2007/10/31

Falando nos meus alunos...

...é meu aluno o rapaz que, no último domingo à noite, no Gato Fedorento resolveu em directo o famoso cálculo dos seis por cento do PIB, que em tempos atrapalhou António Guterres. Não fui eu que lhe ensinei. Vai longe o rapaz. É de Matemática. Por que raio pus eu a etiqueta "LEFT" neste texto?

Ah! Uma corrente!

Finalmente alguém me passa uma corrente dos blogues! Daquelas que todos os blógueres passam uns aos outros! Nunca ninguém me havia passado uma! Julguei que ninguém me ligasse nenhuma. Quem ma passou foi o bacano do João Gaspar.
Pegar no livro que está mais próximo, abrir na página 161 e transcrever a quinta frase completa dessa página. No meu caso, o livro mais próximo de onde me encontro é o livro de texto da cadeira que neste semestre lecciono, Introdução à Programação em Mathematica, de Amílcar Sernadas et. al.. Na página 161 pode ler-se
Na programação funcional, tal como na programação recursiva, não é usado qualquer construtor imperativo (i.e., não se pode recorrer, nomeadamente, nem à composição sequencial de acções, via ";", nem a comandos iterativos While), assim como não se recorre à memorização de valores em variáveis através de atribuições.
Passo a corrente ao João André, ao Francisco Frazão, ao Rui Curado Silva (quando voltar de viagem ou por que não antes?), ao Nélson, ao André Abrantes Amaral, ao Leonardo Ralha (a ver se volta a activar o blogue) e ao circunspecto Hugo Mendes (homem de muuuuuitos livros).
(João Gaspar, olha que tenho alunos que gostam da praxe; acho que os vou chumbar. Estou a brincar. Obrigado e até à próxima corrente.)

2007/10/30

Para acabar de vez com a praxe

Não adianta nada desdenhar dos alunos que participam voluntariamente na praxe sem compreender que, na sua maioria, são alunos deslocados que estão sozinhos numa cidade nova e, para eles, desconhecida, sem amigos ou família. A praxe é, porventura, a única socialização possível. Mas não deixa de ser um hábito humilhante e – mantenho – provinciano. Se se quer circunscrever este hábito a quem queira legitimamente participar nele, há que fazer primeiro com que não seja a única alternativa de socialização disponível. É aqui que as faculdades devem actuar. E está visto que não basta deixar o assunto entregue às associações de estudantes, embora estas possam desempenhar um papel importante, desde que não sejam comandadas por indivíduos com traje académico que julgam que ser estudante universitário lhes dá um estatuto especial.
Para encerrar este assunto recomendo a leitura de dois interessantes e esclarecedores comentários ao meu texto anterior, pelo João André e pelo Tárique. A ambos agradeço.

2007/10/29

A praxe e o provincianismo

Ainda voltando ao tema do texto de há um mês atrás (que registou o recorde de comentários neste blogue), mas para recomendar a leitura de um comentário deixado por um dos mesmos veteranos da LEIC, só que desta vez no blogue do MISTA. Vale a pena ler:
"caros estudantes do técnico. até há poucos anos não se via ninguém do técnico de traje. perguntem a quem quiserem, nunca houve essa tradição, aliás nunca houve praticamente em toda a academia em lisboa."

Não sei se tens noção (pelos vistos não) que toda a gente em Lisboa tem noção disso. E é precisamente por isso que todos nos empenhamos em trazer a tradição académica para Lisboa. Se tu julgas que isto é uma tradição "recém-inventada tradição", cópia da "rasquice alheia" e é a causa de o técnico ser "uma merda igual às outras", tenho pena de ti porque não percebes nada disto.
Pela minha experiência pessoal, um aluno em Lisboa que seja adepto da praxe não pode ser lisboeta. Nenhum aluno lisboeta se quer sujeitar a essas figuras; só os de fora de Lisboa. Daí o referido (e eloquente) “querer trazer” a praxe da província para Lisboa. (Os meus leitores de fora de Lisboa que são contra a praxe que me desculpem o “província”; uma boa definição de “provincianismo” é ser a favor da praxe, mas tal não significa necessariamente ser-se de fora de Lisboa. A implicação oposta talvez seja verdade.)
Mas há um pormenor importante: tipicamente um aluno de Lisboa, em Lisboa, não é deslocado, isto é, vive com os pais. Um aluno deslocado acabou de sair de casa e quer “emancipar-se”. Participar na praxe, seja para se submeter ou submeter os outros, pode ser visto como parte dessa “emancipação”. Seria necessário saber o comportamento dos alunos lisboetas deslocados fora de Lisboa, e eu não sei. Mas há outras razões para a minha desconfiança: pessoas que eu conheço e considero civilizadas, tendo estudado no Porto e em Coimbra nem por isso se furtaram a usarem o “traje académico”.Até prova em contrário, portanto, continuo convencido de que a praxe é mais uma manifestação da famigerada “regionalização”. Atente-se neste episódio digno do mais típico “espírito académico”.

2007/10/26

Excelentes debates

Assisti a várias boas palestras no primeiro dia da conferência Gulbenkian "Is Science Near Its Limits?". Mas o melhor do primeiro dia só eu e mais uns poucos privilegiados pudemos assistir: um debate entre Luis Alvarez-Gaumé, Dieter Luest (a defenderem as teorias de supercordas) e Peter Woit (a atacá-las). Em breve espero poder divulgar mais sobre este debate. Hoje é o segundo e último dia.
Outro excelente debate ocorreu recentemente entre o Rui Tavares e o João Miranda, nos (mais de 100) comentários a este texto do João. Vale a pena ler os comentários e seguir o debate, sobre as polémicas declarações de James Watson e tudo o que se lhes seguiu. Altamente recomendável. Também espero abordar este assunto, mas só para a semana que vem.

2007/10/25

A ciência terá limites?

Hoje e amanhã vou andar por aqui, na Fundação Gulbenkian. Há debates imperdíveis, como o de hoje à tarde: A teoria das cordas e o paradoxo da não-verificabilidade. Sobre este assunto, sugiro as seguintes leituras:
  • String theory is losing the public debate, por Sean Carroll;
  • Some elementary myths about quantum gravity, por Lubos Motl;
  • as recomendações desta página, no item La faillite de la théorie des cordes?
Finalmente sugiro ainda a audição de um debate semelhante ao de amanhã à tarde na Gulbenkian, que teve lugar em Junho na Cité des Sciences em Paris.
Este é um debate da maior importância, que tem vindo a ocorrer um pouco pela Europa e EUA, e que finalmente chega agora a Portugal.

2007/10/24

Blasfémias na TAP é que não!

As greves do pessoal de transporte aéreo, sejam da tripulação ou do pessoal de terra, são sempre das mais incómodas e que mais transtorno causam. Por isso, aqui deixo a minha simpatia para quem tem que viajar na TAP nos próximos dias.
Dito isto, greves como esta ocorrem em todos os países civilizados. Não é só em Portugal e na TAP. Ainda esta semana houve uma greve do pessoal aéreo em Itália (que afectou a viagem do Sporting a Roma, por exemplo). Para esta semana também está marcada uma greve da Air France. Só os liberais portistas, na sua dupla cegueira anti-TAP (e empresas públicas em geral) julgam que isto só ocorre com a principal transportadora portuguesa, onde se recusam a viajar. Nem que para isso tenham que perder muito mais tempo com escalas do que perderiam num vôo directo. Nem que tenham que ir a Londres para voar do Porto até Madrid...
O CAA deve conhecer muitos aeroportos de muitas cidades. Ele que vá mandando uns postais de todas as suas escalas...

2007/10/23

Os grandes vencedores

Jean Todt soube sempre preservar os pilotos das influências externas. Recusou (e muito bem) terminantemente considerar a contratação de Fernando Alonso. Pelo contrário: disse que a Ferrari estava muito bem servida de pilotos e prolongou o contrato de Filipe Massa. E em corrida a Ferrari voltou a demonstrar uma excelente estratégia. Mas, mais do que isso, agiu como equipa. Jean Todt é um dos maiores vencedores deste campeonato, por demonstrar que não precisava de Michael Schumacher para ser campeão.
Kimi Raikkonen é outro grande vencedor. Finalmente conquistou um título e calou todos aqueles que chegaram a duvidar do seu valor – entre os quais, admito, me incluia. Preferia que fosse um piloto mais dedicado à afinação do carro, como é Alonso e eram Schumacher, Senna e Prost, mas não deixa de ser engraçado ver como campeão um piloto tão politicamente incorrecto, que diz sempre o que pensa e gosta de uma noite de farra e copos.
Falta Filipe Massa, mas os títulos não teriam sido possíveis sem ele. É o melhor segundo piloto que a Ferrari teve em mais de dez anos, e merece sem dúvida voar mais alto. Esperemos que sim.
Parabéns a todos. Para o ano isto vai ser giro...

2007/10/22

O grande derrotado

Passou uma época a ver os seus dois pilotos digladiarem-se. Não foi isento nessa luta, apostando tudo num novato que, veio-se a ver, é um grande piloto mas ainda é inexperiente. Mas não prescindiu dos (bons) serviços do bicampeão do mundo em título, que afinava o carro e sabia (como o novato não sabe e nem saberá tão cedo) tirar partido dele. O bicampeão do mundo que tem um ego sem limites e, naturalmente, achava que era o maior e que não podia ter outro concorrente à altura dentro da equipa. Ambos os seus pilotos perderam o campeonato de condutores por um ponto, o que demonstra a total ausência de “jogo de equipa”. A McLaren este ano não foi uma equipa.
Perante isto, quase que nos esquecemos do aspec to mais negativo – e vergonhoso- desta temporada: o castigo à McLaren por espionagem. Só a equipa foi castigada – os pilotos puderam continuar a disputar o mundial pois supostamente “não eram culpados”. Pois nem depois de consumada a derrota este homem desiste, e quer à viva força conseguir para o seu “menino” na secretaria o que não conseguiu na pista. Nem que para isso a duplicidade de critérios tenha que ser total: os pilotos da McLaren são inocentes dos erros da equipa, mas os da Williams ou Sauber pelos vistos já não seriam...
Ron Dennis é um trapaceiro que não sabe perder.

"I was having a shit"

O novo campeão do mundo de Fórmula 1, no final da época passada.

2007/10/21

Foi lindo!

Quem eu quero que seja campeão do mundo?

Qualquer um menos o Alonso. Amanhã eu explico melhor depois de se saber o resultado.

Como estará Paris?



Faz hoje um ano que apanhei o avião no aeroporto Charles de Gaulle e, desde então, não mais lá regressei. As obras do trólei do Boulevard Jourdan, que a fotografia documenta e que me acompanharam por toda a minha estadia e mais algum tempo, já acabaram com certeza. Esta é a última foto por mim conhecida, com a minha antiga casa à direita. Como estará tudo agora? A Casa de Portugal da Cité Universitaire já reabriu, só uns meses depois do previsto. Foi inaugurado o museu da imigração. O Sarkozy é presidente.
Ninguém deveria passar mais do que um ano sem ir a Paris. Ai que saudades!

2007/10/19

Quem será a Abelha Maia?


Há três clubes chamados grandes no futebol português: a Cigarra, a Formiga e o Kalimero.
A Cigarra é o Benfica: faz-se tratar por «A Instituição» e auto-intitula-se de «maior clube do mundo». (...)
A Formiga é o FC Porto: (...) Ela sabe que, para ganhar mais vezes do que os outros é preciso muito trabalho, muito talento, muita organização, muita humildade e uma cultura de vitória que não se consegue com simples proclamações de superioridade natural.
O Kalimero é Sporting e é o caso mais problemático. (...) O Sporting não sabe perder e, por isso, adoptou a atitude do Kalimero, sempre a queixar-se dos «meninos maus» que lhe roubam a bola no recreio. É já uma cultura entranhada entre os sportinguistas, tão entranhada como o é a cultura de vitória entre os portistas ou a cultura de superioridade entre os benfiquistas.
(Miguel Sousa Tavares, A Bola, 02-10-2007)

Por mim não me importo. Sempre adorei o Calimero (com C). Agora nesta história quem é a Abelha Maia?

O testador que não resolve problemas

Um instrumento muito útil para quem usa frequentemente pilhas (mesmo recarregáveis, como eu) seria um testador digital de pilhas, como o que é proposto esta semana por uma conhecida cadeia de lojas de desconto. Só que o testador que eles propõem funciona... a pilhas. Ora pipocas.

2007/10/18

Terá Jardim influenciado o resultado do PSD?


Esta fotografia, que encontrei no blogue do João Paulo Pedrosa, recorda-me um bom motivo para a saída de Marques Mendes da liderança do PSD: a sua vergonhosa subserviência a Alberto João Jardim, para garantir os votos dos militantes da Madeira nas eleições directas. Alguém se lembra das palavras de Jardim? Segundo o Público, Marques Mendes perdeu-se na multidão do Chão da Lagoa. Jardim perguntou: “Onde é que se meteu esse sacana? É tão pequenino que ninguém o vê.” (É uma pena que não haja gravações.) Se este facto influenciou os militantes do PSD, por terem vergonha de um líder que se presta a uma cena dessas, eu fico algo aliviado. Mas não muito: não creio que com a mudança de líder a relação de Alberto João Jardim com o “continente” (a começar pelo seu próprio partido) se altere.

2007/10/17

É necessário mudar algo para que tudo fique na mesma

A Coluna Infame, o primeiro blogue que eu li (e, talvez, o melhor blogue português de sempre) voltou. Somente com os seus dois elementos produtivos, e que deram a merecida reputação ao blogue. Desta vez, a Coluna Infame chama-se Gattopardo.

Adriano e a sua voz nos blogues


Adriano Correia de Oliveira, nascido no Porto a 9 de Abril de 1942, deixou-nos muito cedo, aos 40 anos.

A sua vida foi breve, mas, não foi em vão.

Entre 1960 e 1980, gravou mais de 90 temas, sendo a sua música sempre repleta de muita emotividade, evidenciando dedicação aos trabalhadores, ao povo, aos ideais da liberdade, da democracia e do socialismo.

Morreu em Avintes, localidade que o viu crescer, a 16 de Outubro de 1982.

No dia 16, vamos congregar esforços, para ouvirmos a sua voz nos blogs.


Uma excelente iniciativa do Vozes Silenciadas.

2007/10/16

Aquecimento global e Nobel da Paz

Alguns esclarecimentos sobre os comentários que os meus textos sobre o Nobel da Paz de 2007 suscitaram.
O Prémio Nobel da Paz é um prémio político. Não é um prémio científico. De nenhum modo a atribuição deste prémio significa um reconhecimento da realidade do aquecimento global. É antes um reconhecimento do seu trabalho em prol de uma causa meritória para a humanidade. É um prémio que pressupõe um julgamento moral.
Nesse aspecto dou razão ao Luís Aguiar Conraria no seu comentário: um prémio como o Nobel da Paz não deve ser atribuído para um trabalho que deve ser científico. A ciência não tem moral e nem responsabilidade social; o seu objectivo é, pura e simplesmente, a procura da verdade, por mais inconveniente que esta seja. Por isso o prémio teria sido melhor atribuído a Al Gore (cuja dedicação à causa do ambiente é muito antiga) e a grupos ecologistas.
A hipótese do aquecimento global causada pelo homem é o melhor que nós conhecemos. É presentemente a nossa realidade. É suportada por 90 por cento dos especialistas em climatologia, baseada no trabalho de perto de uma década de mais de 1000 investigadores provenientes de 130 países diferentes. O que não quer dizer que seja a última palavra a dizer sobre o assunto. Agora quem (legitimamente) não está satisfeito com a melhor explicação conhecida para o aquecimento global, que trate de propor outra e mostrar, com base em experiências credíveis, que a actual explicação está errada ou, pelo menos, que existe uma melhor explicação. É assim que funciona a ciência. Eu nunca vi isso em lado nenhum. Pelo contrário, só vi pessoas (por vezes cientistas) a contestarem a actual explicação por esta lhes ser... inconveniente. Por esta requerer uma alteração dos seus hábitos de vida, que há muito se sabe serem poluentes. Por estarem mais preocupados em continuarem a trnasportar-se de carro todos os dias, para não terem de se misturar com o “povo” em transportes públicos. Por não se quererem dar ao trabalho de reciclar. E de usar mais vidro e menos plástico. O que eu não posso aceitar é que esses cientistas disfarcem o seu comodismo e o seu egoísmo como "ciência".
Tudo isto implica um certo esforço, mas não é assim tanto. Na Holanda, toda a gente se transporta de bicicleta ou transportes públicos. Tal como se comia e bebia em louça, pode voltar-se à louça e abandonar os pratos, copos e talheres de plástico. Tudo é uma questão de mentalidade.
Finalmente, quero recordar algo ao Ricardo S. Carvalho (francamente, não sei mesmo se ele sabe). O Prémio Nobel da Paz pressupõe um julgamento moral, como referi. Ser-se “de esquerda” também. São duas coisas diferentes: o Prémio Nobel da Paz não é necessariamente de esquerda (das últimas vezes tem sido, mas nos anos 70 até ganhou o Kissinger). Pode acontecer estarem ambas erradas: prémios Nobel mal atribuídos, que não façam sentido, e opções políticas de esquerda (acontece às vezes). A verdade científica deve prevalecer, mas enquanto ela não existe (e isto admitindo que ela ainda não existe para o aquecimento global, o que está longe de ser pacífico), a esquerda tem o direito de ter as suas opções. Neste contexto, só uma opção de preservar o meio ambiente e melhorar a vida para todos no nosso planeta (contrária aos grandes interesses económicos) se pode considerar de esquerda. Isto é: só uma opção ecológica. Anteriormente falava do Prémio Nobel da Paz; agora falo de esquerda. Não estou a falar de ciência. Para isso (no que diz respeito ao aquecimento global), não sou o mais qualificado.

Sobre este assunto ler ainda o Klepsýdra, o De Rerum Natura, o Vida Breve, o Verdade ou Consequência e o Cosmic Variance.

2007/10/15

Paulo Autran (1922-2007)


Morreu talvez o maior actor do Brasil. Nunca me hei-de esquecer: uma vez, na década de 90, Autran trouxe a Portugal o seu espectáculo teatral. As críticas nos jornais foram todas bastante favoráveis, mas uma - do Público - incluia uma "sugestão" supostamente cúmplice ao mui erudito leitor, ao recomendar a peça: "esqueçam que é brasileiro"! Esqueçam que é um actor das telenovelas! Compreensivelmente, Autran declarou sentir-se discriminado em Portugal.
Já não me recordo do "crítico" que proferiu tal "recomendação". Nem interessa; ninguém se vai recordar do crítico, mas quem viu o Paulo Autran a actuar jamais o esquecerá. Masmo que tenha sido só em telenovelas, como eu.

Morreu o Bimbo


Mais aqui e aqui.

2007/10/13

Pseudo-cientistas ao serviço do lóbi das petrolíferas

Não é nada surpreendente como no Insurgente reagem ao Nobel de Al Gore. Mas sobre esta questão, dois pontos. Desde quando é que um prémio Nobel da paz é um prémio científico? Quanto à ciência propriamente dita, não é demais recordar que 90% (noventa por cento) da comunidade científica está de acordo em que o aquecimento global existe e deve-se principalmente à acção do Homem. O AAA poderia apresentar-nos argumentos dos 10% de cientistas que não concordam. Mas da próxima vez por favor não remeta para argumentos de quem de cientista não tem nada.
Sobre esta questão: realmente Al Gore não é cientista. Mas o prémio foi partilhado com o IPCC, que merece todo o crédito. Leiam ainda o Klepsýdra.

2007/10/12

Aforismo à João Miranda

De acordo com a sua forma de raciocinar, o João Miranda é um inimigo da paz.

Parabéns, Mr. Gore! (2)

Imagem Mónica Almeida/NYT

Basta vir aqui para perceber que este prémio incomoda muita gente. A batalha da opinião pública está ganha; resta o mais difícil, que é a batalha do dia a dia - convencer o cidadão comum a emitir menos CO2 reciclando, utilizando transportes públicos...

2007/10/11

Por falar em países desenvolvidos...

Eu penso que, num país desenvolvido, as pessoas trabalham se querem enriquecer. O ganhar dinheiro é visto como recompensa de um esforço, de mérito. Sobretudo, o trabalho, o esforço, o mérito são reconhecidos pela sociedade. É da sociedade que estamos a falar. E é isso, essa vontade quotidiana das pessoas, que torna esses países desenvolvidos. Tentativas de ganhar dinheiro fácil, como todo o tipo de jogo, também existem, mas só nos países onde as pessoas não acreditam que com o seu esforço seja recompensado existe um enorme entusiasmo com as apostas mútuas. Como se o sorteio do totoloto ou do euromilhões fosse o momento mais interessante da semana. A conversa típica da classe média-baixa (de que eu faço parte, e conheço bem) roda sempre à volta dos planos sobre “o que eu faço se me sair o totoloto”.
Os portugueses lideram a tabela europeia no número de apostas per capita no euromilhões, noticiava esta segunda-feira o Metro na primeira página. Ninguém fala nisto, ninguém comenta isto. Toda a gente parece achar isto muito normal. Eu acho este facto preocupante e sintomático.

2007/10/10

Superioridade civilizacional

Não tenho problemas em admitir que há países objectivamente mais desenvolvidos do que outros e onde se vive melhor, mesmo se isso já me custou chamarem-me elitista ou colonialista. Essa minha apreciação tem a ver com factos concretos e não implica um julgamento sobre os respectivos povos, que acredito que possam sempre desenvolver-se. Sei que o caminho para o desenvolvimento não é único, mas há aspectos que considero indiscutíveis.
Os aspectos em que os EUA são mais desenvolvidos prendem-se com o empreendedorismo do povo americano, que se traduz numa sociedade baseada na tecnologia e no progresso. Os aspectos em que a Europa é mais desenvolvida são (considero) civilizacionais. Um deles, de que muito me orgulho, é a rejeição do ensino do criacionismo por parte do Conselho da Europa, apesar do voto contra a resolução por parte de representantes de partidos de direita, entre os quais João Bosco Mota Amaral. O outro é a reduzida aplicação da pena de morte. Prefiro viver num país que tem um modelo social, onde o porte de armas não é livre, mas também onde não se ensina o criacionismo na escola e onde a pena de morte foi banida. Gorada que foi a instauração do dia europeu contra a pena de morte para hoje, graças ao veto da Polónia, faço votos para que em breve esta seja uma realidade em toda a Europa e,espero eu, um dia em todo o mundo.

2007/10/09

“Sem perder a ternura...”


Faz hoje 40 anos que morreu o Cristo da esquerda ingénua, Ernesto Che Guevara.
A meu ver o principal motivo para recordarmos Che (tal como Trotsky, outro ídolo de uma esquerda já não tão ingénua) não é propriamente o seu legado em vida, mas a forma cruel como foram mortos. A forma como ambos foram assassinados demonstra a crueldade de quem os assassinou (mesmo se um um assassinato não tem absolutamente nada a ver com o outro). Dito isto, a maneira como ainda hoje são recordados tem a ver com o mito de pureza revolucionária que lhes está associado. Um estudo mais aprofundado das suas vidas mostra que nenhum deles era um exemplo de pureza. Mas não há dúvida de que principalmente Che é um ícone do século XX. Um ídolo pop. Tem muito a ver com ser argentino.

Imagem tirada ao Arrastão.

2007/10/08

Richard Dawkins e as palavras que não podem ser ditas

Richard Dawkins em entrevista ao The Guardian (via O Insurgente):
When you think about how fantastically successful the Jewish lobby has been, though, in fact, they are less numerous I am told - religious Jews anyway - than atheists and [yet they] more or less monopolise American foreign policy as far as many people can see. So if atheists could achieve a small fraction of that influence, the world would be a better place.
Mais um anti-semita...

Amor nos tempos da net

Julgava que histórias como esta que li no Cinco Dias só sucediam na ficção. Mas não: sucedem mesmo na vida real.

2007/10/04

“Propaganda comunista”

Em Portugal, o então professor do Instituto Superior Técnico Varela Cid, considerado na altura a autoridade do país em aeronáutica, protagonizou um episódio insólito após o lançamento do Sputnik, ao negar na televisão que isso fosse verdade. Defendeu que isso era cientificamente impossível e classificou o anúncio com “propaganda comunista”. A sua declaração correu mundo e cobriu-o de ridículo – e a Portugal com ele. O Le Monde titulou a propósito: “Les portugais sont toujours gais”. No Reino Unido nasceu a expressão “don’t be Varela” para referir argoladas.
(Texto de Filomena Naves no “Diário de Notícias” de hoje. Foi há cinquenta anos.)

Ó faxavor! É uma tese e uma apresentação oral

Não é boa ideia defender uma tese, com um júri maioritariamente benfiquista, a seguir a um jogo do Benfica. Com uma grande probabilidade o júri estará mal-disposto. Foi o que se passou hoje com a defesa de tese do Nélson que, mesmo assim, como era de se esperar, correu bastante bem. Não só porque ele é tão ou mais benfiquista que o júri, mas principalmente porque escreveu uma óptima tese e fez uma óptima apresentação. Mas nem isso era preciso: qualquer leitor dele sabe que quem escreve textos como este bem merece um mestrado em Matemática. Parabéns, pá!

2007/10/03

O PSD, o PS e as campanhas

Não creio que as recentes eleições no PSD venham a afectar muito a situação política portuguesa. Estas eleições foram desinteressantes e pouco atractivas para os “notáveis” pela mesma razão que as análogas no PS, há três anos, foram atractivas. Há três anos os militantes do PS escolhiam aquele que seria o futuro primeiro-ministro, e sabiam isso. Quem os militantes do PSD agora escolheram, muito provavelmente (espero eu!) nunca será primeiro-ministro. Se fosse ao contrário seria a mesma coisa.
O afastamento dos notáveis do PSD não é de agora: já foi claríssimo nas eleições para a Câmara de Lisboa, onde só apresentaram um candidato de terceira escolha. A culpa não é de Marques Mendes.
Quando foi que Mendes começou a perder influência? Teve um bom resultado nas autárquicas de 2005 e o seu candidato ganhou as presidenciais. A meu ver terá sido com o referendo ao aborto. Não digo que um partido não deva dar liberdade de voto em questões tão fracturantes, mas os seus dirigentes devem tomar uma posição pública clara, seja para ganhar ou perder. Durante dois ou três meses não se falou de outra coisa em Portugal que não do aborto, e Marques Mendes não aparecia. Não fazia campanha. Eclipsou-se e não voltou a aparecer.
Só para comparação, a situação no PS em 1998 era análoga: o líder tinha a sua posição mas não fez campanha e o partido não tomou posição. António Guterres ainda ganharia umas eleições, mas a sua relação com o seu eleitorado desde esse referendo não voltaria a ser a mesma.

EmPOLGAnte

2007/10/02

É hoje

Dez anos depois (e quatro anos depois da última vez que dei aulas), volto hoje a dar aulas no Técnico. será que ainda me lembro?

2007/10/01

É da praxe? MAAAAATAAAA!!! (2)

Vale a pena ler a caixa de comentários do meu texto anterior. Em particular, os comentários de um tal "so" ("Brázia") e de um "marolho". Para verem onde chega o delírio. Fica uma amostra:
É assim, urubus de capa e batina é a "puta que pariu". Se não te ensinaram a ter respeito pelas outras pessoas, ao menos aprende isso connosco. (...) Não me venhas com conversas sobre praxes em LEFT porque nem tu nem ninguém desse curso tem moral para falar sobre esse assunto. (...) Se a tradição académica não te diz nada (nem quero saber porquê) ao menos tem a hombridade de respeitar aqueles que sabem o que é ser estudante!

Que eu saiba, à porta da cantina de pós graduação não está nenhum "polícia da roupa" nem nenhum aviso especial que impeça alguém de lá entrar. Da ultima vez que vi, era um sítio livre de entrar. Isso são pensamentos de um elitista de merda.

Quem me quer dar a mim lições de "respeito" e de "ser estudante" e me acusa de "elitista"? Quem obriga - sim, obriga - os seus colegas mais novos a fazer figuras tristes enquanto os trata como "bichos". E traja um "traje académico".