2006/09/12

"Milhares de pessoas têm de desistir do carro para Portugal cumprir Quioto"

Aguardo legislação nesse sentido, como há noutros países. E não são as pessoas que "têm de desistir do carro" que são umas pobres vítimas. Vítimas somos todos das pessoas que egoística e irresponsavelmente usam o carro nas cidades todos os dias.

Extracto da entrevista de Ana Paula Vitorino ao Público:

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, não tem dúvidas: para aumentar o número de pessoas que andam nos transportes públicos, não basta apenas melhorar a oferta, mas é preciso também criar dificuldades a quem prefere andar de carro. "Temos de penalizar o transporte individual", disse Ana Paula Vitorino ao PÚBLICO.
A secretária de Estado justifica com o seu próprio exemplo. Ana Vitorino mora em frente a uma estação do metro, em Lisboa. Mas muitas vezes vai à Baixa de carro, porque há um parque de estacionamento com tarifas baratas - o do Martim Moniz. "Não se devem construir mais parques de estacionamento no centro", afirma.
Ana Vitorino tem outras críticas às facilidades concedidas aos automóveis particulares, como a construção de infra-estruturas que melhoram o acesso aos grandes aglomerados. "Não existem razões para facilitar as entradas nas cidades", afirma.
Enquanto estava na oposição, durante o anterior Governo, Ana Vitorino criticou a construção do polémico túnel do Marquês, que pretende aliviar o trânsito numa das principais entradas de Lisboa. Agora, a secretária de Estado diz que não se pronuncia sobre o assunto.
"Se utilizássemos todos o carro, Lisboa ficava parada, ninguém podia ir a lado nenhum", acrescenta a governante. "Temos de penalizar os circuitos, para que as pessoas sintam o desconforto do transporte individual e optem pelo transporte colectivo."

4 comentários:

MJ disse...

Isso é muito bonito mas pouco prático de fazer numa cidade em que os transportes públicos (excluindo o metro) funcionam pessimamente e que só pioram em vez de melhorar.
Talvez se a sra. secretária tentasse utilizar por uma semana os transportes públicos em vez do carro (como ela própria admite que faz) mudasse de ideias, fizesse outro discurso e modificasse mais e melhor!

JSA disse...

mj, isso não é bem verdade. Lisboa é, na verdade, dos locais onde isso seria mais fácil de fazer. Uma das razões para o mau funcionamento dos autocarros e dos eléctricos é tão só a estúpida quantidade de carros existente na cidade. Com restrições à sua circulação o trânsito diminuíria e os transportes públicos melhorariam imenso.

Além disso nota que, em muitos casos, é estupidez pura o que leva muita gente a querer levar o seu automóvel. A secretária de estado pode ser um mau exemplo, mas ao o reconhecer acaba por se redimir. É idiota ver como carradas de gente que reside na zona de Sintra/Cascais prefere levar o carro pelos engarrafamentos em vez de apanhar o comboio. Demora mais tempo, gasta mais dinheiro e perde mais paciência.

Esta medida só peca por tardia. Além disso ainda tem o mérito de colocar o dedo na ferida: os problemas energéticos do país não são de falta de energia: são de desperdício de energia. As medidas que reduzem as emissões também reduzirão, e muito, o consumo energético.

Bem lembrado Filipe, poupas-me o trabalho de esrever sobre isto.

Zèd disse...

O JSA tem razão. Por exemplo em Paris o maire Bertrand Delanoë, um excelente presidente de camara por sinal, desde o início do seu mandato que tem feito tudo para reduzir a circulação automóvel dentro da cidade. Aumento das vias bus, redução dos lugares de estacionamento, aumento dos passeios, fiscalização do estacionamento rigorosa, etc... A política tem dado resultados, vale a pena usar os transportes públicos, e mais gente os usa de facto. Isto apesar de, note-se, serem medidas impopulares, há de facto comodistas descontetes, e não são poucos. E aqui é um ponto importante, é preciso um político que não receie as medidas impopulares. Um outro efeito desta política em Paris é o aumento da quantidade de pessoas que se desloca em bicicleta, que é de facto o meio mais rápido e mais barato de circular dentro da cidade (talvez em Lisboa seja um pouco mais difícil, mas em certos locais também seria uma alternativa).

Filipe Moura disse...

MJ e João André, dois residentes na Holanda: como eu NÂO vos invejo! Mas nesse aspecto a Holanda é exemplar. E, mj, não acho que os transportes em Lisboa estejam a piorar, bem pelo contrário. Há um serviço nocturno de autocarros bem feito e bem coordenado, e creio que as alterações na Carris são para melhor.
zèd, em Paris eu também andava sempre de bicicleta. Paris e Amesterdão são bem mais amigas do ciclista, pelo relevo, mas em Lisboa já se vão vendo mais bicicletas. Mas o pior, como diz o João, é mesmo a malta de Sintra e Cascais que traz o carro, tendo comboios de 15 em 15 minutos. Não compreendo como se queixam dos transportes! Não percebo o que querem mais.