2006/03/30

God will get you for that, Filipe!

Lembram-se da Maude, a ultraliberal (no sentido americano do termo) personagem da excelente série homónima dos anos 70 (e que dava na RTP2 no final dos anos 80)? A Maude tinha uma empregada negra, a Florida, com quem tinha grandes discussões e brigas.
Para provar à sua vizinhança que era uma mulher avançada e que lutava pelos direitos das minorias (uma mulher de causas), a Maude exigia que a empregada negra entrasse e saísse sempre pela porta da frente da casa e não pela entrada de serviço. Ao que a Florida respondia que não, que preferia entrar sempre pela entrada de serviço pois para ela era muito mais perto e não queria estar de propósito a dar a volta à casa toda só para entrar pela entrada principal. Principalmente porque a maior parte das vezes a Florida vinha carregada com os sacos das compras para a patroa (quem ia às compras era ela).
Por que raio é que, depois de ter escrito a carta aberta à Fernanda Câncio, me lembraria eu da Maude?

Que confusão de brócolos

Cara Fernanda Câncio:
Sei que é uma mulher de causas, e isso parece-me muito bem. Mas nem todas as causas têm a mesma importância, e algumas podem não ter mesmo importância nenhuma, para não dizer que me parecem erradas. Parece-me ser esse o caso da última causa que decidiu abraçar: a do preço dos brócolos no El Corte Inglés. Deixe-me lembrar-lhe uma ou duas coisas. Ninguém vai ao El Corte Inglés à procura de bons preços. O que se compra no supermercado do El Corte Inglés é bem exemplificado nos tais brócolos lavados e sem pé que a sua empregada lhe trouxe. O El Corte Inglés é para isso mesmo: para pessoas da média e alta burguesia mandarem as empregadas fazerem as compras, sem se preocuparem grandemente com os preços. Um supermercado para betinhos. (Espero que o Rodrigo Moita de Deus concorde.) Sobretudo, nenhum cliente do El Corte Inglés inventa causas ou escreve no blogue a queixar-se por três euros. Se tivesse a Fernanda comprado os brócolos na mercearia do seu bairro em vez de mandar a empregada comprá-los, teria ficado muito melhor servida. Para além da mercearia há muitos outros super e hipermercados onde pode fazer compras a preços mais baixos. Sugiro-lhe sobretudo: deixe as causas em paz por um bocadinho, deixe a empregada doméstica com as actividades domésticas propriamente ditas e vá a Fernanda às compras. Experimente e vai ver que descobre coisas muito curiosas. Siga os exemplos que lhe são próximos, mesmo ao lado: o do seu colega de jornal João Miguel Tavares, que ainda há umas semanas publicou no DN um estudo muito interessante sobre supermercados e preços. Ou o do seu colega de blogue João Pedro Henriques (a maior sumidade blogosférica em comércio alimentar a retalho). Vai ver que não se arrepende.
Aceite os meus cumprimentos respeitosos.

2006/03/29

Versão nova de fitas antigas

Já vimos todos este filme. No meu caso, eu participei na versão anterior. Era um dos protagonistas. Já sabemos o enredo. De seguida surgem os comentários (anónimos, mas sempre com o mesmo estilo de escrita facilmente reconhecível) assinados por um tal de Ai ai. O Valupi que se cuide.

A Bola em Newark


Ferry Street ("Portugal Avenue"), Newark, New Jersey, EUA

A Bola tem desde hoje uma edição impressa e distribuída nos EUA e Canadá, a partir de Newark. Parabéns ao vetusto diário desportivo português. Conforme a fotografia atesta, há muito que constitui um dos produtos de consumo mais procurados no Ironbound, a par do bacalhau, dos enchidos e do peixe. Maçãs reinetas é que não há maneira de lá se encontrar...

2006/03/28

Muito em português

Simpaticamente o Lutz, autor do Quase em Português, deixou-nos uns trechos das obras de Brecht, com o objectivo de "reabilitar" este autor. Conforme eu escrevi, a minha opinião baseava-se num conhecimento muito superficial da obra! (Na verdade também se baseava em várias discussões com amigos meus alemães, como o Lutz.) Aquele trecho, naquele contexto, pareceu-me totalitário. Não mais do que isso. Nunca procurei que tal fosse uma opinião sobre toda a obra de Brecht (baseada num trecho). Era mais uma intuição do que uma opinião ou muito menos um parecer definitivo (e eu - defeito ou virtude de profissão - valorizo muito a minha intuição). Mas agradeço ao Lutz a gentileza.

No dia das eleições de Israel

Uma questão muito actual, no Quase em Português, um blogue que não conhecia e a que cheguei via o Franco Atirador, em dois textos muito lúcidos: Combater o Anti-semitismo: Teoria e Prática e Linguagem draconiana e anti-semitismo. A fazerem-me lembrar os tempos áureos do BdE...

Contra o despedimento sem justa causa

É natural e desejável para ambas as partes (empregadores e jovens recém formados) que não haja um compromisso definitivo nos primeiros empregos, mas para isso já está instituído o modelo do contrato a termo certo (que na prática é o que acontece sempre). Que para todo e qualquer despedimento (que é diferente de termo de contrato) seja necessária uma causa justa e comprovada, para mim é uma questão civilizacional. Há coisas em que não podemos transigir e esta é uma delas.

manif_28

Adenda: O essencial sobre o que está em jogo é, a meu ver, o que referi acima, e nesta questão como em todas há que separar o essencial do acessório. Só conheço a realidade francesa enquanto investigador numa grande École e num laboratório de Estado; nunca estudei ou dei aulas em França. Para uma perspectiva de quem está completamente por dentro destas duas realidades recomendo vivamente a leitura do que o André Belo tem vindo a escrever no Garedelest.

2006/03/27

Informações complementares

Sobre o Hôtel de Ville (cortesia do Manuel Resende) e sobre outras actividades televisivas de José Carlos Malato (originalmente no Frangos para Fora e não no Metro...).

A foto e os factos

Para tirar a foto do coelhinho na entrada anterior tive de andar a passar por entre câmaras durante a gravação do programa, contrariando todas as instruções que o mesmo coelhinho nos dera no início (que também eram do tipo "aplaudam quando eu vos fizer sinal para aplaudir"). Não creio que tenha chegado a aparecer na televisão em directo, mas para eu, com a minha vocação de paparazzo, tirar a foto comprovativa e colocar no blogue, muita gente olhou para mim a pensar "quem será este maluco?" Reparem bem na foto, lá ao fundo, no ar de José Lello a olhar para mim. Provavelmente a pensar que eu estou a usar o zoom (que a minha velha máquina não tem) e a fotografá-lo a ele.

2006/03/26

A diferença entre o Silva e o Carreira está no coelhinho



O saudoso Tony Silva tinha no Tal Canal uma deliciosa "coelhinha" (interpretada por Natália de Sousa) a apelar aos aplausos do público. O Tony Carreira e os restantes convidados de José Carlos Malato tinham o coelhinho que esta foto evidencia.
Uma lição importante: nunca confiar na espontaneidade das palmas de um programa gravado em directo.

2006/03/25

O mundo é pequeno e Paris é uma aldeia


Nunca tinha estado nos salões nobres do Hôtel de Ville de Paris, apesar de amigos que lá estiveram me garantirem que eram muito bonitos, e - confesso - foi esse originalmente o principal motivo que me levou a pedir um convite para a emissão especial, faz hoje três semanas, do programa Portugal no Coração, directamente dos mesmos salões para a RTP.
O que eu não faço por ir conhecer os salões nobres do Hôtel de Ville: ter de assistir ao Portugal no Coração, programa que, de facto, não costuma fazer parte das minhas preferências. Bem, assisti e dei o meu tempo por muito bem empregue. Está certo que tive de gramar alguma propaganda (política e não só) da praxe, com discursos cheios de "saudade" e de "Portugal sempre no coração". Mas é esse o programa... Só que, para além de nunca antes ter estado numa emissão de um programa ao vivo, assisti a alguns momentos musicais de qualidade (quero aqui destacar a fadista Ana Moura - sem parentesco! - que me pareceu francamente muito boa). Pena que no meio da exaltação dos emigrantes a Tony Carreira, porventura outros cantores tenham passado mais despercebidos.
Mas do que não estava mesmo nada à espera foi de conhecer um antigo bloguista (para quando o regresso?), comentador deste blogue - já o era antes de o conhecer - e do antigo BdE, o Manuel Resende. Bem fiel à sua forma de estar nos comentários (onde não "perdoa" erros de ortografia), o Manuel não deixava passar em claro nenhum dos pontapés na gramática, em português e em francês, dos apresentadores ou dos entrevistados. Por um feliz acaso sentei-me ao lado e tive o prazer de o conhecer a ele e à sua família.
Por tudo o que contei, um serão que antevia como uma seca motivada pela minha ideia fixa de conhecer os salões nobres do Hôtel de Ville - que, diga-se, são bem bonitos - acabou por se tornar bem agradável. Se calhar ainda vale a pena ter ideias fixas.

2006/03/24

Clareza e simplicidade


«"Estou a gostar de ouvir isto" comentou em surdina um velho militante de Vila Nova de São Bento, que foi frequentador assíduo das cadeias do antigo regime.(...)
Jerónimo de Sousa retoma a palavra. "Camaradas, por mais que tentem escamotear a história e os factos, não estão eliminados os antagonismos de classe. Bem pelo contrário, a luta de classes continua a ser a grande questão da nossa época" vincou com palavras marteladas o orador. A audiência compreendeu onde "o camarada Jerónimo" queria chegar e apoiou com palmas e palavras de ordem. (...)
As palmas regressam em força e o secretário geral dos comunistas, coloca a cereja por cima do bolo ideológico que acabara de confeccionar: "Camaradas, Somos um partido feito de homens e mulheres, reconhecemos os nossos erros e temos consciência que não temos verdades absolutas." O auditório percebeu a mensagem e Jerónimo de Sousa terá ficado com as costas bastantes amassadas, por ter ousado ir ao encontro das bases do seu partido. (...) Bastava ouvir os comentários, as expressões de alegria que contratavam com o estado de espírito de tempos recentes em que até os mais convictos sentiam vacilar o ideal comunista.
Foi como que um clique. O aparecimento de algo que faltava. Não pode ser apenas a capacidade afectiva de Jerónimo de Sousa. A forma vibrante como as pessoas expressavam o seu apoio às palavras do líder, revelaram que era urgente falar assim. (...) Estoiram os aplausos e Jerónimo de Sousa, não perde tempo. (...) Percebe-se a razão da empatia do novo secretário geral do PCP. Fala a linguagem que as pessoas já tinham deixado de ouvir.»

(reportagem de Carlos Dias, Público, 20 de Março de 2006)

A esquerda bem-pensante e a linha justa

Quando surgiu o Bloco de Esquerda, algumas pessoas amigas que conhecem bem a esquerda e os dois partidos garantiram-me que muitos dos seus membros que provinham do PCP não eram menos estalinistas que a linha mais dura do PCP, apesar de terem saído em conflito com esta. O que havia era divergências entre facções no PCP, e esta facção (que viria a integrar-se no Bloco) simplesmente estava em minoria. Mas não era mais democrática por natureza.
Este parecer não é para ser generalizado a todo o Bloco de Esquerda, o mais heterogéneo dos partidos portugueses de dimensão média. Nem sequer é para ser generalizado a todos os membros do Bloco provenientes do PCP. Mas à medida que os vou conhecendo melhor vou-me convencendo de que quem me avisou tinha razão.

2006/03/23

Pequena questão

Conseguem ver a fotografia nesta entrada? Se estiver em Windows (com o IE), consigo. Em Linux, com Mozilla, não consigo! A fotografia aparece com outro endereço. Se colocar esse endereço passo a vê-la em Linux mas deixo de a ver em Windows. E vocês, conseguem vê-la? Com que sistema/browser?
Se alguém entendido nos álbuns fotográficos do Yahoo quiser dar um esclarecimento, ficarei agradecido.

O texto anterior, antes de ser reescrito...

...continha passagens como «Por tal peça o autor já não me inspirava grande simpatia», «Já nessa altura o autor não me inspirava grande simpatia.», «Depois de ler este texto, (...) Brecht deixou de me inspirar qualquer simpatia.» Efeitos de uma eliminação injusta e de uma dor de cabeça, prenúncio de uma gripe a caminho. Espero ao menos ter deixado clara a minha simpatia por Brecht, autor que, como referi, conheço muito mal.

Utilitário... para Brecht

Praticamente desconheço a obra de Brecht. Para além de A Ópera de Três Vinténs, que vi há uns naos no Teatro Aberto, só conheço um fragmento de uma peça em que o autor condena Galileu por ter recuado perante o Tribunal da Inquisição. Por esta peça o autor já não me inspirava grande simpatia: será que Brecht julga que Galileu teria prestado um melhor serviço à humanidade sujeitando-se a ser um mártir como Giordano Bruno? Teria Brecht noção do que estava a dizer?
Recentemente, depois de ter lido este texto da sua autoria no Aspirina B, Brecht deixou de me inspirar simpatia. Por estas duas amostras parece-me um autor totalitário.

A isto chama-se o sistema...


...e também a jogadores injustificadamente explusos em alturas cruciais, a foras-de-jogo sistematicamente mal assinalados (com prejuízo sempre para o mesmo lado), etc...
(E era penalti, sim. A televisão não deixa dúvidas de que o corte com a mão é feito dentro da grande área.)

2006/03/22

Estou tão confiante...



...que até acho que vou almoçar dobradinha.

Li e gostei

Meus genes discretos, pelo Vasco de Nova Iorque.

No Diário de Notícias:
Atoleiro, por António José Teixeira.
A má sociedade civil, por António Costa Pinto.

2006/03/21

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu

Música do dia: Choro Bandido. A dois cliques. Das muitas versões disponíveis, recomendo as pelos autores, Chico Buarque e Edu Lobo.
(Os Anos Dourados ficam para outro dia, mas a Ana Sá Lopes pode continuar a sugerir mais.)

«Uma açoriana...»

Foi assim que na crónica que transcrevi atrás Vasco Pulido Valente se referiu a uma reaccionaríssima catedrática da Universidade dos Açores, doutorada em Filosofia com trabalhos em "Ética das Ciências da Vida", de cujo nome não se recordava.
Eu nunca tinha ouvido falar da senhora e também não me recordo do seu nome. Mas sei que é açoriana. E como eu, estou certo, a maioria dos leitores. Por isso tratá-la por "uma açoriana", como faz Vasco Pulido Valente, é a forma mais directa de abordar o assunto. Como bem notou outro Vasco, é possível que os açorianos se sintam ofendidos com esta liberdade de expressão do cronista, típica de quem se coloca acima do comum mortal. Mas ao mesmo tempo revelam capacidade de ir directo ao essencial, sem se perder em pormenores. Da minha parte, registo que é também por estes tiques soaristas que eu gosto sempre de ler o Vasco Pulido Valente. Ó Vasco, por que não se candidatou você à Presidência da República?

2006/03/20

Só para chatear (ainda mais um bocadinho) o Nelson

Ouvi ontem durante o relato do União de Leiria - Sporting um diálogo como este os locutores:
- Regista-se uma belíssima casa.
- Ainda há umas semanas este mesmo estádio Magalhães Pessoa não levou mais do que umas trezentas pessoas num jogo. Hoje está praticamente cheio de adeptos do Sporting.
- Em cada ano, sempre que cá vem o Sporting é que isto acontece.

(Nota bene: os adeptos referidos pelos locutores eram do Sporting, pois claro, mas eram provavelmente sócios... da União de Leiria.)

Balanço de Saint Patrick

Grande derrota da oposição a Filipe Soares Franco (leia-se Dias Ferreira e, principalmente, Sérgio Abrantes Mendes). A maioria dos sócios do Sporting está com o actual presidente, mesmo que a proposta não tenha avançado (por dois por cento).
Por isso mesmo, pequena derrota para Filipe Soares Franco. Veremos em que tal se traduz no futuro.
Pequena vitória para António Dias da Cunha (que apesar de tudo não vejo como apoiante da oposição). Fica a sensação de que a se proposta não avançou (os dois por cento que faltavam), tal se deveu às suas críticas, grande parte delas a meu ver fundamentadas.
Outro grande derrotado: José Roquette. Nem teve coragem de aparecer na assembleia. Afinal também ele, como apoiante da alienação do património, deveria responder à grande pergunta que se põe: para quê ter gasto tanto dinheiro a construir este património que se quer vender? O Sporting é alguma imobiliária? (Note-se que eu compreendo que talvez a alienação seja a melhor solução mas não posso deixar de estar perplexo.)
A outra grande pergunta - que fazer do eclectismo? - deve pôr-se a Mário Moniz Pereira, outro defensor da alienação do património. Tudo questões a responder em breve.

2006/03/19

Li e gostei: Vasco Pulido Valente

Foi uma surpresa a espécie de gente que (Cavaco) insistiu em levar para Belém. As nomeações para o Conselho de Estado, por exemplo, revelam uma estranha hostilidade ao Parlamento. (...) Este Conselho de Estado proclama o "esplêndido isolamento" do dr. Cavaco: a sua orgulhosa auto-suficiência.
A escolha de assessores também não tranquiliza. O assessor para Assuntos Políticos e grande nome da revista Atlântica, António Araújo, o consultor para Assuntos Políticos, o notório dr. Espada, e a consultora para a Ética e Ciências da Vida, uma açoriana, podiam perfeitamente ter saído ontem de uma caverna qualquer do Bible Belt, a berrar por Bush. Será que o dr. Cavaco, que sempre julgámos relativamente equilibrado, quer de facto embarcar numa cruzada moral contra o aborto, a pílula, o divórcio, a homossexualidade, a pornografia e o resto dos crimes sem perdão em que o "niilismo" moderno nos "poluiu"? Se quer, precisa de músculo: e tem muito músculo no dr. Carlos Blanco de Morais, da "nova direita" e da revista Futuro Presente, conhecido apologista da "maneira forte", que da imigração à nacionalidade já mostrou o seu apego à "ordem". Para acabar o quadro, há ainda o contingente "liberal". O inevitável dr. Espada, claro, papagaio por excelência do ultraconservadorismo americano; o prof. Justino, que acha o levantamento do sigilo bancário um acto de "fascismo fiscal" (fascismo? a sério?); e o dr. Borges de Assunção, consultor económico e organizador do Compromisso Portugal (esse benemérito grupo), que vem com a velha receita de "emagrecer" o Estado e reduzir impostos.
Se o dr. Cavaco resolver um dia ouvir este raminho de cabeças pensantes, põe em pé de guerra ou simplesmente em guerra a esquerda e a república. E, se puser, não se deve iludir, com certeza que perde.


(Público, 17 de Março de 2006)

Quando se tratou das nomeações para o Conselho de Estado, Jorge Sampaio fez precisamente o contrário de Aníbal Cavaco Silva. Queria que os partidos representados na Assembleia da República (excepto o Bloco, nessa altura, ainda em embrião) estivessem também representados no Conselho de Estado. Ofereceu, por isso, um lugar da sua quota pessoal ao presidente do CDS e outro ao secretário-geral do PC. O presidente do CDS, por razões que não interessam aqui, resolveu recusar. O secretário-geral do PC não recusou e o PC teve o seu assento garantido durante todo o mandato. A política de Jorge Sampaio é muito compreensível. Se a Assembleia se portava com facciosismo, ignorando uma parte significativa de si própria, competia ao Presidente repor o equilíbrio. O Conselho de Estado, sendo consultivo, não decide nada, mas na medida do possível deve representar a opinião do regime e do país. Deixar de fora o CDS ou PC diminui, como é óbvio, sua eficácia e o seu valor: e contribui para isolar o Presidente. (...)
Quanto aos conselheiros, não há de facto qualquer impedimento a que o dr. Cavaco nomeie Gengis Khan seu assessor político. Só parece estranha a concentração em Belém de gente que em princípio se julgava incompatível, ou quase incompatível, com a personagem pragmática e moderada do candidato à Presidência. (...) Um pequeno grupo de zelotas, para não dizer pior, acaba frequentemente por influenciar (ou envenenar) a atmosfera ideológica de uma instituição. O que sem eles se considerava impensável é com eles, de repente, vulgar. (...) Essas criaturas chegam com um passado, encarnam causas, trazem uma agenda e exercem funções de algum alcance. Não são o dourado de uma porta. São uma franja da direita irreformada e irreformável, que o dr. Cavaco instalou no centro da política.


(Público, 18 de Março de 2006)

Sobre as manifestações de estudantes em Paris

Há quem, (muito) mais à direita, não tenha mais o que fazer do que inquirir pelo conteúdo dos blogues de esquerda. Embora eu não seja um dos inquiridos, aproveito para acrescentar algo à propaganda do AAA, que se limita a acusar a extrema-esquerda dos distúrbios nas universidades em Paris: ele que leia esta nota que evidencia a prisão de militantes de extrema-direita nas manifestações do Quartier Latin. Mas estas notícias não se lêem no Insurgente.
Já agora aproveito para acrescentar: embora haja sempre excessos que são de condenar - e não é aceitável, por exemplo, que um investigador não possa ter acesso ao seu local de trabalho por este se encontrar tomado por estudantes, como sucedeu em algumas universidades de Paris, não se pode tomar a árvore pela floresta (algo habitual na demagógica direita blogosférica). As manifestações decorreram sem problemas e foram um sucesso, e a verdade é que sete em cada dez franceses afirmam-se contra o projecto-lei do Contrato de Primeiro Emprego que Villepin impôs sem qualquer discussão.

A ler ainda: Pais orgulhosos, e por vezes solidários. Isto é o que eu mais gosto na França.

2006/03/18

Em Paris, os estudantes manifestam-se



Festa na Fondation Deutsche de la Meurthe, CIUP

2006/03/17

Saint Patrick no Pavilhão Atlântico



O dress code das festas de Saint Patrick, que hoje se celebram na Irlanda, na Nova Inglaterra e um pouco por todo o mundo, obrigam sempre ao porte de uma peça de roupa verde, nem que seja (como no meu caso) um cachecol do Sporting. Estão reunidas assim as condições para se fazer uma monumental festa de Saint Patrick logo à noite no Pavilhão Atlântico. Quer o leprechaun quer o leão equipam de verde. A diferença é que o caldeirão deste último não está cheio de ouro.

Leões desavindos

As verdadeiras eleições do Sporting disputam-se hoje. O futuro do Sporting decide-se esta noite.


Entrevista ao Record, 23 de Fevereiro:

O dr. Dias da Cunha foi um bom presidente do Sporting e devia ter sido o presidente do Centenário. Devo dizer-lhe que o dr. Dias da Cunha pediu-me até há um ano atrás para eu ser candidato e eu sempre disse que não queria ser candidato e uma das razões para a minha posição prendia-se com o facto de eu ver o Sporting como o estou a ver agora, apresentando este projecto. Por um lado, sinto que isto não deixa de ser um projecto que tem a sua quota-parte de audaz e que pode chocar com a cultura de alguns sportinguistas. Eu, aos 52 anos, o que sou é sportinguista. Quero o bem do Sporting e quero dar-me bem com o Sporting. Por isso, não quero que esta proposta seja mal interpretada e não pretendo fazer inimigos, muito menos à volta do Sporting. Em Junho do ano passado, eu saí do universo empresarial do Sporting, porque tive divergências acerca da gestão da SAD. Quanto a mim o Sporting é fundamentalmente futebol e considerei que não fazia sentido eu estar no Sporting. (...) A minha diferença com o dr. Dias da Cunha foi no final da época passada na análise que eu fiz da'performance' não só da equipa como da equipa técnica, como da equipa de gestão. Aí tivémos uma divergência. Eu achei que as coisas tinham de mudar e ele entendeu o contrário e ele era o presidente...




Entrevista a A Bola, 15 de Fevereiro:
A decisão final deve pertencer aos sócios mas, para que haja seriedade, devemos mostrar as contas completas e diferenciadas, sendo certo que a contabilidade do Sporting já as permite. Devemos mostrar aos sócios exactamente o que cada modalidade, além do futebol, custa verdadeiramente ao Sporting, desde custos de funcionamento, à amortização de instalações. Só com estas contas disponíveis se podem tomar decisões sérias. Dito isto, tenho de dizer que gosto do Sporting ecléctico. Gosto do Sporting dos fundadores e entendo que aquilo que se exige de um dirigente é saber ter em conta o mundo e as suas mudanças, mas, ao mesmo tempo, saber conservar os valores fundamentais. Por isso, assumi no meu mandato que nenhuma das modalidades seria posta em causa.
Entrevista ao Record, 13 de Março:
O que assinei não é uma obrigatoriedade de alienação pura e dura e muito menos uma alienação definitiva. Alguém de bom senso acredita que aceitaríamos vender por 5 milhões algo que nos custou 17?


O segundo sempre foi sério; o primeiro é apoiado por pessoas que me parecem sérias. Mas um destes senhores não diz a verdade. Será que tal vai ficar esclarecido hoje? Oxalá, e a bem.

PS de última hora: o DN de hoje dá mais umas pistas que a serem verdadeiras justificam certas opções.

Cadernos quadriculados forever

Alguém sabe dizer-me o que é um moleskine? Sinceramente. Nunca tinha ouvido tal palavra antes de haver um blogue com esse nome. Aliás, nunca ouvi tal palavra. Só a li, e sempre em blogues portugueses.

2006/03/16

Li e gostei

Hostilidade e Do relativismo, caso prático (também via Cibertúlia).
Sectarismo no Esquerda Republicana.
(Só uma nota. Cavaco tem o direito de escolher quem quiser para seu conselheiro, e não tem obrigação nenhuma de chamar conselheiros dos partidos que não o apoiaram. Nalguns casos as escolhas foram naturais e muito boas, como sejam Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa. Mas eu tenho o direito de considerar outros conselheiros como de extrema direita. O presidente é um político eleito e como tal não tem de ser unânime; Cavaco não fala e jamais falará por mim. Mas as suas escolhas são significativas.)

Universo ao meu redor, Infinito particular



À falta de um, são estes os títulos dos dois novos álbuns de Marisa Monte. Um pop (com uma participação especial de David Byrne, o que me aumenta ainda mais a expectativa). O outro de sambas. A explorar aqui.

2006/03/15

Todos a Point Place, nos anos 70!



Já tinha falado nesta série no Blogue de Esquerda (aqui e aqui). Disseram-me entretanto que as primeiras temporadas já tinham dado em Portugal. Sei agora que estão a dar as temporadas mais recentes na TVI.
Quando esta série começou a ser transmitida nos EUA toda a gente esperava um fiasco. Os protagonistas eram jovens actores desconhecidos, e o ambiente num subúrbio do Wisconsin dos anos 70 não ajudaria muito. Afinal, uma vez mais se confirmou que razão tinha o João Pinto quanto aos prognósticos só no fim do jogo. A série hoje já vai na oitava temporada, os seus (entretanto já não tão) jovens protagonistas são famosos (OK, o mais famoso de todos, Ashton Kutcher, tornou-se entretanto o marido de Demi Moore).
Qual o segredo do sucesso da série? Tudo se resume na conclusão de que o relacionamento entre pais e filhos hoje em dia tem muito a ver com o que já era na década de 70 (daí o título em português, Que Loucura de Família, por contraponto ao original That '70s Show). A série mostra-nos é esse relacionamento de uma forma aberta e descomplexada, explorando temas que eram então (e ainda hoje são) tabu, ou pelo menos invulgares numa sit-com, como a gravidez adolescente e o sexo desprotegido. Atenção: a série não tem nada a ver com o Beverly Hills 90210. Não se pretende dar lições de moral nenhumas. Não garanto mas julgo que pela primeira vez na história da televisão os jovens protagonistas são apresentados a consumirem drogas leves como sendo a coisa mais natural do mundo. Não é feita a apologia do consumo de drogas leves, note-se; mas também não há nenhum tipo de moralismo. As situações limitam-se a ser apresentadas como elas são. E como já eram nos anos 70.
O grande sucesso da série, a meu ver, deve-se a mostrar os anos 70 aos olhos do século XXI, como nunca tinham sido mostrado antes. Não sei se era este desde o princípio o plano da série; sei que funcionou e os autores do conceito estão de parabéns. Parece paradoxal mas é verdade: esta é uma série sobre os anos 70 mas que só poderia ter sido feita a partir da década de 90. E é vê-los, todos "pedrados", à volta de uma mesa a rirem-se. Depois do All in the Family e da histórica Maude (a primeira personagem de uma série de TV a fazer um aborto), que mais nos irão estes primários e reaccionários americanos trazer?
A série dá nas madrugadas dos dias de semana na TVI. Tradicionalmente desde o Seinfeld o horário das melhores comédias.

2006/03/14

Ele queria era ser assessor político da rainha

Primeiros conselhos políticos de João Carlos Espada a Aníbal Cavaco Silva (também eu gostaria de saber como e porquê é este homem assessor político do Presidente da República Portuguesa): alcatifar as casas de banho do Palácio de Belém e instituir a caça à raposa nos jardins do mesmo.

Queridos comentadores e comentadoras

Já devem ter reparado que para comentarem no Avesso do Avesso é necessário registo no blogger.com. Mas não deve ser isso que vos impede de comentar: o registo não custa nada! Sobretudo, o vosso nome de utilizador não tem que ser o nome com que comentam. Na hipótese provável de o vosso nome ter já sido escolhido, têm de escolher outro nome de utilizador (afinal, como no gmail ou no yahoo...), mas esse nome só serve para efeitos de ligação. Podem escolher sempre o vosso nome favorito para assinar.
E não têm necessariamente que criar um blogue para se inscreverem, embora o sistema aparentemente a isso vos «obrigue». Mas antes de escolherem o nome do hipotético blogue, podem cancelar. Cancelam a criação do blogue, mas não a vossa inscrição: se o nome de utilizador e a palavra passe tiverem sido aceites, o vosso perfil foi entretanto criado. Se tiverem um blogue editano noutro sistema como seja o weblog ou o SAPO, podem sempre através de um pequeno truque acrescentar o url do vosso blogue ao perfil... Ainda eu escrevia no BdE e já tinha um perfil no blogger. Tal permite-vos comentarem em qualquer blogue do blogger.com. A quem não se inscreveu ainda: toca a inscreverem-se!
Quero aproveitar para agradecer a todos os blogues que tiveram a amabilidade de divulgar o Avesso do Avesso e a todas as mensagens simpáticas e de encorajamento que recebi. Bem hajam.
Um agradecimento especial vai para os comentadores habituais: o João, o Manuel Resende, a Emiéle, o Gibel, o Nuno... Eu bem gostaria de aqui ter o Tio Tadeu e a D. Ermelinda. Perfil do blogger.com já eles partilham...
Mas posso "ler" todos estes comentadores nos seus blogues todos os dias (os dois últimos no Aspirina B). Sem desprimor para eles, a minha maior alegria proveniente dos comentários veio hoje. Voltei a ler os comentários da Ana Miranda, uma antiga e excelente comentadora do BdE. Devido a um incidente lamentável nas caixas de comentários do BdE, em que outras partes (que não a Ana) tiveram uma reacção exagerada e perfeitamente escusada, ela "desapareceu" dos comentários. Voltou hoje, no que constitui para mim um motivo de grande alegria. Só para voltar a ler-te, Ana, já valeu a pena fazer o blogue! Espero que agora avances com o teu mundo.

2006/03/13

O espectro do Espectro

Exactamente no dia em que igualou o Abrupto em número de visitas, acabou o Espectro (neste momento, graças à "novidade" do encerramento do blogue, consumou-se a ultrapassagem). As motivações de Vasco Pulido Valente para se ter lançado, com Constança Cunha e Sá, nesta aventura blogosférica devem com isto ficar bem evidentes. O que fica para a posteridade? Nada de muito diferente do estilo habitual de Vasco Pulido Valente, que os seus leitores habituais, como eu, já conheciam. Quero no entanto destacar três textos: o texto inicial, onde VPV sumariza os seus escassos meses como deputado em 1995-96; o "arrasar" (com licença de Pacheco Pereira para o verbo) de Clara Ferreira Alves (um texto que ainda vai dar muito que falar); e Liberdade Académica, onde se consagra de vez um estilo blogosférico com a frase (que todos julgávamos impossível vinda de quem vem) "Espero que o João Miranda concorde." Espero que o João Miranda concorde.

2006/03/12

No Coração

Ando quase há uma semana para vos contar como foi o meu trepidante fim de semana passado, mas um arreliador problema informático tem-me impedido de sacar as fotografias (aliás, tem-me impedido de fazer muitas outras coisas). Quando este estiver (espero eu) resolvido, já ninguém se lembrará do Portugal no Coração gravado em directo do Hotel de Ville em Paris. Mas cá estarei eu, devidamente documentado, para o relatar. Não se esqueçam. As palavras-chave são Portugal no Coração.

Expectativas para a Fórmula 1


Enquanto fico à espera de ter o Kimi Raikonnen na Ferrari (em 2007), torço este ano e sempre pelo Tiago Monteiro.

2006/03/11

O português indispensável



Diz a imprensa (neste caso, o DN): A Direcção-Geral da Saúde fez uma lista das cem mil pessoas "fundamentais para o país" e encomendou medicamentos antivirais para as proteger em caso de uma pandemia de gripe. Pelos cargos que ocupam, estes portugueses serão capazes de "manter as estruturas básicas do país a funcionar". É caso para perguntar: quem são os indispensáveis?

É mesmo caso para fazer essa pergunta, que eu lanço aqui para os leitores e para a blogosfera lusófona: quem são hoje em dia os portugueses indispensáveis? Apesar de ele ter falhado um penalti, assim de repente só me lembro do Ricardo Sá Pinto.

2006/03/10

Aplaudir ou não aplaudir? Cumprimentar ou não cumprimentar?

Interessante discussão sobre estas questões e as atitudes de Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Mário Soares nos textos de António Figueira e Fernando Venâncio no Aspirina B.

2006/03/09

Jorge Sampaio

Há dez anos, a sua eleição foi então a maior alegria política que alguma vez tinha tido. Hoje, não me deixa saudades nenhumas. Assistiu a tudo passivamente e contribuiu para o desprestígio da sua função.

A eleição presidencial no dia da tomada de posse

Votei em Mário Soares na última eleição presidencial, e poucas vezes terei votado com tanta convicção. Pela sua intervenção constante, pela forma como recusa reformar-se e como não se resigna, pelo direito à indignação que ele exerce constantemente.
Principalmente nos últimos anos, aquando da guerra do Iraque. Poderia ter-se refugiado no seu estatuto de senador unânime, mas não teve medo de vir a terreno. Nunca tinha votado em Mário Soares antes (e só tinha tido uma oportunidade, nas europeias de 1999). Por isto tudo, achei que Soares merecia o meu voto, e dei-lho.
Evidentemente fiquei aborrecido com o resultado final. Fiquei aborrecido, sobretudo, porque se tornou evidente que o Cavaco não era nenhum papão. Não era imbatível, como demonstram os 0.6%. E o que se verificou? A maioria dos não-cavaquistas convenceu-se de que ele era imbatível. E nem se deu ao trabalho de votar, ou quando votou, votou em Alegre, convencida de que era um voto de protesto e que Cavaco ganharia. (Ana Gomes deveria ter-se indignado era com o seu muito esporádico companheiro de blogue que escrevia no DN antes das eleições que votava em Manuel Alegre e que Cavaco iria ganhar. É um retrato do estado de espírito que se instalou, e que Manuel Alegre nunca tentou combater.) Só Mário Soares nunca se conformou. Até por isto merece a minha homenagem, e por aqui pode ver-se como é maior do que o país.
Há ainda a questão de Manuel Alegre. Eu achei bem que Manuel Alegre se candidatasse, e não tenho nada contra ele ou quem votou nele. Mas a campanha de Manuel Alegre foi muito má. Demasiadamente má. Ele demonstrou que não estava preparado para o cargo e a motivação dele era uma vingança pessoal e mesquinha. Já há dez anos Alegre queria ter sido candidato em vez de Sampaio. Alegre andava há dez anos a querer ser Presidente da República, mas nunca fez nada para isso e - pior - nunca fez nada por isso. Alegre e a direcção do PS secundarizaram sempre as Presidenciais, e agora temos isto - Cavaco na Presidência. Não é certamente com Mário Soares - o único que nunca se conformou - que eu me aborreço. Mário Soares fez o que pôde. Eu também.

2006/03/08

A mulher de Lenine

E já que estamos no Dia Internacional da Mulher, deixo-vos com a mais poderosa música dedicada à mulher que ouvi nos últimos tempos, quiçá anos: Todas Juntas Num Só Ser, do espectacular e bem parisiense álbum In Cité (gravado ao vivo na Cité de la Musique), onde Lenine presta uma homenagem à presença feminina na música popular (essencialmente brasileira mas não só) e à sua própria mulher. À distância de dois cliques. Não deixem de ouvir: é do melhor.

Dia Internacional da Mulher - que dure todo o ano



Eu nem sou grande apreciador destas iniciativas dos "dias das causas". Acho que uma causa justa deve durar todo o ano! Mas achei bastante original e conseguido este cartaz da Câmara de Paris.

Sadar e Abdur, dois irmãos afegãos relatam Guantanamo

Reportagem do Metro parisiense reproduzida aqui.

«Sous l’invasion russe, on était tous militants. On était dans le parti afghan Jamiat-u-Dawa, auquel appartenait Hayatallah», précisent les deux frères, «mais après 89, on ne partageait plus l’idéologie des talibans et on a quitté le parti.» Et Abdur poursuit sur un ton énervé : «On est alors devenu les pires ennemis d’Hayatallah et on a été à Guantanamo à cause de lui !». Ont-ils été victimes d’un complot politique ? C’est en tout cas ce qu’ils suggèrent. Hayatallah travaillait pour le compte de l’ISI (les services secrets pakistanais) et la politique engagée par Washington après le 11 septembre lui aurait donné l’opportunité de se venger. «On avait écrit plein d’articles sur l’intervention américaine, disant qu’on ne pouvait combattre le terrorisme avec le terrorisme. Alors il nous a dénoncé comme étant du côté des talibans».

2006/03/07

Momento intimista

Só sou capaz de me zangar com as pessoas de quem realmente gosto. Com as outras, acho que nem vale o esforço. Será que deve ser assim?

2006/03/06

Li e gostei

O verdadeiro liberalómetro, pelo marialva acidental e aspirínico.
Estado de sítio... menos para o meu sítio no Estado, pelo Renato Carmo no Fuga para a vitória.

Freitas e os "antifascistas" de conveniência

Definitivamente está na moda por parte da direita portuguesa fazer de Freitas do Amaral saco de pancadas. Sejamos claros: é difícil "encaixar" politicamente Freitas do Amaral nas categorias políticas tradicionais. E torna-se ainda mais difícil por Freitas ser um caso raro de uma personalidade que ao longo do tempo tem vindo a evoluir politicamente no sentido da esquerda. Se ainda há vinte anos Freitas era um homem de direita, com um discurso de direita, hoje já não me parece assim (também não me parece de esquerda). Parece-me acima de tudo um homem moderado, com o que isso acarreta. Se sempre foi assim, se hoje é mais do que ontem, haverá melhores pessoas para julgar, a começar pelo próprio Freitas. Uma coisa é certa: a única obra significativa de Freitas do Amaral de pendor claramente anti-regime é uma peça de teatro de que é autor, há meia dúzia de anos atrás. Não é certamente o suficiente para fazer de Freitas um grande combatente contra a ditadura, mas a utilização do antifascismo para fins meramente políticos (sublinho o fins políticos, e não históricos) não é para qualquer um. Não é qualquer pessoa que pode perguntar a outra "onde é que estava no 25 de Abril". É preciso um certo currículo político para isso.
Embora eu não tenha currículo político nenhum, apetece-me porém perguntar a alguns dos que usam o passado de Freitas para criticarem o seu presente onde é que estavam no 25 de Abril.

2006/03/05

A Idade de Ouro do Mundo Árabe

Agora que tanto se fala de novo em "guerra de civilizações", aproveito para recomendar a quem estiver ou passar por Paris a exposição L'Âge d'Or des Sciences Arabes, no Instituto do Mundo Árabe. Vem bem a propósito. Só até dia 19 de Março.

2006/03/03

Syriana e os nossos filhos da puta

Embora ainda não tenha visto o filme Syriana (praticamente só vejo filmes em DVD ou na televisão, misturados com novelas, futebol e séries), achei muito interessante o que a propósito do mesmo se escreveu no Aspirina B e no Insurgente. Na linha de raciocínio do Nuno, e na sequência do que escreveu o André, pergunto a este último: será que para ti se pode dizer que os americanos são "os nossos filhos da puta"?

O capital e o consumo

André, é evidente que os comerciantes podem decidir vender os bens de consumo aos preços que bem lhes apeteça. Não quer dizer que o façam sempre, mas tal ocorre frequentemente em situações de monopólio ou quase, que devem revoltar especialmente um liberal. É um caso extremo, mas eu não o apresentei como geral.
De qualquer maneira o caso com que contrapões, o dos consumidores que estabelecem os preços dos bens de consumo que variam conforme as suas conveniências», também é outro caso extremo. Se acreditas que é isso que se passa correntemente, em todas as transacções, então sou eu que fico com vontade de rir... Um consumidor isolado pode estabelecer uma flutuação no preço, que vem à priori e não resulta simplesmente da vontade do mercado. Havemos de voltar a este assunto.

As posições do Ministro dos Negócios Estrangeiros

Extracto de um artigo no Público de 23 de Fevereiro:

Esclarecimento sobre a liberdade de expressão e a relação entre o Ocidente e o mundo islâmico
Diogo Freitas do Amaral

Não tendo estado em Lisboa quando alguns títulos ou frases me foram atribuídos pelo PÚBLICO - com base em afirmações truncadas divulgadas por um canal de televisão, a propósito da polémica dos cartoons -, esclareço:

1) Sempre defendi, e defendo, a liberdade de expressão, e não propus para ela qualquer novo limite legal, censura ou sanção para o seu eventual mau uso: apenas defendi, e defendo, que essa liberdade, como todas as outras, tem limites legais e deve ser usada com bom senso, de forma responsável.
No caso presente, da crescente tensão entre o Ocidente e o islão, o meu apelo foi apenas dirigido ao bom senso: vamos contribuir para a escalada do conflito, deitando mais achas para a fogueira, ou é melhor evitar o agravamento e tentar todas as possibilidades de diálogo que existem? A minha opção, como ministro dos Negócios Estrangeiros de um país europeu, é a segunda, por ser a que melhor contribui para manter a paz e segurança internacionais;
2) Foi por alguns deturpada, por ser citada fora do contexto, a frase, que me é atribuída, de que "a culpa da crise actual entre o Ocidente e o islão é do Ocidente". Eu não disse isso.
O que eu disse - num conjunto de frases talvez demasiado longo para o espaço normalmente disponível na comunicação social - foi que, vista a crise actual do lado dos povos islâmicos, o Ocidente nunca deixou de os agredir. E citei, como exemplos, as Cruzadas (que para eles foram ontem), o colonialismo (que só acabou para muitos deles no século XX), as guerras de libertação (de que a mais violenta foi a do povo argelino com a França), a posição ocidental no conflito israelo-árabe, a intervenção militar no Iraque, e agora a questão dos cartoons (que a nós nos fazem rir, em regra, mas neste caso ofenderam tanto os muçulmanos que até o jornal dinamarquês que os publicou já pediu desculpas públicas pela ofensa cometida).
É claro que, no meio disto tudo, houve o aparecimento do terrorismo islâmico (que eu logo condenei) e a reacção imediata de derrube do regime taliban no Afeganistão (que eu logo apoiei).
O problema está em que a seguir veio a guerra do Iraque - para os que a lançaram, uma peça da estratégia antiterrorismo; para os muçulmanos (e não só), um perigoso desvio da luta contra o terrorismo internacional e uma ofensa do Ocidente aos povos islâmicos.
Em resumo: para os muçulmanos, o Ocidente é o único culpado ou, pelo menos, o principal culpado; para mim, o Ocidente também tem as suas culpas. E como somos mais ricos, mais poderosos militarmente, e temos mais a perder do que eles, se tudo isto levar a uma guerra de civilizações, entendo que devemos ser nós, os ocidentais, a tomar as primeiras iniciativas pacificadoras.


Não há muito mais a dizer depois deste esclarecimento. Não assisti às declarações originais de Freitas, nem às de ontem no Parlamento. Admito que, motivado pela sua religiosidade, possa ter tergiversado num ou noutro ponto (embora pelo menos isso demonstre que, sendo católico, trata as religiões da mesma forma, o que se comparado com algum fundamentalismo anti-muçulmano de origem católica de que tem sido vítima não seja mau de todo). Mas no que transcrevi Freitas do Amaral tem toda a razão. Acima de tudo creio que tem sido vítima de uma campanha de ataques constantes por parte de uma direita que não lhe perdoa.

2006/03/02

São Paulo dá café, Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba

Este ano, quem ganhou o grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro foi a Unidos da Vila Isabel, com o enredo Soy Loco Por Ti America, dedicado à latinidade. Nem de propósito, na recente telenovela América era no bairro da Vila Isabel que decorria parte do enredo. A Vila é o local de origem de sambistas como o genial Noel Rosa e Martinho... da Vila, é claro. Nesta ocasião, proponho que se escute um dos mais conhecidos sambas de Noel, numa interpretação de Martinho: como não poderia deixar de ser, o lindíssimo Feitiço da Vila.

Ser-se de direita

Já era de esquerda antes de alguma vez ter ouvido sequer falar a sério em Marx ou em comunismo (na escola, na disciplina de História). Enquanto o Bloco de Leste se desfazia, a URSS agonizava e o Muro de Berlim estava prestes a cair. Entretanto eu estudava a organização interna do PCUS, o modelo leninista, Estaline e Krutchov, e a perestroika de Gorbatchov era referida no meu livro de História como uma "tentativa de abertura em relação à sociedade". O mundo organizava-se em dois blocos, que eram tratados da mesma forma pela generalidade da comunicação social (ambos sujeitos a críticas).
Não precisei de ler Marx para nessa altura formar o essencial da minha consciência política. Sendo filho de trabalhadores por conta de outrem, já achava na altura que os trabalhadores deveriam saber dirigir os meios de produção, e não uma elite improdutiva. E sempre me escandalizou como os comerciantes poderiam decidir vender os bens de consumo aos preços que bem lhes apetecesse, sem controlo. O preço destes bens deveria ser fixado pelo governo, e deveria ser tal que os tornasse acessíveis a todos os trabalhadores, de modo a que tods pudessem viver com dignidade. Da mesma forma, o governo deveria combater o desemprego com todos os meios possíveis, adaptando a carga horária laboral de modo a haver trabalho e pão para todos.
Era este o meu pensamento político quando tinha treze, quinze, dezoito anos (e no essencial, no ideal, é-o ainda hoje). Nunca li Marx ou qualquer outro dos seus seguidores para o formar, não acho que ele resulte da minha educação na escola pública (independente e não tendenciosa) ou privada (andei num externato católico até aos dez anos). Pode ter resultado de ter lido o romance Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, na disciplina de Português no oitavo ano (admito que o livro me marcou bastante). Mas no essencial estas minhas ideias resultam, tanto no meu caso como na maior parte das pessoas, da experiência de vida e do senso comum.
Também da minha experiência de vida, aliada a estas minhas convicções, resultou que a direita era "o mal". Uma paixão arrebatadora por uma miúda do PCP aos catorze anos (que será feito dela?) ajudou e muito, bem como o facto de todos os meus amigos e amigas da escola e dos dois primeiros anos da faculdade serem naturalmente de esquerda. Digo "naturalmente" porque não os "escolhia" devido ao seu posicionamento ideológico; eram mesmo naturalmente meus amigos. Mas há que acrescentar que era de Lisboa, estudei numa escola "de esquerda" (D. Pedro V - foi classificada assim num suplemento de O Independente), cuja Associação de Estudantes liderou a contestação nacional à PGA (luta em que eu também participei, o que constituiu a minha estreia no combate político). Depois, fui aluno da LEFT, e os alunos de direita da LEFT contavam-se pelos dedos de um pé.
Ser-se de direita era assim para mim, na minha adolescência, o pior de todos os defeitos que uma pessoa poderia ter.
É claro que as pessoas mais velhas (de direita e não só) dizem que nestas idades "ainda não se sabe o que é a vida", e têm toda a razão. Não que eu agora saiba o que é "a vida", mas pelo menos já vivi muito mais do que o estudante que vivia à custa dos pais, sem ter de se preocupar com nada. E é ao viver à sua custa que um tipo se apercebe de como pode uma pessoa não ser de esquerda, particularmente um trabalhador. Esta é uma realidade que eu na altura achava completamente inaceitável, que não entrava na minha cabeça. Ainda hoje custa-me a aceitar, mas creio que já compreendo melhor. Simplesmente, o comunismo por si só não foi feito para maximizar a riqueza, e muitas pessoas se calhar preferem mesmo ser exploradas, desde que no resultado final acabem por ganhar mais do que se não o fossem. Eu mesmo tenho de reconhecer que na maior parte das vezes economias baseadas no mercado livre e na concorrência geram trabalhadores mais motivados e maior prosperidade que as economias puramente estatizadas. Finalmente, muitas vezes as pessoas preferem ser simplesmente alienadas. Não querem saber. É essa a opção delas; são mais felizes assim.
Acresce a esta minha "maior experiência" uma outra forma de encarar os Estados Unidos da América. Depois do colapso da URSS os EUA, a superpotência restante, vencedora da guerra fria, eram para mim aquilo que para um dos seus presidentes (Ronald Reagan) era a URSS: o Império do Mal, o grande adversário. Durante a licenciatura fui-me habituando a estudar por livros que, em grande parte dos casos, tinham de ser norte-americanos. Aprendi assuntos que tinham sido descobertos por norte-americanos. Finalmente acabei mesmo por ir estudar para os EUA. Lá vivi uma boa parte (mais do que boa, feliz) da minha ainda relativamente curta vida. Lá conheci pessoas excelentes, das mais diversas proveniências e nacionalidades. Conheci mesmo americanos - bem diferentes do estereótipo usual. E lá estava quando se deram os atentados de 11 de Setembro de 2001, que vieram confirmar, se necessário fosse, que a maldade no mundo está longe de ser em exclusivo da responsabilidade dos EUA. Mais: veio demonstrar que nem todas as maldades são igualmente más, e que a maldade americana nem é a pior e, em certas circunstâncias em que só se pode optar entre maldades, é a maldade preferível.
Por todos estes motivos acabei por mudar a minha opinião relativamente ao "ser-se de direita". Não me tornei de direita, e nem creio que alguma vez isso venha a ser possível. Mas cheguei à conclusão de que, ao contrário do que eu pensava na inocência dos meus catorze anos, ser-se de direita não é o pior de todos os defeitos. Ser-se de direita, afinal, é algo que se tolera: é simplesmente mais um defeito como tantos outros.

2006/03/01

O blogue que aqui começo a construir, sempre buscando o belo e o amaro

...é um blogue sem agenda, feito para eu me divertir, onde só falo do que eu quiser e me apetecer.
Fica aqui a promessa que faço a mim mesmo. Vamos ver se a vou cumprir.

Porque era Carnaval

A canção para se ouvir hoje à distância de dois cliques. Chico Buarque e Ennio Morricone, em português ou italiano, à escolha.

E tudo começar na quarta feira

Chegou quarta feira. Começou a brincadeira. E eu desatinei.

A volta do malandro