2008/06/30
Os direitos da mulher
Desenho de José Vilhena. Capa de um dos saudosos "Fala Barato" na década de 80. No rescaldo do Congresso Feminino.
Fox mancha Obama
Como é suja a política norte americana, e principalmente o canal de televisão FOX News (do movimento MoveOn):
FOX's longtime pattern of smearing Obama and the black community is well documented.1 But the outrageous moments have increased in the last month.
First, a paid FOX commentator accidentally confused "Obama" with "Osama" and then joked on the air about killing Obama.2 Next, a FOX anchor said a
playful fist bump by Barack and Michelle Obama could be a "terrorist fist jab."3 And then, FOX called Michelle Obama "Obama's baby mama"-slang for
an unmarried mother of a man's child, and a clear attempt to associate the Obamas with negative stereotypes about black people.4
If you know others who'd find FOX's recent actions despicable, please ask them to sign the petition too. The more people who sign, the bigger our
impact will be.
Our friends at ColorOfChange.org-an online advocacy group focused on the issues of importance to the black community-are leading this charge. They
have already collected nearly 100,000 names to deliver as a group to FOX's headquarters (in front of other media cameras, so FOX feels more heat).
Here's how they describe the situation:
After each of the incidents mentioned [above], FOX issued some form of weak apology. But what does it mean when you slap someone in the face,
apologize the next day, then slap them again? It means the apology is meaningless.
2008/06/27
Novos e velhos blogues
Seguem-se alguns blogues que eu encontrei recentemente.
O velho companheiro Leonardo Ralha, após uma fase difícil da sua vida, tem reactivado intermitentemente o Papagaio Morto. Ainda escreveu pouco, mas esperamos que regresse com regularidade.
O Hugo Mendes e o Renato Carmo, dois dos blógueres de esquerda mais interessantes, abriram o Pensamento do Meio Dia.
Quando o Benfica ganha eu fico mal disposto. Mas só não fico pior porque sei que pessoas como o MaC ficam contentes. O MaC tem um blogue chamado, vejam bem, Mi Mi Miccoli (ao que o Benfica chegou!). É um prazer reencontrá-lo.
Graças à Ana Matos Pires, cheguei a um blogue que só conhecia de nome, mas que me entusiasmou como há muito nenhum blogue o fazia. Refiro-me ao Ana de Amsterdam. Com este título eu só poderia gostar - Chico Buarque não engana. E encontra-se Chico Buarque logo à entrada - a cantar o Roda Viva. Mas também Rubem Fonseca, um dos meus escritores favoritos, como comprova a frequência com que o cito. Mas sobretudo encontrei um fantástico texto sobre a morte de Theo van Gogh. A ler, esta Ana-de-cabo-a-tenente, Ana de toda a patente.
O velho companheiro Leonardo Ralha, após uma fase difícil da sua vida, tem reactivado intermitentemente o Papagaio Morto. Ainda escreveu pouco, mas esperamos que regresse com regularidade.
O Hugo Mendes e o Renato Carmo, dois dos blógueres de esquerda mais interessantes, abriram o Pensamento do Meio Dia.
Quando o Benfica ganha eu fico mal disposto. Mas só não fico pior porque sei que pessoas como o MaC ficam contentes. O MaC tem um blogue chamado, vejam bem, Mi Mi Miccoli (ao que o Benfica chegou!). É um prazer reencontrá-lo.
Graças à Ana Matos Pires, cheguei a um blogue que só conhecia de nome, mas que me entusiasmou como há muito nenhum blogue o fazia. Refiro-me ao Ana de Amsterdam. Com este título eu só poderia gostar - Chico Buarque não engana. E encontra-se Chico Buarque logo à entrada - a cantar o Roda Viva. Mas também Rubem Fonseca, um dos meus escritores favoritos, como comprova a frequência com que o cito. Mas sobretudo encontrei um fantástico texto sobre a morte de Theo van Gogh. A ler, esta Ana-de-cabo-a-tenente, Ana de toda a patente.
2008/06/25
"A má matemática na aprovação do Tratado de Lisboa"
Numa altura em que tanto se fala do facilitismo nos exames de Matemática, um bom teste seria ver quanta gente percebe este artigo do Rui Curado Silva. Não só concordo com o dito artigo como acrescento: deveria avançar-se de vez para uma Europa a duas velocidades, com um pelotão "da frente" que quisesse aprovar uma Constituição Europeia e um "de trás" que não quisesse. O pelotão de trás haveria de querer juntar-se ao da frente passado algum tempo. É a história que o demonstra e a história, já diz Marx, é inevitável.
2008/06/23
Futebol interno
Rui Costa não tem tido uma estreia fácil à frente do futebol do Benfica. Foi o regresso de Eriksson, que fracassou. Agora perdeu supostamente o melhor jogador do plantel par o FC Porto. Geralmente estas transferências devem-se mais a despeito e provocação do que a vontade em ter os jogadores. Não sei se Rodriguéz terá no FC Porto as mesmas hipóteses que teve no Benfica. E nem isso me interessa, como sportinguista. Escrevo isto por duas razões. A primeira é que o Benfica anda mais preocupado em dedicar-se àquilo a que se dedica desde o tempo do Eusébio: tentar enganar o Sporting. Neste caso pagando o mínimo possível pelo Carlos Martins, de forma a o Sporting não receber quase nada pela transferência. Mesmo que no pacote tenha que pagar uma fortuna por outro jogador do mesmo clube que não lhe interessa nada. Mas fazem tudo para tentarem enganar o Sporting.
A segunda razão é que, apesar de consumada a transferência do Rodriguéz para o Porto, os jornais desportivos pouco destaque lhe deram, preferindo chamar às primeiras páginas... projectos de futuros reforços do Benfica! Todos os dias é um diferente! Mas enfim, é isto o que o povo quer.
A segunda razão é que, apesar de consumada a transferência do Rodriguéz para o Porto, os jornais desportivos pouco destaque lhe deram, preferindo chamar às primeiras páginas... projectos de futuros reforços do Benfica! Todos os dias é um diferente! Mas enfim, é isto o que o povo quer.
2008/06/20
2008/06/19
Os anúncios da selecção
Apesar de tudo, não há comparação possível entre os anúncios de Scolari à Caixa Geral de Depósitos e algumas tristes figuras (que tentam vender como "anúncios") que alguns jogadores fazem a tentar vender telemóveis da TMN. O Nuno Gomes e o João Moutinho são maus, o Quaresma é péssimo e o Nani, então, eu nem vou comentar. Ao pé deles o Scolari parece um actor da Globo (faz muito bem o seu papel de "patriarca honrado" - se as coisas não correrem bem na Globo, pode ir substituir o Tarcísio Meira). Joguem mas é à bola, rapazes! Enfrentem os batalhões dos alemães e seus canhões!
2008/06/18
Os anúncios regressados
Depois de no ano passado muito aparecerem na televisão portuguesa, os anúncios ao Licor Beirão", protagonizado por José Diogo Quintela, e à Caixa Geral de Depósitos, protagonizado por Luís Filipe Scolari, no princípio deste ano de um momento para o outro "desapareceram". A razão foi a mesma para ambos: os protagonistas "caíram em desgraça". Quintela foi apanhado alcoolizado ao volante na passagem de ano, e Scolari protagonizou o triste episódio do murro.
Interroguei-me sobre se tal "queda em desgraça" seria definitiva ou temporária. Passou o Inverno, chegou o Verão, época de Europeu de futebol e de festas, e eis que Quintela e Scolari voltam em força com os mesmos anúncios (ou variações pequenas). Como eu esperava, a memória é curta. E ainda bem que é assim. Mas se por um lado Scolari não convence muito no papel do senhor afável e simpático que nos fala do "Murtosa de sempre", o Zé Diogo passou a convencer e bem no papel de um anunciante de bebidas alcoólicas... Só é pena que seja a uma bodega tão grande como o "Licor Beirão". Ele convence-nos na quantidade do seu consumo, mas não na qualidade.
Interroguei-me sobre se tal "queda em desgraça" seria definitiva ou temporária. Passou o Inverno, chegou o Verão, época de Europeu de futebol e de festas, e eis que Quintela e Scolari voltam em força com os mesmos anúncios (ou variações pequenas). Como eu esperava, a memória é curta. E ainda bem que é assim. Mas se por um lado Scolari não convence muito no papel do senhor afável e simpático que nos fala do "Murtosa de sempre", o Zé Diogo passou a convencer e bem no papel de um anunciante de bebidas alcoólicas... Só é pena que seja a uma bodega tão grande como o "Licor Beirão". Ele convence-nos na quantidade do seu consumo, mas não na qualidade.
2008/06/17
2008/06/16
Quod erat demonstrandum
"O latinzinho é a basezinha", repetia o abade em Santa Olávia enquanto se servia dos melhores pedaços de frango sobre o fricassé. Pode ser a "basezinha", mas ninguém pensa em aprender latim hoje em dia se não for linguista ou estudante de letras (isto é, se o seu objectivo for só falar uma língua nova). Ninguém precisa de aprender latim se o seu objectivo for comunicar em francês, espanhol ou italiano. Ou português. A estrutura destas línguas tem origem no latim, mas aprende-se aprendendo muito bem uma. Para a maior parte das pessoas, o latinzinho é uma perdazinha de tempo. Julgo que isto é evidente para a maior parte das pessoas, exceptuando os casos perdidos de reaccionarismo atávico. Por isso costumo dizer, em mais uma das minhas generalizações, que "o latim é uma língua de fachos e padrecos". Sabia que já tinha escrito esta expressão nalgum sítio (que, repito, costumo dizer oralmente): só a encontrei aqui, no comentário da 1:10 de 4 de Maio de 2006. Vale a pena repeti-lo, dedicado aos senhores jornalistas que tanto falavam no "momentum", por exemplo, de Barack Obama (sem fazerem ideia do que é o tal "momentum"):
Mas voltando ao latim: eu nem levava excessivamente a sério aquela minha generalização, assim como não levo as minhas generalizações em geral. Mas que fazer depois de ler este texto? Bem me queria parecer. Não se deve levar as generalizações à letra (que é como quem diz: não estou a chamar "facho" nem "padreco" ao André Azevedo Alves). Mas que as generalizações têm sempre algo de verdade, lá isso têm.
Se houver algum linguista que me saiba explicar o “momento”, agradeço.
Notem que em inglês há o “moment” e o “momentum”! “Moment” é p.e. o momento de uma força; “momentum” é o momento linear (que na excelente edição em português do Brasil da saudosa MIR da Mecânica do Landau e Lifshitz é o “impulso”). Em inglês um sinónimo de “momento angular” é “moment of momentum” (no Landau e Lifshitz, “momento do impulso”!).
Fernando, explica aí à malta o “moment” e o “momentum”, se puderes. Deve vir do latim, mas eu sempre achei que o latim era uma língua de fachos e padrecos.
Mas voltando ao latim: eu nem levava excessivamente a sério aquela minha generalização, assim como não levo as minhas generalizações em geral. Mas que fazer depois de ler este texto? Bem me queria parecer. Não se deve levar as generalizações à letra (que é como quem diz: não estou a chamar "facho" nem "padreco" ao André Azevedo Alves). Mas que as generalizações têm sempre algo de verdade, lá isso têm.
2008/06/13
Aviso à tripeiragem ressabiada
Fora de Lisboa, saudoso, longe de Alfama, das festas de Santo António. Ainda por cima nem à minha novela tenho direito: a SIC ocupa toda a sua programação com as tais "Marchas de Santo António", uma "competição" entre "bairros" que há quem queira transformar numa versão alfacinha do Carnaval do Rio. E é este aviso que eu quero deixar à tripeiragem que, como eu, também gostaria de ver a novela (ou, pelo menos, não acha que tais "marchas" justifiquem uma transmissão em directo em horário nobre): não julguem que os lisboetas médios estão mais interessados neste evento que vocês (refiro-me às marchas e não aos Santos Populares). Confundir quem está interessado e aparece nesse evento (artistas de teatro de revista e colunáveis novos ricos) com "Lisboa" ou os "lisboetas" é um erro grave que vocês, tripeiros ressabiados, cometem frequentemente. Não sei se por ignorância se por má fé.
2008/06/11
O mercado das viagens de avião
Passei uma boa parte da manhã e praticamente a tarde toda à procura de uma boa tarifa para a viagem de avião que vou fazer para ir a uma conferência em Agosto. Isto é, uma tarifa que não me rebente com o orçamento, que é limitado e tem ainda que cobrir a inscrição e o alojamento. Perdi algumas boas tarifas instantaneamente (a sério), pois apareciam em várias agências. Outras só perdi aparentemente, pois só apareciam numa agência portuguesa quenão detecta as tarifas fechadas em tempo real. Mas, areditem, com a internet, comprar viagens de avião é pior do que jogar na bolsa! Deveria haver um índice para o preço da viagem ao destino X no mês tal.
Tal como há dois anos, quando fui a Berlim, o que me valeu foi o grupo Air France-KLM, e a agência de viagens (francesa) da SNCF. E os preços dos bilhetes de avião andam mesmo pela hora da morte. Mas com a a actual crise petrolífera isso já não deve ser novidade para ninguém.
Tal como há dois anos, quando fui a Berlim, o que me valeu foi o grupo Air France-KLM, e a agência de viagens (francesa) da SNCF. E os preços dos bilhetes de avião andam mesmo pela hora da morte. Mas com a a actual crise petrolífera isso já não deve ser novidade para ninguém.
2008/06/10
Sócrates, Paulo Bento e a imaginação no poder
Aqui fica o texto que escrevi para o Corta Fitas.
Há muitos aspectos incompreensíveis do Maio de 68, mas o que sempre mais me intrigou foi querer levar "a imaginação ao poder". Imaginação ao poder, para quê? Quem exerce o poder em princípio é um político. Alguma vez um político precisa de imaginação? Dêem-me um exemplo de um político na história que se tenha distinguido pela sua imaginação. Assim de repente não me estou a lembrar de nenhum. Os políticos com imaginação são como o Peter Pan: recusam-se a crescer e a ver a vida como ela é. Vivem numa espécie de Terra do Nunca, e julgam que a praia está debaixo da calçada. A imaginação é para o John Lennon: do que um político precisa é de ideias (que é diferente de imaginação), vontade política e, sobretudo, bom senso. É por isso que eu, que não simpatizo nada com Nicolas Sarkozy, espero que no seu projecto de acabar com a herança do Maio de 68 ele não seja bem sucedido em muitos aspectos, mas que o seja pelo menos neste: o de acabar com a ideia peregrina da "imaginação ao poder".
Vendo bem as coisas, tivemos recentemente um primeiro-ministro (não eleito) aparentemente cheio de imaginação: refiro-me evidentemente a Pedro Santana Lopes. E digo "aparentemente" porque Santana é cheio de ideias (muito pouco concretas) e em qualquer campanha onde se meta avança sempre com grandes projectos, alguns deles por sinal bem mirabolantes. Creio tratar-se mesmo do político português mais imaginoso (ou rodeado pelos assessores mais imaginosos). Só que viu-se o que era a imaginação com o santanismo no poder. O país sem rumo, sem nenhuma coerência governativa, e o governo sem fazer ideia de como pôr em prática nenhum dos imaginosos projectos.
Foi por isso que, assim que em boa hora lhe foi dada a oportunidade para isso, o país se livrou do turbilhão imaginoso santanista e elegeu um primeiro ministro que é a antítese da imaginação. Monótono, previsível, assim é José Sócrates. Com Sócrates sabemos sempre com o que podemos contar e não há surpresas. É por isso que eu gosto dele.
No Sporting a situação é análoga. Aliás os recentes treinadores do Sporting são parecidos com alguns dos últimos primeiros ministros de Portugal. Fernando Santos foi o Guterres do Sporting, boa pessoa, católico e medroso. Já Peseiro era o Santana: estava sempre a inventar nas tácticas e não oferecia confiança nenhuma aos adeptos. Mas fazia-os sonhar: imaginavam que, jogando sempre ao ataque e descurando a defesa, venceriam muitos troféus, Viu-se o que ganharam com ele. O balneário era uma desorganização e a equipa arrastava-se sem rumo.
Em boa hora os dirigentes sportinguistas despediram Peseiro (num processo complicado e tumultuoso, como foi o despedimento de Santana) e foram buscar um treinador que é o seu oposto (como Sócrates é o oposto de Santana). Tal como Sócrates, Paulo Bento não inventa, Paulo Bento é previsível, Paulo Bento é teimoso. Até na maneira de vestir são semelhantes! Com Paulo Bento sabemos sempre com o que contar, e é por isso que eu gosto tanto dele. Paulo Bento dá-nos efectivamente tranquilidade, apesar dos seus discursos repetitivos. E quanto à sua imaginação, fica sumarizada naquela conferência de imprensa a seguir ao Sporting-Paços de 2006, imortalizada pelos Gato Fedorento: "andebol, basquetebol, mão; futebol, pé".
Tenho cá para mim que enquanto os portugueses se recordarem de Santana Lopes, o primeiro-ministro será Sócrates, e enquanto os sportinguistas se recordarem de Peseiro, o treinador será Paulo Bento. Espero que ambos tenham muito sucesso e continuem muito tempo nos seus cargos.
Há muitos aspectos incompreensíveis do Maio de 68, mas o que sempre mais me intrigou foi querer levar "a imaginação ao poder". Imaginação ao poder, para quê? Quem exerce o poder em princípio é um político. Alguma vez um político precisa de imaginação? Dêem-me um exemplo de um político na história que se tenha distinguido pela sua imaginação. Assim de repente não me estou a lembrar de nenhum. Os políticos com imaginação são como o Peter Pan: recusam-se a crescer e a ver a vida como ela é. Vivem numa espécie de Terra do Nunca, e julgam que a praia está debaixo da calçada. A imaginação é para o John Lennon: do que um político precisa é de ideias (que é diferente de imaginação), vontade política e, sobretudo, bom senso. É por isso que eu, que não simpatizo nada com Nicolas Sarkozy, espero que no seu projecto de acabar com a herança do Maio de 68 ele não seja bem sucedido em muitos aspectos, mas que o seja pelo menos neste: o de acabar com a ideia peregrina da "imaginação ao poder".
Vendo bem as coisas, tivemos recentemente um primeiro-ministro (não eleito) aparentemente cheio de imaginação: refiro-me evidentemente a Pedro Santana Lopes. E digo "aparentemente" porque Santana é cheio de ideias (muito pouco concretas) e em qualquer campanha onde se meta avança sempre com grandes projectos, alguns deles por sinal bem mirabolantes. Creio tratar-se mesmo do político português mais imaginoso (ou rodeado pelos assessores mais imaginosos). Só que viu-se o que era a imaginação com o santanismo no poder. O país sem rumo, sem nenhuma coerência governativa, e o governo sem fazer ideia de como pôr em prática nenhum dos imaginosos projectos.
Foi por isso que, assim que em boa hora lhe foi dada a oportunidade para isso, o país se livrou do turbilhão imaginoso santanista e elegeu um primeiro ministro que é a antítese da imaginação. Monótono, previsível, assim é José Sócrates. Com Sócrates sabemos sempre com o que podemos contar e não há surpresas. É por isso que eu gosto dele.
No Sporting a situação é análoga. Aliás os recentes treinadores do Sporting são parecidos com alguns dos últimos primeiros ministros de Portugal. Fernando Santos foi o Guterres do Sporting, boa pessoa, católico e medroso. Já Peseiro era o Santana: estava sempre a inventar nas tácticas e não oferecia confiança nenhuma aos adeptos. Mas fazia-os sonhar: imaginavam que, jogando sempre ao ataque e descurando a defesa, venceriam muitos troféus, Viu-se o que ganharam com ele. O balneário era uma desorganização e a equipa arrastava-se sem rumo.
Em boa hora os dirigentes sportinguistas despediram Peseiro (num processo complicado e tumultuoso, como foi o despedimento de Santana) e foram buscar um treinador que é o seu oposto (como Sócrates é o oposto de Santana). Tal como Sócrates, Paulo Bento não inventa, Paulo Bento é previsível, Paulo Bento é teimoso. Até na maneira de vestir são semelhantes! Com Paulo Bento sabemos sempre com o que contar, e é por isso que eu gosto tanto dele. Paulo Bento dá-nos efectivamente tranquilidade, apesar dos seus discursos repetitivos. E quanto à sua imaginação, fica sumarizada naquela conferência de imprensa a seguir ao Sporting-Paços de 2006, imortalizada pelos Gato Fedorento: "andebol, basquetebol, mão; futebol, pé".
Tenho cá para mim que enquanto os portugueses se recordarem de Santana Lopes, o primeiro-ministro será Sócrates, e enquanto os sportinguistas se recordarem de Peseiro, o treinador será Paulo Bento. Espero que ambos tenham muito sucesso e continuem muito tempo nos seus cargos.
2008/06/07
Hoje corto uma fita
Passou-se o mês de Maio, os 40 anos do Maio de 68, e não referi a alergia que me causam slogans como "sejamos realistas, peçamos o impossível" e, sobretudo, "a imaginação ao poder". Imaginação ao poder para quê? Sem abdicar das convicções e das ideias, em política é preferível o realismo e o bom senso. Já é sabido, desde Lenine a José Sócrates, passando por Hillary Clinton e, espero, por Barack Obama. 40 anos depois do Maio de 68, espero que a esquerda (francesa e não só) se livre da "tralha imaginosa". Abordo esta questão, num contexto governativo e futebolístico português, num texto que escrevi para o Corta Fitas, através de um simpático convite do Pedro Correia (a quem aqui agradeço). Convido-vos agora a irem lê-lo.
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2008/06/06
O "status" de andar de bicicleta
Ainda no rescaldo do Dia do Ambiente, destaco um bom texto - já com alguns dias -, vejam bem, de Luís Rocha (o "mata-mouros" que escreve sempre a azul), no Blasfémias (não é todos os dias): "É tudo uma questão de status". Já não digo que Luís Rocha ande de bicicleta (o relevo do Porto de facto não ajuda muito), mas espero ao menos que não ande de carro e aproveite o excelente Metro do Porto. Será?
Efectivamente, em Portugal quem não anda de carro não tem "status" - e é nestes pequenos pormenores que se vê como somos um país de gente pobre, que dá muito valor às aparências, preza o enriquecimento fácil e despreza o trabalho. Pode comer-se mal, mas ai de nós se não formos de carrinho. Para não ir de transportes públicos, por exemplo, diz-que que eles "não funcionam bem" (em Lisboa poderiam funcionar melhor, de facto, mas parece que há quem queira ter uma estação de metro sempre à porta, e não se lembre que numa cidade atafulhada de carros não andam nem os carros, nem os autocarros). Para não ir de bicicleta, inventam-se as desculpas mais baratas, como o "relevo de Lisboa" (as colinas de Lisboa são evidentemente acidentadas, mas a maior parte da área da cidade é quase plana ou pouco inclinada, Avenida da Liberdade incluída). Ou, como não poderia deixar de ser, o "status"! É neste texto da sua colega Helena Matos, um belo exemplo de como um suposto "feminismo" pode servir para disfarçar o reaccionarismo. Mas o preço do petróleo tem subido, e há de continuar a subir. Só que enquanto eu vir as nossas cidades cheias de carros privados, não me venham dizer que a gasolina está cara. Leiam a resposta do Tárique.
Efectivamente, em Portugal quem não anda de carro não tem "status" - e é nestes pequenos pormenores que se vê como somos um país de gente pobre, que dá muito valor às aparências, preza o enriquecimento fácil e despreza o trabalho. Pode comer-se mal, mas ai de nós se não formos de carrinho. Para não ir de transportes públicos, por exemplo, diz-que que eles "não funcionam bem" (em Lisboa poderiam funcionar melhor, de facto, mas parece que há quem queira ter uma estação de metro sempre à porta, e não se lembre que numa cidade atafulhada de carros não andam nem os carros, nem os autocarros). Para não ir de bicicleta, inventam-se as desculpas mais baratas, como o "relevo de Lisboa" (as colinas de Lisboa são evidentemente acidentadas, mas a maior parte da área da cidade é quase plana ou pouco inclinada, Avenida da Liberdade incluída). Ou, como não poderia deixar de ser, o "status"! É neste texto da sua colega Helena Matos, um belo exemplo de como um suposto "feminismo" pode servir para disfarçar o reaccionarismo. Mas o preço do petróleo tem subido, e há de continuar a subir. Só que enquanto eu vir as nossas cidades cheias de carros privados, não me venham dizer que a gasolina está cara. Leiam a resposta do Tárique.
2008/06/05
Uma decisão que se impunha
Universidades vão passar a ser responsabilizadas pelas praxes, e não as Associações de Estudantes. Mais uma vez de parabéns o ministro Mariano Gago.
2008/06/04
Da necessidade de Portugal pertencer à União Europeia
(Neste caso não é a UE, mas a UEFA; o raciocínio é o mesmo.)
Não somos capazes de afrontar os poderosos. A lei em Portugal nunca é cega. Têm de ser os europeus a fazer justiça.
Eu não sou antiportista (de todo), mas se se deu como provada a corrupção a punição da Liga ao FC Porto é ridícula. Teve de ser a UEFA a repor um pouco de justiça.
O que mais me faz rir nisto tudo (sim, rir - e repito que não sou antiportista) - é o FC Porto ser castigado não pela corrupção mas pela incompetência dos seus dirigentes. Sim: isto é um caso da mais pura incompetência. Um exemplo perfeito. Eu não sou portista e nada tenho a ver com este assunto, mas como observador externo creio que não resta outra alternativa à direcção do FC Porto que não seja demitir-se. O contrário (o mais provável) denota apego ao poder e flta de vergonha.
Não somos capazes de afrontar os poderosos. A lei em Portugal nunca é cega. Têm de ser os europeus a fazer justiça.
Eu não sou antiportista (de todo), mas se se deu como provada a corrupção a punição da Liga ao FC Porto é ridícula. Teve de ser a UEFA a repor um pouco de justiça.
O que mais me faz rir nisto tudo (sim, rir - e repito que não sou antiportista) - é o FC Porto ser castigado não pela corrupção mas pela incompetência dos seus dirigentes. Sim: isto é um caso da mais pura incompetência. Um exemplo perfeito. Eu não sou portista e nada tenho a ver com este assunto, mas como observador externo creio que não resta outra alternativa à direcção do FC Porto que não seja demitir-se. O contrário (o mais provável) denota apego ao poder e flta de vergonha.
2008/06/03
Ir à Feira do Livro e não ver a Caminho nem a D. Quixote
Estava à espera de encontrar na Feira do Livro de Lisboa uma "Praça Leya" muito melhor que as outras supostas "barracas", muito mais vistosa, com muito mais espaço. Puro engano. A Leya representa algumas das editoras portuguesas com melhores catálogos (caso da D. Quixote e da Caminho). Por isso mesmo, anteriormente estas editoras tinham um merecido lugar de destaque na Feira do Livro, ocupando várias das tais "barracas" que são "todas iguais". Mas não: uma barraquita para a Caminho, duas para a D. Quixote, semivazias, apenas com as principais novidades. Das três ou quatro barracas que cada uma destas editoras costumava ocupar, a atafulharem com todo o seu catálogo, nem sinal. É para isso que eu e, creio, a maioria das pessoas vão a Feiras do Livro: as "novidades" encontram-se em qualquer livraria. Tanto barulho causado pela Leya e, afinal, o resultado é ir à Feira do Livro e não encontrar a Caminho e nem a D. Quixote. Se era esse o objectivo da Leya (desconfio que sim), poderiam ter dito logo, e escusavam de ter vindo com os estafados argumentos do "direito à diferença" e da "liberdade" contra o "igualitarismo" do modelo tradicional. Os "liberais" da Leya, sob o argumento hipócrita da "liberdade individual" de cada editora ter o espaço que quiser, não estão nada interessados na Feira do Livro. Tal como outros liberais falam muito mas não estão nada interessados na escola pública e nem no sistema nacional de saúde.
O José Saramago, que nos outros anos era presença obrigatória na Feira do Livro de Lisboa a dar autógrafos, este ano (segundo li) não vai lá nem um dia.
Para ler mais: Francisco José Viegas (subscrevo inteiramente este texto) e José Mário Silva.
O José Saramago, que nos outros anos era presença obrigatória na Feira do Livro de Lisboa a dar autógrafos, este ano (segundo li) não vai lá nem um dia.
Para ler mais: Francisco José Viegas (subscrevo inteiramente este texto) e José Mário Silva.
2008/06/02
O 1968 que vale a pena recordar
Em cena no Teatro Aberto, em Lisboa, até ao fim da semana: Rock and Roll, de Tom Stoppard. Imperdível. O prof. Max seria eu se tivesse vivido naquela altura e fosse professor em Cambridge (marxistas em Cambridge ou Oxford era coisa que não existia naquela altura).
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