2006/09/30
Buarqueanos retardatários, apressem-se
Acrescentaram mais duas datas aos concertos do Chico Buarque, uma no Porto e outra em Lisboa (no dia dos meus anos). Eu já tenho bilhete (para a véspera – para passar o dia seguinte com o Chico no ouvido). As restantes datas já estão quase esgotadas e não me admiro que as novas datas esgotem num instante.
2006/09/29
Como identificar um Marujo numa redacção
(Não é este, mas se calhar também servia.)
Há três sintomas:
- na parede por trás da secretária, retratos do Papa;
- colados ao écran do computador, autocolantes da ATTAC;
- em cima da secretária, discreto mas sempre presente, um emblema do Beira Mar.
(Com um abraço ao António.)
Há três sintomas:
- na parede por trás da secretária, retratos do Papa;
- colados ao écran do computador, autocolantes da ATTAC;
- em cima da secretária, discreto mas sempre presente, um emblema do Beira Mar.
(Com um abraço ao António.)
Aforismo antes do plenário
Homens engravatados a passearem pela redacção são sinal de que se aproximam despedimentos.
2006/09/28
Ladrar é morder
Dentro dos amigos que fiz aqui no Público destaco o Renato, que se sentava na secretária ao lado da minha e com quem era um prazer conversar. O Renato começou há pouco tempo um blogue, Ladrar É Morder. Esquerda a doer.
Reflexões antes da partida
Por aqui vivo os meus últimos dias no Público. E com o ambiente que se vive aqui parece que são mesmo os últimos dias do Público como o conhecemos. Espero no entanto que a oportunidade que eu e mais três cientistas tivemos (e que para mim tem sido muitíssimo enriquecedora) se repita para o ano que vem. Aqui na redacção as pessoas olham umas para as outras à espera de uma convocatória para uma reunião com a administração. Os que já a tiveram discutem se aceitam a rescisão, se acertam a indemnização, como arranjar emprego...
Com isto, a produção e edição do jornal tem-se sentido, em particular a secção de ciência, afectada por férias de colaboradores. Da minha parte, não tendo directamente nada a ver com o assunto tenho feito o meu trabalho. Quando sair deixarei diversos artigos em agenda.
Se exceptuarmos casos de interesse mediático (ainda por cima este interesse é por vezes discutível) como o caso do “estatuto de Plutão”, o jornalismo científico não tem data de saída definida. E porquê? Porque é um tipo de jornalismo que não se esgota tão rapidamente. Não perde actualidade tão depressa como a política, a sociedade ou o desporto. Por isso mesmo – e não estou com isto a queixar-me do salário! – tem valor comercial: por não ser tão efémero.
A natureza da crise por que passam os jornais diários a nível mundial passa por aqui: desde que surgiu a internet, a informação efémera deixou de ter qualquer valor comercial. As pessoas não pagam para lerem hoje de manhã o mesmo que já leram de graça ontem à tarde na internet. O sucesso dos gratuitos deve-se a terem percebido isto muito bem. Por isso... são gratuitos, e estão aqui a demonstrar cabalmente a minha tese sobre a informação efémera.
Os jornais, para venderem, têm de conter informação que não seja só efémera: que não venha nos gratuitos. Precisamos de jornalismo que aprofunde os conteúdos; que não se limite a repetir o que vem nas agências noticiosas. Agora: será isso viável? Receio bem que não. E a culpa não é dos leitores: é mesmo da dimensão do mercado.
Em qualquer lugar do mundo um jornal de qualidade necessita de N colaboradores. Não sei quantos, mas contando com pequenas variações, pelo menos a ordem de grandeza de N deve ser bem definida e independente de especificidades locais (mercado, país, produtividade, ...). Agora, de certeza que N é muito maior do que o número de colaboradores de um jornal popular ou gratuito. O jornalismo de qualidade dá muito trabalho; o Público ou o Diário de Notícias têm de ter muito mais colaboradores que o 24 Horas ou o Correio da Manhã. É preciso perceber este ponto importante.
Para poder sustentar esse número de colaboradores, o jornal precisa vender T exemplares (supõe-se para efeitos de simplificação para T o mesmo que para N). Há mercados em que tal é viável; se o mercado (se o país...) não for grande o suficiente para esses T exemplares serem vendidos diariamente, a conclusão é que talvez um jornal diário de qualidade não seja viável.
Nos EUA o mercado é enorme, e por isso consegue-se fazer entre outros o The New York Times, o melhor e mais completo jornal do mundo e principal referência jornalística a nível mundial.
Na Grã Bretanha consegue fazer-se o The Guardian (um jornal de que eu não gosto, mas isso fica para outra ocasião); em Espanha, o El País. Em França o Libération tem problemas que, no entanto, talvez sejam específicos do jornal.
Em Portugal, se calhar, não há mercado para se ter jornais diários de qualidade. Havia, mas a internet veio roubá-lo. Presentemente se calhar não se consegue vender no mercado português T exemplares por dia e sustentar N colaboradores. Se calhar não é mesmo viável estar a tentar vender todos os dias jornalismo de referência. Haverá sempre mercado para ele, mas não todos os dias. Talvez só aos fins de semana. Por isso não prevejo grandes dificuldades aos semanários. Talvez no futuro só os diários gratuitos e os semanários sejam viáveis. Talvez por isso jornais como o Público e o DN, para sobreviverem, tenham de evoluir para um modelo misto, gratuito ou a preço simbólico durante a semana e com edições especiais pagas ao fim de semana. Não sei. Há que defender o jornalismo de qualidade, mas há que encarar as evidências.
Para ler mais: o João Pedro Henriques, de quem fui colega por uns dias antes de ele se mudar para a Av. da Liberdade, há muito escreve sobre este assunto.
Com isto, a produção e edição do jornal tem-se sentido, em particular a secção de ciência, afectada por férias de colaboradores. Da minha parte, não tendo directamente nada a ver com o assunto tenho feito o meu trabalho. Quando sair deixarei diversos artigos em agenda.
Se exceptuarmos casos de interesse mediático (ainda por cima este interesse é por vezes discutível) como o caso do “estatuto de Plutão”, o jornalismo científico não tem data de saída definida. E porquê? Porque é um tipo de jornalismo que não se esgota tão rapidamente. Não perde actualidade tão depressa como a política, a sociedade ou o desporto. Por isso mesmo – e não estou com isto a queixar-me do salário! – tem valor comercial: por não ser tão efémero.
A natureza da crise por que passam os jornais diários a nível mundial passa por aqui: desde que surgiu a internet, a informação efémera deixou de ter qualquer valor comercial. As pessoas não pagam para lerem hoje de manhã o mesmo que já leram de graça ontem à tarde na internet. O sucesso dos gratuitos deve-se a terem percebido isto muito bem. Por isso... são gratuitos, e estão aqui a demonstrar cabalmente a minha tese sobre a informação efémera.
Os jornais, para venderem, têm de conter informação que não seja só efémera: que não venha nos gratuitos. Precisamos de jornalismo que aprofunde os conteúdos; que não se limite a repetir o que vem nas agências noticiosas. Agora: será isso viável? Receio bem que não. E a culpa não é dos leitores: é mesmo da dimensão do mercado.
Em qualquer lugar do mundo um jornal de qualidade necessita de N colaboradores. Não sei quantos, mas contando com pequenas variações, pelo menos a ordem de grandeza de N deve ser bem definida e independente de especificidades locais (mercado, país, produtividade, ...). Agora, de certeza que N é muito maior do que o número de colaboradores de um jornal popular ou gratuito. O jornalismo de qualidade dá muito trabalho; o Público ou o Diário de Notícias têm de ter muito mais colaboradores que o 24 Horas ou o Correio da Manhã. É preciso perceber este ponto importante.
Para poder sustentar esse número de colaboradores, o jornal precisa vender T exemplares (supõe-se para efeitos de simplificação para T o mesmo que para N). Há mercados em que tal é viável; se o mercado (se o país...) não for grande o suficiente para esses T exemplares serem vendidos diariamente, a conclusão é que talvez um jornal diário de qualidade não seja viável.
Nos EUA o mercado é enorme, e por isso consegue-se fazer entre outros o The New York Times, o melhor e mais completo jornal do mundo e principal referência jornalística a nível mundial.
Na Grã Bretanha consegue fazer-se o The Guardian (um jornal de que eu não gosto, mas isso fica para outra ocasião); em Espanha, o El País. Em França o Libération tem problemas que, no entanto, talvez sejam específicos do jornal.
Em Portugal, se calhar, não há mercado para se ter jornais diários de qualidade. Havia, mas a internet veio roubá-lo. Presentemente se calhar não se consegue vender no mercado português T exemplares por dia e sustentar N colaboradores. Se calhar não é mesmo viável estar a tentar vender todos os dias jornalismo de referência. Haverá sempre mercado para ele, mas não todos os dias. Talvez só aos fins de semana. Por isso não prevejo grandes dificuldades aos semanários. Talvez no futuro só os diários gratuitos e os semanários sejam viáveis. Talvez por isso jornais como o Público e o DN, para sobreviverem, tenham de evoluir para um modelo misto, gratuito ou a preço simbólico durante a semana e com edições especiais pagas ao fim de semana. Não sei. Há que defender o jornalismo de qualidade, mas há que encarar as evidências.
Para ler mais: o João Pedro Henriques, de quem fui colega por uns dias antes de ele se mudar para a Av. da Liberdade, há muito escreve sobre este assunto.
2006/09/27
Fé e Ciência, Opus Dei e Insurgente
Aleluia! O Opus Dei aparentemente deixou de ser tabu e até já aparecem no Insurgente (onde mais?) ligações explícitas às páginas da organização católica. "Fé e Ciência", é o título do texto. Dedico por isso a minha entrada anterior aos doutores Guanghua Yang e André Azevedo Alves. Espero que os exemplos de Gabriel Burdett, Ellen Carlson e outros cientistas evangélicos os inspire e lhes dê forças para a sua causa: Ciência - sempre ao serviço da Fé!
E o nome da força unificadora é Jesus!
Sugiro a leitura completa. Deixo aqui alguns destaques:
"According to the ECFR paper published simultaneously this week in the International Journal Of Science and the adolescent magazine God's Word For Teens!, there are many phenomena that cannot be explained by secular gravity alone, including such mysteries as how angels fly, how Jesus ascended into Heaven, and how Satan fell when cast out of Paradise.
The ECFR, in conjunction with the Christian Coalition and other Christian conservative action groups, is calling for public-school curriculums to give equal time to the Intelligent Falling theory. They insist they are not asking that the theory of gravity be banned from schools, but only that students be offered both sides of the issue "so they can make an informed decision."
"We just want the best possible education for Kansas' kids," Burdett said.
Proponents of Intelligent Falling assert that the different theories used by secular physicists to explain gravity are not internally consistent. Even critics of Intelligent Falling admit that Einstein's ideas about gravity are mathematically irreconcilable with quantum mechanics. This fact, Intelligent Falling proponents say, proves that gravity is a theory in crisis.
"Let's take a look at the evidence," said ECFR senior fellow Gregory Lunsden."In Matthew 15:14, Jesus says, 'And if the blind lead the blind, both shall fall into the ditch.' He says nothing about some gravity making them fall—just that they will fall. Then, in Job 5:7, we read, 'But mankind is born to trouble, as surely as sparks fly upwards.' If gravity is pulling everything down, why do the sparks fly upwards with great surety? This clearly indicates that a conscious intelligence governs all falling."
Critics of Intelligent Falling point out that gravity is a provable law based on empirical observations of natural phenomena. Evangelical physicists, however, insist that there is no conflict between Newton's mathematics and Holy Scripture.
"Closed-minded gravitists cannot find a way to make Einstein's general relativity match up with the subatomic quantum world," said Dr. Ellen Carson, a leading Intelligent Falling expert known for her work with the Kansan Youth Ministry. "They've been trying to do it for the better part of a century now, and despite all their empirical observation and carefully compiled data, they still don't know how." (...)
Anti-falling physicists have been theorizing for decades about the 'electromagnetic force,' the 'weak nuclear force,' the 'strong nuclear force,' and so-called 'force of gravity,'" Burdett said. "And they tilt their findings toward trying to unite them into one force. But readers of the Bible have already known for millennia what this one, unified force is: His name is Jesus."
(Agradeço a dica ao Agreste Avena.)
2006/09/26
Onde estava o Professor Pedro Arroja no 25 de Abril?
A resposta a esta e a muitas outras perguntas na entrevista que Pedro Arroja deu (ou terá vendido?) a Fernanda Câncio, em 1994. É o Blasfémias condensado num texto. Vale a pena ler. Obrigado ao zèd pela sugestão. Alguns destaques:
Ou ainda:
Ou melhor (destaques meus):
É de morrer a rir. E isto é só uma pequena amostra. Passem por lá e leiam tudo. A vantagem de se viver na Europa é esta: na Europa lemos uma entrevista destas e rimo-nos.
«Mas é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?»
Ou ainda:
«Por isso é que eu acho que a Constituição devia seguir o exemplo da americana, que diz o que o Estado não deve fazer, ao invés de dizer, como a nossa, o que ele deve fazer. A ideia é limitar os poderes do Estado, que é para prestar serviços gerais à população, como a defesa. Não é para andar a tratar da vida de toda a gente, a dar saúde, emprego, etc. Isso cada um trata da sua vida.»
Ou melhor (destaques meus):
«Posso-lhe dizer que não há país do mundo onde os negros vivam tão bem como na América. (...) Repare, eu acho que eles têm todo o direito à liberdade, é a terra deles. Agora não se esqueça que os negros americanos não estão na sua própria terra. (...) Foram eles que foram. Atraídos pelo nível de vida que não têm em mais parte nenhuma do mundo. (...) Alguns foram levados como escravos. Mas ainda hoje há gente a emigrar para lá, negros. E deixe-me dizer-lhe uma coisa. O homem que ganhou o prémio Nobel, este ano, Robert Fogel, provou que se o sistema da escravatura era politicamente inaceitável, em termos económicos, para os negros, era um sistema muito eficaz. Mais: que o trabalhador negro da época, escravo, vivia melhor que o trabalhador médio branco. Certamente que a conclusão é surpreendente, é por isso que ganhou um prémio nobel. Mas documentou extraordinariamente bem (...) Diz-se que os negros não trabalham, não sei quê, e isto vem provar o contrário: mesmo sob condições de adversidade, a escravatura, os negros eram duplamente mais produtivos que os brancos. E os estados do sul, onde eles estavam concentrados, prosperaram muito mais do que os do Norte. Fantástico. (...) Sabe, não há nenhum prémio Nobel da economia a sair dos países católicos do sul da Europa, e é porque a pretensão é chocante. Estou aqui a falar de estudos documentados, prémios Nobel, e as pessoas riem-se, porque não é aceitável. Eu acho admirável a capacidade de levar a razão humana a este ponto.»
É de morrer a rir. E isto é só uma pequena amostra. Passem por lá e leiam tudo. A vantagem de se viver na Europa é esta: na Europa lemos uma entrevista destas e rimo-nos.
2006/09/25
Para os portugueses com mais de 55 anos, um verdadeiro combatente pela liberdade é necessariamente um antifascista
É claro que “combatente pela liberdade” e “antifascista” não são em geral sinónimos. E é igualmente claro que nas últimas três décadas não houve (felizmente) necessidade de combater o fascismo em Portugal. Uma vez vencida a ditadura, e só então, puderam surgir livremente os tais “combatentes” da “liberdade” de que fala o Blasfémias, e onde se inclui o Professor Pedro Arroja. Quem defende essa “liberdade” tem de facto um combate a travar (pelo menos cultural), pois não é esse o meu conceito de liberdade e nem o do comum cidadão. Mas sobre a diferença entre os conceitos de liberdade de liberais como os membros do Blasfémias e o comum cidadão escreverei noutra altura. O que parece indiscutível é que, para os portugueses da geração do Professor Pedro Arroja, não havia liberdade. Pedro Arroja não será da geração de Badaró ou Raul Solnado, mas tem idade para ter sentido a falta de liberdade do salazarismo. Para merecer a classificação de “um dos grandes combatentes pela liberdade das últimas décadas”, e no caso de ter vivido o fascismo como jovem adulto, tem de ter algum passado antifascista. Confesso que não sei – desconheço a sua idade e a sua biografia: esteve o Professor Pedro Arroja na Universidade em Portugal antes de 1974? Se esteve, o que fez para merecer ser caracterizado como um grande “combatente pela liberdade”? Agradeço que me esclareçam. Cabe então perguntar: onde estava o Professor Pedro Arroja no 25 de Abril?
2006/09/23
Professor Pedro Arroja, esse grande antifascista
"...um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas." O Professor Pedro Arroja. Professor, atenção.
2006/09/22
Força Ronny!
Não partilho de todo a posição do presidente do Sporting de defender um novo jogo Sporting-Paços de Ferreira. Só a defenderia se esse passasse a ser um procedimento comum para cada jogo em que o árbitro influenciasse o resultado com erros escandalosos em prejuízo de uma das equipas, o que de facto aconteceu em Alvalade no fim de semana passado. Só que a sugestão de Soares Franco seria somente a de um acto isolado. Poderia corrigir a injustiça do jogo do Sporting, mas há que corrigir as injustiças todas. Ainda na semana anterior o Beira Mar foi roubado em Leiria (tendo perdido dois pontos, enquanto o Sporting, à custa do árbitro, só perdeu um). Não vi Soares Franco ou ninguém a pedir a repetição desse jogo. Os erros (voluntários ou não) acontecem a todos. Mais contra o Sporting do que contra os seus adversários directos, é verdade. Mas aguentar este facto faz parte da condição de sportinguista. Para mantermos a nossa superioridade moral, para pedirmos o fim dos erros temos de pedir o fim dos erros todos.
Acresce a isto que quer José Mota, o técnico do Paços de Ferreira, quer o jogador infractor (Ronny) foram de uma grande humildade (ao contrário de outros que no passado ganharam ao Sporting com a ajuda do árbitro). O Ronny reconheceu mesmo que marcar o golo com a mão tinha sido “instintivo”, não inventando desculpas ou procurando negar o inegável. A um jogador assim eu só posso desejar as maiores felicidades pessoais. E que continue a marcar muitos golos, com o pé ou com a mão. De preferência já no próximo jogo, hoje à noite.
2006/09/21
Eça, as letras e os jornalistas
O Diário de Notícias oferece agora uma colecção de medalhas de portugueses famosos. Na edição impressa (mas não na edição electrónica), é incluída uma pequena nota biográfica sobre o homenageado. Na semana passada (creio que na sexta feira), calhou ser Eça de Queirós. O grande mestre da prosa novecentista era descrito como uma das figuras de proa do romantismo, o que já de si é um erro crasso, como qualquer aluno do 9º ano reconhecerá. Românticos eram Almeida Garrett ou Camilo Castelo Branco; Eça era um realista, como Balzac, Zola, Flaubert e outros.
Mas nem era este o único erro num texto de menos de dois mil caracteres. Numa passagem elogiavam a “riqueza” do vocabulário do Eça de Queirós. Ora se há crítica que é feita ao Eça de Queirós pelos seus detractores é a de ter um vocabulário algo limitado, recorrendo frequentemente aos galicismos (“chaminé” em vez de “lareira” e assim por diante). Mesmo admitindo que isso possa ser verdade, este facto realça no entanto a qualidade de Eça de Queirós que eu mais admiro: como consegue ser tão extraordinariamente sugestivo com uma tamanha economia de recursos. O uso por parte de Eça dos adjectivos e advérbios é o mais bonito que eu já vi. Mais do que nenhum outro romancista que eu conheça, a prosa queirosiana é uma obra de arte. E tudo isto com o referido vocabulário “limitado” e económico, características que eu aprecio num escritor. A escrita de Eça vale por si mesma, não necessita de adornos vocabulares pedantes e dispensa a consulta do dicionário. Eu nunca gostei de ir ao dicionário.
Assim encontramos, num texto simples de um jornal, dois erros de palmatória. Escritos provavelmente por um jornalista que teve muitas cadeiras de literatura (mais do que eu, que só tive o português do ensino secundário). No entanto, um bom aluno do 11º ano notará estes erros. Mas nem todos os alunos notarão. Esta biografia também será lida por estudantes da obra de Eça, que encontram assim no jornal de todos os dias uma contradição com aquilo que devem aprender na escola.
O editor de sociedade do Diário de Notícias, um rapaz que, calhando, até sabe calcular uns integrais e, se se esforçar, ainda inverte uma matriz, escreveu há tempos um artigo onde refere a falta que fazem melhores jornais. Tem razão, mas às vezes eu acho que também fazem falta melhores jornalistas.
Mas nem era este o único erro num texto de menos de dois mil caracteres. Numa passagem elogiavam a “riqueza” do vocabulário do Eça de Queirós. Ora se há crítica que é feita ao Eça de Queirós pelos seus detractores é a de ter um vocabulário algo limitado, recorrendo frequentemente aos galicismos (“chaminé” em vez de “lareira” e assim por diante). Mesmo admitindo que isso possa ser verdade, este facto realça no entanto a qualidade de Eça de Queirós que eu mais admiro: como consegue ser tão extraordinariamente sugestivo com uma tamanha economia de recursos. O uso por parte de Eça dos adjectivos e advérbios é o mais bonito que eu já vi. Mais do que nenhum outro romancista que eu conheça, a prosa queirosiana é uma obra de arte. E tudo isto com o referido vocabulário “limitado” e económico, características que eu aprecio num escritor. A escrita de Eça vale por si mesma, não necessita de adornos vocabulares pedantes e dispensa a consulta do dicionário. Eu nunca gostei de ir ao dicionário.
Assim encontramos, num texto simples de um jornal, dois erros de palmatória. Escritos provavelmente por um jornalista que teve muitas cadeiras de literatura (mais do que eu, que só tive o português do ensino secundário). No entanto, um bom aluno do 11º ano notará estes erros. Mas nem todos os alunos notarão. Esta biografia também será lida por estudantes da obra de Eça, que encontram assim no jornal de todos os dias uma contradição com aquilo que devem aprender na escola.
O editor de sociedade do Diário de Notícias, um rapaz que, calhando, até sabe calcular uns integrais e, se se esforçar, ainda inverte uma matriz, escreveu há tempos um artigo onde refere a falta que fazem melhores jornais. Tem razão, mas às vezes eu acho que também fazem falta melhores jornalistas.
2006/09/20
A definição de planeta e os “limites da ciência”
Pedro Correia é um jornalista e blóguer que costumo gostar muito de ler. Escreveu no mês passado no seu blogue um texto (que poderia ser subscrito por muitas outras pessoas) sobre a pífia questão do estatuto de Plutão. Já andava para o comentar há algum tempo, mas só agora pude.
O que é curioso no caso do Pedro Correia é que alguns dos comentários no seu texto revelam que ele ironicamente em certos aspectos está mais próximo das teses do Prof. Boaventura de Sousa Santos do que à partida poderia julgar.
Convém prestar um esclarecimento: a “definição” de planeta não passa disso: uma definição. Uma convenção. Nada mais que isso. Saber se Plutão é ou não um “planeta” é completamente irrelevante para entender a estrutura do Universo. Para entender isto melhor, nada como mais um dos deliciosos textos “para educar o povo” do João Miranda. É pura e simplesmente uma questão de semântica. Nem sequer é ciência.
Em que é que a nova definição de planeta é “uma clara demonstração dos limites da ciência contemporânea na interpretação e catalogação da realidade - incluindo a própria realidade "física", que muitos pensavam ser facilmente traduzível por fórmulas, equações e etiquetas”? Eu tenho a certeza de que Plutão era um planeta de acordo com a definição antiga, e não o é com a nova... E daí? Em que é que isso altera a nossa visão do Universo? Pode quanto muito ter de levar à alteração de muitos manuais escolares. O que é uma questão importante. Mas não é uma questão científica.
Muito mais importantes são acontecimentos como a descoberta da matéria escura, de que falei atrás. Só tenho a lamentar que esse facto (ele, sim, importante para a compreensão do Universo) tenha sido praticamente omitido das páginas da maioria dos jornais portugueses, em detrimento de mais não sei quantas críticas literárias, musicais ou cinematográficas ou da pífia questão do estatuto de Plutão.
(Esta é uma opinião pessoal e que não vincula o jornal onde escrevo até ao fim deste mês.)
Para ler mais: The Cash Value of Astronomical Ideas, no Cosmic Variance.
O que é curioso no caso do Pedro Correia é que alguns dos comentários no seu texto revelam que ele ironicamente em certos aspectos está mais próximo das teses do Prof. Boaventura de Sousa Santos do que à partida poderia julgar.
Convém prestar um esclarecimento: a “definição” de planeta não passa disso: uma definição. Uma convenção. Nada mais que isso. Saber se Plutão é ou não um “planeta” é completamente irrelevante para entender a estrutura do Universo. Para entender isto melhor, nada como mais um dos deliciosos textos “para educar o povo” do João Miranda. É pura e simplesmente uma questão de semântica. Nem sequer é ciência.
Em que é que a nova definição de planeta é “uma clara demonstração dos limites da ciência contemporânea na interpretação e catalogação da realidade - incluindo a própria realidade "física", que muitos pensavam ser facilmente traduzível por fórmulas, equações e etiquetas”? Eu tenho a certeza de que Plutão era um planeta de acordo com a definição antiga, e não o é com a nova... E daí? Em que é que isso altera a nossa visão do Universo? Pode quanto muito ter de levar à alteração de muitos manuais escolares. O que é uma questão importante. Mas não é uma questão científica.
Muito mais importantes são acontecimentos como a descoberta da matéria escura, de que falei atrás. Só tenho a lamentar que esse facto (ele, sim, importante para a compreensão do Universo) tenha sido praticamente omitido das páginas da maioria dos jornais portugueses, em detrimento de mais não sei quantas críticas literárias, musicais ou cinematográficas ou da pífia questão do estatuto de Plutão.
(Esta é uma opinião pessoal e que não vincula o jornal onde escrevo até ao fim deste mês.)
Para ler mais: The Cash Value of Astronomical Ideas, no Cosmic Variance.
2006/09/19
As FARC, as petições e os blogues
Como referi anteriormente, o Tiago Barbosa Ribeiro tem o direito de organizar as petições que entender. No caso concreto da presente petição já não é de agora que o Tiago se refere às FARC e à situação de Ingrid Betancourt. Por isso eu respeito a sua posição.
Permanecendo somente nos blogues que leio, já relativamente ao Blasfémias eu não posso dizer o mesmo: que eu me lembre, nunca li no blogue nenhuma referência às FARC ou a Ingrid Betancourt, em mais de dois anos (não encontrei nada no Google). No entanto a petição e todos os textos sobre este assunto desde então são apresentados de uma forma séria e não panfletária (ou não fosse o blasfemo promotor da mesma o Gabriel Silva). Nada a apontar, portanto.
Há ainda o caso (costumeiro) de O Insurgente, apesar de ninguém neste blogue ser um dos promotores da petição. De acordo com o Google, também não encontrei nenhum material sobre Betancourt, antes de este caso da festa do Avante ter surgido. Será que a indignação só surgiu agora? Pelo contrário, encontrei foi vários textos em defesa do governo colombiano, que mantém prisioneiros políticos e apoia grupos paramilitares assassinos de extrema-direita, que actuam tal e qual como as FARC. A isto, no mesmo blogue, acrescentam-se textos elogiosos a Ann Coulter. Que terá Ann Coulter a ver com as FARC, para além de provavelmente achar que não são nada que não se resolvesse com uns bombardeamentos? Entre outras posições, Ann Coulter defende que as mulheres não deveriam poder votar. Fará sentido defender-se que as mulheres não podem votar e defender-se Ingrid Betancourt, candidata à eleição presidencial? Bem, se as mulheres não pudessem votar, Ingrid não se teria envolvido numa campanha eleitoral e nem teria sido capturada. Faz sentido. E é então por isso que no mesmo blogue surgiram do nada, desde que o assunto começou a dar o que falar, não um nem dois, mas dez textos sobre o assunto, e de certeza que só não surgiram mais porque o chefe entretanto esteve de férias. Sinceramente, ainda bem que O Insurgente não surge como um dos blogues promotores da petição.
Da minha parte, já conhecia a história de Ingrid Betancourt (embora nunca tivesse escrito sobre ela). A ninguém que tenha vivido recentemente em Paris, como eu, poderia escapar o retrato de Ingrid em frente ao Hotel de Ville, como se vê na fotografia que eu roubei ao Véu da Ignorância.
Mas nem por isso assinei a referida petição. Entre outras coisas, porque legitima o governo colombiano e os seus procedimentos. Faço no entanto aqui os meus votos para que as FARC libertem imediatamente Ingrid Betancourt e todos os seus prisioneiros políticos.
Permanecendo somente nos blogues que leio, já relativamente ao Blasfémias eu não posso dizer o mesmo: que eu me lembre, nunca li no blogue nenhuma referência às FARC ou a Ingrid Betancourt, em mais de dois anos (não encontrei nada no Google). No entanto a petição e todos os textos sobre este assunto desde então são apresentados de uma forma séria e não panfletária (ou não fosse o blasfemo promotor da mesma o Gabriel Silva). Nada a apontar, portanto.
Há ainda o caso (costumeiro) de O Insurgente, apesar de ninguém neste blogue ser um dos promotores da petição. De acordo com o Google, também não encontrei nenhum material sobre Betancourt, antes de este caso da festa do Avante ter surgido. Será que a indignação só surgiu agora? Pelo contrário, encontrei foi vários textos em defesa do governo colombiano, que mantém prisioneiros políticos e apoia grupos paramilitares assassinos de extrema-direita, que actuam tal e qual como as FARC. A isto, no mesmo blogue, acrescentam-se textos elogiosos a Ann Coulter. Que terá Ann Coulter a ver com as FARC, para além de provavelmente achar que não são nada que não se resolvesse com uns bombardeamentos? Entre outras posições, Ann Coulter defende que as mulheres não deveriam poder votar. Fará sentido defender-se que as mulheres não podem votar e defender-se Ingrid Betancourt, candidata à eleição presidencial? Bem, se as mulheres não pudessem votar, Ingrid não se teria envolvido numa campanha eleitoral e nem teria sido capturada. Faz sentido. E é então por isso que no mesmo blogue surgiram do nada, desde que o assunto começou a dar o que falar, não um nem dois, mas dez textos sobre o assunto, e de certeza que só não surgiram mais porque o chefe entretanto esteve de férias. Sinceramente, ainda bem que O Insurgente não surge como um dos blogues promotores da petição.
Da minha parte, já conhecia a história de Ingrid Betancourt (embora nunca tivesse escrito sobre ela). A ninguém que tenha vivido recentemente em Paris, como eu, poderia escapar o retrato de Ingrid em frente ao Hotel de Ville, como se vê na fotografia que eu roubei ao Véu da Ignorância.
Mas nem por isso assinei a referida petição. Entre outras coisas, porque legitima o governo colombiano e os seus procedimentos. Faço no entanto aqui os meus votos para que as FARC libertem imediatamente Ingrid Betancourt e todos os seus prisioneiros políticos.
2006/09/18
A maior novidade mediática da semana
Não é o surgimento do semanário Sol, e nem Jura, a nova telenovela da SIC: é o Cinco Dias. Que não poderia começar melhor, com o Rui Tavares a falar-nos dos intelectuais e dos media nos dias de hoje. A não perder.
As FARC, o PCP e as petições
A minha posição sobre as FARC é bastante clara. Sobre a sua presença na “Festa do Avante”, o PCP já esclareceu: não foram convidadas. Quem foi convidado foi o Partido Comunista da Colômbia e uma revista que apoia a acção das FARC. É natural que surjam panfletos e cartazes menos felizes numa festa do cariz da Festa do Avante!, como também surgem em manifestações.
No entanto o PCP não se furtou a responder à questão: “apoiava” a sua luta. Na sua resposta o PCP referiu ter uma concepção de terrorismo “diferente”. Fez bem em demarcar-se da definição de terrorismo do governo americano, tal como referi no texto anterior. Infelizmente, o conceito de “terrorismo” do PCP é também bem diferente do meu, uma vez que o PCP referiu “não considerar” as FARC terroristas. Apesar de referir que “não os utilizaria”, o PCP não condenou os métodos das FARC. O que é pena e é lamentável, e confirma mais uma vez que, em termos de política internacional, o PCP não pode ser levado a sério. Não que essa posição seja surpreendente: afinal, e infelizmente, é coerente com muitas posições do PCP em política internacional. Não nos esqueçamos de Albano Nunes que, durante os bombardeamentos ao Afeganistão, desconfiava da ajuda humanitária americana: o seu objectivo era “habituar as populações às marcas americanas”.
Dito isto, ao contrário do Tiago Barbosa Ribeiro eu julgo que o PCP tem um papel muito importante na democracia portuguesa e não deve nunca ser marginalizado. Há alturas em que se têm de fazer demarcações claras, de traçar uma linha, mas nenhum partido que se diz de esquerda pode tratar os comunistas como se não contassem. E impressiona-me sempre que vejo uma pessoa que se diz de esquerda a fazer do PCP o seu adversário principal, algo que no caso do Tiago Barbosa Ribeiro é recorrente. Se fizermos uma estatística ao Kontratempos, os textos contra o PCP ultrapassam em número, de longe, os contra qualquer outro partido, se é que estes existem.
Não posso deixar de sorrir quando o Tiago, num assomo de ingenuidade juvenil, afirma esperar que o Bloco de Esquerda isole o PCP e se junte aos restantes partidos num eventual protesto contra a presença das FARC. A maior parte das demarcações que eu referi são válidas quer para o PCP quer para o Bloco de Esquerda, uma organização política com uma forte influência da IV Internacional (trotskista). Em termos de política internacional, eu não vejo grandes diferenças entre o Bloco de Esquerda e o PCP. Mais: nas matérias em que possa haver divergências teóricas (não na prática), como na política europeia, as posições do PCP, sendo retrógradas, são muito mais coerentes do que as do Bloco.
Mas o tema era o PCP e as FARC, e não o Bloco. O PCP não deveria falar como fala das FARC, e o Tiago tem o direito de protestar, se tal o incomoda tanto (embora eu também tenha o direito de achar que tal faz sobretudo parte de uma obsessão anti-PCP da sua parte). De resto, eu sempre achei o Kontratempos um blogue muito informativo e coerente, que não hesita em dizer algumas verdades inconvenientes (só para dar um exemplo refiro o texto A Diferença Toda de hoje). Quando eu discordo do que leio no Kontratempos (algo que nem sucede assim tantas vezes), é um prazer para mim: estar a discordar de uma posição bem fundamentada ajuda-me a organizar melhor os meus pontos de vista. Foi o caso da petição que o Tiago achou por bem fazer. Depois explicarei porquê.
No entanto o PCP não se furtou a responder à questão: “apoiava” a sua luta. Na sua resposta o PCP referiu ter uma concepção de terrorismo “diferente”. Fez bem em demarcar-se da definição de terrorismo do governo americano, tal como referi no texto anterior. Infelizmente, o conceito de “terrorismo” do PCP é também bem diferente do meu, uma vez que o PCP referiu “não considerar” as FARC terroristas. Apesar de referir que “não os utilizaria”, o PCP não condenou os métodos das FARC. O que é pena e é lamentável, e confirma mais uma vez que, em termos de política internacional, o PCP não pode ser levado a sério. Não que essa posição seja surpreendente: afinal, e infelizmente, é coerente com muitas posições do PCP em política internacional. Não nos esqueçamos de Albano Nunes que, durante os bombardeamentos ao Afeganistão, desconfiava da ajuda humanitária americana: o seu objectivo era “habituar as populações às marcas americanas”.
Dito isto, ao contrário do Tiago Barbosa Ribeiro eu julgo que o PCP tem um papel muito importante na democracia portuguesa e não deve nunca ser marginalizado. Há alturas em que se têm de fazer demarcações claras, de traçar uma linha, mas nenhum partido que se diz de esquerda pode tratar os comunistas como se não contassem. E impressiona-me sempre que vejo uma pessoa que se diz de esquerda a fazer do PCP o seu adversário principal, algo que no caso do Tiago Barbosa Ribeiro é recorrente. Se fizermos uma estatística ao Kontratempos, os textos contra o PCP ultrapassam em número, de longe, os contra qualquer outro partido, se é que estes existem.
Não posso deixar de sorrir quando o Tiago, num assomo de ingenuidade juvenil, afirma esperar que o Bloco de Esquerda isole o PCP e se junte aos restantes partidos num eventual protesto contra a presença das FARC. A maior parte das demarcações que eu referi são válidas quer para o PCP quer para o Bloco de Esquerda, uma organização política com uma forte influência da IV Internacional (trotskista). Em termos de política internacional, eu não vejo grandes diferenças entre o Bloco de Esquerda e o PCP. Mais: nas matérias em que possa haver divergências teóricas (não na prática), como na política europeia, as posições do PCP, sendo retrógradas, são muito mais coerentes do que as do Bloco.
Mas o tema era o PCP e as FARC, e não o Bloco. O PCP não deveria falar como fala das FARC, e o Tiago tem o direito de protestar, se tal o incomoda tanto (embora eu também tenha o direito de achar que tal faz sobretudo parte de uma obsessão anti-PCP da sua parte). De resto, eu sempre achei o Kontratempos um blogue muito informativo e coerente, que não hesita em dizer algumas verdades inconvenientes (só para dar um exemplo refiro o texto A Diferença Toda de hoje). Quando eu discordo do que leio no Kontratempos (algo que nem sucede assim tantas vezes), é um prazer para mim: estar a discordar de uma posição bem fundamentada ajuda-me a organizar melhor os meus pontos de vista. Foi o caso da petição que o Tiago achou por bem fazer. Depois explicarei porquê.
2006/09/17
Talvez a descoberta científica mais importante deste Verão
Descobertos os primeiros sinais de matéria escura
A matéria visível e a matéria escura foram separadas por uma grande colisão de dois enxames de galáxias. A descoberta foi feita utilizando o observatório de raios X Chandra, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), em conjunto com outros telescópios, e constitui a primeira observação directa deste fenómeno.
A matéria escura é um tipo de matéria que não emite nem absorve suficiente luz para ser detectada directamente, sendo a sua presença deduzida somente através dos seus efeitos na matéria visível. Esses efeitos podem ser a velocidade de rotação das galáxias e as velocidades orbitais das galáxias em enxames, ou os desvios de luz conhecidos por lentes gravitacionais.
A observação agora anunciada foi feita no enxame Bala, um dos mais quentes enxames de galáxias conhecido, situado na constelação Carina, a cerca de quatro milhares de milhões de anos-luz da Terra. Neste enxame, dois aglomerados de galáxias independentes colidiram recentemente, tendo sido observados pelo Chandra e ainda pelo telescópio Hubble e por outros telescópios do Observatório Europeu do Sul, no Chile. Cerca de 90 por cento da matéria destes aglomerados é constituída por gás quente intergaláctico emissor de raios X. Durante este processo o gás quente de cada um dos aglomerados colidiu com o do outro, enquanto as galáxias (individualmente) e a matéria escura não foram afectadas. Duas equipas de astrofísicos lideradas por Douglas Clowe (da Universidade do Arizona) e Maxim Markevitch (do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian), dos EUA, compararam imagens do gás obtidas pelos telescópios com gráficos de campos gravitacionais deduzidos a partir de observações dos efeitos das lentes gravitacionais: distorções pequenas mas coerentes na forma das galáxias de fundo, a partir das quais se pode reconstruir a distribuição de massa nos aglomerados de galáxias. Esta reconstrução não deixa lugar para dúvidas – a matéria escura tem de existir nos aglomerados observados.
De acordo com as estimativas, a maior parte da matéria que constitui o Universo é, de longe, matéria escura: apenas cinco por cento da matéria seria visível, contra 20 por cento de matéria escura e 75 por cento de energia escura. A matéria escura propriamente dita é sensível somente ao nível das galáxias, afectando os campos gravitacionais por elas sentidos. Já a energia escura está espalhada pelo Universo inteiro, sendo os seus efeitos sentidos principalmente na aceleração do Universo. Existem teorias alternativas, baseadas em alterações das leis da gravidade, que eram sugeridas como explicações alternativas dos fenómenos dos quais se infere a existência da matéria escura e da energia escura. Os resultados agora divulgados não podem ser explicados por nenhuma alteração razoável da lei da gravidade, mas só dizem respeito à matéria escura. Estes efeitos ainda podem ser utilizados como uma explicação alternativa à existência da energia escura, que se conhece muito mal e para a qual há muito poucas explicações.
Um dos principais problemas em aberto na Física de Partículas e na Cosmologia é a constituição da matéria escura. Durante muito tempo teorizou-se que esta poderia ser constituída por neutrinos, partículas muito leves e que quase não interagem com as outras, sendo neutras relativamente às interacções electromagnéticas (à luz) e nucleares fortes. Por isso estas partículas são muito difíceis de detectar. Apesar de só desde 1998 estar confirmado que estas partículas têm massa, existiam modelos para matéria escura constituída por neutrinos com massa muitos anos antes. No entanto, os dados mais recentes apontam para não existirem no Universo neutrinos em número suficiente para constituírem toda a matéria escura existente.
Estudos da formação de núcleos atómicos durante o Big Bang indicam que a matéria escura terá de ser na sua grande maioria de natureza não-bariónica (ou seja, não pode ser constituída por quarks). A grande maioria das explicações para a constituição da matéria escura assenta em partículas não conhecidas, cuja existência é prevista por teorias de unificação de todas as interacções. Uma hipótese que se encontra muito frequentemente para a matéria escura é a dos “parceiros supersimétricos”, partículas cuja existência é postulada pela supersimetria, simetria que está na base de muitos desses modelos de unificação, incluindo as teorias de supercordas. Não existe ainda no entanto nenhum sinal desta simetria, podendo a sua existência vir a ser confirmada ou desmentida no próximo acelerador de partículas do CERN.
Adaptação de um artigo do Público de 23 de Agosto de 2006
Para saber mais: aqui e aqui.
2006/09/16
2006/09/15
Debater o evolucionismo: com quem e para quê?
Curioso o repto do João Miranda (rapidamente secundado pela comissão obreira) para se iniciar um “debate” sobre a questão do criacionismo versus evolucionismo. Curioso vindo de quem vem, que escreve textos de Economia que nos tentam convencer de que o ultraliberalismo é uma “lei da Natureza”, que “não admite discussão”. “Discutir” o quê, e com quem? O João deveria saber – e sabe, apesar de não lhe dar jeito admitir – que a ciência não é (felizmente) democrática. Não se “discute” como se fosse futebol ou política. Democráticas são as condições-fronteira (conceito matemático) que impomos no mercado (escolhidas pelo Governo, escolhido por nós). Discutíveis são os textos do João Miranda.
Ainda mais curioso é o critério do João para nos convencer de que um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e defensor do criacionismo “não tem nada de ignorante” no que diz respeito à teoria da Evolução de Darwin: o professor Jónatas Machado tem um currículo notável... a comentar livros que leu, na Amazon! Algo comparável a escrever um blogue ou comentar nele, que qualquer pessoa sem nenhum tipo de preparação científica pode fazer. Pelos vistos o João Miranda avaliaria o meu conhecimento em supersimetria e supergravidade por este comentário que escrevi enquanto principiante.
Embora tal não diga respeito à minha área política, é com tristeza que verifico que a pior direita encontra aqui um aliado, justamente quem mais a deveria renovar.
Sobre o assunto vale a pena ler quem sabe o que escreve: o Memória Inventada e o Conta Natura. Deste último texto destaco a frase
É curioso que uma opinião contrária parta do João Miranda, um defensor do sistema económico norte-americano, mas pelos vistos não do sistema educativo. Nos EUA estuda-se ciência a sério, e pouca gente que estuda ciência estuda ao mesmo tempo filosofia.
Ainda mais curioso é o critério do João para nos convencer de que um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e defensor do criacionismo “não tem nada de ignorante” no que diz respeito à teoria da Evolução de Darwin: o professor Jónatas Machado tem um currículo notável... a comentar livros que leu, na Amazon! Algo comparável a escrever um blogue ou comentar nele, que qualquer pessoa sem nenhum tipo de preparação científica pode fazer. Pelos vistos o João Miranda avaliaria o meu conhecimento em supersimetria e supergravidade por este comentário que escrevi enquanto principiante.
Embora tal não diga respeito à minha área política, é com tristeza que verifico que a pior direita encontra aqui um aliado, justamente quem mais a deveria renovar.
Sobre o assunto vale a pena ler quem sabe o que escreve: o Memória Inventada e o Conta Natura. Deste último texto destaco a frase
Eu, que sou cientista, digo-lhe de caras exactamente o oposto: "É um erro pensar que é preciso ensinar filosofia para ensinar ciência".
É curioso que uma opinião contrária parta do João Miranda, um defensor do sistema económico norte-americano, mas pelos vistos não do sistema educativo. Nos EUA estuda-se ciência a sério, e pouca gente que estuda ciência estuda ao mesmo tempo filosofia.
2006/09/14
Sobre as teorias de conspiração do 11 de Setembro
9/11 Conspiracy Theories: The 9/11 Truth Movement in Perspective por Phil Mole, via Esquerda Republicana.
As teorias da conspiração não vão no entanto "acabar", e espero que não acabem, desde que a discussão seja bem fundamentada com pressupostos científicos, como esta. É este tipo de discussões que fazem da América um país livre e avançado.
As teorias da conspiração não vão no entanto "acabar", e espero que não acabem, desde que a discussão seja bem fundamentada com pressupostos científicos, como esta. É este tipo de discussões que fazem da América um país livre e avançado.
Cohen-Tannoudji, o bacalhau com natas e o cabritinho
Seguiu-se a segunda palestra de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num anfiteatro mais pequeno no Complexo Interdisciplinar da Universidade de Lisboa. Sendo esta palestra mais especializada, teve a vantagem de só ter gente interessada na assistência (e nenhum – nenhum – “engravatado”).
A anfitriã de Cohen-Tannoudji, que não tinha nada a ver com os episódios que relatei ontem, e que conhece a minha condição temporária de jornalista-científico-que-faz-física, teve a gentileza de me convidar a juntar-me ao almoço (informal, self-service) que a Universidade oferecia ao cientista e a outros 25 convidados, na cantina do Complexo. Não sei se estaria a violar alguma regra deontológica, e é quase de certeza verdade que tal convite se deveu à condição actual de jornalista (e ao interesse que sempre demonstrei em falar com o cientista). Aceitei com todo o gosto, e agradeço.
Cohen-Tannoudji nem tocou na morue à la creme. Experimentou antes um pouco de um estranhíssimo cabrito com ervilhas e laranja. Azar o seu, que estava muito bom.
Portugal tem muitos defeitos, mas tem esta característica intrínseca que é o nacional-porreirismo.
A anfitriã de Cohen-Tannoudji, que não tinha nada a ver com os episódios que relatei ontem, e que conhece a minha condição temporária de jornalista-científico-que-faz-física, teve a gentileza de me convidar a juntar-me ao almoço (informal, self-service) que a Universidade oferecia ao cientista e a outros 25 convidados, na cantina do Complexo. Não sei se estaria a violar alguma regra deontológica, e é quase de certeza verdade que tal convite se deveu à condição actual de jornalista (e ao interesse que sempre demonstrei em falar com o cientista). Aceitei com todo o gosto, e agradeço.
Cohen-Tannoudji nem tocou na morue à la creme. Experimentou antes um pouco de um estranhíssimo cabrito com ervilhas e laranja. Azar o seu, que estava muito bom.
Portugal tem muitos defeitos, mas tem esta característica intrínseca que é o nacional-porreirismo.
2006/09/13
Claude Cohen-Tannoudji e a feira das vaidades
Confesso que, após uns anos “lá fora”, eu já me tinha desabituado destas coisas. Aliás, como nunca estive muito por dentro do meio académico em Portugal, a bem dizer eu nunca me tinha habituado.
Então foi assim. Na conferência de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num grande anfiteatro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, havia uma série de lugares “reservados” na primeira fila. Esses lugares eram destinados a convidados especiais, que à medida que iam chegando se iam cumprimentando, com beijinhos e apertos de mão efusivos. Já não se viam desde o último seminário que fosse também “evento social”, como este era.
Entre esses convidados, reitores, professores, gestores, directores, eu sei lá, estava o actual Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, um homem sério e que me parecia genuinamente interessado em conhecer o Prémio Nobel de Física de 1997 e saber um pouco do seu trabalho. Foi convidado... por ser o “homem do dinheiro”, e foi assim que foi apresentado a Cohen-Tannoudji. No dia em que deixar de ser presidente da FCT, já não será mais convidado de honra, o que não sucedia aos outros. Nitidamente, não era membro do “clube”.
Os membros do “clube” falavam entre si, e nenhum deles parecia minimamente interessado no trabalho de Cohen-Tannoudji. Mas só eles tinham acesso à conversa com o físico francês, que cumprimentavam e com quem tentavam manter uma conversa de circunstância. Distinguiam-se da restante audiência, para além dos lugares reservados, pelo porte: fato e gravata, imprescindível nos homens, ou um bom vestido nas mulheres.
Nas filas traseiras instalou-se quem realmente queria ouvir Cohen-Tannoudji: quem não tinha fato e gravata, fossem estudantes de licenciatura ou doutoramento, investigadores ou professores.
Após a conferência seguiu-se a sessão de perguntas. Uma senhora, membro do “clube”, colocou algumas questões num inglês pouco menos do que macarrónico. Numa ocasião, traduziu “êxito” por “exit”. Levou como resposta do Prémio Nobel um “sorry, I do not understand your question”.
Seguiram-se as questões relevantes, colocadas a partir das filas traseiras (ninguém usava gravata ou traje académico). A anfitriã, uma professora da Faculdade, dava por encerrada a sessão, a que se seguiram umas fotografias. Entretanto, dois gestores grisalhos e barrigudos recordavam-se que também já tinham estudado Física em tempos e discutiam o conceito de arrefecimento dos átomos. O que era ali a temperatura? A anfitriã tentava recordar-lhes a distribuição de Maxwell e Boltzmann.
Seguia-se o almoço com o Prémio Nobel, para o qual tinham sido convidados pelo menos alguns dos membros do “clube”. Antes havia uma rápida conferência de imprensa, onde o Prémio Nobel ia responder a algumas questões dos dois jornalistas (eu e um colega da revista 2010) que tinham aparecido no evento. Um dos engravatados, à minha frente, perguntava a outro se a conferência de imprensa ainda ia demorar muito tempo (deveria ter pressa para voltar à sua “investigação”, talvez a jogar na bolsa). Outro engravatado respondeu-lhe que não, que não deveria haver muitas perguntas a fazer: “estes jornalistas científicos não percebem nada de Física!”
A reportagem sobre as conferências de Cohen-Tannoudji – há mais amanhã – e as suas respostas a algumas das minhas perguntas surgirão em breve no Público.
Então foi assim. Na conferência de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num grande anfiteatro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, havia uma série de lugares “reservados” na primeira fila. Esses lugares eram destinados a convidados especiais, que à medida que iam chegando se iam cumprimentando, com beijinhos e apertos de mão efusivos. Já não se viam desde o último seminário que fosse também “evento social”, como este era.
Entre esses convidados, reitores, professores, gestores, directores, eu sei lá, estava o actual Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, um homem sério e que me parecia genuinamente interessado em conhecer o Prémio Nobel de Física de 1997 e saber um pouco do seu trabalho. Foi convidado... por ser o “homem do dinheiro”, e foi assim que foi apresentado a Cohen-Tannoudji. No dia em que deixar de ser presidente da FCT, já não será mais convidado de honra, o que não sucedia aos outros. Nitidamente, não era membro do “clube”.
Os membros do “clube” falavam entre si, e nenhum deles parecia minimamente interessado no trabalho de Cohen-Tannoudji. Mas só eles tinham acesso à conversa com o físico francês, que cumprimentavam e com quem tentavam manter uma conversa de circunstância. Distinguiam-se da restante audiência, para além dos lugares reservados, pelo porte: fato e gravata, imprescindível nos homens, ou um bom vestido nas mulheres.
Nas filas traseiras instalou-se quem realmente queria ouvir Cohen-Tannoudji: quem não tinha fato e gravata, fossem estudantes de licenciatura ou doutoramento, investigadores ou professores.
Após a conferência seguiu-se a sessão de perguntas. Uma senhora, membro do “clube”, colocou algumas questões num inglês pouco menos do que macarrónico. Numa ocasião, traduziu “êxito” por “exit”. Levou como resposta do Prémio Nobel um “sorry, I do not understand your question”.
Seguiram-se as questões relevantes, colocadas a partir das filas traseiras (ninguém usava gravata ou traje académico). A anfitriã, uma professora da Faculdade, dava por encerrada a sessão, a que se seguiram umas fotografias. Entretanto, dois gestores grisalhos e barrigudos recordavam-se que também já tinham estudado Física em tempos e discutiam o conceito de arrefecimento dos átomos. O que era ali a temperatura? A anfitriã tentava recordar-lhes a distribuição de Maxwell e Boltzmann.
Seguia-se o almoço com o Prémio Nobel, para o qual tinham sido convidados pelo menos alguns dos membros do “clube”. Antes havia uma rápida conferência de imprensa, onde o Prémio Nobel ia responder a algumas questões dos dois jornalistas (eu e um colega da revista 2010) que tinham aparecido no evento. Um dos engravatados, à minha frente, perguntava a outro se a conferência de imprensa ainda ia demorar muito tempo (deveria ter pressa para voltar à sua “investigação”, talvez a jogar na bolsa). Outro engravatado respondeu-lhe que não, que não deveria haver muitas perguntas a fazer: “estes jornalistas científicos não percebem nada de Física!”
A reportagem sobre as conferências de Cohen-Tannoudji – há mais amanhã – e as suas respostas a algumas das minhas perguntas surgirão em breve no Público.
Sporting Clube dos Putos
Da esquerda para a direita: Miguel Veloso (18 anos), João Moutinho (20 anos), o velho Marco Caneira (27 anos), Nani (19 anos). Ganharam ao Inter de Milão, de Figo, Crespo & cia.
2006/09/12
Claude Cohen-Tannoudji em Lisboa
Amanhã e depois (ver informações). É entrar, senhoras e senhores, meninas e meninos, é entrar.
"Milhares de pessoas têm de desistir do carro para Portugal cumprir Quioto"
Aguardo legislação nesse sentido, como há noutros países. E não são as pessoas que "têm de desistir do carro" que são umas pobres vítimas. Vítimas somos todos das pessoas que egoística e irresponsavelmente usam o carro nas cidades todos os dias.
Extracto da entrevista de Ana Paula Vitorino ao Público:
A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, não tem dúvidas: para aumentar o número de pessoas que andam nos transportes públicos, não basta apenas melhorar a oferta, mas é preciso também criar dificuldades a quem prefere andar de carro. "Temos de penalizar o transporte individual", disse Ana Paula Vitorino ao PÚBLICO.
A secretária de Estado justifica com o seu próprio exemplo. Ana Vitorino mora em frente a uma estação do metro, em Lisboa. Mas muitas vezes vai à Baixa de carro, porque há um parque de estacionamento com tarifas baratas - o do Martim Moniz. "Não se devem construir mais parques de estacionamento no centro", afirma.
Ana Vitorino tem outras críticas às facilidades concedidas aos automóveis particulares, como a construção de infra-estruturas que melhoram o acesso aos grandes aglomerados. "Não existem razões para facilitar as entradas nas cidades", afirma.
Enquanto estava na oposição, durante o anterior Governo, Ana Vitorino criticou a construção do polémico túnel do Marquês, que pretende aliviar o trânsito numa das principais entradas de Lisboa. Agora, a secretária de Estado diz que não se pronuncia sobre o assunto.
"Se utilizássemos todos o carro, Lisboa ficava parada, ninguém podia ir a lado nenhum", acrescenta a governante. "Temos de penalizar os circuitos, para que as pessoas sintam o desconforto do transporte individual e optem pelo transporte colectivo."
2006/09/11
Haverá terrorismo aceitável?
Cinco anos depois do dia que mudou a História, vale a pena reflectir sobre a questão do título.
A meu ver, uma das grandes falácias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001 foi esta: passou a colocar-se todo o tipo de terrorismo no mesmo saco, e a condená-lo indiscriminadamente. Será este procedimento honesto e aceitável? Julgo que não. Visa somente satisfazer os objectivos da direita e extrema direita no poder nos EUA. Lamentavelmente este tipo de raciocínio tende por vezes a ser adoptado mesmo por pessoas que eu respeito e gosto muito de ler.
A meu ver, o terrorismo não é aceitável em Estados de Direito. Os métodos usados por organizações como a ETA ou o IRA não são, portanto, aceitáveis (vamos deixar Israel e a Palestina de fora da discussão por agora). O que não significa que sejam indefensáveis os objectivos destas organizações; só o são os seus métodos. A partir do 11 de Setembro de 2001 passou a considerar-se “ilegítima” e “indefensável” qualquer causa que fosse defendida por um grupo terrorista, e impensável sequer tentar compreender os motivos por trás do surgimento deste terrorismo. Quem o tentar fazer é logo acusado de “conivência” com o terrorismo (este ponto da discussão já se aplica perfeitamente ao conflito israelo-palestiniano).
Há no entanto a meu ver casos em que uma resistência armada (que pode ser chamada “terrorista”) é inevitável: é quando a autoridade não é um Estado de Direito e pratica ela mesma o terrorismo. Foi o caso do ANC de Nelson Mandela (sim, Nelson Mandela, a meu ver o Homem do séc. XX, também foi considerado “terrorista”), a resistir ao apartheid da África do Sul, e de muitos movimentos anticolonialistas. Foi também esse o caso de muitos movimentos de luta contra as ditaduras da América Latina entre os anos 60 e 80. Em qualquer um desses casos a luta armada parece-me aceitável e, em alguns casos, provavelmente inevitável.
O que não é aceitável é o uso de violência contra inocentes. Os casos que eu anteriormente foquei usavam a violência contra agentes da autoridade. Agentes corruptos e ditatoriais.
Na Colômbia vigora um regime corrupto de extrema-direita dominado por militares e barões da droga, que aterrorizam quem se lhes opuser. A resistência armada a um regime destes é aceitável e legítima.
Lamentavelmente, não é só isto que fazem as FARC. As FARC raptam e matam indiscriminadamente. O exemplo mais conhecido e mediático é o de Ingrid Betancourt, candidata pelo Partido Ecologista às eleições presidenciais de 2002, sem nenhuma ligação ao governo colombiano, e raptada e mantida em cativeiro pelas FARC desde essa altura. Por isso as FARC são um movimento terrorista, tal como o é o Sendero Luminoso no Peru. Quando os actos terroristas são ilegítimos, uma resposta armada é legítima.
Queria terminar referindo que os terríveis acontecimentos de há cinco anos foram um atentado terrorista ilegítimo, e como tal, na mesma ordem de ideias do que tenho vindo a escrever (e sempre defendi), a resposta dos Estados Unidos da América foi legítima.
A meu ver, uma das grandes falácias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001 foi esta: passou a colocar-se todo o tipo de terrorismo no mesmo saco, e a condená-lo indiscriminadamente. Será este procedimento honesto e aceitável? Julgo que não. Visa somente satisfazer os objectivos da direita e extrema direita no poder nos EUA. Lamentavelmente este tipo de raciocínio tende por vezes a ser adoptado mesmo por pessoas que eu respeito e gosto muito de ler.
A meu ver, o terrorismo não é aceitável em Estados de Direito. Os métodos usados por organizações como a ETA ou o IRA não são, portanto, aceitáveis (vamos deixar Israel e a Palestina de fora da discussão por agora). O que não significa que sejam indefensáveis os objectivos destas organizações; só o são os seus métodos. A partir do 11 de Setembro de 2001 passou a considerar-se “ilegítima” e “indefensável” qualquer causa que fosse defendida por um grupo terrorista, e impensável sequer tentar compreender os motivos por trás do surgimento deste terrorismo. Quem o tentar fazer é logo acusado de “conivência” com o terrorismo (este ponto da discussão já se aplica perfeitamente ao conflito israelo-palestiniano).
Há no entanto a meu ver casos em que uma resistência armada (que pode ser chamada “terrorista”) é inevitável: é quando a autoridade não é um Estado de Direito e pratica ela mesma o terrorismo. Foi o caso do ANC de Nelson Mandela (sim, Nelson Mandela, a meu ver o Homem do séc. XX, também foi considerado “terrorista”), a resistir ao apartheid da África do Sul, e de muitos movimentos anticolonialistas. Foi também esse o caso de muitos movimentos de luta contra as ditaduras da América Latina entre os anos 60 e 80. Em qualquer um desses casos a luta armada parece-me aceitável e, em alguns casos, provavelmente inevitável.
O que não é aceitável é o uso de violência contra inocentes. Os casos que eu anteriormente foquei usavam a violência contra agentes da autoridade. Agentes corruptos e ditatoriais.
Na Colômbia vigora um regime corrupto de extrema-direita dominado por militares e barões da droga, que aterrorizam quem se lhes opuser. A resistência armada a um regime destes é aceitável e legítima.
Lamentavelmente, não é só isto que fazem as FARC. As FARC raptam e matam indiscriminadamente. O exemplo mais conhecido e mediático é o de Ingrid Betancourt, candidata pelo Partido Ecologista às eleições presidenciais de 2002, sem nenhuma ligação ao governo colombiano, e raptada e mantida em cativeiro pelas FARC desde essa altura. Por isso as FARC são um movimento terrorista, tal como o é o Sendero Luminoso no Peru. Quando os actos terroristas são ilegítimos, uma resposta armada é legítima.
Queria terminar referindo que os terríveis acontecimentos de há cinco anos foram um atentado terrorista ilegítimo, e como tal, na mesma ordem de ideias do que tenho vindo a escrever (e sempre defendi), a resposta dos Estados Unidos da América foi legítima.
2006/09/10
E agora, Ferrari?
Para quem tiver dúvidas: Michael Schumacher ultrapassou e dominou com facilidade o seu sucessor, dando a entender que para o ano, se continuase a correr, seria um candidato mais forte do que ele. Filipe Massa nem vê-lo. Teve azar com o carro de Alonso à frente, mas tinha sido ultrapassado sem apelo nem agravo nas mudanças de pneus.
A Fórmula 1 para o ano vai ser muito aborrecida. Valham-nos pilotos como o Robert Kubica (pódio à terceira corrida).
Agora até sou o "Professor Chanfrado"!
Caros visitantes ocasionais:
Sei que estais aqui de passagem, motivados pelas ligações a este blogue por parte do Insurgente, de A Causa Foi Modificada e do Franco Atirador. Queria aproveitar para vos agradecer – para mim é uma enorme honra ter-vos aqui. Eu sei que o que escrevo a seguir pode parecer abuso da minha parte, e desculpai-me se eu vos parecer inconveniente. A verdade é que eu só tenho é que vos agradecer as visitas. Afinal dia após dia eu contorço-me a imaginar esquemas para vos trazer cá. Ora provoco este, ora chateio aquele, a ver se alguém me liga e me linca, para ver os contadores de visitas dispararem. Dia após dia, é essa a minha luta. É essa a razão por que eu estou na blogosfera, e diria mesmo que é só para isso que eu vivo. Preciso de vós como do ar que eu respiro. Por isso mesmo eu só tenho que vos agradecer, e é preciso ter uma grande lata para ainda vos vir pedir alguma coisa por cima. Ora lata é o que menos me falta. Por isso, já que aqui estão, eu queria pedir-vos um favor.
Existe um blóguer muito simpático, chamado Rui Castro, que escreve nos Incontinentes Verbais. O senhor dedicou-me primeiro o texto chamado "Pecados Mortais", que eu achei que não tinha comentário possível a não ser o que eu lá deixei – o autor deveria comprar uma fralda... para a boca (para os incontinentes verbais, estais a ver a chalaça?). Pois bem: o referido texto foi lamentavelmente omitido da colectânea organizada pelo André Azevedo Alves. O comentário da fralda para a boca até foi lá deixado primeiro, como a minha forma de protesto por esta omissão tão pouco católica. Afinal, o Rui dispara que se farta, e em todas as direcções. Bem: mais até naquelas em que o André Azevedo Alves costuma disparar, o que torna a sua omissão ainda mais injusta.
Até que, nisto... o Rui Castro dedicou-me outro texto! Intitulado, notai bem, “Filipe Moura, o professor chanfrado!” Cheio de considerações que eu também me abstenho de comentar, mas que me fazem verificar, como um bom cientista, que o Rui ainda não comprou a fralda. Mas o título e, sobretudo, aquela fotografia... Sim, porque o Rui não fez a coisa por menos: ilustrou o texto – reparai – com a célebre fotografia do Einstein com a língua de fora! Tanta simpatia e tanta originalidade deixaram-me verdadeiramente comovido.
Por este motivo, eu queria aproveitar a vossa presença aqui, agora nestes dias que faltam antes de regressar a um número de visitantes semelhante ao do Rui Castro, para vos endereçar o seguinte pedido, e corrigir a omissão do André Azevedo Alves: já que aqui estais, não deixeis de visitar igualmente os Incontinentes Verbais, o blogue do Rui Castro. Muito agradecido. Deus vos pague.
Sei que estais aqui de passagem, motivados pelas ligações a este blogue por parte do Insurgente, de A Causa Foi Modificada e do Franco Atirador. Queria aproveitar para vos agradecer – para mim é uma enorme honra ter-vos aqui. Eu sei que o que escrevo a seguir pode parecer abuso da minha parte, e desculpai-me se eu vos parecer inconveniente. A verdade é que eu só tenho é que vos agradecer as visitas. Afinal dia após dia eu contorço-me a imaginar esquemas para vos trazer cá. Ora provoco este, ora chateio aquele, a ver se alguém me liga e me linca, para ver os contadores de visitas dispararem. Dia após dia, é essa a minha luta. É essa a razão por que eu estou na blogosfera, e diria mesmo que é só para isso que eu vivo. Preciso de vós como do ar que eu respiro. Por isso mesmo eu só tenho que vos agradecer, e é preciso ter uma grande lata para ainda vos vir pedir alguma coisa por cima. Ora lata é o que menos me falta. Por isso, já que aqui estão, eu queria pedir-vos um favor.
Existe um blóguer muito simpático, chamado Rui Castro, que escreve nos Incontinentes Verbais. O senhor dedicou-me primeiro o texto chamado "Pecados Mortais", que eu achei que não tinha comentário possível a não ser o que eu lá deixei – o autor deveria comprar uma fralda... para a boca (para os incontinentes verbais, estais a ver a chalaça?). Pois bem: o referido texto foi lamentavelmente omitido da colectânea organizada pelo André Azevedo Alves. O comentário da fralda para a boca até foi lá deixado primeiro, como a minha forma de protesto por esta omissão tão pouco católica. Afinal, o Rui dispara que se farta, e em todas as direcções. Bem: mais até naquelas em que o André Azevedo Alves costuma disparar, o que torna a sua omissão ainda mais injusta.
Até que, nisto... o Rui Castro dedicou-me outro texto! Intitulado, notai bem, “Filipe Moura, o professor chanfrado!” Cheio de considerações que eu também me abstenho de comentar, mas que me fazem verificar, como um bom cientista, que o Rui ainda não comprou a fralda. Mas o título e, sobretudo, aquela fotografia... Sim, porque o Rui não fez a coisa por menos: ilustrou o texto – reparai – com a célebre fotografia do Einstein com a língua de fora! Tanta simpatia e tanta originalidade deixaram-me verdadeiramente comovido.
Por este motivo, eu queria aproveitar a vossa presença aqui, agora nestes dias que faltam antes de regressar a um número de visitantes semelhante ao do Rui Castro, para vos endereçar o seguinte pedido, e corrigir a omissão do André Azevedo Alves: já que aqui estais, não deixeis de visitar igualmente os Incontinentes Verbais, o blogue do Rui Castro. Muito agradecido. Deus vos pague.
2006/09/09
Universo Particular
Marisa Monte conquistou o Coliseu com músicas antigas, dos Tribalistas e dos dois álbuns mais recentes, num espectáculo cuidado e profissional.
Ninguém como Marisa combina a música moderna com a música tradicional.
Perfeito o concerto de ontem à noite da maior cantora brasileira da actualidade.
Ninguém como Marisa combina a música moderna com a música tradicional.
Perfeito o concerto de ontem à noite da maior cantora brasileira da actualidade.
2006/09/08
A Festa do Avante! anda muito mal frequentada
2006/09/07
As mexidas na Câmara de Setúbal
Sobre o caso da Câmara de Setúbal: que fique bem claro que eu lamento profundamente a saída de Carlos de Sousa. Se o PCP está a procurar simplesmente “limpar a cara” por causa do caso das aposentações compulsivas ou não, é algo que não fica claro. Agora uma coisa é certa: nas eleições autárquicas há uma hierarquia clara dos candidatos, pelo que na saída do presidente os eleitores sabem quem é o vice-presidente. Votam numa lista. Já nas legislativas não é assim, pois só conhecem o nome do candidato a Primeiro Ministro. Santana Lopes não participou sequer nas eleições legislativas de 2002, ao contrário da Presidente indigitada da Câmara de Setúbal. A substituição de Carlos de Sousa, sendo sempre lamentável (pelo autarca que é), é muito mais comparável à “rotação” de deputados anteriormente praticada pelo Bloco de Esquerda. É esta a minha resposta a esta entrada do velho Daniel Oliveira que, com o seu costumeiro moralismo, lança acusações aos outros sem antes olhar bem para a sua própria “casa”.
Também não concordo com João Pedro Henriques quando, ao comparar este caso com o de Fátima Felgueiras, fala em "dois pesos e duas medidas". Primeiro, não creio que este caso seja comparável ao de Fátima Felgueiras (ou os de Gondomar, Oeiras ou Marco de Canavezes), onde as acusações de corrupção aos autarcas visam crimes de peculato e um enriquecimento ilícito pessoal. Já em Setúbal, se houve alguma ilegalidade (ninguém confirmou ainda), foi em proveito... da autarquia (que está na bancarrota, já desde a anterior gestão) e de alguns trabalhadores (e à custa do Estado). Finalmente, não me parece que as atitudes dos partidos (o PS, ao preservar Fátima Felgueiras para ganhar eleições; o PCP, ao substituir Carlos Sousa para evitar a dissolução da Câmara e eleições antecipadas) sejam assim tão diferentes: ambas visam simplesmente a preservação do poder.
O assunto não é simples e nem permite uma interpretação única, mas do que foi dito concordo plenamente com Vital Moreira.
Também não concordo com João Pedro Henriques quando, ao comparar este caso com o de Fátima Felgueiras, fala em "dois pesos e duas medidas". Primeiro, não creio que este caso seja comparável ao de Fátima Felgueiras (ou os de Gondomar, Oeiras ou Marco de Canavezes), onde as acusações de corrupção aos autarcas visam crimes de peculato e um enriquecimento ilícito pessoal. Já em Setúbal, se houve alguma ilegalidade (ninguém confirmou ainda), foi em proveito... da autarquia (que está na bancarrota, já desde a anterior gestão) e de alguns trabalhadores (e à custa do Estado). Finalmente, não me parece que as atitudes dos partidos (o PS, ao preservar Fátima Felgueiras para ganhar eleições; o PCP, ao substituir Carlos Sousa para evitar a dissolução da Câmara e eleições antecipadas) sejam assim tão diferentes: ambas visam simplesmente a preservação do poder.
O assunto não é simples e nem permite uma interpretação única, mas do que foi dito concordo plenamente com Vital Moreira.
2006/09/06
Agora explico eu
Não há dúvida de que o Miguel Esteves Cardoso é um assunto tabu, e quem ousar meter-se com ele tem de levar com os seus amiguinhos, de direita ou supostamente de esquerda. Quem se meter com os amiguinhos dele também, que eles funcionam todos em bloco (salvo seja). Todos eles consideram-se muito especiais por pertencerem ao grupinho, influência provável do líder intelectual. Esta gente julga-se eleita, e não me refiro ao “povo eleito” no sentido judaico, apesar de uma regra essencial para pertencer ao grupo ser apoiar-se incondicionalmente as políticas do estado de Israel, mesmo as mais criminosas.
A melhor demonstração do tipo de pessoas que é esta gente (os amiguinhos do Miguel Esteves Cardoso) ocorreu há mais de três anos, no episódio que originou o fim da Coluna Infame. Está certo que a provocação do Daniel Oliveira ao chamar de “extrema direita” ao João Pereira Coutinho surge do nada, é completamente infundada e desnecessária. Mas e a reacção do João Pereira Coutinho? Não se deve à “extrema direita” propriamente dita – deve-se a um membro da “ralé” ter-se atrevido (é mesmo a palavra) a insultar o “Pereira Coutinho”. Provavelmente João Pereira Coutinho gostaria de ter resolvido a questão com um duelo! João Pereira Coutinho tem uma formação oxfordiana, e para ele ter sido abordado assim por um qualquer Oliveira é como se um estudante se atrevesse a frequentar as áreas reservadas a professores. O cavalheirismo é importante, mas mais importante é o “respeitinho”. Toda a sua reacção é de quem foi mimado a vida toda.
Daí que não espante que se diga que o cavalheiro é talentosíssimo, genial e escreve muito bem, mas ninguém do referido grupo se tenha sequer dignado a criticar-lhe os modos. O mesmo pode ser dito relativamente ao seu companheiro de armas, no que diz respeito a textos tão dignificantes como este. A Bomba ainda se dá ao luxo de o destacar. E o bobo da corte, mais preocupado com o Hamlet e o Rei Lear, ainda faz reparos ao penteado de Vital Moreira. Qual é a reacção dos amiguinhos do MEC e das pessoas “cool-tas”? «Ah, o maradona (com minúscula!) é tão engraçado! Ah, o maradona (com minúscula!) escreve tão bem, ele e a Charlotte! E o João e o Alberto! São tão talentosos! São mesmo uns geniozinhos, uns queridíssimos!» Para o que esta gente escreve ou diz, a impunidade é total. Nesse aspecto estão muito bem para o Estado de Israel. Não admira que apoiem as suas acções criminosas incondicionalmente.
Queria ainda fazer um esclarecimento aos muitos visitantes que apareceram aqui ontem a julgar que eu sou “professor”: eu não sou “professor”, embora gostasse de o vir a ser um dia, quem sabe. Dei aulas em Portugal e nos EUA, sempre enquanto estudava. A última vez que dei aulas em Portugal foi há nove anos, quando ainda ninguém sabia o que era um blogue. Os visitantes que aqui vêm não são meus “alunos”. São pessoas livres e que pensam pela sua cabeça – se aqui vêm é porque tomam essa decisão livremente. Não pertencem a nenhuma “seita”, como a dos amigos do MEC e da Bomba, que se lincam mutuamente e são todos lincados pela Bomba, e tratados por “queridíssimos”. Basta entrar no referido Bomba Inteligente para verificar – todos os dias há entradas que são respostas directas e descontextualizadas aos amigos da Bomba (e do MEC), de forma a que quem não pertença ao “grupo” não saiba do que se está a falar, e tenha de ir visitar os outros amiguinhos (que assim partilham os visitantes dos seus blogues). Isto se (há gente para tudo…) alguém estiver interessado no que a Bomba quer dizer. Aquilo é um verdadeiro “chá das tias”. Não me incomoda o sucesso do blogue em si, tal como nunca me incomodou o sucesso da revista Caras; há leitores para tudo. Eu não pactuo é com falta de vergonha na cara, e isso aquela gente não sabe o que é. Em particular, não me incomoda nada ter uma média de cento e poucas visitas por dia, enquanto a Charlotte tem 863 (incluindo os que só lá vão via Google Image Search à procura das muitas imagens que o blogue tem), como o maradona faz questão de recordar. Os meus visitantes, por poucos que sejam, são cidadãos livres que escolhem aqui vir; não são membros de nenhum clube privado nem seguidores de nenhum guru.
Dito isto, eu não quero ter mais nada a ver com esta elite muito orgulhosa de si mesma, apesar de não fazer nada de palpável, mas que supostamente é muito “talentosa”, embora os seus talentos até hoje só tenham sido aferidos em comparação uns com os dos outros. Não quero perder mais tempo com gente (de esquerda e de direita) cujos valores são completamente diferentes dos meus – e aqui é mesmo uma questão de valores de que se trata -, a verdadeira negação da “ética protestante”. Gente que não quer que o país passe da cepa torta. A atenção e o poder mediático que esta gente tem explicam e muito o nosso atraso – só em Portugal estes indivíduos alcançariam o destaque que têm.
A melhor demonstração do tipo de pessoas que é esta gente (os amiguinhos do Miguel Esteves Cardoso) ocorreu há mais de três anos, no episódio que originou o fim da Coluna Infame. Está certo que a provocação do Daniel Oliveira ao chamar de “extrema direita” ao João Pereira Coutinho surge do nada, é completamente infundada e desnecessária. Mas e a reacção do João Pereira Coutinho? Não se deve à “extrema direita” propriamente dita – deve-se a um membro da “ralé” ter-se atrevido (é mesmo a palavra) a insultar o “Pereira Coutinho”. Provavelmente João Pereira Coutinho gostaria de ter resolvido a questão com um duelo! João Pereira Coutinho tem uma formação oxfordiana, e para ele ter sido abordado assim por um qualquer Oliveira é como se um estudante se atrevesse a frequentar as áreas reservadas a professores. O cavalheirismo é importante, mas mais importante é o “respeitinho”. Toda a sua reacção é de quem foi mimado a vida toda.
Daí que não espante que se diga que o cavalheiro é talentosíssimo, genial e escreve muito bem, mas ninguém do referido grupo se tenha sequer dignado a criticar-lhe os modos. O mesmo pode ser dito relativamente ao seu companheiro de armas, no que diz respeito a textos tão dignificantes como este. A Bomba ainda se dá ao luxo de o destacar. E o bobo da corte, mais preocupado com o Hamlet e o Rei Lear, ainda faz reparos ao penteado de Vital Moreira. Qual é a reacção dos amiguinhos do MEC e das pessoas “cool-tas”? «Ah, o maradona (com minúscula!) é tão engraçado! Ah, o maradona (com minúscula!) escreve tão bem, ele e a Charlotte! E o João e o Alberto! São tão talentosos! São mesmo uns geniozinhos, uns queridíssimos!» Para o que esta gente escreve ou diz, a impunidade é total. Nesse aspecto estão muito bem para o Estado de Israel. Não admira que apoiem as suas acções criminosas incondicionalmente.
Queria ainda fazer um esclarecimento aos muitos visitantes que apareceram aqui ontem a julgar que eu sou “professor”: eu não sou “professor”, embora gostasse de o vir a ser um dia, quem sabe. Dei aulas em Portugal e nos EUA, sempre enquanto estudava. A última vez que dei aulas em Portugal foi há nove anos, quando ainda ninguém sabia o que era um blogue. Os visitantes que aqui vêm não são meus “alunos”. São pessoas livres e que pensam pela sua cabeça – se aqui vêm é porque tomam essa decisão livremente. Não pertencem a nenhuma “seita”, como a dos amigos do MEC e da Bomba, que se lincam mutuamente e são todos lincados pela Bomba, e tratados por “queridíssimos”. Basta entrar no referido Bomba Inteligente para verificar – todos os dias há entradas que são respostas directas e descontextualizadas aos amigos da Bomba (e do MEC), de forma a que quem não pertença ao “grupo” não saiba do que se está a falar, e tenha de ir visitar os outros amiguinhos (que assim partilham os visitantes dos seus blogues). Isto se (há gente para tudo…) alguém estiver interessado no que a Bomba quer dizer. Aquilo é um verdadeiro “chá das tias”. Não me incomoda o sucesso do blogue em si, tal como nunca me incomodou o sucesso da revista Caras; há leitores para tudo. Eu não pactuo é com falta de vergonha na cara, e isso aquela gente não sabe o que é. Em particular, não me incomoda nada ter uma média de cento e poucas visitas por dia, enquanto a Charlotte tem 863 (incluindo os que só lá vão via Google Image Search à procura das muitas imagens que o blogue tem), como o maradona faz questão de recordar. Os meus visitantes, por poucos que sejam, são cidadãos livres que escolhem aqui vir; não são membros de nenhum clube privado nem seguidores de nenhum guru.
Dito isto, eu não quero ter mais nada a ver com esta elite muito orgulhosa de si mesma, apesar de não fazer nada de palpável, mas que supostamente é muito “talentosa”, embora os seus talentos até hoje só tenham sido aferidos em comparação uns com os dos outros. Não quero perder mais tempo com gente (de esquerda e de direita) cujos valores são completamente diferentes dos meus – e aqui é mesmo uma questão de valores de que se trata -, a verdadeira negação da “ética protestante”. Gente que não quer que o país passe da cepa torta. A atenção e o poder mediático que esta gente tem explicam e muito o nosso atraso – só em Portugal estes indivíduos alcançariam o destaque que têm.
No chá sem a Bomba
Ironicamente (tendo em conta o assunto que se segue e o título do texto que lhe deu motivo) passei o dia de ontem a beber chá e a comer torradas. Motivo: indisposição e sérios transtornos gástricos. Nada a ver com a blogosfera.
2006/09/04
Apenas um homem vulgar
Pela primeira vez na vida entrei no Casino Estoril, na passada quinta feira. Para o concerto do Jorge Palma. Para o concerto de um cantor que já começou algo “tocado” – notava-se na forma como esbarrava no microfone, que lhe fugia enquanto cantava (por vezes nem dava para o ouvir bem), e quando tropeçou -, mas que nem por isso, no meio de um calor infernal de uma sala sem grandes condições, deixou de ir bebendo cerveja ao longo da noite. Que não teve problemas em acender um cigarro e ir fumando enquanto tocava piano.
O Jorge Palma é um grande compositor e eu gosto muito de o ouvir. Por um lado eu gosto de ver um homem livre que não cede aos ditames do politicamente correcto. Por outro lado, pelo menos enquanto actuava ao vivo, o Jorge Palma não demonstrou ser muito profissional. Não tem autocontrolo. Exagerou. Gostei de ter ido ao concerto, mas porque era à borla. Conforme eu já desconfiava, não gostaria de ter pago um bilhete para o ver actuar como na passada quinta.
2006/09/03
Força camarada!
Fidel Castro (ou era o Che Guevara?) plantou canas de açúcar (ou era milho?) no meio dos agricultores cubanos. Nesta semana, Jerónimo de Sousa ajudou a montar a Festa do Avante!, dando uma mãozinha aos militantes de base anónimos. "Isto descontrai", disse ele. Assim se constroem os mitos.
2006/09/02
O mundo de Bush
Subscrevo na íntegra este editorial de João Morgado Fernandes:
A seguir ao 11 de Setembro, a América reagiu da melhor maneira. A invasão do ninho de terroristas do Afeganistão e o reforço das medidas de segurança interna, mesmo com sacrifícios das liberdades, mereceram aplauso geral e, passados cinco anos, o balanço é francamente positivo.
A aventura do Iraque, pela desmesura de meios despendidos tendo em conta os resultados, as fundas divisões que criou na comunidade internacional e a descredibilização da própria América, fragilizou irremediavelmente o lado "dos bons".
Agora que o mundo está, de facto, perante a ameaça real de um Irão radical, apoiante de terroristas, a trabalhar para a bomba atómica, pouco mais podemos fazer que aguardar estupefactos por um improvável assomo de bom senso. Porque, seja o que for que a América ou "nós" fizermos para conter os fanáticos de Teerão, teremos sempre de contar com a resposta do vespeiro de terroristas que Bush criou ali ao lado, no Iraque.
2006/09/01
O fim de "O Independente" e a velha direita
Contam-se pelos dedos de um pé as vezes que li "O Independente", sempre na fase considerada “áurea”, de Paulo Portas & Miguel Esteves Cardoso. Não vou mentir – não gostava, e o meu balanço do jornal está longe de ser tão favorável como se lê genericamente pela blogosfera fora. E a razão é uma – e nisso estou de acordo com os leitores de "O Independente" – a marca de Miguel Esteves Cardoso no jornal. Só que ao contrário da maioria das pessoas “cool-tas” da minha geração, eu abomino o Miguel Esteves Cardoso e mais o seu insuportável elitismo sem ter onde cair morto. Já o afirmei aqui, onde afirmava não compreender o fascínio de uma esquerda por este autor. Mas, embora não diga respeito às minhas ideias políticas, igualmente não compreendo o mesmo fascínio por parte de quem deveria ser uma “nova direita”, como é o caso do André Abrantes Amaral, um meu amigo que eu não conheço. O André foi o colaborador de O Insurgente a quem coube a tarefa de escrever esta semana na opinião da Dia D – um texto muito interessante, e que embora seja aparentemente dirigido à direita poderia ser dirigido ao país todo. No fundo o que o André advoga é um pouco mais daquilo que se chama “ética protestante”, algo que está indesmentivelmente presente nos países mais desenvolvidos e de que a mentalidade das elites portuguesas – de esquerda e de direita – foge como o diabo da cruz. Em grande medida aquilo que o André defende passa por aí. Como pode o André então defender o Miguel Esteves Cardoso, defensor dos privilégios e tradições e a maior negação da “ética protestante”, e ao mesmo tempo pedir uma “nova direita”? E genericamente como se pode falar de "O Independente" como “nova direita”? Para mim “O Independente” representava uma direita portuguesa bem velha. Tenho cá para mim que uma “nova direita” deve muito mais a certos autores do Blasfémias – onde nunca vi ninguém elogiar o Miguel Esteves Cardoso - do que a “O Independente”.
Relativamente a "O Independente", de que tenho pena? Como em todos os projectos, há profissionais sérios que ficam sem trabalho, e é isso que eu mais lamento. Particularmente quando um deles é outro amigo que eu não conheço, o Leonardo Ralha, um tipo que pensa muito pela sua cabeça e a quem desejo que esta situação passe depressa. Sou jornalista até ao fim deste mês – quem sabe ainda o encontro aqui pela Rua Viriato?
Relativamente a "O Independente", de que tenho pena? Como em todos os projectos, há profissionais sérios que ficam sem trabalho, e é isso que eu mais lamento. Particularmente quando um deles é outro amigo que eu não conheço, o Leonardo Ralha, um tipo que pensa muito pela sua cabeça e a quem desejo que esta situação passe depressa. Sou jornalista até ao fim deste mês – quem sabe ainda o encontro aqui pela Rua Viriato?
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