2006/12/18

Economistas vs. Físicos

Para quem achou a sugestão de leitura anterior demasiado técnica, aqui fica outra mais leve: Economics vs. Physics Love-Off, ainda no Cosmic Variance.
Economists have a huge amount of influence over actual public policy, while admiration for physicists doesn’t get you too much beyond the “Isn’t that cool!” level, and occasional appearances on late-night radio. (...) These three sentences point to a definite failure on the part of physicists to successfully get their message across. (...) Unfortunately — and to a signficant extent this is our own fault — it’s not always clear to the person on the street which ideas are speculative and which have come to be accepted, nor is it clear that we have good reasons even for the wildest speculations.
Esta vai com dedicatória ao Luís Aguiar Conraria, ao Sérgio dos Santos e ao João Miranda.

9 comentários:

Luís Aguiar-Conraria disse...

Agradeço a dedicatória, e ainda mais os links que nos revelaste.

Filipe Moura disse...

Não tens de quê, Luís.

Unknown disse...

O Sean Caroll esquece-se de que no mundo não existem apenas físicos teóricos ou a trabalhar nos meios académicos como ele - "We physicists talk about crazy things all the time — extra dimensions, black holes, quark confinement, wavefunction collapse, conservation of momentum, the Earth moving around the Sun".

Se os economistas podem influenciar muito a política (económica) de um país, os físicos, da mesma forma os engenheiros que apliquem intensamente conhecimentos de física, afectam muito mais o que a sociedade produz e a forma como o faz.

Enquanto a discussão económica parece tornar-se muito visível socialmente porque são as pessoas a decidir indirectamente qual a política económica a seguir através da votação democrática, com a física ninguém se importa desde que os produtos consumidos funcionem. E como nenhum produtor faz propositadamente coisas que não funcionem (ninguém compraria), essa discussão é praticamente nula a não ser para os entusiastas.

Quantas pessoas que têm um computador se interessam pelo seu funcionamento ou pelas razões que afectam a performance dos seus componentes? Desde que dê para mandar uns emails, fazer umas palhaçadas no paint e ler A Bola sem ter de esperar 20 minutos, ninguém quer mesmo saber.

Publicamente a nível individual talvez os físicos/engenheiros não tenham o reconhecimento por este mérito mas as empresas destes sectores (nomedamente o tecnológico) sabem que não podem viver sem pessoal com especialização técnica.

Filipe Moura disse...

Era giro ouvir o João Miranda sobre o que acabaste de escrever, Sérgio. Para ele a economia é uma ciência exacta. Nunca há discussões. Para ele as discussões deveriam ser sempre científicas. Ou estou errado?

Luís Aguiar-Conraria disse...

Filipe
Espero que compreendas que nem eu nem o Sergio respondemos pelo J Miranda.
Mas o que pensaste do que leste. Continuas convencido de que a Economia e' apenas uma questao de opiniao?

Unknown disse...

«Para ele a economia é uma ciência exacta. Nunca há discussões. Para ele as discussões deveriam ser sempre científicas. Ou estou errado?»

Há uma diferença muito grande entre "ciência exacta" e "impossibilidade de discussão de uma ciência exacta". Não é por se considerar que a física é uma ciência exacta que não há discussão das suas teorias ou por se considerar a economia uma ciência inexacta que as suas discussões deve ser menos científicas. Aliás, o que precisamente faz de ambas ciencias ciências é o seu carácter mutável de forma a acomodar os novos conhecimentos que se adquirem. Se uma teoria/lei contraria a observação, cai. Se não contraria, também nada garanta que esteja 100% correcta em tudo aquilo que pretende representar.

Agora, há uma distinção séria entre querer usar esta incerteza em ciência para melhorar a informação que se tem dos mecanismos naturais e, pelo contrário, usá-la para tentar legitimar uma invalidação de todo o processo de aquisição de conhecimento com uma crítica de cariz filosófico aos seus fundamentos. A menos que estejamos todos a falar em recusar o modelo de confirmação empírica dos resultados obtidos por qualquer que seja o método (dedução lógica ou análise estatística), negar que os mercados se ajustam à oferta e à procura e, consoante se introduzam restrições ou imposições governamentais, estas sofrem alterações está mais ou menos ao mesmo nível de dizer que isso de os corpos com massa gerarem campos gravitacionais que por sua vez afectam outros corpos é uma grande treta.

Não creio ter dito nada que contradissesse o que reclamas acerca do João Miranda - estava falar de uma discussão comum mas que muitas das vezes nem sequer faz sentido porque não se baseia em pressupostos reais. E se dissesse, também não fazia mal, mas creio que o Luís já respondeu por mim quanto a isso.

JV disse...

O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna faliu. O paradigma dominante assente nas ciências naturais que tem a matemática como instrumento privilegiado, quase que único, está em crise, incapaz de responder aos desafios contemporâneos. O modelo emergente erradica a distinção entre ciências sociais e ciências naturais, sendo que nesta síntese são as ciências sociais o grande catalisador. Mais: desaparece qualquer superioridade do conhecimento científico em relação ao conhecimento espontâneo, vulgo senso comum. Ficando, assim, no mesmo patamar todas as fontes de saber, sendo que existe uma tendência para que todo o conhecimento científico se constitua em senso comum.
A dita “ciência” muda a cada instante e a incerteza é uma constante. Nada pode ser provado de uma vez por todas : a ciência não acumula verdades, simplesmente vai eliminando erros. Newton tinha uma concepção de tempo e de espaço absolutos que foi desmentida por Einstein. Gödel descobriu que até no domínio da Matemática é possível formular proposições que não se podem demonstrar nem refutar seguindo as regras da lógica matemática.

Filipe Moura disse...

Luís, quando foi que eu escrevi que a Economia é apenas uma questão de opinião? Se julgas que penso isso estás enganado.

JV, eu farto-me de dizer isto. Mais uma vez: a mecânica newtoniana não está "errada". Descreve perfeitamente os movimentos que observas no dia-a-dia. Está é incompleta. Lê os argumentos do Sérgio dos Santos.

Sérgio, tu é que escreveste o seguinte:

"Enquanto a discussão económica parece tornar-se muito visível socialmente porque são as pessoas a decidir indirectamente qual a política económica a seguir através da votação democrática, com a física ninguém se importa desde que os produtos consumidos funcionem."

O João Miranda é qu advoga que não deve existir escolha democrática sobre as políticas económicas; que não existem alternativas ao liberalismo. Por isso achava interessante saber a opinião dele sobre esta ideia. E vocês?

Luís Aguiar-Conraria disse...

“O João Miranda é qu advoga que não deve existir escolha democrática sobre as políticas económicas;”

Eu confesso que ainda nem sequer percebi muito bem o que pensa o JMiranda sobre o processo democrático.