O mês de Março não foi quase nada chuvoso (pelo menos de onde escrevo, em Lisboa), mas nem por isso deixa de se ouvir as Águas de Março, especialmente neste ano, em que se comemoram os 80 anos do seu genial criador, o maestro soberano António Carlos Jobim.
O clipe do YouTube que a seguir revelo tem outra particularidade, pois desvenda uma história bem conhecida pelos bons apreciadores da música brasileira: por que razão, na gravação mais conhecida da canção, no álbum Elis & Tom de 1974, a partir de uma dada altura Elis Regina se descontrola e desmancha-se a rir? A razão pode ser vista neste vídeo, gravado durante as gravações do álbum. Eu compreendo o ataque de riso da Elis (face à atitude inesperada e surpreendente do Tom); quando eu vi o vídeo pela primeira vez, tive exactamente a mesma reacção. Uma pequena pérola a encerrar o mês.
2007/03/31
2007/03/30
Lenine - o concerto
Vem muito bem descrito no Diário de Notícias.
Voltei a verificar algo que não via tão nitidamente desde Nova Iorque. Era o normal num concerto de música brasileira: nos lugares mais caros, americanos compenetrados tentam apreciar a música sem perceberem nada da letra. Nos lugares mais baratos, os brasileiros cantam e fazem a festa.
Na quarta feira, no Tivoli praticamente cheio, a plateia não dançou. Os mais animados eram os pernambucanos do segundo balcão.
2007/03/29
Um debate à portuguesa, com certeza
Tive o prazer de participar no debate da semana passada sobre os quatro anos da Guerra do Iraque, com a participação de dois membros residentes do Cinco Dias. No balanço, nota-se bem que aquele foi um debate “à portuguesa”, sem um grande confronto, onde todos procuravam estar de acordo. Numa coisa foi um debate diferente: foi permitida a participação da audiência, através de inscrições, algo muito pouco usual em Portugal.
Só que tal oportunidade foi utilizada, sobretudo, pelos suspeitos do costume, mais habituados e mais rápidos a pedirem a palavra. Foi assim que assistimos ainda a intervenções/comício de Vasco Lourenço, Garcia Pereira e Mário Tomé, entre outros. E foi assim que nos pudemos aperceber de que estes senhores não mudaram nada na forma de verem o mundo desde há trinta anos para cá.
Ainda consegui intervir, já perto do fim, para manifestar o meu pessimismo com a situação actual da União Europeia e o “erro colossal” que constituiu o chumbo da Constituição pela esquerda, na sequência da preocupação de Freitas do Amaral com a falta de espírito europeu dos países de leste, que estão mais interessados em se aliarem aos EUA e só contam com a Europa para receberem subsídios. Tivesse eu um pouco mais de tempo e talvez tivesse conseguido pôr os senhores da mesa todos uns contra os outros (ou pelo menos, por razões diferentes, todos contra mim). Ocasiões para isso não faltavam, desde o papel da Europa no mundo e a sua política de defesa à questão iraniana: até que ponto o Irão e o seu presidente constituem uma ameaça? Até onde eles poderão chegar? E até onde os poderemos deixar chegar? Estes temas mal foram abordados no debate, e por si só dariam um outro debate muito interessante e certamente sem consensos entre os membros da mesa.
Novidade (pelo menos para mim) foi ouvir alguém particularmente autorizado na matéria (Freitas do Amaral) denunciar a falta de espírito europeu e de cooperação por parte dos estados membros da Europa de Leste, nomeadamente a Polónia e a República Checa, que só parecem contar com a União Europeia para receber subsídios: em tudo o que tenha a ver com política externa, só contam com os Estados Unidos, e a estes nunca se oporão. É aqui que vale a pena parar para pensar e perguntar: não estaremos a andar depressa demais? Não teremos alargado a União de qualquer maneira, sem nos certificarmos de que os novos membros querem fazer parte de um projecto europeu?
Publicado também no Cinco Dias.
Só que tal oportunidade foi utilizada, sobretudo, pelos suspeitos do costume, mais habituados e mais rápidos a pedirem a palavra. Foi assim que assistimos ainda a intervenções/comício de Vasco Lourenço, Garcia Pereira e Mário Tomé, entre outros. E foi assim que nos pudemos aperceber de que estes senhores não mudaram nada na forma de verem o mundo desde há trinta anos para cá.
Ainda consegui intervir, já perto do fim, para manifestar o meu pessimismo com a situação actual da União Europeia e o “erro colossal” que constituiu o chumbo da Constituição pela esquerda, na sequência da preocupação de Freitas do Amaral com a falta de espírito europeu dos países de leste, que estão mais interessados em se aliarem aos EUA e só contam com a Europa para receberem subsídios. Tivesse eu um pouco mais de tempo e talvez tivesse conseguido pôr os senhores da mesa todos uns contra os outros (ou pelo menos, por razões diferentes, todos contra mim). Ocasiões para isso não faltavam, desde o papel da Europa no mundo e a sua política de defesa à questão iraniana: até que ponto o Irão e o seu presidente constituem uma ameaça? Até onde eles poderão chegar? E até onde os poderemos deixar chegar? Estes temas mal foram abordados no debate, e por si só dariam um outro debate muito interessante e certamente sem consensos entre os membros da mesa.
Novidade (pelo menos para mim) foi ouvir alguém particularmente autorizado na matéria (Freitas do Amaral) denunciar a falta de espírito europeu e de cooperação por parte dos estados membros da Europa de Leste, nomeadamente a Polónia e a República Checa, que só parecem contar com a União Europeia para receber subsídios: em tudo o que tenha a ver com política externa, só contam com os Estados Unidos, e a estes nunca se oporão. É aqui que vale a pena parar para pensar e perguntar: não estaremos a andar depressa demais? Não teremos alargado a União de qualquer maneira, sem nos certificarmos de que os novos membros querem fazer parte de um projecto europeu?
Publicado também no Cinco Dias.
2007/03/28
O dia em que faremos contato
"É só no palco que a gente pode mensurar realmente o trabalho que a gente faz. Eu jamais estou dentro da casa de um ouvinte quando ele está ouvindo um disco meu. Mas no palco eu vejo a reacção de cada um."
"Existe um poeta que já faleceu, Paulo Leminski, que dizia uma coisa muito interessante acerca do poder. Ele dizia que o poder é o sexo dos velhos."
"A minha formação socialista não me permite esquecer que eu tenho na música uma ferramenta realmente de transformação. Eu acho que a música - e a arte de uma maneira geral - é uma ferramenta de transformação dos povos."
"Compor para a Bethânia é uma coisa, compor para a Maria Rita é outra, compor para a Fernanda Abreu é outra e compor para a Elba Ramalho é outra."
"Imitar é o início de tudo. Qualquer um dos grandes criadores pode se sentir fragilizado em dizer isso mas eu desacredito de qualquer intérprete ou músico ou compositor que tenha começado a sua carreira sem se espelhar em alguém. Você imita alguém até ao momento em que isso começa a te incomodar e você quer esconder isso e nesse processo descobre um caminho que é seu."
(Osvaldo Lenine Pimentel Macedo, entrevista a Carlos Vaz Marques, DNa, 9 de Dezembro de 2005)
Já tenho bilhetes para o concerto de logo à noite no Tivoli.
2007/03/27
Liberalismo e catolicismo
Do mais interessante que se pode ler na blogosfera presentemente são as reflexões de Pedro Arroja, com as quais concordo na maior parte. É claro que Pedro Arroja utiliza aquelas reflexões para defender o liberalismo, quando eu acho que só podem ser aplicadas justamente para mostrar os problemas do liberalismo. Daí a irritação que estas reflexões têm vindo a causar aos seus colegas de blogue. A não perder, aqui e aqui. Esta última, então, bem gostaria de a ter escrito, pois descreve uma experiência que me é bem familiar.
Diálogo à hora do almoço
O diálogo é entre mim e a empregada da cantina.
- Ó faxavor! O frango de caril é para si?
- O frango é para mim, sim, mas o Faxavor é ele. Eu sou o Avesso do Avesso - respondi, enquanto apontava para o meu colega.
Não creio que ela nos lesse.
- Ó faxavor! O frango de caril é para si?
- O frango é para mim, sim, mas o Faxavor é ele. Eu sou o Avesso do Avesso - respondi, enquanto apontava para o meu colega.
Não creio que ela nos lesse.
2007/03/26
O maior responsável pela entrada de Portugal na Europa
A Europa e o movimento europeu foram a grande utopia da segunda metade do século XX. Evidentemente que o socialismo é uma utopia e continuará a ser. Mas a utopia que mais foi concretizada durante estes anos foi a utopia europeia. Eu costumo dizer que não há ninguém de esquerda que não seja também europeu. Se a esquerda não é europeia não é nada. (...)
Quer se queira quer não, as coisas vão avançar. Há dois anos toda a gente pensava que não se ia ter Constituição nenhuma e agora está de novo em cima da mesa. (...)
Hoje estou a ler livros dos antigos presidentes do Banco Mundial, dos homens do FMI, dos conselheiros de Clinton e tantos outros, que eram o mais establishment possível, e que hoje estão a dizer: temos de olhar para as pessoas, temos de defender o sistema social, se não o capitalismo afunda-se, se continua nesta balbúrdia em que está, com a corrupção e os negócios escuros, sem valores nem princípios nem nada e só o dinheiro é que vale. (...)
A Inglaterra tem uma grande influência na Europa, não tenho dúvida. Mas é indispensável que se diga o seguinte: quem quer avança, quem não quer não avança. Como no euro e como em Schengen. Temos de construir uma Europa da defesa e uma Europa política, com uma política externa. A questão é: quem quer fazer parte? A Inglaterra não quer, mas não pode prejudicar os outros. Podemos fazer uma cooperação reforçada para avançar. (...) Já se sabe que eles (britânicos) têm a bomba atómica e os franceses também. O que era interessante é que, se houver uma proliferação nuclear perigosa como se está a ver, será necessário europeizar as bombas deles. Sempre pensei assim.
(Mário Soares, entrevista ao Público, 25-03-07)
2007/03/25
Europa: valores comuns
Por pressão dos suspeitos do costume (Reino Unido, Polónia, República Checa...), e por não os querer contrariar, a União Europeia aprovou uma declaração tímida e sem grande conteúdo.
Um grupo de cidadãos propõe a Declaração de Bruxelas, que qualquer cidadão pode ler e assinar na rede, e que eu quero aqui divulgar. Não deixem de passar por lá.
Quanto à União Europeia, que faz 50 anos, precisa de querer deixar de agradar a todos os seus membros, ou não irá a lado nenhum. Quem está, está; quem não está, fica para trás, e mais tarde de certeza que vai querer estar outra vez. Uma Constituição precisa-se, urgentemente.
Apesar de tudo isto, creio que a Europa está de parabéns.
Um grupo de cidadãos propõe a Declaração de Bruxelas, que qualquer cidadão pode ler e assinar na rede, e que eu quero aqui divulgar. Não deixem de passar por lá.
Quanto à União Europeia, que faz 50 anos, precisa de querer deixar de agradar a todos os seus membros, ou não irá a lado nenhum. Quem está, está; quem não está, fica para trás, e mais tarde de certeza que vai querer estar outra vez. Uma Constituição precisa-se, urgentemente.
Apesar de tudo isto, creio que a Europa está de parabéns.
Bruxelas
2007/03/24
Antes da Ota, há que falar na Portela
Tem toda a razão nesse aspecto o João Miranda. Hei-de voltar a este assunto.
2007/03/23
E8 e o marxista heterótico
Cientificamente uma das grandes novidades da semana foi o anúncio da descoberta da estrutura completa do E8, o maior dos grupos excepcionais. Este grupo descreve uma simetria global da mais complicada teoria de supergravidade em quatro dimensões e, sobretudo, surge como o grupo de gauge de uma das cinco teorias de supercordas existentes (e mais promissora fenomenologicamente), a corda heterótica. Mais precisamente, tal grupo de gauge é E8xE8. É daqui que eventualmente se partirá para a construção do modelo padrão das interacções.
O físico e blóguer Lubos Motl pouco diz sobre o assunto, remetendo para outras páginas. Mas em contrapartida não é todos os dias que ele fala de um professor do Técnico.
O físico e blóguer Lubos Motl pouco diz sobre o assunto, remetendo para outras páginas. Mas em contrapartida não é todos os dias que ele fala de um professor do Técnico.
2007/03/22
O debate de anteontem
Algumas impressões soltas sobre o debate de anteontem. Mais se seguirá.
Mário Soares trata (a brincar) Joana Amaral Dias por "dra. Joana". Trata (a sério) Freitas do Amaral por "sr. Professor", e dá-lhe passagem para se sentarem à mesa do debate.
Garcia Pereira é um portento a falar às massas. Nota-se bem a escola do MRPP. É impossível não lhe prestar atenção quando fala. Nem Mário Soares consegue dormir.
Falando-se de Garcia Pereira: fala-se muito de Joana Amaral Dias, mas alguém já reparou na loura por quem ele se faz acompanhar? Só ela era capaz de disputar a nossa atenção enquanto o companheiro discursava.
Venho do debate completamente "freitista". Freitas do Amaral foi quem eu mais gostei de ouvir.
Vasco Lourenço e Mário Tomé é que continuam exactamente na mesma como há mais de 30 anos atrás.
Um resumo televisivo pode ser visto no Telejornal de ontem (primeira parte), aos 15 min. Voz amiga identificou-me na televisão, no meio da assistência, e avisou-me. Lá se vê a minha cabeça e a minha camisola verde. Sou fácil de identificar: na frente da assistência, sou o único que ainda não tem cabelos brancos.
Mário Soares trata (a brincar) Joana Amaral Dias por "dra. Joana". Trata (a sério) Freitas do Amaral por "sr. Professor", e dá-lhe passagem para se sentarem à mesa do debate.
Garcia Pereira é um portento a falar às massas. Nota-se bem a escola do MRPP. É impossível não lhe prestar atenção quando fala. Nem Mário Soares consegue dormir.
Falando-se de Garcia Pereira: fala-se muito de Joana Amaral Dias, mas alguém já reparou na loura por quem ele se faz acompanhar? Só ela era capaz de disputar a nossa atenção enquanto o companheiro discursava.
Venho do debate completamente "freitista". Freitas do Amaral foi quem eu mais gostei de ouvir.
Vasco Lourenço e Mário Tomé é que continuam exactamente na mesma como há mais de 30 anos atrás.
Um resumo televisivo pode ser visto no Telejornal de ontem (primeira parte), aos 15 min. Voz amiga identificou-me na televisão, no meio da assistência, e avisou-me. Lá se vê a minha cabeça e a minha camisola verde. Sou fácil de identificar: na frente da assistência, sou o único que ainda não tem cabelos brancos.
2007/03/21
Desde o tempo dos dinossauros que os carros andam a gasolina
Eu nunca fui particularmente entusiasta dos "Dias de...", artificialmente inventados e dedicados a causas com que nos deveríamos preocupar o ano inteiro. Mas um dos "dias" de que eu me lembro, quando era miúdo, era o Dia Mundial da Árvore, que na escola era sempre dedicado a questões ecológicas. O Dia da Árvore é hoje. (Também parece que é "Dia da Poesia". Mas não havia outro dia para ser "Dia da Poesia"?)
Faz hoje vinte anos que eu plantei uma árvore, um cedro, na Escola Delfim Santos, em Lisboa. Ainda hoje está de pé. Olho sempre para ele quando por acaso lá passo. Há vinte anos, as únicas árvores que aquela escola tinha eram duas oliveiras.
Para observar a data, escolhi uma canção adequada, mais ou menos da mesma idade: Nothing But Flowers dos Talking Heads. Aqueles que só a conhecem de uma versão ensossa do Caetano Veloso (num álbum já de si desnecessário), vejam o excelente clipe de vídeo original. Não se limitem a escutar a letra irónica: leiam bem todos os factos que lá aparecem escritos. Muitos deles não perderam actualidade. Years ago, I was an angry young man...
Faz hoje vinte anos que eu plantei uma árvore, um cedro, na Escola Delfim Santos, em Lisboa. Ainda hoje está de pé. Olho sempre para ele quando por acaso lá passo. Há vinte anos, as únicas árvores que aquela escola tinha eram duas oliveiras.
Para observar a data, escolhi uma canção adequada, mais ou menos da mesma idade: Nothing But Flowers dos Talking Heads. Aqueles que só a conhecem de uma versão ensossa do Caetano Veloso (num álbum já de si desnecessário), vejam o excelente clipe de vídeo original. Não se limitem a escutar a letra irónica: leiam bem todos os factos que lá aparecem escritos. Muitos deles não perderam actualidade. Years ago, I was an angry young man...
A direita trauliteira
Não tenho de todo grande paciência para questões politiqueiras, muito menos quando não dizem respeito à minha área política. Como devem calcular, a situação do CDS/PP não me tira o sono. O que não invalida que eu aprecie uma boa análise do momento deste partido (e do comportamento do causador da crise), por alguém daquela área política, no Blasfémias.
2007/03/20
Esquerdistas e activistas
Cesare Battisti foi incriminado com base em provas muito duvidosas, nunca tendo sido provado definitivamente que era o autor dos assassínios que lhe eram imputados nem que fosse um terrorista. Eu não sei nada sobre o senhor, até ontem nunca tinha ouvido falar dele e nem quero estar aqui a defendê-lo. Mas políticos franceses pedem que o seu julgamento seja repetido, e não estou a falar só de comunistas ou trotsquistas ou José Bové: falo também de ecologistas, da socialista Ségolène Royal e até do centrista (e a meu ver futuro Presidente de França) François Bayrou. Quem o noticiava ontem era o Diário de Notícias (na sua edição de papel), que agora até é dirigido pelo João Marcelino. E o capitalista e insuspeito Yahoo! Mas o que sabe toda esta gente comparada com Helena Matos?
2007/03/19
Convenceu-me (2)
Do pouco que eu vi da corrida, intuo que não deve ter havido nenhum "grande momento de condução", pois o ice-man Kimi ganhou a prova nas calmas. Mas foi o primeiro piloto da história da Ferrari a conseguir pole-position, melhor volta e vitória da corrida no Grande Prémio de estreia na equipa. Nada mau. O lugar é dele.
Destaque ainda para Lewis Hamilton, o primeiro negro da Fórmula 1, que chegou ao pódio na sua estreia na modalidade. Globalmente, este foi ainda o pódio mais jovem de sempre de toda a Fórmula 1. Uma corrida histórica, portanto.
2007/03/17
Inconvenientes da vitória
Devo começar por dizer que a vitória não me surpreende (sem falsa modéstia e sem querer desrespeitar o Porto). Tal como não me surpreendeu a eliminação da taça UEFA contra os russos. Isto para quem acompanhe o Sporting.
Os inconvenientes desta saborosa vitória são dois e são óbvios: fica mais provável a renovação do Tello (é capaz de nem ser assim tão mau) e fica mais próximo do primeiro lugar o Benfica. Não consigo estar completamente contente.
Os inconvenientes desta saborosa vitória são dois e são óbvios: fica mais provável a renovação do Tello (é capaz de nem ser assim tão mau) e fica mais próximo do primeiro lugar o Benfica. Não consigo estar completamente contente.
2007/03/16
Pedido de visita
Há uma amiga minha, cozinheira de mão cheia - já aqui lhe gabei o caldo verde, mas ela prepara muitas outras iguarias -, que está em Paris a fazer um MBA em hotelaria. Como parte da sua especialização teve de preparar uma página na internet de anúncio a um complexo hoteleiro numa região turística francesa. A nota de uma das cadeiras do MBA dela - acreditem! - vai ser determinada pelo número de visitas que a página que ela fez receber. Posso assegurar-vos a sua competência, e espero que ela venha um dia a servir, no seu próprio restaurante, as suas excelentes especialidades (que vão muito para além da bifana e da sardinha assada), cozinhadas por ela e sem ser por vinte euros. Mas para isso esta minha amiga precisa de acabar o seu curso com boa nota. Dado o engenhoso método de classificação, posso-vos pedir uma visita à página da Diana? Não é nenhum tipo de publicidade - nem sequer precisam de ler nada; basta mesmo, acreditem, clicarem aqui. Obrigado.
(Diana, quando abrires o teu restaurante, nada de comida japonesa, OK?)
(Diana, quando abrires o teu restaurante, nada de comida japonesa, OK?)
2007/03/15
A Fórmula 1 sem Schumacher
Que esperar desta época de Fórmula 1, agora que o maior dos campeões desta especialidade se retirou? Ficará a Fórmula 1 órfã de Schumacher? Por algum tempo é possível que sim, e não me refiro somente aos ferraristas como eu. Refiro-me à modalidade.
No que diz respeito à minha equipa, vamos ver o que faz Raikkonen. Simpatizei com este piloto na época de 2005 – creio que teria sido um justo campeão do mundo, não fosse o azar que o perseguiu, em várias corridas, ao longo de toda a época. Mas a forma categórica e inquestionável como foi batido por Schumacher na última temporada, e sobretudo aquela ultrapassagem da última corrida, quando Schumacher partira de trás para a última das suas recuperações, sem nada a ganhar ou a perder, e “arrumou” assim, limpinho, o seu substituto na equipa, tornam impossível, pelo menso por agora, torcer por Raikkonen sem aumentar as saudades do Schumacher. Primeiro é preciso ver-se um grande momento de condução deste piloto ao volante do Ferrari. É preciso que ele mostre que merece o lugar que ocupa. A pressão vai ser grande. Veremos se ele está à altura.
Por quem é que eu vou torcer, então? Na infância sempre sonhei que um dia um piloto que falasse português, se chamasse Filipe, o seu apelido tivesse cinco letras, a primeira das quais “m” e a última “a”, viesse a ser campeão do mundo de Fórmula 1. Ao volante de um Ferrari, como é evidente. Veremos se este ano se cumpre este meu sonho de infância.
No que diz respeito à minha equipa, vamos ver o que faz Raikkonen. Simpatizei com este piloto na época de 2005 – creio que teria sido um justo campeão do mundo, não fosse o azar que o perseguiu, em várias corridas, ao longo de toda a época. Mas a forma categórica e inquestionável como foi batido por Schumacher na última temporada, e sobretudo aquela ultrapassagem da última corrida, quando Schumacher partira de trás para a última das suas recuperações, sem nada a ganhar ou a perder, e “arrumou” assim, limpinho, o seu substituto na equipa, tornam impossível, pelo menso por agora, torcer por Raikkonen sem aumentar as saudades do Schumacher. Primeiro é preciso ver-se um grande momento de condução deste piloto ao volante do Ferrari. É preciso que ele mostre que merece o lugar que ocupa. A pressão vai ser grande. Veremos se ele está à altura.
Por quem é que eu vou torcer, então? Na infância sempre sonhei que um dia um piloto que falasse português, se chamasse Filipe, o seu apelido tivesse cinco letras, a primeira das quais “m” e a última “a”, viesse a ser campeão do mundo de Fórmula 1. Ao volante de um Ferrari, como é evidente. Veremos se este ano se cumpre este meu sonho de infância.
2007/03/14
Wikipédia e originalidade
A propósito deste caso exemplar que nos é contado pelo Santiago no Conta Natura, recordo outro caso em que esteve e discussão (entre outras coisas) a utilização de fontes da internet por parte de um jornalista científico.
Devo começar por esclarecer que colaborei recentemente com a secção de Ciência do PÚBLICO, tendo sido um dos seleccionados para o programa "Cientistas na Redacção". Nunca tive nenhum tipo de relação com a jornalista em questão que não fosse de trabalho e, desde que terminou a minha colaboração com o jornal, no passado mês de Outubro, não voltei a falar com ela.
Não me vou pronunciar sobre a utilização por parte da jornalista de artigos publicados em outras revistas, científicas ou não, embora segundo julgo ter percebido todas as revistas consultadas tenham sido referidas (o que torna mais difícil, relativamente às mesmas, qualquer acusação de "plágio"). Quero concentrar-me somente sobre a utilização por parte de um jornalista de fontes que são do domínio público, que estão na Internet, mais concretamente na Wikipédia.
É possível que haja excepções, uma vez que a informação disponível na Internet é muito vasta e variada, mas pode dizer-se que, em grande parte, os conteúdos da Wikipédia não são nada originais. São baseados em informações que podem ser colhidas noutros sítios da rede, mas também em livros, jornais e revistas, especializados ou não. Em grande parte das vezes, quando se trata de informação factual, nem sequer é fornecida a fonte dessa mesma informação.
Tratando-se de dados factuais do domínio público (e que, portanto, não constituem por si valor noticioso), a utilização da Wikipédia como fonte de informação sobre estes factos parece-me tão válida como outra qualquer. Eu mesmo, enquanto jornalista científico, utilizei várias vezes informações provenientes da Wikipédia. Eram sempre informações factuais, que poderia encontrar num livro especializado - que eu provavelmente poderia encontrar numa biblioteca ou na minha colecção particular -, mas que não seria a fonte mais prática de consultar, estando na redacção do jornal e sem acesso a eles.
Refiro-me, é claro, a conceitos que são conhecidos por especialistas mas não pelo leitor comum, tendo por isso de ser explicados de uma forma básica pelo jornalista ao dar a notícia. Sobretudo - e isto é que é importante: são informações complementares, sem nenhum tipo de valor jornalístico, nunca constituindo o motivo ou o conteúdo principal do texto. Não me parece por isso correcto acusar alguém de "plágio" só por utilizar este tipo de informações num artigo. Foi este tipo de informações que eu usei (e creio poder dizer-se o mesmo das utilizadas pela jornalista do PÚBLICO).
É claro que são de evitar transcrições textuais de textos de qualquer fonte, incluindo a Wikipédia, mas convém esclarecer que, com definições técnicas, é inevitável a repetição de ideias, palavras e conceitos. Desafio quem pensar de outra forma a enunciar o teorema de Pitágoras de outra forma que não seja "o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos". Será esta última frase plágio? É assim que vem na Wikipédia.
Finalmente, convém esclarecer a prática relativa aos direitos de autor em textos de índole científica, mesmo se de divulgação. É uma prática provavelmente diferente em alguns aspectos da do jornalismo clássico, mas que se aplicará melhor ao jornalismo científico, que tem especificidades próprias. Num texto deste tipo há sempre uma distinção clara entre o que é um conceito ou facto original e o que é uma revisão. A única fonte que há a obrigação de citar é o autor do original, e não os das revisões que foram feitas desde então. Desde que não se cometam transcrições integrais, nenhum autor de uma revisão - por revisão também pode entender-se uma página da Internet como a Wikipédia - pode considerar "plágio" outro trabalho de revisão, ou pedir para ser por este citado. O que é mal visto na comunidade científica é falar-se de temas e citar-se trabalhos que não se conhece bem. É esperado que um autor de um texto entenda o que escreveu, de forma a poder ser considerado realmente o autor desse texto, mesmo se se tratar de uma revisão. Creio que o mesmo critério pode e deve ser aplicado ao jornalismo científico. É isso que distingue um bom de um mau jornalista científico. É muito fácil para um especialista, ao ler uma notícia, distinguir se quem a escreveu a entendeu ou não.
Entramos assim num domínio - a avaliação da competência de alguém - que não é e nem pode ser democrático.
Devo começar por esclarecer que colaborei recentemente com a secção de Ciência do PÚBLICO, tendo sido um dos seleccionados para o programa "Cientistas na Redacção". Nunca tive nenhum tipo de relação com a jornalista em questão que não fosse de trabalho e, desde que terminou a minha colaboração com o jornal, no passado mês de Outubro, não voltei a falar com ela.
Não me vou pronunciar sobre a utilização por parte da jornalista de artigos publicados em outras revistas, científicas ou não, embora segundo julgo ter percebido todas as revistas consultadas tenham sido referidas (o que torna mais difícil, relativamente às mesmas, qualquer acusação de "plágio"). Quero concentrar-me somente sobre a utilização por parte de um jornalista de fontes que são do domínio público, que estão na Internet, mais concretamente na Wikipédia.
É possível que haja excepções, uma vez que a informação disponível na Internet é muito vasta e variada, mas pode dizer-se que, em grande parte, os conteúdos da Wikipédia não são nada originais. São baseados em informações que podem ser colhidas noutros sítios da rede, mas também em livros, jornais e revistas, especializados ou não. Em grande parte das vezes, quando se trata de informação factual, nem sequer é fornecida a fonte dessa mesma informação.
Tratando-se de dados factuais do domínio público (e que, portanto, não constituem por si valor noticioso), a utilização da Wikipédia como fonte de informação sobre estes factos parece-me tão válida como outra qualquer. Eu mesmo, enquanto jornalista científico, utilizei várias vezes informações provenientes da Wikipédia. Eram sempre informações factuais, que poderia encontrar num livro especializado - que eu provavelmente poderia encontrar numa biblioteca ou na minha colecção particular -, mas que não seria a fonte mais prática de consultar, estando na redacção do jornal e sem acesso a eles.
Refiro-me, é claro, a conceitos que são conhecidos por especialistas mas não pelo leitor comum, tendo por isso de ser explicados de uma forma básica pelo jornalista ao dar a notícia. Sobretudo - e isto é que é importante: são informações complementares, sem nenhum tipo de valor jornalístico, nunca constituindo o motivo ou o conteúdo principal do texto. Não me parece por isso correcto acusar alguém de "plágio" só por utilizar este tipo de informações num artigo. Foi este tipo de informações que eu usei (e creio poder dizer-se o mesmo das utilizadas pela jornalista do PÚBLICO).
É claro que são de evitar transcrições textuais de textos de qualquer fonte, incluindo a Wikipédia, mas convém esclarecer que, com definições técnicas, é inevitável a repetição de ideias, palavras e conceitos. Desafio quem pensar de outra forma a enunciar o teorema de Pitágoras de outra forma que não seja "o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos". Será esta última frase plágio? É assim que vem na Wikipédia.
Finalmente, convém esclarecer a prática relativa aos direitos de autor em textos de índole científica, mesmo se de divulgação. É uma prática provavelmente diferente em alguns aspectos da do jornalismo clássico, mas que se aplicará melhor ao jornalismo científico, que tem especificidades próprias. Num texto deste tipo há sempre uma distinção clara entre o que é um conceito ou facto original e o que é uma revisão. A única fonte que há a obrigação de citar é o autor do original, e não os das revisões que foram feitas desde então. Desde que não se cometam transcrições integrais, nenhum autor de uma revisão - por revisão também pode entender-se uma página da Internet como a Wikipédia - pode considerar "plágio" outro trabalho de revisão, ou pedir para ser por este citado. O que é mal visto na comunidade científica é falar-se de temas e citar-se trabalhos que não se conhece bem. É esperado que um autor de um texto entenda o que escreveu, de forma a poder ser considerado realmente o autor desse texto, mesmo se se tratar de uma revisão. Creio que o mesmo critério pode e deve ser aplicado ao jornalismo científico. É isso que distingue um bom de um mau jornalista científico. É muito fácil para um especialista, ao ler uma notícia, distinguir se quem a escreveu a entendeu ou não.
Entramos assim num domínio - a avaliação da competência de alguém - que não é e nem pode ser democrático.
2007/03/13
Encontros presidenciais
Que eu me recorde, cruzei-me três vezes com Presidentes da República em exercício. Duas no mesmo sítio, o Salão Nobre do Instituto Superior Técnico, uma vez com Jorge Sampaio (em 1996), a outra com Cavaco Silva (hoje, no seu Roteiro para a Ciência). A outra vez foi também com Sampaio, no cinema, a ver Good Bye Lenin!
A breve visita do Presidente foi rodeada de cuidados que não devem surpreender ninguém. As velhas portas corta-fogo dos corredores, que costumam permanecer abertas, estavam desta vez bem fechadas, para não se verem paredes mal pintadas, cadeiras a monte e andaimes de obras. Houve um cuidado natural na preparação da exposição, sobre fontes de energia amigas do ambiente, para a visita do Presidente: afinal, era nesta altura que vinha a comunicação social. Só que a exposição continua patente, e a partir de amanhã ninguém se importa se é visitada ou não. Se puderem, vão vê-la que vale a pena.
A breve visita do Presidente foi rodeada de cuidados que não devem surpreender ninguém. As velhas portas corta-fogo dos corredores, que costumam permanecer abertas, estavam desta vez bem fechadas, para não se verem paredes mal pintadas, cadeiras a monte e andaimes de obras. Houve um cuidado natural na preparação da exposição, sobre fontes de energia amigas do ambiente, para a visita do Presidente: afinal, era nesta altura que vinha a comunicação social. Só que a exposição continua patente, e a partir de amanhã ninguém se importa se é visitada ou não. Se puderem, vão vê-la que vale a pena.
Gostei de ler
- Copenhaga e nós, no Vida Breve;
- Autoridade livre, Opinião pública e 4 instituições protestantes de descoberta da verdade, no Blasfémias.
2007/03/12
Quando as letras não pagam as expectativas II
Seguiu-se uma discussão muito interessante na caixa de comentários do meu texto “Quando as letras não pagam as expectativas”, que vale a pena ser lida.
Entre os comentários que recebi por email estão os de um sociólogo que me fez ver um lapso meu: para entrar no curso de Sociologia é necessária a frequência de Matemática nos ecundário. Dos cinco licenciados referidos, “apenas” quatro não tiveram Matemática.
Também valem a pena serem lidos dois textos do Tiago Mendes, um que eu já conhecia e outro que o autor teve a gentileza de me fazer chegar: Licença para pensar, sobre a empregabilidade dos cursos das universidades inglesas, e Rigor criativo, sobre a importância da Matemática.
De tudo o que eu li, gostaria de acrescentar que na situação portuguesa muitos alunos nunca chegam (e nunca chegaram) a estudar realmente matemática a partir do 6º ano: pura e simplesmente “desistem” da matemática. Decidem que irão para letras e logo se vê, pois sabem que o “pesadelo” das ciências exactas só dura até ao 9º ano.
Por outro lado, o ensino da matemática não deve ser feito a pensar que todos os alunos serão matemáticos, ou sequer estudarão ciências. Não defendo que haja falta de matemáticos; agora, há um excesso de licenciados sem nenhuns conhecimentos de matemática, que orientaram todos os seus estudos só para fugirem à matemática, e por isso mesmo não se sabe muito bem o que se lhes há-de fazer. Pior: nem esses licenciados sabem muito bem o que hão-de fazer fora da sua área de estudos. A flexibilidade e a capacidade de adaptação de que o Tiago Mendes fala, e que são absolutamente indispensáveis num mundo em evolução tecnológica vertiginosa, só se podem alcançar com uma boa base matemática. Se não compreendermos isto arriscamo-nos a continuar a formar reveladores de fotografias na era da fotografia digital.
Entre os comentários que recebi por email estão os de um sociólogo que me fez ver um lapso meu: para entrar no curso de Sociologia é necessária a frequência de Matemática nos ecundário. Dos cinco licenciados referidos, “apenas” quatro não tiveram Matemática.
Também valem a pena serem lidos dois textos do Tiago Mendes, um que eu já conhecia e outro que o autor teve a gentileza de me fazer chegar: Licença para pensar, sobre a empregabilidade dos cursos das universidades inglesas, e Rigor criativo, sobre a importância da Matemática.
De tudo o que eu li, gostaria de acrescentar que na situação portuguesa muitos alunos nunca chegam (e nunca chegaram) a estudar realmente matemática a partir do 6º ano: pura e simplesmente “desistem” da matemática. Decidem que irão para letras e logo se vê, pois sabem que o “pesadelo” das ciências exactas só dura até ao 9º ano.
Por outro lado, o ensino da matemática não deve ser feito a pensar que todos os alunos serão matemáticos, ou sequer estudarão ciências. Não defendo que haja falta de matemáticos; agora, há um excesso de licenciados sem nenhuns conhecimentos de matemática, que orientaram todos os seus estudos só para fugirem à matemática, e por isso mesmo não se sabe muito bem o que se lhes há-de fazer. Pior: nem esses licenciados sabem muito bem o que hão-de fazer fora da sua área de estudos. A flexibilidade e a capacidade de adaptação de que o Tiago Mendes fala, e que são absolutamente indispensáveis num mundo em evolução tecnológica vertiginosa, só se podem alcançar com uma boa base matemática. Se não compreendermos isto arriscamo-nos a continuar a formar reveladores de fotografias na era da fotografia digital.
2007/03/09
Barak, a Fox e o fumo
Eu acho bem que se protejam os direitos dos não-fumadores. Sobretudo, que se acabe com a cultura vigente em Portugal que faz com que o acto de fumar fique completamente impune. Até há uns anos um não-fumador em Portugal estava completamente indefeso. Mas o objectivo deve ser só o de proteger a saúde, e nunca o de estigmatizar e ostracizar o fumador e o acto de fumar. Via Zona Fantasma, deixo-vos com um vídeo que demonstra bem onde não se pode e não se deve chegar. E que vos dá uma ideia, ao mesmo tempo, da independência da cadeia de televisão americana Fox. Imaginem agora como são apresentados os conflitos internacionais, e quem critica a política externa americana!
Voltando ao assunto do vídeo: lamentavelmente, receio que se Barak Obama quer ter hipóteses de lutar pela nomeação democrata, terá que deixar de fumar. E isso já se confirmou: já o anunciou a semana passada.
Publicado originalmente no Cinco Dias.
2007/03/08
Receita Dia da Mulher 2007
Reactivando um hábito de outros anos, e porque entendo que o feminismo começa verdadeiramente na distribuição das tarefas domésticas elementares, de acordo com a minha ética proletária, observo o Dia da Mulher... com uma receita. Homens para a cozinha, pois então!
Confesso no entanto que a receita que escolhi este ano não foi a pensar em nenhuma mulher: é mais dedicada ao jornalista, crítico gastronómico e blóguer Duarte Calvão. O Duarte Calvão costuma publicar crónicas no Diário de Notícias sobre os excelentes restaurantes que visita, em Portugal e no mundo inteiro. E confirma-nos aquela máxima da cozinha portuguesa que a torna verdadeiramente atractiva e democrática: pobres e ricos comem as mesmas coisas (excluo os "muito pobres", como é evidente, que mal tenham dinheiro para comer). O que quero mesmo dizer é o seguinte: se excluirmos restaurantes de luxo, é frequente encontrarmos ementas semelhantes em restaurantes mais caros e mais baratos. A diferença de preço está só no local onde se come. No Brasil, pelos vistos, a situação não é muito diferente. E é assim que vemos o Duarte Calvão, na sua crónica do DN, todo orgulhoso por ter pago 15 euros em São Paulo por um hambúrguer. Recordo-me que o mesmo jornalista, no passado mês de Junho, por altura dos santos populares, escreveu outra crónica onde gabava umas sardinhas assadas que tinha comido em Alfama, pelas quais tinha pago a módica quantia de... 20 euros. Tinha gostado tanto que voltara ao mesmo restaurante para comer... umas febras de porco! Um prato que já não comia há dois anos! O crítico gastronómico Duarte Calvão não comia febras de porco há dois anos. E ficou tão comovido por as descobrir no mesmo sítio onde tinha pago 20 euros pelas sardinhas que voltou lá de propósito, só para as comer, tendo voltado a desembolsar 20 euros por um prato!
Eu não sou o Duarte Calvão, mas quando pago 20 euros por um prato num restaurante (é muito raro, mas pode acontecer), não é para comer febras de porco. Sendo assim, hoje, Dia da Mulher, dia em que os homens se deveriam habituar a ir mais à cozinha (como todos os outros), eu deixo aqui uma receita de febras de porco. Dedicada ao Duarte Calvão.
Tome as febras, tempere-as com colorau, louro e um pouco de pimenta. Junte-lhes uns dentes de alho em rodelas (Duarte, se for cortar os alhos, tenha cuidado não se vá cortar). Junte um pouco de vinho branco e deixe marinar por umas horas. Escorra-as na marinada e leve-as a fritar em margarina ou banha, a seu gosto. Estando fritas, junte a marinada até esta reduzir. Acompanhe com umas boas batatas cozidas com casca. (Duarte, se for cozer as batatas, lave-as bem primeiro, corte-as – cuidado, não se corte! É melhor não as descascar! -, ponha-as em água com sal que entretanto pôs ao lume (cuidado, não se queime!) e deixe-as cozinhar até ficarem tenras.)
E pronto: com ingredientes que compram em qualquer supermercado, têm aqui um pitéu que vale, nos restaurantes que o Duarte Calvão costuma frequentar, 20 euros. Et voilá, como dizem os chefs desses restaurantes. Bon appétit.
Publicado também no Cinco Dias.
Confesso no entanto que a receita que escolhi este ano não foi a pensar em nenhuma mulher: é mais dedicada ao jornalista, crítico gastronómico e blóguer Duarte Calvão. O Duarte Calvão costuma publicar crónicas no Diário de Notícias sobre os excelentes restaurantes que visita, em Portugal e no mundo inteiro. E confirma-nos aquela máxima da cozinha portuguesa que a torna verdadeiramente atractiva e democrática: pobres e ricos comem as mesmas coisas (excluo os "muito pobres", como é evidente, que mal tenham dinheiro para comer). O que quero mesmo dizer é o seguinte: se excluirmos restaurantes de luxo, é frequente encontrarmos ementas semelhantes em restaurantes mais caros e mais baratos. A diferença de preço está só no local onde se come. No Brasil, pelos vistos, a situação não é muito diferente. E é assim que vemos o Duarte Calvão, na sua crónica do DN, todo orgulhoso por ter pago 15 euros em São Paulo por um hambúrguer. Recordo-me que o mesmo jornalista, no passado mês de Junho, por altura dos santos populares, escreveu outra crónica onde gabava umas sardinhas assadas que tinha comido em Alfama, pelas quais tinha pago a módica quantia de... 20 euros. Tinha gostado tanto que voltara ao mesmo restaurante para comer... umas febras de porco! Um prato que já não comia há dois anos! O crítico gastronómico Duarte Calvão não comia febras de porco há dois anos. E ficou tão comovido por as descobrir no mesmo sítio onde tinha pago 20 euros pelas sardinhas que voltou lá de propósito, só para as comer, tendo voltado a desembolsar 20 euros por um prato!
Eu não sou o Duarte Calvão, mas quando pago 20 euros por um prato num restaurante (é muito raro, mas pode acontecer), não é para comer febras de porco. Sendo assim, hoje, Dia da Mulher, dia em que os homens se deveriam habituar a ir mais à cozinha (como todos os outros), eu deixo aqui uma receita de febras de porco. Dedicada ao Duarte Calvão.
Tome as febras, tempere-as com colorau, louro e um pouco de pimenta. Junte-lhes uns dentes de alho em rodelas (Duarte, se for cortar os alhos, tenha cuidado não se vá cortar). Junte um pouco de vinho branco e deixe marinar por umas horas. Escorra-as na marinada e leve-as a fritar em margarina ou banha, a seu gosto. Estando fritas, junte a marinada até esta reduzir. Acompanhe com umas boas batatas cozidas com casca. (Duarte, se for cozer as batatas, lave-as bem primeiro, corte-as – cuidado, não se corte! É melhor não as descascar! -, ponha-as em água com sal que entretanto pôs ao lume (cuidado, não se queime!) e deixe-as cozinhar até ficarem tenras.)
E pronto: com ingredientes que compram em qualquer supermercado, têm aqui um pitéu que vale, nos restaurantes que o Duarte Calvão costuma frequentar, 20 euros. Et voilá, como dizem os chefs desses restaurantes. Bon appétit.
Publicado também no Cinco Dias.
2007/03/07
Blogues novos, blógueres não tão novos
Aproveito o aniversário do blogue para rearrumar a lista de hiperligações. Retiro alguns blogues desactivados e acrescento outros. Sem querer ser exaustivo, refiro aqui alguns.
Vítor Dias tem um blogue que merece leitura atenta. O Tempo das Cerejas é o título do blogue, e é também o título de uma canção que se tornou um símbolo da Comuna de Paris, Le Temps des Cérises. Bem vindo, Vítor Dias.
O título desta canção inspirou também o nome de um dos meus restaurantes favoritos de Paris, em plena Butte Aux Cailles, um bairro boémio do 13ème e símbolo da Comuna. No Le Temps des Cérises (um restaurante-cooperativa onde todos trabalham e todos lucram), gosto de comer as fantásticas entradas de arenque fumado (como não há outras) e o boudin noir à normanda. Quem me recomendou este restaurante foi outro blóguer histórico, o Vasco Barreto, que volta à blogosfera como autor de muitos blogues, demasiados para serem todos referidos, como se fossem suplementos de um jornal. O blogue central, federador dos outros, é o Caderno I. Alguém entendido em html dá uma ajuda com o modelo ao Vasco?
Destaco também blogues de dois antigos companheiros do saudoso Blogue de Esquerda, o Bidão Vil (um blogue que só agora descobri) e a Zona Fantasma, onde escreve um rapaz chamado Luís Rainha (o "Fantasma do Natal Passado"), fã do Tio Patinhas como eu.
O Luís que, entretanto, deixou há algum tempo um comentário sobre este texto do Miguel Sousa Tavares. Sem querer perder mais tempo: tem razão, o Luís. Creio no entanto que tal se trata simplesmente de uma passagem (muito) infeliz, mas que não chega a estragar o resto do bom artigo. É claro que o Luís, com o seu reconhecido feitio, não concorda neste ponto e "deita tudo abaixo". E faz o mesmo nos comentários do blogue de onde entretanto saíra, o Aspirina B. Mas mantém o velho hábito de fazer comentários anónimos aos textos de companheiros de blogue. Não é a pensar em mim, primeiro porque eu já conheço de ginjeira o estilo de escrita do Luís e, segundo, porque felizmente ele já assina os comentários que me deixa. Mas, se ele me permite, gostaria de lhe dar um conselho.
(Luís, se não queres mesmo ser identificado como autor de comentários anónimos, procede como te sugiro. Escreve como os outros comentadores anónimos; não precisa de ser mal, mas não com o teu português rebuscado que nenhum comentador (anónimo ou não) usa. Não uses expressões que na blogosfera só tu usas (e provavelmente só tu conheces o significado), como "supina", "fruste", "sinecura"... Sobretudo não uses uma marca do teu estilo que é única e exclusiva e que te identificaria em qualquer blogue ou fórum: não uses ponto e vírgula a seguir a "irra". Bem vindo de volta.)
Finalmente, para verem como a blogosfera é diferente da sociedade, mesmo no que diz respeito à esquerda. Os comunistas como Vítor Dias escrevem sozinhos (ó Vítor Dias, não arranja um "verde" para lhe fazer companhia?). O Peão, por sua vez, é uma grande coligação democrática unitária de blógueres de esquerda (mas, que eu saiba, sem comunistas). Inclui alguns veteranos consagrados da blogosfera. Tem uma dinâmica interna muito apreciável, como há muito não se via num blogue colectivo de esquerda. Bem vindos. Faziam falta.
Boas blogagens a todos.
Vítor Dias tem um blogue que merece leitura atenta. O Tempo das Cerejas é o título do blogue, e é também o título de uma canção que se tornou um símbolo da Comuna de Paris, Le Temps des Cérises. Bem vindo, Vítor Dias.
O título desta canção inspirou também o nome de um dos meus restaurantes favoritos de Paris, em plena Butte Aux Cailles, um bairro boémio do 13ème e símbolo da Comuna. No Le Temps des Cérises (um restaurante-cooperativa onde todos trabalham e todos lucram), gosto de comer as fantásticas entradas de arenque fumado (como não há outras) e o boudin noir à normanda. Quem me recomendou este restaurante foi outro blóguer histórico, o Vasco Barreto, que volta à blogosfera como autor de muitos blogues, demasiados para serem todos referidos, como se fossem suplementos de um jornal. O blogue central, federador dos outros, é o Caderno I. Alguém entendido em html dá uma ajuda com o modelo ao Vasco?
Destaco também blogues de dois antigos companheiros do saudoso Blogue de Esquerda, o Bidão Vil (um blogue que só agora descobri) e a Zona Fantasma, onde escreve um rapaz chamado Luís Rainha (o "Fantasma do Natal Passado"), fã do Tio Patinhas como eu.
O Luís que, entretanto, deixou há algum tempo um comentário sobre este texto do Miguel Sousa Tavares. Sem querer perder mais tempo: tem razão, o Luís. Creio no entanto que tal se trata simplesmente de uma passagem (muito) infeliz, mas que não chega a estragar o resto do bom artigo. É claro que o Luís, com o seu reconhecido feitio, não concorda neste ponto e "deita tudo abaixo". E faz o mesmo nos comentários do blogue de onde entretanto saíra, o Aspirina B. Mas mantém o velho hábito de fazer comentários anónimos aos textos de companheiros de blogue. Não é a pensar em mim, primeiro porque eu já conheço de ginjeira o estilo de escrita do Luís e, segundo, porque felizmente ele já assina os comentários que me deixa. Mas, se ele me permite, gostaria de lhe dar um conselho.
(Luís, se não queres mesmo ser identificado como autor de comentários anónimos, procede como te sugiro. Escreve como os outros comentadores anónimos; não precisa de ser mal, mas não com o teu português rebuscado que nenhum comentador (anónimo ou não) usa. Não uses expressões que na blogosfera só tu usas (e provavelmente só tu conheces o significado), como "supina", "fruste", "sinecura"... Sobretudo não uses uma marca do teu estilo que é única e exclusiva e que te identificaria em qualquer blogue ou fórum: não uses ponto e vírgula a seguir a "irra". Bem vindo de volta.)
Finalmente, para verem como a blogosfera é diferente da sociedade, mesmo no que diz respeito à esquerda. Os comunistas como Vítor Dias escrevem sozinhos (ó Vítor Dias, não arranja um "verde" para lhe fazer companhia?). O Peão, por sua vez, é uma grande coligação democrática unitária de blógueres de esquerda (mas, que eu saiba, sem comunistas). Inclui alguns veteranos consagrados da blogosfera. Tem uma dinâmica interna muito apreciável, como há muito não se via num blogue colectivo de esquerda. Bem vindos. Faziam falta.
Boas blogagens a todos.
2007/03/06
Seinfeld - The Lost Episode
Num interessante blogue de apoio a Barack Obama - This Much Left - encontrei um vídeo com uma colagem de episódios do Seinfeld, e com um da vida real pelo meio. Para um fã do Kramer como eu custa fazer isto, mas aqui vai. Afinal custa muito mais saber o que se passou. Mas o Michael Richards pedu desculpa.
2007/03/05
Obrigado!
Em geral não costumo assinalar no meu blogue o aniversário de outros blogues. Não é por antipatia ou por snobismo: é porque penso que o aniversário de um blogue só diz respeito a esse mesmo blogue, e o resto da blogosfera não tem nenhuma obrigação de estar a assinalar a data. Nestas datas, o que eu costumo fazer é deixar uma felicitação nas caixas de comentários dos blogues de que mais gosto. É por isso uma grande honra para mim que blogues e blógueres de que eu gosto muito tenham tido a gentileza de assinalar o aniversário do Avesso do Avesso. Não havia necessidade, não havia necessidade. E quem são eles? Espero não me esquecer de ninguém. São alguns insurgentes que me felicitaram nos seus blogues pessoais: o Adolfo Mesquita Nunes na Arte da Fuga e o André Abrantes Amaral e respectivas leitoras no Observador. Malta de outros Carnavais, como o João André e o Henrique Fialho. O kontroverso Tiago Barbosa Ribeiro, cujo blogue “nasceu” no mesmo dia que este. O Rui Curado Silva, cuja frase no Klepsýdra me deixou sem palavras e a quem mando um abraço especial. E o Nuno Ramos de Almeida, que adivinhou a minha predilecção pela mais famosa de todas as loiras e deixou-me no Cinco Dias uma lindíssima prenda. E são ainda todos os leitores que assinalaram a data nas caixas de comentários. A todos um grande abraço e muito obrigado!
Actualização: obrigado também ao Daniel Oliveira e ao Pedro Correia.
Actualização: obrigado também ao Daniel Oliveira e ao Pedro Correia.
2007/03/04
O velho esquema desmorona dessa vez para valer
E não é que acabou a famosa revista Dia D? Já foi há uma semana, mas só hoje é que me lembrei da música mais adequada à ocasião. Um final de tarde a ouvir o Caetano Veloso deu nisto. À defunta revista eu dedico um grande Não Enche. Cantemos então:
À luz desse dia D
eu vou viver sem você!
Manuel Bento (1948-2007)
Era um dos “cromos” da minha infância. Quando era miúdo, o que eu mais gostava era de o ver sofrer golos. Mas no fundo gostava dele. Dele e de toda a equipa do Benfica da primeira metade da década de oitenta. Os jogadores eram quase todos provenientes da margem sul do Tejo, de localidades operárias. Chalana, Pietra, Veloso, Nené, Diamantino... Sven Goran Eriksson era o treinador. E Bento era o capitão. E o mais emblemático.
Eu estava pelo “outro lado”, que eram o Jordão, o Oliveira, o Venâncio, o Carlos Xavier, mais tarde o regressado Vítor Damas. Manuel Fernandes, também da margem sul do Tejo, era o capitão. E o principal adversário. As grandes rivalidades naquela altura eram estas; depois é que apareceu o Pinto da Costa e mudou tudo.
Quem faz a grandeza do Benfica não são os tais famosos “seis milhões”: é o ter na sua história homens como o Bento.
2007/03/01
Um ano
O Avesso do Avesso faz hoje um ano. Muito obrigado a todos os que vão por aqui passando e que contribuiram para as 38656 visitas que o blogue já teve, tendo a página sido carregada um total de 50675 vezes. Desde que o blogue começou, 68% dos visitantes vêm de Portugal, 6,5% de França, 6% do Brasil e 4,1% dos EUA. 10% ao sábado e ao domingo, 15% à segunda e à sexta, 16,6% à terça, quarta e quinta.
Este blogue tem sido o meu espaço de liberdade (e de prisão, às vezes). Espero que quem o visita encontre tanto prazer nisso como eu encontro em escrevê-lo. É para vocês, mas não é por vocês que eu escrevo. Por isso devo agradecer mais uma vez as vossas visitas. Muito obrigado e um abraço a todos.
Este blogue tem sido o meu espaço de liberdade (e de prisão, às vezes). Espero que quem o visita encontre tanto prazer nisso como eu encontro em escrevê-lo. É para vocês, mas não é por vocês que eu escrevo. Por isso devo agradecer mais uma vez as vossas visitas. Muito obrigado e um abraço a todos.
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