2006/04/18

Bombaspirínica

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«Ah, vejo agora, você não se referia à tal era pre-aprilina dos três quartos de trabalhadores a foçarem de sol a sol, sem sapatos nem camisa (e sem bota cardada, suponho)!..Se me lembro desses tempos? Não me lembro eu doutra coisa, Jorge, descalça e vadia, com uma mão sobre a parte da saia que me cobria a castidade e a outra a segurar no cabaz repleto de caranguejos e pichas, cala do rio acima, milhentas de vezes mais feliz que os pobres mininos descritos pelo Josué de Castro com tacho nas Nações Unidas desse tempo.

Sim, concordo consigo, e é pena não é? Com tanta coisa à nossa disposição neste Portugal de hoje (excepto bons salários para todos, mas isso é o menos porque vamos apertando o cinto, que até nos nos resguarda do perigo de apanharmos diabetes), incluindo o internacionalmente conhecido analfabeto funcional- tanto em matéria de farmácia como em politica real. Foi este seu lamento, menos explícito então, que me forçou a ver lágrimas escorrendo pelas quatro águas do seu edifício literário de homem aborrecidissimo perante o espectáculo posto em palco aqui no blogue pelos curandeiros da educação.Tudo carroussel da minha imaginação.Era bom que fosse.Era bom, era.

Depois manda-me passear, bater a portas, espraiar-me e divertir-me com a leitura de livros e de autores que praticamente não assustam ninguem nos dias desta primavera. E ainda por cima temos que descodificá-los, ter um olho como o seu, de entendido, presumo, mas outro bico de obra para o analfabeto funcional, para lhes encontrarmos sentido que nos ajude a fazer comparações úteis com o presente.(...)

Se você julga que os passados com mais de cem anos andam a abarrotar com memórias de homens com visão para nos inspirarem a compreender esta admirável “modernidade” que nos põe diariamente na frente pratos do dia repletos de corrupção politica, cientifica e religiosa que a maioria come sem examinar as frescuras ou qualidades, então, Jorge, aproveito para cumprimentá-lo já e dizer-lhe que faz muito bem em aderir ao clube dos veteranos descontentes. O Álvaro, esse ilustre político da esquerda, Tiago quando romanceava, era um deles. Andou sessenta anos a barafustar anti-imperialismos mas nunca descobriu o segredo dos ridiculos discos voadores, nem outras centenas de coisinhas simples mas interessantes. Lá está: andava sempre, clássico, a falar no Spartacus e no Robespierre..»


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