2008/07/16

Tudo vira bosta



Quinze dias depois, finalmente tenho um pouco de tempo para escrever sobre o concerto da Rita Lee.
Rita Lee é a recordista na interpretação de canções de abertura de telenovelas da Globo. Até há uns dois ou três anos eu não gostava da Rita Lee. Achava-a uma cantora de abertura de telenovelas (e isto nem é assim tão mau – eu gosto de uma boa telenovela brasileira). Achava-a uma cantora vulgar.
Até que calhou ouvir o álbum Acústico MTV (editado em 1998), onde os seus maiores sucessos são revisitados com arranjos excelentes. O melhor é mesmo o dueto com Milton Nascimento (que mostrei aqui), mas todo o resto do álbum é muito bom. Associado a esta descoberta tardia, veio o álbum que continha músicas deliciosas como Amor e Sexo (de Arnaldo Jabor) e, sobretudo, Tudo Vira Bosta (um hino para a esquerda que chega ao poder). A Rita Lee era acima de tudo uma entertainer que cantava umas coisas giras, que se bem musicadas dariam um óptimo resultado, mas acima de tudo era uma cantora para não se levar demasiado a sério. Por isso mesmo só era bem apreciada por quem tinha mais de trinta anos (a idade com que eu comecei a gostar da Rita Lee). Era como o vinho do Porto. Pensava eu.
No concerto, a minha opinião infelizmente mudou. Vi uma grande falta de improvisação e espontaneidade (que era o que eu mais esperava). Vi uma cantora certinha, sem rasgo e que, embora comunicasse com o público, não tinha grande graça. Que saudades da Rita Lee da Saia Justa – e eu que esperava que ela viesse fazer tricô para o palco! Ouvi as suas aventuras com as vendedoras de calças – a Rita Lee vem a Lisboa visitar os centros comerciais… Tudo parecia já visto por mim, nalgum programa de televisão. Tudo parecia igualzinho a um show da Globo. Tudo muito vulgar.
Recordo agora e compreendo melhor a minha opinião sobre a Rita Lee antes dos 30 anos. Foi essa Rita Lee que eu vi no Coliseu. Não deixarei de forma nenhuma de a ouvir, mas dificilmente ela me apanha noutro concerto.

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