2006/08/08

Uma força europeia para quê?

Extracto de um artigo de Álvaro Vasconcelos no Público de hoje:

A guerra do Líbano, envolvendo três vizinhos da União Europeia com quem ela procura constituir uma área de democracia e paz, veio colocar de forma brutal a questão da violência, da sua legitimidade, das normas e regras do seu emprego. Estamos a falar do uso da força envolvendo entidades que fazem parte daquela que é provavelmente a mais ambiciosa política externa da União - a que desenvolve em relação aos países da sua periferia sul, com quem, no quadro do processo de Barcelona e da nova política de vizinhança, procura constituir uma área integrada, baseada na experiência dos alargamentos.
O envolvimento europeu, com forças militares, no Sul do Líbano exige da União uma condenação inequívoca da violência ilegítima e uma definição muito clara de objectivos. Caso contrário, a União poderá estar a envolver-se numa estratégia que não é a sua e perder o capital de simpatia e atracção de que goza na região.
É a credibilidade da União e de alguns dos seus Estados-membros, como a França, que explica por que uma tal força só pode ser liderada por europeus. Do Líbano a Marrocos há um desejo de mais Europa e por isso a União tem que ser capaz de corresponder não só às expectativas em termos de deliver, mas também, e sobretudo, em termos de política. Para que a União continue a ser uma alternativa para a paz e a democracia no Médio Oriente, a sua política não se pode confundir nem com a da Administração Bush nem com a de Israel.
Para a União, a violência é um último recurso, que só deve ser utilizado quando todos os demais estiverem esgotados. A repugnância europeia pelo uso da força, a convicção de que ela deve ser regulada e de que os que a usam em desrespeito dos valores e direitos fundamentais devem ser condenados tem de ser a característica fundamental da política externa da União. Pode haver Estados-membros que usem a força numa perspectiva de potência tradicional, mas a União nunca o poderá fazer sem pôr em causa os seus princípios fundadores.

1 comentário:

antimater disse...

Quando finalmente aparecer uma força de intervenção de paz, mais parecerá uma bando de abutres do que qualquer outra coisa.
A avaliar pelo andar da carruagem...