71 anos, professor da Universidade Nova, foi seu colega no Técnico entre 1974 e 1979. "Apaziguava muitas coisas que, nas universidades, são sempre difíceis de resolver", recorda. Mas era, sobretudo, um homem de ciência. E ultimamente, conta, andava "muito entusiasmado" a traduzir os Princípios, de Isaac Newton.
2010/06/14
As escalas das escolas
Existem escalas para diversas grandezas, graças às quais nem todos os valores dessas grandezas são fisicamente equivalentes, podendo mesmo determinar valores críticos, abaixo ou acima dos quais certas aproximações podem ou não ser válidas. Por exemplo, a velocidade da luz representa uma dessas escalas (que determina se é válida a aproximação newtoniana ou se se tem de considerar a teoria relativista). A constante de Planck é outra (e determina se um sistema é quântico ou se é bem aproximado pela física clássica). Por que têm estas grandezas os valores que têm e não outros é algo que a física ainda não sabe explicar, mas seguramente as nossas vidas seriam bem diferentes se esses valores não fossem estes. (Quem quiser “imaginar” como tal seria pode ler “As Aventuras do Sr. Tompkins” de George Gamow.) Estes valores possuem, assim, um significado físico bem claro.
Menos claro é o significado da escala que o governo decidiu fixar para o tamanho mínimo (em número de alunos) para uma escola poder funcionar - 20. Mesmo assim, apraz-me perguntar aos opositores desta medida se concordam que tal escala deve existir, mesmo que eventualmente tivesse outro valor, ou acham que tal escala não deveria existir? A segunda hipótese corresponde a uma teoria sem escalas fixas. Para além de tal não existir na natureza ao nível fundamental, tal hipótese equivale a uma escola só com um aluno representar o mesmo que uma escola com cinco mil alunos. É isto mesmo que defendem?
Na primeira hipótese, a de concordarem com a fixação da escala mas não com o valor proposto pelo governo, podem propor outro valor e justificá-lo? Ainda não vi nada nesse sentido.
Menos claro é o significado da escala que o governo decidiu fixar para o tamanho mínimo (em número de alunos) para uma escola poder funcionar - 20. Mesmo assim, apraz-me perguntar aos opositores desta medida se concordam que tal escala deve existir, mesmo que eventualmente tivesse outro valor, ou acham que tal escala não deveria existir? A segunda hipótese corresponde a uma teoria sem escalas fixas. Para além de tal não existir na natureza ao nível fundamental, tal hipótese equivale a uma escola só com um aluno representar o mesmo que uma escola com cinco mil alunos. É isto mesmo que defendem?
Na primeira hipótese, a de concordarem com a fixação da escala mas não com o valor proposto pelo governo, podem propor outro valor e justificá-lo? Ainda não vi nada nesse sentido.
2010/06/11
João Resina Rodrigues (1930-2010)
Estudante de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, tendo sido colega de curso de Maria de Lurdes Pintasilgo, viria posteriormente a ordenar-se sacerdote, tendo-se doutorado em Filosofia na Universidade de Lovaina. Regressou ao Instituto Superior Técnico como docente de História da Ciência, tendo testemunhado de perto as convulsões e crises académicas da escola antes de 1974. Ao mesmo tempo manteve sempre a atividade de sacerdote, sendo prior da Capela do Rato, que funcionava como lugar de reunião de católicos antisalazaristas. Por estas razões era elemento suspeito para o regime fascista, tendo sido vigiado pela PIDE durante as suas homilias e mesmo fora da igreja.
Já depois do 25 de Abril continuou como sacerdote e a dar aulas de física (História das Ideias e Mecânica Analítica) no Instituto Superior Técnico, tendo sido professor de grande parte dos elementos deste blogue. Das suas aulas recordo o profundo respeito pela diversidade de opiniões. Resina era um homem que sabia ouvir, e respeitava quem pensasse de forma diferente da sua. Nas suas aulas falava-nos do valor inquestionável da ciência (ele próprio foi cientista) e jamais se serviu da sua posição de docente no ensino superior público para qualquer tipo de proselitismo. Fazia questão de frisar que não estava interessado ali em saber se éramos crentes ou não.
A sua posição sobre o aborto, que podemos ler nesta entrevista a António Marujo, e que podemos sumarizar como “as leis do Estado não têm que traduzir a posição da Igreja Católica”, demonstram como um sacerdote católico pode entender o que é a laicidade. É pena que haja tão poucos assim.
Já depois do 25 de Abril continuou como sacerdote e a dar aulas de física (História das Ideias e Mecânica Analítica) no Instituto Superior Técnico, tendo sido professor de grande parte dos elementos deste blogue. Das suas aulas recordo o profundo respeito pela diversidade de opiniões. Resina era um homem que sabia ouvir, e respeitava quem pensasse de forma diferente da sua. Nas suas aulas falava-nos do valor inquestionável da ciência (ele próprio foi cientista) e jamais se serviu da sua posição de docente no ensino superior público para qualquer tipo de proselitismo. Fazia questão de frisar que não estava interessado ali em saber se éramos crentes ou não.
A sua posição sobre o aborto, que podemos ler nesta entrevista a António Marujo, e que podemos sumarizar como “as leis do Estado não têm que traduzir a posição da Igreja Católica”, demonstram como um sacerdote católico pode entender o que é a laicidade. É pena que haja tão poucos assim.
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2010/06/08
Polícia: basta de abusos!
Já aqui escrevi que entendo que uma polícia bem preparada e ao serviço dos cidadãos é essencial num estado de direito, pelo que não alinho facilmente em críticas demagógicas, que partem quase sempre de setores que defendem que não deveria haver polícia nem estado.
No entanto, tudo tem um limite. Num estado de direito democrático, nada está acima da lei e ninguém está isento de críticas. A recente sucessão de maus tratos, violência e coação a cidadãos indefesos, portugueses e estrangeiros, é indefensável, e demonstra inequivocamente que algo está muito mal na nossa polícia, por muito más, difíceis e humilhantes que sejam as suas condições de trabalho. É a legitimidade da polícia que está a ser posta em causa, e a seguir será o estado de direito. Os sucessivos abusos de violência por parte da polícia são inaceitáveis. Está mais do que na altura de exigir responsabilidades ao ministro da Administração Interna. A bem da polícia!
A este respeito recomendo a leitura do editorial do Público que aqui disponibiliza a Shyznogud.
No entanto, tudo tem um limite. Num estado de direito democrático, nada está acima da lei e ninguém está isento de críticas. A recente sucessão de maus tratos, violência e coação a cidadãos indefesos, portugueses e estrangeiros, é indefensável, e demonstra inequivocamente que algo está muito mal na nossa polícia, por muito más, difíceis e humilhantes que sejam as suas condições de trabalho. É a legitimidade da polícia que está a ser posta em causa, e a seguir será o estado de direito. Os sucessivos abusos de violência por parte da polícia são inaceitáveis. Está mais do que na altura de exigir responsabilidades ao ministro da Administração Interna. A bem da polícia!
A este respeito recomendo a leitura do editorial do Público que aqui disponibiliza a Shyznogud.
2010/06/04
Israel: traçar uma linha
Embora fosse sempre de uma brutalidade descabida, o ataque desta segunda feira até teria legitimidade se fosse perpetrado em águas de Israel. Mas foi-o em águas internacionais (e mesmo que fosse nas águas de Gaza, estas pertencem à Autoridade Palestiniana, sujeita a um bloqueio ilegal por parte de Israel). O governo israelita mostrou toda a sua crueldade, e mostrou também que não tem limites na sua atuação. Age sempre em total impunidade. Talvez isso esteja finalmente para acabar.
Se os atentados de 11 de Setembro de 2001 permitiram traçar uma linha entre os antiamericanos primários, para quem tudo vale desde que seja contra os EUA, e o resto das pessoas, proporcionando uma (creio que saudável) demarcação, o ataque ao navio turco permite fazer o mesmo em relação aos apoiantes incondicionais de Israel. Quem apoiar, entender, justificar uma atitude destas deixou de distinguir o bem do mal. Está totalmente cego pelo ódio. É isso que se passa com o governo israelita e, receio, com uma boa parte do povo que o elegeu. É isso que os torna perigosos para o mundo.
A diferença (bastante significativa, porém) entre os antiamericanos lunáticos e os pró-israelitas igualmente lunáticos é que nenhum dos primeiros pode escrever um pequeno naco de prosa como este e ser levado a sério. Os segundos podem. Podem repetir esta chantagem até à náusea porque ela até hoje, podem crer, faz efeito.
Dada a crueldade do mais recente ato de Israel, condenado mesmo por muitos dos seus tradicionais apoiantes (que felizmente não perderam totalmente a capacidade de discernimento), pode ser que essa velha chantagem deixe de fazer efeito. E pode ser que, graças a isso, Israel possa finalmente ser tratado como os outros países.
Adenda: o Arrastão tem coligido documentos interessantes. Destaco este muito interessante texto do Bruno Sena Martins.
Também publicado no Esquerda Republicana
Se os atentados de 11 de Setembro de 2001 permitiram traçar uma linha entre os antiamericanos primários, para quem tudo vale desde que seja contra os EUA, e o resto das pessoas, proporcionando uma (creio que saudável) demarcação, o ataque ao navio turco permite fazer o mesmo em relação aos apoiantes incondicionais de Israel. Quem apoiar, entender, justificar uma atitude destas deixou de distinguir o bem do mal. Está totalmente cego pelo ódio. É isso que se passa com o governo israelita e, receio, com uma boa parte do povo que o elegeu. É isso que os torna perigosos para o mundo.
A diferença (bastante significativa, porém) entre os antiamericanos lunáticos e os pró-israelitas igualmente lunáticos é que nenhum dos primeiros pode escrever um pequeno naco de prosa como este e ser levado a sério. Os segundos podem. Podem repetir esta chantagem até à náusea porque ela até hoje, podem crer, faz efeito.
Dada a crueldade do mais recente ato de Israel, condenado mesmo por muitos dos seus tradicionais apoiantes (que felizmente não perderam totalmente a capacidade de discernimento), pode ser que essa velha chantagem deixe de fazer efeito. E pode ser que, graças a isso, Israel possa finalmente ser tratado como os outros países.
Adenda: o Arrastão tem coligido documentos interessantes. Destaco este muito interessante texto do Bruno Sena Martins.
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2010/06/03
Sócrates: malandro ou trapalhão?
Começo por admitir: também eu era capaz de fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para conhecer o Chico Buarque. Compreendo por isso a vontade de José Sócrates. Só que depois não diria que foi o Chico que me quis conhecer...
Este tipo de trapalhadas, esta má relação com a verdade, já se tornaram uma imagem de marca do primeiro ministro. Desta vez foi a nível internacional. Sócrates não se pode queixar assim da comunicação social: tem que se queixar de quem partiu a ideia de usar Chico Buarque para se autopromover.
Se foi dos seus assessores, sem lhe darem conhecimento, está na altura de arranjar novos (ter assessores tão caninamente fiéis nunca é muito bom - a este respeito, leia-se Ferreira Fernandes: "Ora aí está uma dessas coisas que podemos tirar a limpo sem precisar de uma comissão parlamentar. Os jornalistas que acompanham a viagem não são tantos assim (cinco?, dez?) que não possam explicar a história comum. Um deles até escreveu "segundo fonte do Gabinete de Sócrates". Agora que há um desmentido rotundo à versão que essa fonte deu, o jornalista pode chegar ao pé dela e exigir uma explicação que deve ser pública. E se a fonte não quiser explicar- -se, o jornalista, como houve mentira deliberada, está desobrigado do sigilo e pode contar a história toda. Fico à espera, confiante - o caso é simples e os intervenientes poucos.").
Se foi realmente de Sócrates que partiu tal ideia (ou teve o seu beneplácito), então Chico bem poderia ter-lhe cantado a Homenagem ao Malandro.
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2010/06/02
Um autor de telenovelas ganhou o Prémio Camões
Só foi o primeiro a conseguir tal prémio porque Dias Gomes morreu precocemente. Mas nem só poemas escreveu Ferreira Gullar...
2010/05/31
Dennis Hopper (1936-2010)
O obituário do The New York Times:
May 30, 2010
Dennis Hopper, 74, Hollywood Rebel, Dies
By EDWARD WYATT
Dennis Hopper, who was part of a new generation of Hollywood rebels in portrayals of drug-addled misfits in the landmark films “Easy Rider,” “Apocalypse Now” and “Blue Velvet” and then went on to great success as a prolific character actor, died on Saturday at his home in Venice, Calif. He was 74.
The cause was complications from metastasized prostate cancer, according to a statement issued by Alex Hitz, a family friend.
Mr. Hopper, who said he stopped drinking and using drugs in the mid-1980s, followed that change with a tireless phase of his career in which he claimed to have turned down no parts. His credits include no fewer than six films released in 2008 and at least 25 over the past 10 years.
Most recently, Mr. Hopper starred in the television series “Crash,” an adaptation of the Oscar-winning film of the same title. Produced for the Starz cable channel, the show had Mr. Hopper portraying a music producer unhinged by years of drug use.
During a promotional tour last fall for that series, he fell ill; shortly thereafter, he began a new round of treatments for prostate cancer, which he said had been first diagnosed a decade ago.
May 30, 2010
Dennis Hopper, 74, Hollywood Rebel, Dies
By EDWARD WYATT
Dennis Hopper, who was part of a new generation of Hollywood rebels in portrayals of drug-addled misfits in the landmark films “Easy Rider,” “Apocalypse Now” and “Blue Velvet” and then went on to great success as a prolific character actor, died on Saturday at his home in Venice, Calif. He was 74.
The cause was complications from metastasized prostate cancer, according to a statement issued by Alex Hitz, a family friend.
Mr. Hopper, who said he stopped drinking and using drugs in the mid-1980s, followed that change with a tireless phase of his career in which he claimed to have turned down no parts. His credits include no fewer than six films released in 2008 and at least 25 over the past 10 years.
Most recently, Mr. Hopper starred in the television series “Crash,” an adaptation of the Oscar-winning film of the same title. Produced for the Starz cable channel, the show had Mr. Hopper portraying a music producer unhinged by years of drug use.
During a promotional tour last fall for that series, he fell ill; shortly thereafter, he began a new round of treatments for prostate cancer, which he said had been first diagnosed a decade ago.
2010/05/29
A esquerda cervejista volta a atacar
Tendo a concordar em parte com Carlos Vidal (uma vez teria que ser): o título “A crise dos poderosos é a festa dos oprimidos” para a “concentração anticapitalista” marcada para amanhã, antes do protesto organizado pela CGTP, é muitíssimo infeliz. Para além de que, como escreve nos comentários o Nuno Ramos de Almeida, ir a uma manifestação para criticar quem a organiza é uma profunda descortesia e falta de consideração. Mas cortesia e consideração são coisas que os setores como os que promovem (ia dizer “organizam”, mas isso é muito pouco anarquista) esta “concentração anticapitalista” não conhecem. Afinal, não nos podemos esquecer de que foram precisamente elementos ligados a setores como aqueles (não estou a falar dos promotores desta concentração em particular, que eu nem sei quem são) que foram à celebração do 1º de Maio de 2009 organizada pela CGTP para atacar Vital Moreira. Para evitar confusões apesar de tudo injustas, se calhar até acaba por ser bom para a CGTP esta demarcação – para demonstrar que uns não têm nada a ver com os outros.
É claro que não posso concordar plenamente com Vidal – afinal, são frequentes os apoios a atos violentos por parte deste artista plástico, entre os quais o ataque a Vital Moreira, que Vidal saudou entusiasticamente. As contradições de Vidal são apontadas por Ricardo Noronha, mas nem creio que mereçam tanta atenção: como o próprio Ricardo Noronha aponta, toda a gente já percebeu que Vidal pertence à “ala psiquiátrica”.
Mais significativo parece-me o apoio entusiástico que no “Vias de Facto” e noutros blogues (como apontou o Ricardo Alves) se dá à tal concentração. Conforme suspeitava aqui, agora confirma-se: o blogue onde escreve Diana Andringa, a jornalista que deu aos caloiros do Técnico o conselho que nunca esqueci (“não bebam nem joguem cartas numa manifestação – dá um mau aspeto do caraças!”) é um arauto da “esquerda festiva” (e que, quando calha, parte umas montras, quando não faz pior). Como irão os (oprimidíssimos) membros do Vias de Facto fazer a festa amanhã à tarde? Não querem que seja feriado? A Diana também vai? Também festeja? Estou morto por saber. E triste por a esquerda chegar a isto.
Também publicado no Esquerda Republicana
É claro que não posso concordar plenamente com Vidal – afinal, são frequentes os apoios a atos violentos por parte deste artista plástico, entre os quais o ataque a Vital Moreira, que Vidal saudou entusiasticamente. As contradições de Vidal são apontadas por Ricardo Noronha, mas nem creio que mereçam tanta atenção: como o próprio Ricardo Noronha aponta, toda a gente já percebeu que Vidal pertence à “ala psiquiátrica”.
Mais significativo parece-me o apoio entusiástico que no “Vias de Facto” e noutros blogues (como apontou o Ricardo Alves) se dá à tal concentração. Conforme suspeitava aqui, agora confirma-se: o blogue onde escreve Diana Andringa, a jornalista que deu aos caloiros do Técnico o conselho que nunca esqueci (“não bebam nem joguem cartas numa manifestação – dá um mau aspeto do caraças!”) é um arauto da “esquerda festiva” (e que, quando calha, parte umas montras, quando não faz pior). Como irão os (oprimidíssimos) membros do Vias de Facto fazer a festa amanhã à tarde? Não querem que seja feriado? A Diana também vai? Também festeja? Estou morto por saber. E triste por a esquerda chegar a isto.
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2010/05/28
Sócrates não pode ser mau de todo
Conseguiu algo que muitos sonham: vai conhecer pessoalmente Chico Buarque por vontade do cantor e escritor brasileiro. E esta, hein? Esta vontade de Buarque vale mais do que uma licenciatura numa boa universidade - é um verdadeiro doutoramento honoris causa!
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2010/05/27
O “espanhol técnico” de Sócrates
Faz muita confusão a alguns blógueres bem-pensantes o nosso primeiro-ministro a tentar falar espanhol… em Espanha, junto de empresários. Não percebo porquê: qualquer português que tente comunicar com um espanhol consegue, desde que fale devagar, pronunciando todas as sílabas. É da minha experiência pessoal: aprendi a falar espanhol enquanto assistia, todas as noites, às versões dobradas das telenovelas brasileiras (um género de que gosto), nos canais de televisão americanos destinados aos imigrantes hispânicos. Ao ouvir os atores brasileiros (e portugueses, como Maria João Bastos em El Clon e Nuno Lopes em Esperanza) dobrados, aprendi alguns truques e pormenores de uma língua que, já de si, é muito simples para qualquer pessoa, e mais simples ainda para nós, portugueses. Sempre que vou a Espanha faço questão de falar espanhol, e garanto-vos que espanhóis já gabaram a minha pronúncia e me perguntaram como é que falo espanhol tão bem. Com um método como o meu, qualquer português que assim o deseje aprende a falar espanhol.
Com o francês, no meu caso, passou-se algo semelhante, embora não fosse com telenovelas: de repente, vi-me a viver em França, no meio de franceses, num meio onde a língua mais falada era o francês, e simplesmente quis integrar-me. Comecei a ouvir, a ler e a falar uma língua de que só tinha umas bases aprendidas no secundário, que já estavam esquecidas. Um ano depois já entendia praticamente tudo o que me diziam e era capaz de manter uma conversação em francês. Cometendo erros gramaticais, claro. Mas se eu tivesse medo de os cometer, se não tivesse a iniciativa de querer ser parte da comunicação, nunca seria capaz de falar francês.
Quando se está a falar uma língua estrangeira, o principal objetivo deve ser o de estabelecer comunicação. Não se deve ter medo de cometer erros. O não ter medo de errar, de falhar, que é uma caraterística tão pouco portuguesa. Cito, a propósito do episódio com que comecei, o Vasco Barreto (via o Bruno Sena Martins):
É claro que Sócrates não se comportou bem, apesar de tudo. Preferiu fazer uma piadola de gosto duvidoso com o líder da oposição, sem ser capaz de dizer, perante aquela audiência e naquela circunstância, o que realmente se impunha. Algo como: Voy a tentar hablar español aquí porque eres la única lengua que ustedes comprendem! No fundo, está muito bem para o triste país que somos.
Com o francês, no meu caso, passou-se algo semelhante, embora não fosse com telenovelas: de repente, vi-me a viver em França, no meio de franceses, num meio onde a língua mais falada era o francês, e simplesmente quis integrar-me. Comecei a ouvir, a ler e a falar uma língua de que só tinha umas bases aprendidas no secundário, que já estavam esquecidas. Um ano depois já entendia praticamente tudo o que me diziam e era capaz de manter uma conversação em francês. Cometendo erros gramaticais, claro. Mas se eu tivesse medo de os cometer, se não tivesse a iniciativa de querer ser parte da comunicação, nunca seria capaz de falar francês.
Quando se está a falar uma língua estrangeira, o principal objetivo deve ser o de estabelecer comunicação. Não se deve ter medo de cometer erros. O não ter medo de errar, de falhar, que é uma caraterística tão pouco portuguesa. Cito, a propósito do episódio com que comecei, o Vasco Barreto (via o Bruno Sena Martins):
O “portunhol” de Sócrates é sobretudo uma manifestação da sua personalidade. Percebe-se ali o espírito de “desenrascanço”, um fura-vidas, uma enorme e algo autista confiança, a coragem, ousadia ou lata para enfrentar a elite económica e financeira de Espanha com tão parcos recursos.”A necessidade faz o engenho e Sócrates, com uma licenciatura de uma universidade rasca, obtida em condições estranhas, pela primeira vez agiu como um engenheiro. Mostrou que merece o diploma que tem. E, francamente, quando leio os comentários que se têm escrito convenço-me de que vivo num país de tristes, invejosos e tacanhos. Valham-nos a Mariza e o Mourinho!
É claro que Sócrates não se comportou bem, apesar de tudo. Preferiu fazer uma piadola de gosto duvidoso com o líder da oposição, sem ser capaz de dizer, perante aquela audiência e naquela circunstância, o que realmente se impunha. Algo como: Voy a tentar hablar español aquí porque eres la única lengua que ustedes comprendem! No fundo, está muito bem para o triste país que somos.
2010/05/26
2010/05/24
Mourinho
Cristiano Ronaldo, Messi, são grandes jogadores. Mas como eles houve outros: Maradona, Pelé, Eusébio, Cruyff.
Os miúdos afirmavam que, quando fossem grandes, queriam ser como estes jogadores. Mas agora afirmam que, quando forem grandes, "querem ser como Mourinho". O que é muito bom, tendo em conta que nunca, antes do treinador agora mais uma vez campeão europeu, a inteligência desempenhara um papel tão importante no futebol. Só por isto se vê que nunca antes houve na história do futebol um treinador como ele.
Os miúdos afirmavam que, quando fossem grandes, queriam ser como estes jogadores. Mas agora afirmam que, quando forem grandes, "querem ser como Mourinho". O que é muito bom, tendo em conta que nunca, antes do treinador agora mais uma vez campeão europeu, a inteligência desempenhara um papel tão importante no futebol. Só por isto se vê que nunca antes houve na história do futebol um treinador como ele.
2010/05/21
José Luís Saldanha Sanches (1944-2010)
Na despedida do ilustre combatente anticorrupção, falcedio há uma semana, vale a pena recordar a entrevista a Anabela Mota Ribeiro na Pública, aqui transcrita.
2010/05/19
O “Caso República” aos olhos de hoje
Cartoon de Sam
O PREC português foi rico em episódios notáveis. Alguns ternurentos, como a formação de cooperativas e o assalto aos latifúndios. Alguns trágicos, como os atentados às sedes do PCP no norte do país, as redes bombistas, os assassinatos de militantes de esquerda. Alguns (muito) cómicos, como o primeiro-ministro que declara ao presidente da república encontrar-se “em greve”, que ser sequestrado era “uma coisa que chateava, pá” e, perante uma granada, que “era só fumaça” e “o povo era sereno”.
Todos estes episódios fazem parte da nossa história e, para quem os viveu, da memória coletiva. Mas são nossos, portugueses. O “Caso República”, de que passam hoje 35 anos, pelo contrário, é um episódio que merece ser estudado e meditado a nível internacional, nos cursos de Ciência Política, pelo que tem de fascinante e paradigmático.
No “Caso República” (os mais moços podem recordá-lo, ou mesmo aprendê-lo, aqui) estão em confronto a um nível elementar, e por isso bastante profundo, o capital, o trabalho, a liberdade intelectual e de imprensa e, sobretudo, as relações e hierarquias entre profissões diferentes. Para uma pessoa de direita, creio que o lado certo só pode ser um (mesmo se o jornal fosse afeto ao PS, como era!). Para uma pessoa de esquerda, creio que a resposta já não é nada óbvia. É claro que para os artistas Bastos o lado certo só pode ser o outro, sem discussão, e ainda hoje atiram essa questão aos interlocutores, como que para atestarem a “pureza ideológica”.
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2010/05/17
Há dez anos
Fez na sexta feira dez anos. Comprei um bilhete de avião de Nova Iorque para a Califórnia, para daí a duas semanas. Comprei a máquina fotográfica que não poderia deixar de levar (e que ainda hoje é a minha máquina fotográfica - uma máquina digital das primeiras). Comprei os bilhetes para o concerto do João Gilberto no Carnegie Hall, depois de voltarmos da Califórnia. Comprei o álbum "Passarim", do Tom Jobim, na Trumps Tower, na 5ª Avenida. O meu amigo que comigo ia, e que ficou no carro, estacionado ao pé do Hudson, foi abordado por prostitutas e ia sendo preso (fui dar com ele com as mãos em cima do capot, a ser revistado pela polícia). Foi um dia verdadeiramente inesquecível, por tudo isto. Mas o mais inesquecível foi chegarmos a Newark, para jantarmos na Marisqueira Seabra, sem sabermos de resultado nenhum (bem bastara a deceção de uma semana antes, em Alvalade, com o Benfica), e darmos com uma festa verde e branca.
2010/05/14
Um 13 de Maio com tolerância de ponto
Enquanto no Técnico recebiam a visita do diretor-geral do CERN, que dava uma palestra, eu aqui no Minho tive que pedir que os seguranças me abrissem a porta do lugar de trabalho. Mas tinha marcado uma reunião com um aluno, à mesma hora em que o Papa rezava missa em Fátima.
2010/05/13
Maria Amélia Cesário Alvim (1910-2010)
Do JBonline:
Matriarca da família Buarque de Holanda morre aos 100 anos
RIO - Aos 100 anos, Maria Amélia Cesário Alvim Buarque de Hollanda morreu de maneira discreta, na madrugada de quinta-feira: dormindo e de causas naturais. Estava no apartamento do sétimo andar do Edifício Alcazar, construído na década de 30, na pequena Rua Almirante Gonçalves, nº 4, em Copacabana, quase ao lado do botequim Bip Bip, um dos redutos da boêmia carioca que, aliás, Memélia – apelido de família dado pela neta Bebel Gilberto – ajudou a abrir. Mas nunca gostou de que se falasse nisso. A discrição foi uma de suas marcas.
Como boa matriarca, Maria Amélia atuava à sombra e à moda antiga. Ajudou nas pesquisas e datilografou os originais do clássico Raízes do Brasil, de 1936, escrito pelo marido, o historiador e crítico Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982). Enquanto Sérgio mergulhava nos estudos e pedia sossego para poder trabalhar, ela cuidava da parte prática, administrando a casa da Rua Buri, no Pacaembu, São Paulo, e educando os sete filhos: Sérgio, Álvaro, Maria do Carmo, as cantoras Ana, Cristina e Miúcha e o compositor Chico Buarque. Mais tarde, também não descuidou dos 13 netos e 12 bisnetos.
O bom gosto musical dos Buarque de Hollanda deve-se aos ouvidos de Maria Amélia. Ensinou os filhos a cantar samba, gênero de sua preferência, e a torcer pela Mangueira. Até participou de gravações: a voz dela está ao fundo de O meu guri, no registro de Cristina Buarque para a canção do irmão. No futebol, era Fluminense.
O Partido dos Trabalhadores, que ajudou a fundar, foi a paixão política de Maria Amélia. Foi ela a primeira pessoa a contribuir com a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, com um cheque da pensão de viúva a que tinha direito. A gratidão fez com que o atual presidente, em vindas ao Rio, sempre passasse no apartamento de Copacabana para cumprimentá-la.
Quinta-feira, em nota, o presidente Lula disse que “Maria Amélia era uma pessoa que aliava ternura a firmeza, inteligência e preocupações sociais. Mesmo sendo filha de família tradicional, durante toda a vida lutou e apoiou as lutas pela liberdade e por uma sociedade mais igualitária”.
O governador Sérgio Cabral lembrou que “Maria Amélia foi uma grande mulher, matriarca de uma família que, na música e na literatura, simboliza o talento brasileiro”.
No Twitter, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, lamentou “a perda da grande mulher”.
Presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, disse que a ABL se entristeceu:
– Ela foi casada com uma figura eminente da cultura brasileira e tem filhos igualmente ilustres, figuras singulares em diversas manifestações culturais do país.
O acadêmico Antonio Torres disse que Maria Amélia “foi um exemplo de pessoa generosa e desinteressada”.
– A festa de aniversário de 100 anos foi muito bonita, mas sentíamos que não se repetiria. Ela morreu sem sofrer. Seu coraçãozinho cansou e parou de bater.
O corpo de Maria Amélia será cremado sábado, no Memorial do Carmo, no Caju.
Dia de tristeza e lembranças para amigos e vizinhos
Alfredo Melo, dono do bar Bip Bip em Copacabana, de cuja criação Maria Amélia foi grande entusiasta, lamentou a morte de uma amiga:
– Vai ficar um vazio muito grande.
Segundo o comerciante Maria Amélia tinha um “coração lindo”, estava sempre bem humorada e preocupada com o bem estar alheio.
A cabeleireira Tânia Alves conta que atendeu Maria Amélia por nove anos no Karoline Coiffeur, localizado na Almirante Gonçalves. Tânia contou que, por vezes, era chamada à residência da mãe de Chico Buarque e Miúcha para fazer-lhe o cabelo e as unhas.
Ao longo desta última quinta-feira, os familiares de Maria Amélia estiveram no prédio onde ela morava. A neta Sílvia Buarque foi acompanhada da mãe, a também atriz Marieta Severo. O produtor cinematográfico Pedro Buarque compareceu ao local com um amigo.
Por volta das 19h, o corpo foi levado para retirada do marca-passo, que não pode ser cremado.
O que teria sido de Sérgio Buarque de Holanda sem esta mulher, que preferiu refugiar-se na discrição? (Chico tem bem a quem sair.) Acrescento uma história deliciosa, pelo escritor Mário Prata:
MARIA AMÉLIA CESÁRIO ALVIM BUARQUE DE HOLLANDA, do lar da Buri (São Paulo, 1972)
Foi na festa de 70 anos do marido, o professor Sérgio, que ela me achou na cozinha, atrás de gelo. Sempre me chamou de Mario Prata.
-- Mario Prata, eu tenho percebido que o Chico tem andado muito com você e então eu queria te pedir um favor. Uma ajuda.
Fiquei curiosíssimo em que ajuda poderia ser essa. Na época, o Chico estava no auge da carreira e eu me orgulhava daquele papo com a mãe dele na cozinha.
-- Pois não, dona Maria Amélia.
Ela balançou o corpinha de cachaça e me falou, séria:
-- Fala pra ele terminar a faculdade de Arquitetura, fala. Ele era tão bom aluno de hidráulica.
Dois anos antes, o Chico havia feito "Apesar de você" que tinha passado pela censura, até que um gênio da Folha insinuou que a música tinha sido feita para o Médici. Foi proibida.
As rádios não podiam mais tocar, o Chico não podia mais cantar em show. Mas o público cantava.
Aí, os militares proibiram o público de cantar. O Chico não podia nem solar no violão.
E, num show, o público começa a pedir, a implorar. O Chico nada. Fazia que não era com ele.
Foi quando a dona Maria Amélia se levantou no meio da plateia:
- Meu filho, seja homem! Canta!
No dia seguinte ele estava na polícia dando explicações, apesar de você:
O militar:
-- Quem é o VOCÊ?
-- É uma mulher mandona, muito autoritária!
Agora, outro dia, depois de anos, encontro com a dona Maria Amélia. Queria falar deste livro e pedir a sua autorização para este verbete:
-- Dona Maria Amélia, estou escrevendo um livro que se chama "Minhas mulheres e meus homens" e...
-- Eu sei. É sobre seus filhos e suas filhas.
-- Não, dona Maria Amélia, é...
Ela riu da minha cara:
-- É uma caçoada, Mario Prata...
Eu tinha me esquecido do pique dela.
2010/05/12
Foi a 24 de Abril
Bandeira do PCP impede funeral (via Um Tal de Blog).
Publicado originalmente no Esquerda Republicana
Publicado originalmente no Esquerda Republicana
2010/05/11
Reunião da ANICT
Foi um jornal do Minho quem melhor relatou o que se passou neste fim de semana, mas infelizmente só no final do Simpósio da ANICT. Mesmo assim, muito melhor que todos os outros jornais que li.
2010/05/10
Benfica campeão (5)
O Benfica é um justo campeão. O Braga fez um excelente campeonato. Da minha parte, valha-me o Beira Mar...
Benfica campeão (4)
Sentia-me rodeado de adeptos benfiquistas que se dirigiam ao Marquês de Pombal como se estivesse no meio de uma festa que não era minha. Não me sentia propriamente mal. Sentir-me-ia mal se o Benfica tivesse ganho o campeonato na última jornada ao meu clube, mas o Benfica não tem culpa que o meu clube tenha realizado a pior época de sempre, tendo ficado pela primeira vez mais perto do último que do primeiro, em termos de pontos.
Senti-me melhor ali, provavelmente, que em Braga. A equipa do Braga está de parabéns. Os adeptos, não, como se comprova pela invasão da Casa do Benfica em Braga. Confirma o que há muito sentia: no Minho os adeptos de futebol são fanáticos.
Senti-me melhor ali, provavelmente, que em Braga. A equipa do Braga está de parabéns. Os adeptos, não, como se comprova pela invasão da Casa do Benfica em Braga. Confirma o que há muito sentia: no Minho os adeptos de futebol são fanáticos.
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