2007/07/31

Sobre a União Europeia

Um texto que vale a pena ler, por Leonídio Paulo Ferreira.
Depois de ter denunciado em 1999 as infecções como complô da CIA e da Mossad, Kadhafi começou nos últimos anos a dar sinais de certo bom senso. Mas, mais importante ainda, a diplomacia búlgara deixou de estar sozinha. (...) Tony Blair, ainda primeiro-ministro britânico, foi a Tripoli negociar. Durão Barroso telefonou a Kadhafi. Benita Ferrero-Waldner, a comissária das Relações Externas, tornou-se visitante assídua da Líbia. E Nicolas Sarkozy, ao tomar posse como Presidente da França, impôs como prioridade libertar as enfermeiras e o médico palestiniano (a quem a Bulgária ofereceu cidadania para beneficiar do acordo de extradição). Acabou por ser a primeira dama a ir num avião francês buscar os reclusos a Tripoli.

Agraciadas pelo Presidente búlgaro ainda no aeroporto de Sófia, as enfermeiras reafirmaram a inocência. Emocionado, o médico Achraf Hajuj agradeceu "à grande Bulgária" o fim de oito anos de cativeiro. Falou em búlgaro, mas bem podia ter agradecido em francês. Afinal, é a língua de Luc Montaigner, o perito em sida que denunciou as infecções em Benghazi como prévias à chegada das búlgaras. É também a língua de Nicolas e Cécilia, os amigos que Kadhafi gosta de acolher na sua tenda nos jardins do palácio Bab Azizia. E, sobretudo, é a língua que mais se ouve em Bruxelas, capital dessa UE que mostrou que mais vale falar a 27 que sozinho. Como escreveu o jornal Dnevik, de Sófia, "estar na UE representa muito mais que viajar livremente na Europa".

2007/07/30

Vale dos Caídos

Os amigos espanhóis que fiz no decorrer da escola torceram o nariz quando lhes manifestei a minha intenção desta visita. Mas, enfim, estava em El Escorial, e este é um dos grandes atractivos turísticos da região, por ser um local muito bonito e com uma bela vista. Foi só isso que me levou a visitá-lo. Infelizmente, não é só a bela vista que se pode desfrutar. Também há uma basílica, onde se encontram os túmulos de Francisco Franco e Primo de Rivera. Tudo foi preparado pelo ditador, ainda em vida, para evocar a sua vitoria na Guerra Civil e garantir a sua memória na posteridade. É dedicada a todos os que nessa gueraa morreram “em nome da Espanha e em nome de Deus”. Para cúmulo da humilhação, tudo o que refiro foi contruído pelos presos políticos do fascismo espanhol.
Isto passa-se num estado democrático membro da União Europeia em pleno século XXI. Como é possível? Há fracturas na sociedade espanhola bem mais profundas do que as associadas a certas medidas do governo Zapatero.

2007/07/26

O Tâmisa e o Ruanda

Os problemas associados a uma política excessivamente de proximidade são exemplificados num caso como o do líder conservador inglês, David Cameron, acusado de não ter prestado atenção suficiente às cheias na região por onde foi eleito deputado. Mas que poderia um deputado e líder da oposição fazer para resolver a situação? Nada; isso é com o governo e as autoridades competentes. Quanto muito poderia fiscalizar a acção de quem tem o poder executivo. E foi isso que Cameron fez, até ter de se ausentar, na sua qualidade de líder do Partido Conservador, para uma viagem ao Ruanda. Eu compreenderia até certo ponto as críticas se se tratasse de férias. Mas tratava-se de uma viagem de trabalho!
O problema destas "políticas de proximidade" é que os eleitores tendem a sentir-se os mais importantes do mundo, e esperam uma dedicação exclusiva dos seus eleitos (sendo que tal nem se traduz numa maior participação eleitoral). Por isso não sou favorável a esta concepção de política, muito vulgar na Grã Bretanha. E que em Portugal se difundiria, se hipoteticamente fosse aprovada a famigerada regionalização.
Nem de propósito (destaques meus):
The Guardian revelava ontem que o governo britânico tinha sido avisado há três anos, em dois relatórios separados (...).
Na altura em que os relatórios foram entregues ao governo (Julho de 2004), o executivo (...) terá reconhecido a necessidade de melhorar a coordenação entre as companhias abastecedoras de água, os concelhos municipais e a Agência do Ambiente, que deveria passar a centralizar a gestão destas situações de crise.
No entanto, e a avaliar pelas revelações do Guardian, nada foi feito e a transferência de responsabilidades que todos preconizavam - e que chegou a estar agendada para o ano passado - nunca chegou a ser concretizada, dando origem a muitas das críticas que têm sido feitas nos últimos dias.

2007/07/25

É oficial: hablo español!

Tomei um contacto sério com o espanhol quando vivia nos EUA, por causa das telenovelas. Nao das mexicanas (quem vê o Conan O'Brien e conhece a rubrica "Noches de Passión con Señor O'Brien" sabe do que falo), mas das brasileiras. As mesmas que vemos aqui, e que nos EUA sao transmitidas em sinal aberto nos canais em espanhol, dirigidos aos imigrantes hispânicos. Foi a ver as novelas dobradas - e por vezes o noticiero - que me habituei ao espanhol. E aprendi algumas expressoes em espanhol, que só ouvindo ou lendo várias vezes se aprendem. Apesar de o espanhol ser uma língua muito fácil para um português,o vocabulário nao é idêntico. Por isso, e por eu ser muito "académico" e nao dispor de nenhum diploma comprovativo de que falo espanhol, sempre me recusei a admitir oficialmente (que é como quem diz, incluir no meu CV) que o fazia. (Para o inglês e o francês sempre tenho as notas do secundário, além dos anos de residência nos EUA e França).
Até que passei esta semana em Espanha. Como é óbvio, só a falar espanhol. E duas -espanholas - duas, independentemente, e sem quererem mais nada, perguntaram-me como falava espanhol tao bem. OK, é oficial - tenho a aprovaçao das espanholas (e conheci muitas). A partir de agora, o meu currículo vai incluir uma referência à língua de Cervantes. Só me resta ler o original de El Quijote - já o tenho desde a minha anterior visita a Espanha, em 2005.

2007/07/24

Teste de cultura científica

Bem sei que fazer um teste destes, principalmente para uma revista não-científica, não é tarefa fácil. Bem sei que o esforço do autor (e da revista) é meritório, e as suas intenções são com certeza as melhores. Bem sei que no meio do teste há questões bem formuladas e interessantes. Mas, ó Carlos Fiolhais, desculpe lá: se “cultura científica” é saber o nome de missões espaciais ou da universidade onde lecciona António Damásio, então eu sou muito inculto. Se calhar é verdade.

Coisas de que vou sentir falta

De ter o El Pais, de graça, todas as manhas, ao sair do colégio para a rua.
Serve esta mensagem como uma modestíssima mas sincera homenagem a Jesús de Polanco, cuja morte comoveu a Espanha.

2007/07/23

Durma-se com um barulho destes

Houve um grupo vocal que esteve alojado esta semana em El Escorial, ao mesmo tempo que eu, no mesmo colégio que eu. E cantavam, cantavam, cantavam. Comunicavam entre si a cantar. Às refeiçoes era vê-los a cantar. Levavam a vida a cantar. Eu estava com uma amigdalite forte, daquelas que cansam. Nos dois primeiros dias recolhia-me ao meu quarto para descansar em horários nao muito espanhóis. Custava-me a adormecer pois nem no meu quarto, com porta e janela fechadas, deixava de os ouvir. Ouviam-se nos corredores.
In Hora Sexta, "grupo nascido em 2002 com a vocaçao de estabelecer um diálogo entre a música vocal antiga, das épocas renascentista e barroca, e a música vocal contemporânea", deram um concerto na Igreja Velha do Mosteiro de El Escorial na passada quarta-feira. O concerto foi anunciado para os residentes do colégio, mas também para os participantes de todos os cursos (e residentes noutros colégios). Todos tinham direito a um bilhete gratuito.
Consegui o meu bilhete para o concerto de In Hora Sexta. Lamentavelmente, devido à minha convalescença e aos companheiros de colégio (e, talvez, ao fraco café espanhol), passei a primeira parte a dormir.

Texto corrigido.

2007/07/21

Coisas que me têm escapado em El Escorial

Refiro-me a eventos do Colégio Maria Cristina, em San Lorenzo de El Escorial, situado no antigo edifício de la Campaña, construído em 1590, onde me encontro instalado. O rei era Filipe II de Espanha, I de Portugal. Poucos anos antes (1584) tinha sido finalizada a construçao do Mosteiro de El Escorial. Durante esta semana tenho vindo a perder missa, celebrada todos os dias às 20:30 no Colégio. (Vim para uma Escola de Verao de Física Teórica da Universidade Complutense; aqui foi onde me alojaram.) Mas também tenho vindo a perder a piscina do colégio, gratuita pararesidentes, e o vinho Rioja,servido diariamente às refeiçoes. Tudo por causa da amigdalite com que vim para cá.
Terminei o antibiótico ontem. Está na altura de recuperar o tempo perdido.

2007/07/20

Coisas que só acontecem quando eu nao estou em Lisboa (II)

Um debate entre dois ilustres Ladroes de Bicicletas e o nao menos ilustre António Figueira. Se estivesse em Lisboa nao deixaria de ir. Assim resta-me recomendar. Detalhes aqui.

Coisas que só acontecem quando eu nao estou em Lisboa (I)

Um seminário de Ludwig Faddeev no Complexo Interdisciplinar da Universidade de Lisboa, "Mass Problem in the Quantum Yang-Mills Theory", no âmbito dos "Diálogos entre Física e Matemática". Eu já vi Faddeev falar - é um dos nomes de topo sobreviventes da escola soviética (evidentemente, soviética) de física teórica. A nao perder por quem estiver interessado.

2007/07/19

Alberto Romao Dias

Excelente evocaçao deste químico, de quem nunca fui aluno mas de que me recordo perfeitamente, pela sua aluna Palmira Ferreira da Silva. A Palmira só nao foca as suas actividades subversivas, nomeadamente vice-presidente da AEIST em pleno salazarismo...

2007/07/18

Baltazar Garzón


"Perante a ameaça do terrorismo, o Estado nunca pode perder o seu valor principal que é a credibilidade." Com esta frase se pode resumir a conferência que Baltazar Garzón deu anteontem ao fim do dias, em El Escorial, onde me encontro, no âmbito dos cursos de Verão da Universidade Complutense.
A frase aplica-se directamente aos EUA. Garzón referiu no seu discurso de um modo explícito, obviamente em termos críticos, os campos de Guantánamo. Mas nao é só disso que se trata a credibilidade: é de dizer à populaçao a verdade, e nao aterrorizá-la procurando ganhar votos, outra prática muito frequente especiamente no primeiro mandado de George W. Bush.

Concentraçao nacional de bolseiros - hoje

Eu nao vou. (Enncontro-me em San Lorenzo de El Escorial, a 60 km de Madrid. Nota-se pelo teclado.) Mas apoio incondicionalmente. A declaraçao integral da ABIC pode ser lida aqui.

2007/07/16

Após as eleiçoes em Lisboa

Uma coligaçao de esquerda urge. Para uma aliança do PS com Carmona Rodrigues, mais valia que tivesse ficado tudo na mesma

2007/07/15

Aveiro no The New York Times

Foto: Susana Raab for The New York Times

Via o atento Miguel Marujo, cheguei a esta matéria no melhor jornal do mundo sobre a melhor cidade portuguesa, que publico no dia das eleições na capital. Dá vontade de rir a escolha de restaurantes, mesmo para gringos. Tenho umas tasquinhas ao pé do parque municipal para recomendar aos senhores do Times.

Entretanto vou votar (vocês sabem em quem) e depois apanho o avião para Madrid, onde vou na próxima semana participar num curso de verão da Universidade Complutense. Escrevo-vos de lá.

2007/07/14

Compre o jornal no sábado, carago!

A mesquinhez, a inveja, a mentalidade pequena dos nossos regionalistas vê-se por pormenores destes. O CAA nem pensa em criar um semanário do Porto (os principais diários nacionais já são todos de capital nortenho): prefere queixar-se dos semanários existentes que saem um dia mais cedo para poderem publicar uma sondagem para a principal câmara do país. Ó CAA, mas se gosta do jornal ao sábado, compre-o ao sábado, canudo!

2007/07/13

No mundo ficcional da direita "liberal"

Admiti aqui que votarei na CDU no domingo. De acordo com estes senhores (e o seu habitual compagnon de route Luís Aguiar-Conraria), tal voto implica que eu quero "instaurar uma ditadura comunista" em Portugal. Certamente as dezenas de câmaras da CDU, de Peniche ao Alentejo, de Setúbal à Marinha Grande, vivem numa "ditadura comunista". Os doze anos em que a CDU partilhou a gestão autárquica de Lisboa (e que foram os melhores anos recentes da capital portuguesa) foram anos... de ditadura comunista. Agira já sabem. Agradeçam-lhes por vos avisarem. É melhor não os contrariar.

Sondagens para a Câmara de Lisboa

Todas apontam para a vitória do PS, mas são bastante díspares quanto à colocação relativa dos restantes candidatos de esquerda. Se se confirmar a do Público (Carmona à frente de Negrão e Garcia Pereira à frente de Telmo Correia), eu vou rebolar a rir.

Até já, Ricardo


Foste muito mal vendido e, sinceramente, vou ter muitas saudades tuas. Espero que os dirigentes da SAD aprendam a acautelar as cláusulas de rescisão.

2007/07/12

A Portela + 1

Um texto de António Brotas que subscrevo na íntegra e que sumariza a minha posição relativamente ao futuro aeroporto.

A expressão "Portela + 1" , hoje muito usada na Comunicação Social pode significar que o aeroporto da Portela deve continuar em funcionamento durante um largo periodo (não inferior a duas décadas) e que devemos iniciar o mais rapidamente possivel a construção por fases de um novo aeroporto num local onde possa vir a ter uma muito grande possibilidade de expansão. Se a primeira fase (uma pista e algo mais) puder ser inaugurada daqui a 5 ou 6 anos, todas as difuculdades aeronauticas presentes e futuras da região de Lisboa ficam resolvidas. Daqui a uns 10 anos, ou mais, quando começarmos a pensar na construção da 2ª fase do novo aeroporto, teremos de decidir se ele se deve expandir de modo a substituir completamente a Portela, ou se devemos adoptar em definitivo o modelo dos dois aeroportos em funcionamento. Esta discussão agora é prematura.

A fórmula "Portela + 1" pode, no entanto, também significar que devemos, desde já, desviar para bases militares e outros aeroportos parte dos voos low cost que actualmente sobrecarregam a Portela, retardando assim a sua saturação. Tenho defendido esta solução, desde que ela seja feita com encargos muito reduzidos. As duas concepções são perfeiramente conciliáveis. O que me parece totalmente errado é encararmos a solução "Portela + bases militares" como uma solução definitiva que nos dispense de pensarmos num novo aeroporto.

O projecto de um novo aeroporto convenientemente planeado e a construir de um modo faseado numa zona onde possa ter uma grande possibilidade de expansão, como é o caso da Carreira de Alcochete, pode ser, com as actividades anexas que pode estimular e desenvolver , um projecto com um imenso impacto no desenvolvimento português neste meio século. (António Brotas)

2007/07/11

O Zé faz falta

Refiro-me ao José Cidade Mourão. (Obrigado pelo excelente artigo que me indicaste, Zé.

Mais “traduções” do Jay Leno


Estava eu noutro dia a preparar-me para ver a entrevista a John e Elizabeth Edwards no programa do Jay Leno, transmitido na SIC Mulher. No momento de comédia anterior à entrevista, Jay fala no ataque dos golfinhos que mordem as pessoas na Florida, “not to be confused with the dolphins that suck: those are from Miami”. Eu não percebo nada de futebol (ou qualquer outro desporto) americano, mas creio que a piada era clara: os “Miami Dolphins” são uma equipa de um desporto qualquer (a primeira coisa a aparecer se se procurar no Google), que joga mal, não presta (“suck”). Tradução nas legendas da SIC Mulher? “Não confundir com os golfinhos que chupam: esses são em Miami”. Autenticamente. Onde é que eu já vi isto?

(A tradução era de Ana Sofia Jesus.)

PS: Não encontrei outra fotografia para ilustrar este texto que não esta, de 2004, era John Edwards também candidato presidencial. Na crónica de João Lopes no DN, sobre esta entrevista (recente), a foto era a mesma.)

2007/07/10

O meu voto em Lisboa

Falar sobre eleições, mantendo-se independente, por vezes é complicado. Não quero usar este espaço para criticar candidatos à Câmara de Lisboa (mesmo aqueles que dizem que se houvesse mais como eles, haveria menos carros, mas numa entrevista publicada pouco tempo antes de as eleições terem sido convocadas afirmam tranquilamente que só andam de transporte privado dentro da cidade: boleia ou táxi. Desculpem mas não resisti).
Mas o sentido do meu voto está decidido, e eu não vou escondê-lo, até porque é sobre ele que eu vou falar. Nestas eleições vou votar na CDU. Não tenho e nem nunca tive nenhuma ligação ao PCP ou a nenhum outro partido e, talvez por isso mesmo, ao contrário da maioria dos blógueres de esquerda, não acho que este partido tenha “lepra” e sei reconhecer o mérito do trabalho dos seus eleitos. O meu voto nestas eleições é na CDU (como noutras é noutros partidos) por achar genuinamente que esta é a melhor candidatura, a que melhor serve os lisboetas, embora não seja a única boa opção (não teria problemas em votar noutras candidaturas, e acho que os lisboetas não se podem queixar de falta de boas alternativas). Mas, vejam bem, o meu objectivo com este texto é mesmo criticar a campanha desta candidatura (e não fazer campanha por ela, algo que não seria adequado neste espaço – e nem eu o faria).
A verdade é que a campanha da CDU é má, e não tira proveito nenhum dos seus candidatos. A desorientação desta campanha começa pelo slogan fácil e estereotipado, “CDU – força alternativa”. Mas alternativa a quê? O PCP não é e nunca foi “alternativo”. Quem vota no PCP não está à procura de uma “alternativa”: está à procura daquilo que o PCP sempre foi, e que em termos de trabalho nas autarquias sempre foi muito bom. “Alternativo” é o Bloco de Esquerda. Se isto continua assim, algum dia temos comida vegetariana ou japonesa e cerveja com sabor a pêssego na Festa do Avante! Começamos mal.
Um dos principais motivos para o meu voto é mesmo o candidato. Em qualquer inquérito, em qualquer pergunta que lhe seja feita, vê-se imediatamente que Rúben de Carvalho, para além de ser um homem de cultura (no verdadeiro sentido da palavra), é um lisboeta autêntico, que conhece a cidade e gosta dela como poucos. É de esquerda e tem uma cultura de esquerda como nenhum dos outros candidatos apoiados por partidos de esquerda (não necessariamente “candidatos de esquerda”) tem. E conhece bem a Câmara (sem ser responsável pelo descalabro a que lá se chegou). Não é nenhum pára-quedista: é um candidato natural, e um excelente candidato. O PCP sempre se viu como um “colectivo” e sempre recusou qualquer protagonismo individual. Faz parte da cultura do partido, e só quem o conhecer (ou, pelo menos, quem tiver lido uns livros do Álvaro Cunhal) a poderá entender. Creio sinceramente que Rúben de Carvalho representa uma mais-valia da CDU nestas eleições (como o era, ainda mais, por exemplo Carlos de Sousa em Setúbal há dois anos). Mais-valia que não está a ser usada de todo na campanha. Será que o PCP quer ficar à vontade para poder substituir o candidato, mais tarde, depois de ele ser eleito? Esperemos que não seja esse o caso.
O pior aspecto da campanha da CDU reside, a meu ver, numa confusão deliberada entre a política nacional e a política autárquica. O PCP aposta em capitalizar algum descontentamento popular com as políticas do governo, e se tiver um bom resultado vai com certeza falar em “derrota do governo”. Esta é uma aposta errada por duas razões. A primeira é que o descontentamento popular talvez seja mais aparente do que real, principalmente entre a população residente em Lisboa. Talvez o tiiro lhes saia pela culatra. Independentemente dessa circunstância, e mais importante ainda: estas são eleições locais, que nunca devem ser confundidas com eleições nacionais. É perfeitamente possível (e muito frequente) votar-se na CDU nas eleições autárquicas e apoiar-se, pelo menos na generalidade, as políticas no governo.
Vou votar na CDU e espero que tenham um bom resultado mas, no caso de este não ser atingido (ou seja, se pelo menos não se mantiver a vereação actual), a culpa será só do PCP e da sua estratégia.

2007/07/09

Cristo maravilhoso?


Eu não quero de todo aborrecer católicos ou brasileiros, especialmente cariocas. Mas alguém pode explicar-me o que há de maravilhoso nisto, quando comparado com a Acrópole, a Torre Eiffel ou o Kremlin? A imagem é bonita, mas bonita é a cidade. Lindo é o Rio de Janeiro.

2007/07/07

Contestação global ao aquecimento global

LiveEarth - a globalização de que eu gosto.

2007/07/06

A RIAPA chegou ao Insurgente

Se calhar a minha hipótese não é correcta, e nem tem de ser, mas presumo que pelo menos uma grande parte dos que aqui me lêem eram também leitores do extinto Blogue de Esquerda. Se não for esse o caso, também o resto do texto não conta muito.
Achei que não valia a pena estar a dar muita atenção às sentenças da Dra. Patrícia Lança. E isto porque toda a blogosfera está a ter uma das reacções que se impõem: ou ignora (principalmente se se situar no campo político da autora) ou ri. (Exceptuando os “leais orgânicos” André Azevedo Alves e João Miranda, que põem a protecção do seu grupo - neste caso ideológico - acima da busca da verdade. Afinal, sempre tinha alguma razão o Pedro Arroja.)
Mesmo assim há aspectos interessantes para discutir nos textos de Patrícia Lança, bem mais na forma que no conteúdo. Consta que Patrícia, há muitos anos, foi professora de raparigas de 16 anos; assim se justifica o tom com que ela escreve e se dirige aos leitores, como se fossem todos adolescentes da primeira metade do século XX, que a ouvissem e lhe obedecessem acriticamente. Embora eu creia que as posições de Patrícia Lança sejam insustentáveis, tal não significa que sejam indefensáveis: como notou, por exemplo, o Vasco Barreto, Patrícia poderia – e deveria – apresentá-las, se tivessem nenhuma base científica. Mas, como bem notou o zèd, trata-se somente de um caso de “distorção de informação na tentativa de justificar "cientificamente" uma posição cuja única justificação é moralista.” Daí o tal tom de senhora experiente a dar sermões aos jovens adolescentes.
Sempre se notou tal tom; só com os recentes textos sobre sexo anal é que tal se tornou mais visível. Reparemos nestas sentenças sobre Israel: uma série de sentenças curtas e sem nenhum tipo de justificação, que poderiam ser vinte comentários da "Quitéria Barbuda" do RIAPA no BdE. Esses comentários também tinham um ar de cartilha disfarçados de revista científica, uma suposta erudição que a autora não se cansava de apregoar, e também se auto-citavam em abundância. Ao ler o seu último texto, sobre a “sabedoria lencastriana”, só me lembrei da “sabedoria paço-arquiana”, tão apregoada era nos comentários da RIAPA no BdE (eu fartei-me de apagar comentários que se referiam a ela). Temos assim um sucedâneo da RIAPA instalado no Insurgente; quem será o “Comandante Guelas”?

2007/07/05

Maravilhas da gastronomia portuguesa

Antes do almoço: um conhecido hotel e restaurante de Coimbra pôs a votos as sete maravilhas da gastronomia portuguesa. As minhas escolhidas são: Leitão da Bairrada, Cabrito Assado, Bacalhau à Lagareiro, Arroz de Marisco, Migas, Pastel de Nata e Ovos Moles de Aveiro. E as vossas?

2007/07/04

A União

Enquanto alguém vai para o trabalho de bicicleta em Amesterdão, um coro ensaia na Estónia e um barco pesca em Malta. Turistas esperam para entrar num museu de Florença. Turcos vendem kebab em Edimburgo. Estudantes de Frankfurt passam o seu Erasmus em Istambul, esforçando-se por dominar dois ou mesmo três idiomas. Pode comprar-se leite de rena na Lapónia ou houmous em Creta usando sempre a mesma moeda; melhor ainda, pode ir-se de um lugar ao outro sem mostrar o passaporte.
Quem diria? Para muitos, este é o retrato de um continente em decadência. Na verdade, todas as cidades e regiões atrás citadas (à excepção de Istambul, que não está na UE mas cujo país já participa no programa Erasmus de troca de estudantes) fazem parte da mais interessante experiência política dos nossos tempos. São quase 500 milhões de humanos (só a China e a Índia têm mais população) numa extensão maior do que a de muitos impérios da história. Mas não é um império, é outra coisa, não se sabe bem o quê. Para muitos, deveria ser uma federação. Na verdade, pouco importa o que lhe chamemos. Eu sou um europeísta não por qualquer ufanismo europeu (na verdade estou mais próximo de um cabo-verdiano do que de um letão, e isso agrada-me) mas porque olhando para a União vejo que ela tem sido uma força de paz, liberdade e até alguma solidariedade. Com os seus muitos defeitos, a União está na primeira linha do Tribunal Penal Internacional, do Protocolo de Quioto, da cooperação e desenvolvimento. Nada disto é perfeito, mas pelo menos tenta-se.
Mas também sou um europeísta porque a União tem um grande futuro. Conheço bem, há muitos anos, as queixas dos europessimistas. Acho-as pouco convincentes. Que a União está velha (temos os velhos mais saudáveis e potencialmente mais produtivos do mundo). Que há muitos muçulmanos (que medo!, qualquer dia são quase três por cento). Que há poucos bebés (mas até os portugueses têm três meses de licença de parto paga, ao contrário dos norte-americanos). Que há imigrantes a mais (mas afinal não havia falta de gente em idade activa?). Que não faz parte da revolução tecnológica (só se inventou a Web, e em tempos mais recentes o Skype). Que está para trás na globalização (mas Londres, uma cidade da União, ultrapassou recentemente Nova Iorque como capital financeira do planeta). Enfim, que as regulamentações europeias são absurdas (mas graças a elas todo o mundo compra brinquedos mais seguros ou electrodomésticos menos poluentes).

Do lado europeísta, uma das coisas que mais se censuram à Europa é ela não ter exército nem hard power (assim em inglês "americano"). Isso não me preocupa. O "poder brando" é mais eficaz: os países que querem entrar sabem que têm de respeitar mínimos de democracia e direitos humanos. A União não exporta democracia à bomba, importa democracia com democracia. A questão que temos de resolver agora é: como manter a democracia dentro da União. A União não é uma utopia; é um compromisso. Mas deve ser, acima de tudo, um compromisso com a democracia. Ela é o nosso motor e o nosso horizonte; na falta de um cimento nacional ou linguístico, é a democracia que nos segura. É por isso que é difícil, exasperante até, ser europeísta com líderes europeus que têm medo da democracia.
Esquecem-se que irresponsável não é quem exige mais democracia, é quem foge a ela. Por mim, não me forcem a escolher entre os meus instintos europeístas e os meus instintos democráticos. Nesse caso, terei de preferir mais democracia com menos Europa a mais Europa com menos democracia.


Artigo de Rui Tavares no Público de 2 de Julho. Foi publicado parcialmente - e o "parcialmente" tem aqui mais do que um sentido - no Esquerda Republicana. O Ricardo Alves parece estar mesmo convencido de que a escolha é entre democracia ou europatriotismo. Não é essa a minha opinião, nem a do Rui Tavares.

Conferência de Ignacio Ramonet

«A Europa e os Novos Desafios Geopolíticos Contemporâneos», hoje a partir das 18h30 no Instituto Franco-Português, em Lisboa (mais informações aqui).

2007/07/03

Democratic Party


Na edição deste ano da festa de L’Unitá de Roma, nas termas de Caracalla, pensava-se o nome do futuro grande partido italiano de centro-esquerda. A festa, organizada pelo jornal L’Unitá, afecto aos Democratas de Esquerda, descendentes do antigo Partido Comunista Italiano e integrantes do futuro “Partido Democrático”, tinha por slogan “Democratic Party”, e visava quer a festa quer o partido.
Quantos italianos, mesmo dentre os participantes na festa, percebiam o duplo sentido? A avaliar pelos que sabiam inglês quando se lhes perguntava alguma coisa, muito poucos, garanto-vos. Praticamente ninguém.
A festa em si? Muito comércio; pouca comida local – o que é uma pena, pois a comida local é das melhores do mundo; alguma comida sul-americana; alguma comida africana; cuscus... vegetariano (só descobri depois de ser servido; reclamei, pois com certeza, e desenrascaram-me umas lascas de kebab por cima; mas só eu é que me lembrava de ir para ali em turismo); cervejas e vinho muito caros. Música ao vivo (parece que noutros dias também há debates). Muitos livros, de Bertinotti a Achille Ochetto e Massimo d’Alema. Traduções italianas de Marx e Engels. Rosa do Luxemburgo. E Gramsci, muito Gramsci. E ícones típicos da esquerda. Imagens de Che Guevara (o PDS italiano deve ser o único partido da Internacional Socialista que organiza uma festa com imagens de Che Guevara) alternavam com stands de empresas privadas, patrocinadoras da festa, de entrada gratuita e aberta a toda a gente.
Uma festa que mistura empresas privadas com Che Guevara se calhar não é para se levar muito a sério. Mas se toda a Itália não é para levar muito a sério, por que razão uma festa da esquerda seria? Eu em certas circunstâncias nem me importo que a esquerda não se leve demasiadamente a sério. Desde que a esquerda seja de esquerda.

2007/07/02

A não perder

Do enviesamento ao princípio da incerteza, pelo Tiago Mendes no Cinco Dias. Deveria ser lido com atenção especialmente no Centro de Estudos Sociais.
Já mais antigo, mas mesmo muito bom: Para que serve a Matemática?, por Jorge Buescu no De Rerum Natura.