2007/05/09

Sobre as eleições francesas

A análise que faço da vitória de Sarkozy, da qual estou absolutamente convencido, é que será também uma vitória da propaganda sobre a comunicação. Existe a convicção de que na ausência dos grandes discursos ideológicos, o que é importante é a comunicação. Mas não é, porque já não há essas grandes ideologias em que as pessoas se decidem unicamente com pequenas frases, slogans, ou astúcias de comunicadores. Nicolas Sarkozy percebeu isso e fez um verdadeiro trabalho ideológico de preparação desta eleição. Fez da UMP um partido com uma tradição ideológica, um programa. (...)
A esquerda demonstrou não ter ideias claras sobre nada. Sobre todas as questões de fundo, as pessoas de esquerda estão divididas e não sabem o que dizer precisamente: sobre Europa, imigração e segurança. Há por exemplo uma parte da esquerda e do Partido Socialista que é securitária como Ségolène Royal. Não têm um projecto real. E o projecto de Ségolène Royal, o seu pacto presidencial, é em parte o antigo projecto socialista clássico, intervencionista, e em parte um projecto inspirado de Tony Blair. Mas não há nenhuma ligação entre os dois. Não há coerência. Enquanto Sarkozy tem um projecto liberal-conservador, ou liberal-autoritário, com uma coerência. A dinâmica liberal para os quadros superiores, as profissões liberais e os empresários; a segurança, a ordem, a autoridade para as classes populares. Essa é a receita da direita americana. (...)
A política faz-se com uma certa habilidade e com uma certa coerência. Podemos abrir-nos ao centro, mas sobre as questões de fundo. Ségolène falou muito pouco delas. Em vez disso, fez diligências politiqueiras propondo incluir num governo ministros da UDF e eventualmente um primeiro-ministro. Bayrou não teria existido se o PS tivesse apresentado um candidato ou uma candidata credível. Bayrou saiu do seu nicho de seis ou sete por cento porque o PS não tinha uma candidatura muito clara. O mal está feito. A França permanece um dos países mais à esquerda na Europa, mas esta é uma evolução importante.


(Eric Dupin, professor de Comunicação no Instituto de Ciência Política (Sciences Po) de Paris, Público, 6 de Maio de 2007.)

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