2006/08/29

Grisha Perelman, o matemático antivedeta

Adaptação de um artigo do Público de 20 de Agosto de 2006

Ainda não é oficial e nem está confirmado, mas o mais esperado por todos os matemáticos é que na próxima terça-feira seja anunciado o nome de Grigory Perelman como um dos vencedores da Medalha Fields. A atribuição do prémio decorrerá na cerimónia de abertura do Congresso Internacional de Matemática, no Palácio Municipal de Congressos de Madrid, na próxima terça-feira, e será presidida pelo rei Juan Carlos. Só não se sabe se o favorito à vitória estará sequer presente.
Nascido em São Petersburgo em 1966, Perelman começa cedo a revelar um talento excepcional para a Matemática, tendo ganho, ainda na escola secundária, uma medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática de 1982. Depois de se doutorar, na Universidade Estatal de São Petersburgo, Perelman mudou-se para os Estados Unidos da América, tendo sido investigador de pós-doutoramento no Instituto Courant e nas Universidades do Estado de Nova Iorque (Stony Brook) e da Califórnia (Berkeley). Já na altura o seu trabalho era considerado de alto nível. Em 1995 tinha convites de outras universidades americanas como Princeton e Stanford, mas decidiu regressar à sua São Petersburgo e tornar-se membro do Instituto de Matemática Steklov, posição que mantém até hoje.
A sua reputação de cientista isolado começou em 1996, quando recusou um prémio da Sociedade Europeia de Matemática para jovens talentos. Nos anos que se seguiram manteve-se isolado em São Petersburgo, sem publicar nenhum artigo nem contactar com nenhum colega de outra universidade. Muita gente pensou então que Perelman simplesmente abandonara a investigação em Matemática. “Ninguém sabia que ele estava a trabalhar na conjectura de Poincaré”, garante Michael Anderson da Universidade de Stony Brook. Mas em Novembro de 2002 Perelman revelou finalmente aquilo em que andara a trabalhar nos últimos oito anos, quando publicou em www.arxiv.org um “esboço” de uma prova completa. Imediatamente o artigo chamou a atenção nos EUA, tendo o autor sido convidado para dar minicursos em Stony Brook e no Instituto de Tecnologia do Massachussets (MIT) na Primavera de 2003. Nessa altura Perelman publicou mais dois artigos na internet com os pormenores da demonstração. Ainda hoje Perelman não os enviou para publicação em nenhum jornal, e não consta que pretenda fazê-lo.
Em 2000 o Instituto Clay, uma instituição privada de investigação em Matemática, estabeleceu os sete “problemas do milénio”, oferendo pela resolução de cada um deles um prémio de 1 milhão de dólares. A conjectura de Poincaré é um desses problemas. O prémio ainda não lhe foi atribuído; antes, um júri tem de considerar a sua prova oficialmente válida, algo que poderá estar eminente. Mas Perelman já anunciou não estar interessado no dinheiro.
Desde que regressou a São Petersburgo, Peterman não voltou a dar sinal de vida. Nenhum dos e-mails enviados quer a ele quer ao Instituto Steklov teve resposta. Nem mesmo os mais recentes, da organização do Congresso Internacional de Matemática, a convidá-lo para dar uma palestra principal (o que pode ser um sinal de que lhe pretendem mesmo atribuir a Medalha Fields). Na terça-feira acaba-se a expectativa.

(Nota: Como eu aqui anunciei no dia, Perelman faltou à cerimónia e recusou a medalha.)

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