2007/08/29
Eduardo Prado Coelho (1944-2007)
Foi graças a Eduardo Prado Coelho que entrei no mundo dos blogues. Foi numa das suas crónicas diárias no "Público", onde teria alegadamente catalogado o pobre Pedro Mexia como "de extrema direita". Na resposta o Pedro Mexia referiu que as suas posições políticas estavam disponíveis, para quem quisesse julgá-las, em http://colunainfame.blogspot.com/ Graças às precipitações e simplismos de Eduardo Prado Coelho, cheguei aos blogues antes da maioria das pessoas e pude acompanhar dia a dia um dos melhores blogues portugueses de sempre. Devo-lhe isso.
O curiosos é que o (saudoso) EPC foi talvez o primeiro blóguer português. A sua (igualmente saudosa) coluna diária "o Fio do Horizonte", no Público, não diferia em nada de um blogue, no estilo ou no conteúdo. EPC foi um blóguer que nunca precisou de ter um blogue.
2007/08/27
Andebol, basquetebol, mão; futebol, pé
É a máxima de Paulo Bento, se bem se recordam, há cerca de um ano, a seguir ao golo sofrido com a mão no jogo Sporting-Paços de Ferreira (foi divulgada na célebre rábula do Gato Fedorento). Está na altura de o Paulo Bento a ensinar ao Stoikovic, em tratando-se de atrasos feitos por colegas de equipa. Ou então, de pôr o Rui Patrício a jogar. (Eu sabia que haveria de ter saudades do Ricardo.)
(PS: O mais cómico era ver, nos comentários da TVI, Jorge Coroado a criticar a decisão do árbitro de marcar livre indirecto, uma vez que Polga, supostamente, “não teria a intenção de passar a bola ao guarda-redes”. Ó Jorge Coroado, qual seria a intenção do Polga ao atirar a bola no sentido da baliza, marcar autogolo?
(PS: O mais cómico era ver, nos comentários da TVI, Jorge Coroado a criticar a decisão do árbitro de marcar livre indirecto, uma vez que Polga, supostamente, “não teria a intenção de passar a bola ao guarda-redes”. Ó Jorge Coroado, qual seria a intenção do Polga ao atirar a bola no sentido da baliza, marcar autogolo?
2007/08/26
Eu preferia quando a Eufémia era vermelha
E eis que em plena silly season surge algum facto político para animar: a invasão de uma herdade de cultivo de milho transgénico no Algarve por membros (de diversas nacionalidades) de um grupo com um nome bem português: “Verde Eufémia”.
A reacção da comunicação social portuguesa foi de escândalo pela “invasão da propriedade privada” para destruição de uma “plantação legal”. O facto de a plantação ser legal é importantíssimo e meu ver é o que mais merece ser discutido. Ninguém tentou saber, porém, quem trabalhava na referida herdade e em que condições. O que interessa é que é “propriedade privada”. Quem torna a referida propriedade produtiva está, ainda assim, a trabalhar em “propriedade privada”, e isso é o mais importante de tudo.Este é um triste sinal dos tempos em que vivemos, em que “Torre Bela” é só nome de documentário.
De entre os jornais que só se importaram com a defesa da propriedade, o mais assanhado foi o “Diário de Notícias”. João Pedro Henriques, um jornalista que eu habitualmente respeito e considero muito, nas questões que coloca numa entrevista a Miguel Portas chega ao cúmulo do dislate, ao comparar a invasão da plantação de milho transgénico com uma suposta invasão da casa do eurodeputado por este fumar. Miguel Portas estaria a fumar em sua casa, algo que só diz respsito a si e à sua família. O milho transgénico, que eu saiba, não era para consumo pessoal e pode vir a ser consumido por toda a gente.
Dito isto, tenho realmente pena que os activistas, com tantos crimes ecológicos que se cometem pelo Algarve e por Portugal fora, se concentrem exclusivamente no milho transgénico. Esta é a questão que vale a pena debater, e para isso precisamos de especialistas, que eu não sou. Mas até prova em contrário eu sou favorável ao cultivo de transgénicos. Creio que as suas vantagens superam em muito os seus inconvenientes. As alternativas são o recurso a produtos químicos poluentes, que têm um impacto ambiental muito superior aos transgénicos. Ou então – e esse é com certeza o sonho da “Verde Eufémia” – um regresso à agricultura biológica. Eu conheço vários adeptos da agricultura biológica, de várias nacionalidades, todos burgueses de esquerda. A produção da agricultura biológica talvez chegue para os alimentar a eles. Talvez dê para alimentar pequenos produtores do campo com pequenas hortas. Mas nunca uma produção exclusivamente biológica permitirá fornecer todos os supermercados de uma região como a Área Metropolitana de Lisboa. Chegará para fornecer, quanto muito, o “El Corte Inglés”. Um dos principais objectivos da esquerda deve ser dar comida a toda a gente e isso, com a actual demografia, só é possível com uma agricultura de massa. Era bom que a esquerda percebesse isso.
(Encontro-me numa aldeia do distrito de Aveiro, numa casa de família com uma pequeno pomar de frutas que são biológicas desde que os meus avós morreram. Frequentemente, para me entreter, apanho um cesto de deliciosas peras. Dois ou três dias depois, metade das deliciosas peras biológicas estão boas para voltarem para a horta e servirem de adubo.)
A reacção da comunicação social portuguesa foi de escândalo pela “invasão da propriedade privada” para destruição de uma “plantação legal”. O facto de a plantação ser legal é importantíssimo e meu ver é o que mais merece ser discutido. Ninguém tentou saber, porém, quem trabalhava na referida herdade e em que condições. O que interessa é que é “propriedade privada”. Quem torna a referida propriedade produtiva está, ainda assim, a trabalhar em “propriedade privada”, e isso é o mais importante de tudo.Este é um triste sinal dos tempos em que vivemos, em que “Torre Bela” é só nome de documentário.
De entre os jornais que só se importaram com a defesa da propriedade, o mais assanhado foi o “Diário de Notícias”. João Pedro Henriques, um jornalista que eu habitualmente respeito e considero muito, nas questões que coloca numa entrevista a Miguel Portas chega ao cúmulo do dislate, ao comparar a invasão da plantação de milho transgénico com uma suposta invasão da casa do eurodeputado por este fumar. Miguel Portas estaria a fumar em sua casa, algo que só diz respsito a si e à sua família. O milho transgénico, que eu saiba, não era para consumo pessoal e pode vir a ser consumido por toda a gente.
Dito isto, tenho realmente pena que os activistas, com tantos crimes ecológicos que se cometem pelo Algarve e por Portugal fora, se concentrem exclusivamente no milho transgénico. Esta é a questão que vale a pena debater, e para isso precisamos de especialistas, que eu não sou. Mas até prova em contrário eu sou favorável ao cultivo de transgénicos. Creio que as suas vantagens superam em muito os seus inconvenientes. As alternativas são o recurso a produtos químicos poluentes, que têm um impacto ambiental muito superior aos transgénicos. Ou então – e esse é com certeza o sonho da “Verde Eufémia” – um regresso à agricultura biológica. Eu conheço vários adeptos da agricultura biológica, de várias nacionalidades, todos burgueses de esquerda. A produção da agricultura biológica talvez chegue para os alimentar a eles. Talvez dê para alimentar pequenos produtores do campo com pequenas hortas. Mas nunca uma produção exclusivamente biológica permitirá fornecer todos os supermercados de uma região como a Área Metropolitana de Lisboa. Chegará para fornecer, quanto muito, o “El Corte Inglés”. Um dos principais objectivos da esquerda deve ser dar comida a toda a gente e isso, com a actual demografia, só é possível com uma agricultura de massa. Era bom que a esquerda percebesse isso.
(Encontro-me numa aldeia do distrito de Aveiro, numa casa de família com uma pequeno pomar de frutas que são biológicas desde que os meus avós morreram. Frequentemente, para me entreter, apanho um cesto de deliciosas peras. Dois ou três dias depois, metade das deliciosas peras biológicas estão boas para voltarem para a horta e servirem de adubo.)
2007/08/22
Fernando Santos
Dez anos
Faz hoje dez anos que desembarquei pela primeira vez no aeroporto JFK, em Nova Iorque, tendo em vista um doutoramento na State University of New York at Stony Brook. Tinha até então sempre estudado e vivido em Lisboa, em casa da minha família, pelo que esta foi uma das datas mais marcantes da minha vida. Iniciava-se uma fase nova para mim e algumas das melhores experiências que já vivi.
2007/08/20
Entretanto, as eleições americanas
I’m a longtime Barack Obama supporter, and the convention reinforced my feeling. His performance at the forum was careful and specific, not letting his charisma shine through, but he was enormously compelling in a breakout session afterward. Obama gets what it’s like to live in a complicated world, because he encapsulates a complicated world all by himself: American mother, Kenyan father, born in Hawaii, lived for four years in Indonesia as a child, educated at Harvard, trained as a street organizer in Chicago. He has an incremental but ambitious health care plan, and was anti-war from the start. Still, I’d be absolutely thrilled to support any of Obama/Clinton/Edwards against any of the embarrassments currently in contention for the Republican nomination. It’s an incredibly strong Democratic field, which is something I never thought I’d see.(Sean Carroll)
2007/08/19
Carioca ao vivo
Não sei se já chegou às nossas lojas, mas no Brasil já está à venda Carioca ao Vivo, o mais recente álbum do Chico Buarque. Exceptuando o Tanto Mar, que só foi interpretado em Portugal, o alinhamento foi por mim anunciado aqui, no passado mês de Novembro. Quem esteve no concerto, como eu, não vai perder esta oportunidade de o "trazer para casa". Quem não esteve tem uma oportunidade única de recuperar o que não ouviu.
De uma junta de freguesia do distrito de Aveiro
É aqui que me encontro para ter acesso à internet de banda larga. A postagem não tem sido por isso tão frequente. A pouco e pouco regressaremos.
2007/08/13
Julius Wess (1934-2007)
Vi este físico alemão pela primeira e única vez na conferência dos 30 anos da supergravidade, em Paris, em Outubro passado. Ainda há duas semanas deu um seminário numa sessão plenária da SUSY 2007, a conferência anual sobre supersimetria. Morreu no passado dia 8, quando ainda era um cientista activo, até há pouco tempo líder de um grupo na Universidade de Munique, e que orientava mestrados e doutoramentos.
Será recordado na física teórica não como o inventor da supersimetria, mas um dos descobridores das primeiras teorias de campo supersimétricas consistentes. A supersimetria deixava de ser uma simetria obscura proposta por uns russos para passar a ser uma propriedade das teorias de campo que, quando estas a manifestassem, lhes conferia muito melhores propriedades quânticas. Estava lançado o mote para que se construíssem modelos em física de partículas que permitiam resolver vários problemas fenomenológicos. Wess foi ainda o co-autor de importantíssimos trabalhos em teorias quânticas de campo (não necessariamente supersimétricas), permitindo nomeadamente entender melhor as anomalias. Os seus principais trabalhos – e foram muitos – foram sempre em co-autoria com o italiano Bruno Zumino, hoje professor jubilado ainda activo da Universidade de Berkeley na Califórnia.
Wess foi ainda o autor do livro “Supersymmetry and Supergravity”, a mais divulgada obra de introdução a estes assuntos, vulgarmente designada por “Wess & Bagger”, os dois autores oficiais – Wess ditava, o estudante Bagger escrevia, e isto é mais do que má língua. É um livro péssimo que toda a gente que trabalha na área tem. Quem não conhecer o assunto não aprende absolutamente nada ao lê-lo, mas nele encontram-se muitas fórmulas úteis que de outra forma estariam dispersas por artigos. Arrependo-me muitas vezes de ter comprado o meu, mas não creio que o vendesse.
A supersimetria ainda não foi descoberta. Tem que ser quebrada no mundo em que vivemos (onde não se observa), e nos aceleradores de partículas até ao presente nunca se atingiu uma escala de energias tal que se permite observar matéria nas condições em que a supersimetria não é quebrada. Concordo com o optimista Lubos Motl: Wess morreu um ano antes de a supersimetria ser descoberta (no LHC, o novo acelerador de partículas do CERN, que daqui a menos de um ano estará a dar os primeiros resultados). E assim perdeu o prémio Nobel (que, se fosse vivo quando a supersimetria for descoberta, seria seu e de Zumino de caras). Outros prémios ganhou. Era um dos maiores físicos teóricos do nosso tempo.
Será recordado na física teórica não como o inventor da supersimetria, mas um dos descobridores das primeiras teorias de campo supersimétricas consistentes. A supersimetria deixava de ser uma simetria obscura proposta por uns russos para passar a ser uma propriedade das teorias de campo que, quando estas a manifestassem, lhes conferia muito melhores propriedades quânticas. Estava lançado o mote para que se construíssem modelos em física de partículas que permitiam resolver vários problemas fenomenológicos. Wess foi ainda o co-autor de importantíssimos trabalhos em teorias quânticas de campo (não necessariamente supersimétricas), permitindo nomeadamente entender melhor as anomalias. Os seus principais trabalhos – e foram muitos – foram sempre em co-autoria com o italiano Bruno Zumino, hoje professor jubilado ainda activo da Universidade de Berkeley na Califórnia.
Wess foi ainda o autor do livro “Supersymmetry and Supergravity”, a mais divulgada obra de introdução a estes assuntos, vulgarmente designada por “Wess & Bagger”, os dois autores oficiais – Wess ditava, o estudante Bagger escrevia, e isto é mais do que má língua. É um livro péssimo que toda a gente que trabalha na área tem. Quem não conhecer o assunto não aprende absolutamente nada ao lê-lo, mas nele encontram-se muitas fórmulas úteis que de outra forma estariam dispersas por artigos. Arrependo-me muitas vezes de ter comprado o meu, mas não creio que o vendesse.
A supersimetria ainda não foi descoberta. Tem que ser quebrada no mundo em que vivemos (onde não se observa), e nos aceleradores de partículas até ao presente nunca se atingiu uma escala de energias tal que se permite observar matéria nas condições em que a supersimetria não é quebrada. Concordo com o optimista Lubos Motl: Wess morreu um ano antes de a supersimetria ser descoberta (no LHC, o novo acelerador de partículas do CERN, que daqui a menos de um ano estará a dar os primeiros resultados). E assim perdeu o prémio Nobel (que, se fosse vivo quando a supersimetria for descoberta, seria seu e de Zumino de caras). Outros prémios ganhou. Era um dos maiores físicos teóricos do nosso tempo.
2007/08/12
2007/08/11
Em vez do vintage, eu diria um tinto alentejano reserva, produzido por uma cooperativa, claro
Mesmo para mim, que há muito enveredei pelo revisionismo, comparar o BE com o PC é como assemelhar uma sangria feita com «Teobar» e fruta transgénica a um vintage de selecção. (Comentário de r.m. no Cinco Dias.)
Eu acrescentaria: só mesmo quem enveredou pelo revisionismo poderia proferir tal frase.
Eu acrescentaria: só mesmo quem enveredou pelo revisionismo poderia proferir tal frase.
2007/08/10
Comidas, La Casera e vinho
Entretanto uma das vantagens de Madrid é que se come muito bem, e por preços realmente acessíveis. As minhas melhores recordações de Madrid são de um magnífico rodovalho comido na Chueca. Também recordo com prazer umas iscas de fígado comidas no Madrid castizo, a tal minha zona preferida da cidade, entre a câmara municipal e a Praça Maior. Em qualquer dos casos incluía primeiro e segundo prato, pão, sobremesa (postre) e bebida. Tudo isto por oito euros. No Porto, talvez, mas em Lisboa já não se come assim. Em Madrid não se come assim em qualquer lugar: é preciso uma certa persistência e não se entrar no primeiro sítio que aparece (principalmente na Chueca). Mas acaba-se sempre por encontrar sítios como estes, onde se pode comer boa comida tradicional espanhola, excepto talvez nas imediações do palácio real. Com um pouco de paciência conseguem-se refeições notáveis.
Nestes sítios a comida é boa e caseira, só que é claro que o vinho não é de primeira. Mas bebe-se. Por defeito (sem que a peçamos) é-nos servido com uma garrafa de gasosa fresca, para quem a quiser misturar no vinho. Uma preciosidade espanhola chamada La Casera, que é pena que não seja mais divulgada em Portugal.
Nestes sítios a comida é boa e caseira, só que é claro que o vinho não é de primeira. Mas bebe-se. Por defeito (sem que a peçamos) é-nos servido com uma garrafa de gasosa fresca, para quem a quiser misturar no vinho. Uma preciosidade espanhola chamada La Casera, que é pena que não seja mais divulgada em Portugal.
2007/08/09
Os dois grandes erros da TAP
Foram dois os erros da TAP neste processo da viagem de regresso de Amesterdão do FC Porto.
Não me refiro ao atraso do avião, que sucede em todas as companhias, numas mais do que noutras. A necessidade de desvio por a tripulação e o aparelho serem necessários com urgência em Lisboa para outros voos também é compreensível: estamos em época alta, há mais voos e todas as companhias operam no limite dos recursos disponíveis.
O que não é compreensível e nem aceitável é a mudança de destino não ter sido comunicada aos passageiros no embarque, ainda em Amesterdão. Quem vai num voo para o Porto e, meia hora antes de aterrar (já com duas horas de atraso) lhe dizem que afinal aterra em Lisboa, sente-se raptado. Sente que o voo foi desviado. A indignação é compreensível: trata-se de desrespeito pelos passageiros.
O facto de a mudança de destino só ter sido comunicada tão tarde pode querer dizer que foi uma decisão de última hora. E talvez isso justifique a sua precipitação. É que foi mesmo uma muito má decisão decidir desviar um voo em que seguia o FC Porto. Tal como seria se fosse o Sporting ou o Benfica, mas ainda mais o FC Porto que é um clube que se sabe dar ao respeito. Mais valia (do ponto de vista da imagem da TAP) deixar que os voos dependentes do avião e da tripulação, creio que para Paris e Londres, se atrasassem ainda mais. Prejudicaria mais gente, é certo, mas seriam “mais dois” voos da TAP que atrasam. Teriam certamente menos repercussão mediática que desviar o voo do FC Porto. Aqui certamente estou a ser maquiavélico, mas do ponto de vista da TAP o primeiro grande erro foi ter desviado o voo onde seguia uma equipa de futebol “grande”.
O segundo grande erro foi o lamentável pedido de desculpas, que implicitamente desautoriza a tripulação do segundo voo. Se houve incidentes a bordo abre-se um inquérito e averigua-se as responsabilidades; eventualmente pede-se desculpa depois. Mas o pior foi esse pedido de desculpas ter sido dirigido… ao FC Porto, que anunciou não mais voar com esta companhia (e que causou o escândalo). Nem uma palavra em relação aos restantes passageiros, que foram tão ou mais transtornados que a equipa. Afinal, para a TAP sempre há passageiros mais importantes que outros. Se é verdade, tal como escrevi mais valia terem-se recordado disso na altura de desviar o voo.
Receio bem que todo este incidente venha a afectar seriamente a imagem da TAP, cuja principal preocupação, a partir de agora, deveria ser a reputação de não respeitar os passageiros com que pode ter ficado. É uma pena, pois apesar deste lamentável incidente a TAP merece ter uma boa imagem.
Não me refiro ao atraso do avião, que sucede em todas as companhias, numas mais do que noutras. A necessidade de desvio por a tripulação e o aparelho serem necessários com urgência em Lisboa para outros voos também é compreensível: estamos em época alta, há mais voos e todas as companhias operam no limite dos recursos disponíveis.
O que não é compreensível e nem aceitável é a mudança de destino não ter sido comunicada aos passageiros no embarque, ainda em Amesterdão. Quem vai num voo para o Porto e, meia hora antes de aterrar (já com duas horas de atraso) lhe dizem que afinal aterra em Lisboa, sente-se raptado. Sente que o voo foi desviado. A indignação é compreensível: trata-se de desrespeito pelos passageiros.
O facto de a mudança de destino só ter sido comunicada tão tarde pode querer dizer que foi uma decisão de última hora. E talvez isso justifique a sua precipitação. É que foi mesmo uma muito má decisão decidir desviar um voo em que seguia o FC Porto. Tal como seria se fosse o Sporting ou o Benfica, mas ainda mais o FC Porto que é um clube que se sabe dar ao respeito. Mais valia (do ponto de vista da imagem da TAP) deixar que os voos dependentes do avião e da tripulação, creio que para Paris e Londres, se atrasassem ainda mais. Prejudicaria mais gente, é certo, mas seriam “mais dois” voos da TAP que atrasam. Teriam certamente menos repercussão mediática que desviar o voo do FC Porto. Aqui certamente estou a ser maquiavélico, mas do ponto de vista da TAP o primeiro grande erro foi ter desviado o voo onde seguia uma equipa de futebol “grande”.
O segundo grande erro foi o lamentável pedido de desculpas, que implicitamente desautoriza a tripulação do segundo voo. Se houve incidentes a bordo abre-se um inquérito e averigua-se as responsabilidades; eventualmente pede-se desculpa depois. Mas o pior foi esse pedido de desculpas ter sido dirigido… ao FC Porto, que anunciou não mais voar com esta companhia (e que causou o escândalo). Nem uma palavra em relação aos restantes passageiros, que foram tão ou mais transtornados que a equipa. Afinal, para a TAP sempre há passageiros mais importantes que outros. Se é verdade, tal como escrevi mais valia terem-se recordado disso na altura de desviar o voo.
Receio bem que todo este incidente venha a afectar seriamente a imagem da TAP, cuja principal preocupação, a partir de agora, deveria ser a reputação de não respeitar os passageiros com que pode ter ficado. É uma pena, pois apesar deste lamentável incidente a TAP merece ter uma boa imagem.
2007/08/08
A explicação do AAA e do RAF
Subsídios para a compreensão do caso RAF, por António Figueira no Cinco Dias. Só falta explicar o Rui Carmo.
Continua, sempre
Bom, mesmo era se as viagens, os telemóveis topo de gama, as unhas de gel estivessem reservados para a fidalguia autêntica, verdadeira, os Braganças e os Távoras. As febras de porco fumegantes e o tinto carrascão ficavam para os Calvões, esses plebeus. Se tudo estivesse no seu lugar.
Tem razão, João Távora: a luta continua.
Tem razão, João Távora: a luta continua.
2007/08/07
Madrid só tem mesmo Starbucks
Não sei se repararam no comentário do Rui Pereira à minha mensagem “Starbucks Everywhere” (e não sei se alguma vez repararam no fotoblogue do Rui, Stopping Light – merece bem a pena). Chamou-me o Rui a atenção para o facto de existirem 22 Starbucks em Paris. Palavra que eu nunca tinha reparado em mais do que três (e se há cidade que eu conheço bem, é Paris): um no Odeon, outro na Ópera e aquele que fotografei, numa área comercial e de serviços perto de onde vivia. E isto porquê? Porque os Starbucks nem se notam em Paris. Paris tem muito mais para oferecer que os Starbucks, que passam despercebidos. Em Nova Iorque eles estão em todo o lado, tal como as Barnes and Nobles, mas há muito mais que ver. Já em Madrid, pelo contrário, não conseguem passar despercebidos, pois a capital espanhola não tem muito mais para oferecer do que os Starbucks.
2007/08/06
¡Madrid me mata… de aburrimiento!
O que é Madrid, afinal? Não sei ou, pelo menos, não descobri, nos três dias que lá passei. Visitei dois museus de qualidade (o Reina Sofia e o Prado). De resto, um rio lastimável (o Manzanares), um palácio real e uma ópera vulgares, um jardim (o Retiro) igual a tantos outros, um estádio (Santiago Bernabéu) que é um monte de betão, uma praça (Cibelles) engraçadita mas nada de extraordinário, uma Gran Via igual a tantas avenidas em todo o mundo (e sem nada que a destaque)…
Tudo o resto é uma cidade vulgaríssima, com casas, algum comércio de bairro, uns restaurantes e cafés… Mais nada. Nada de nada.
Quer-se escolher um postal de Madrid e o que há para enviar? O que distingue Madrid de outras cidades, de forma a permitir identificar a capital espanhola num postal? Só a Praça Maior. Essa, sim, é uma praça bonita e única. Distinta. As ruas à volta (a zona até à câmara municipal) são engraçadas. Só esta pequena zona à volta da Praça Maior permite a um visitante sentir que está em Madrid e não noutra cidade vulgar qualquer. Tirando isso, só mesmo Moncloa e a sua arquitectura franquista (é triste mas é verdade) permitem a alguém que tenha sido transportado para lá sem saber abrir os olhos e reconhecer que está em Madrid. Muito, muito pouco para uma capital europeia. Principalmente com as pretensões de Madrid.
Gosto de tudo o (pouco) que visitei em Espanha até hoje menos Madrid. De Oviedo, Gijon, Vigo, Corunha, Santiago de Compostela (ah… Santiago de Compostela!). Achei todas estas cidades mais interessantes do que Madrid. Mesmo El Escorial, nos arredores da capital. Acho que nunca tinha apanhado uma decepção tão grande com uma cidade.
Valham os espanhóis. Dos espanhóis, pelo contrário, guardo as melhores recordações (sobretudo de madrilenos mas não só). São o povo mais simpático que eu conheci.
2007/08/03
Le Big Mac
A minha resposta ao desafio do Nuno Ramos de Almeida. Vem a calhar, tendo em conta as discussões sobre franchising que se sucederam ao meu texto sobre o Starbucks.
2007/08/02
Ponte sobre o Mississipi
Foto The New York Times
Final de Maio de 2002 (à volta do feriado do Memorial Day). De Nova Iorque até Chicago, pelo Midwest, e depois passando pelo Wisconsin até chegar ao Minnesota. Em autocarros Greyhound e, como referi, tomando o pequeno almoço em cafés Starbucks. O meu objectivo final era as cidades gémeas, Minneapolis e Saint Paul. Separadas pelo Mississipi. E ligadas por pontes como a que caiu ontem.
Final de Maio de 2002 (à volta do feriado do Memorial Day). De Nova Iorque até Chicago, pelo Midwest, e depois passando pelo Wisconsin até chegar ao Minnesota. Em autocarros Greyhound e, como referi, tomando o pequeno almoço em cafés Starbucks. O meu objectivo final era as cidades gémeas, Minneapolis e Saint Paul. Separadas pelo Mississipi. E ligadas por pontes como a que caiu ontem.
Starbucks everywhere
2007/08/01
Em Madrid, desde que o café é café
Encontrava-me acabado de chegar à capital espanhola. Por razões que não vêm ao caso, tinha acabado de comer ameixas, sentado num banco público, em plena Gran Via. Tinha as mãos sujas e não dispunha de um guardanapo. Tinha acabado de almoçar e precisava de um café.
Mesmo em frente a mim encontrava-se uma “chocolateria”, fundada em 1935. E que parecia na mesma como em 1935, ou pelo menos como no franquismo. As mesas, as ementas, os talheres, a louça fina. A esplanada no passeio, separada por canteiros. Os aquecimentos para quem se quiser sentar ao ar livre no Inverno, uma ideia provavelmente importada de Paris. Os empregados de gravata.
A alternativa residia um quarteirão acima. Um Starbucks, algo que, como viria a descobrir depois, é bastante frequente na cidade. Hesitei; não mais entrara na cadeia de cafés norte-americana desde que saí dos EUA, há quase quatro anos. Mas a alternativa era mesmo a chocolateria, o café em Espanha às vezes é mau, e no Starbucks pode ser sempre a mesma coisa mas ao menos é seguro. Entrei.
Foi bom beber o mesmo café que bebia há quatro anos, nas minhas deambulações pela América profunda, quando queria um espresso minimamente de confiança. Foi bom reencontrar o mesmo leite à disposição do cliente, que foi parte de vários pequenos-almoços meus. Foi bom poder servir-me da casa de banho à vontade. Não li o The New York Times, mas li o El Pais e a Marca à minha vontade enquanto tomava o meu café e na sala tocava o Rufus Wainwright. Sobretudo, foi bom reencontrar-me com o mesmo tipo de pessoas de antes. Empregados simpáticos e eficientes. Clientes de proveniências diversas, jovens na sua maioria, sozinhos ou em grupos. A conversarem, a namorarem, a navegarem na internet sem rede nos seus portáteis. Foram ao Starbucks para tomarem café, nas muitas variedades em que este lá se encontra, e para passarem algum tempo e conviverem. Não para “mostrarem” aos outros clientes que também são chiques. Na verdade um cliente do Starbucks só está preocupado consigo e com a sua companhia. Desde que não o incomodem, não quer saber se os outros clientes andam com uma mochila às costas e se têm as mãos todas cagadas de ameixa. A diferença principal em relação à chocolateria é mesmo esta. Como poderia eu lá ter entrado?
Foi um prazer saborear um bom café, mas o melhor mesmo foi reencontrar um pouco de Nova Iorque em plena Madrid.
Enquanto o café em Portugal for de qualidade e barato (apesar do muito que tem aumentado), não creio que corramos o risco de sermos invadidos pelo Starbucks. Mas se a moda de servir o café com dois pires e uma bolacha em pacote se generalizar, não dou muito tempo para termos o Starbucks cá.
Este texto foi publicado originalmente no Cinco Dias. Vale a pena acompanhar a discussão nos comentários lá.
Mesmo em frente a mim encontrava-se uma “chocolateria”, fundada em 1935. E que parecia na mesma como em 1935, ou pelo menos como no franquismo. As mesas, as ementas, os talheres, a louça fina. A esplanada no passeio, separada por canteiros. Os aquecimentos para quem se quiser sentar ao ar livre no Inverno, uma ideia provavelmente importada de Paris. Os empregados de gravata.
A alternativa residia um quarteirão acima. Um Starbucks, algo que, como viria a descobrir depois, é bastante frequente na cidade. Hesitei; não mais entrara na cadeia de cafés norte-americana desde que saí dos EUA, há quase quatro anos. Mas a alternativa era mesmo a chocolateria, o café em Espanha às vezes é mau, e no Starbucks pode ser sempre a mesma coisa mas ao menos é seguro. Entrei.
Foi bom beber o mesmo café que bebia há quatro anos, nas minhas deambulações pela América profunda, quando queria um espresso minimamente de confiança. Foi bom reencontrar o mesmo leite à disposição do cliente, que foi parte de vários pequenos-almoços meus. Foi bom poder servir-me da casa de banho à vontade. Não li o The New York Times, mas li o El Pais e a Marca à minha vontade enquanto tomava o meu café e na sala tocava o Rufus Wainwright. Sobretudo, foi bom reencontrar-me com o mesmo tipo de pessoas de antes. Empregados simpáticos e eficientes. Clientes de proveniências diversas, jovens na sua maioria, sozinhos ou em grupos. A conversarem, a namorarem, a navegarem na internet sem rede nos seus portáteis. Foram ao Starbucks para tomarem café, nas muitas variedades em que este lá se encontra, e para passarem algum tempo e conviverem. Não para “mostrarem” aos outros clientes que também são chiques. Na verdade um cliente do Starbucks só está preocupado consigo e com a sua companhia. Desde que não o incomodem, não quer saber se os outros clientes andam com uma mochila às costas e se têm as mãos todas cagadas de ameixa. A diferença principal em relação à chocolateria é mesmo esta. Como poderia eu lá ter entrado?
Foi um prazer saborear um bom café, mas o melhor mesmo foi reencontrar um pouco de Nova Iorque em plena Madrid.
Enquanto o café em Portugal for de qualidade e barato (apesar do muito que tem aumentado), não creio que corramos o risco de sermos invadidos pelo Starbucks. Mas se a moda de servir o café com dois pires e uma bolacha em pacote se generalizar, não dou muito tempo para termos o Starbucks cá.
Este texto foi publicado originalmente no Cinco Dias. Vale a pena acompanhar a discussão nos comentários lá.
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